Igualdade já!

Gilda GoldembergMulher tem uma certa dificuldade de entender as diferenças entre discriminação, preconceito e estigma social, porque desde sempre é capaz de observar e se for o caso, vivenciar tudo junto, só por ser mulher.

No mercado de trabalho não é diferente. Mesmo agora na era do politicamente correto, quando essa vivência é mais sutil e pode vestir a máscara da promoção da diversidade: eu falei diversidade, não igualdade, mulheres são estigmatizadas porque tem TPM, ficam grávidas, são bonitas ou feias, muito velhas ou muito novas, inteligentes ou burras, discretas ou extravagantes e a lista segue…

Mulheres sofrem preconceito porque mostram fragilidade e insegurança ou porque mostram força e assertividade, sabe como é, nesse mercado ou para aquela posição precisamos de um homem que, preferencialmente não se mostre.

É fato: mulheres ganham menos que os homens, ocupam menos cadeiras nas diretorias, conselhos e parlamentos. Não faltam dados para demonstrar as diferenças. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), de 2015, o rendimento médio dos brasileiros era de R$ 1.808, mas a média masculina era mais alta (R$ 2.012) e a feminina mais baixa (R$ 1.522). De acordo com reportagem realizada pelo jornal O Globo em fevereiro de 2018, com base nos bancos de dados do governo, dentre os 425 dirigentes da administração federal, apenas 36 são mulheres. E um estudo conduzido pelo Insper, junto com a consultoria Talenses, apontou que somente 8% de 339 empresas pesquisadas são presididas por mulheres.

Os dados não mudam muito quando olhamos para fora do país. No ranking das 500 maiores empresas dos EUA, realizado pela revista Forbes, em 2017 havia apenas 11 mulheres ocupando o primeiro cargo na linha de comando. Outro dado: o estudo “Women in the workplace 2017” realizado com 222 empresas, pela consultoria McKinsey&Company, indicou que as mulheres são encontradas em 48% dos cargos de entrada, mas ocupam apenas 21% dos cargos de presidente.

Diante desse cenário, para serem reconhecidas, trilharem uma carreira bem-sucedida ou mesmo para não serem preteridas em favor de algum homem, elas trabalham e estudam mais horas, relevam os assédios e renunciam a vida privada.

Sim, homens também são discriminados, sofrem com preconceitos e estigmas. Claro que trabalham, estudam mais horas e renunciam a vida privada quando necessário. Não tenho conhecimento se há algum estudo, mas ouso afirmar que são menos assediados quanto ao gênero.

Veja bem, a igualdade a que me refiro não é ideológica ou pasteurizadora, definitivamente não somos todos iguais e isso é muito bom! Acredito e confio que diversidade, divergência (saudável) e diversão promovem riqueza e evolução.

No entanto na carreira profissional, por conta dos estigmas, preconceitos e descriminações, quando resolvem empreender ou conquistar uma posição executiva, as mulheres partem no segundo “pelotão” enquanto os homens ganham na “largada”. Mas, se a competência independe de gênero, porque é que as mulheres saem atrás?

As transformações sociais com seus respectivos movimentos feministas, aos poucos, vão modificando essa realidade. Se olharmos para trás, muitos direitos e reconhecimento já foram conquistados. Olhando o presente, em que várias gerações convivem sob o mesmo teto profissional, muitas mulheres precisam de apoio para encontrar uma posição no “pelotão” que todos e todas um dia, no futuro, ocuparão igualmente, se tudo evoluir.

É por isso que estamos assistindo à proliferação de campanhas e grupos de apoio como PWN (Professional Women’s Network), o WeConnect, o Grupo Mulheres do Brasil, entre outros com ações que integram e estimulam mulheres a reconhecerem suas qualidades e desenvolverem seu potencial, criando uma rede de ajuda para enfrentar as armadilhas que estigmas, preconceitos e discriminações impõem na trajetória profissional delas. Igualdade já!

*PCC, Diretora de Associados da ICF Capítulo Regional RJ e membro do Grupo Nikaia