O futuro dos hospitais

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Francisco Balestrin

Francisco Balestrin*

Quando pensamos na entidade “Hospital”, pouco relacionamos esta atividade aos marcos sociais, políticos, econômicos e tecnológicos que moldaram a sociedade. Desde o período colonial, com o estabelecimento das Santas Casas de Misericórdia, até a Revolução Industrial, com a Reforma Sanitária e as mais recentes definições regulatórias, a evolução e o papel dos hospitais tiveram influência profunda nos valores culturais de cada época.

No início, a missão dessas instituições de saúde – baseada no modelo das Santas Casas – era  proporcionar o tratamento e sustento a enfermos e inválidos. Este modelo assistencialista passou por transformações ao longo dos séculos, e a estruturação do hospital como centro de cuidados especializados aconteceu entre o final do século XIX e início do século XX e, desde então, tem evoluído continuamente.

Hoje chama atenção a representatividade que estas instituições assumem no sistema de saúde brasileiro. A despesa total com saúde no Brasil representa 9,5% do PIB, e desse montante, 5,7% são gastos com internações e demais despesas assistenciais. Vale lembrar, ainda, que as atribuições dessas instituições vão além da assistência médica curativa e reabilitação, para serem reconhecidas pela colaboração na prevenção de doenças, no ensino e na investigação científica.

Gerir uma instituição de saúde, no entanto, pode ser um grande desafio. A governança hospitalar supera a de qualquer outra atividade econômica, exigindo um esforço intelectual, financeiro e tecnológico acima do padrão para atender uma realidade cada vez mais complexa.

Há, no Brasil, um processo de mudança, resultado de um novo padrão epidemiológico, dominado pelas multipatologias e a cronicidade, que requerem um enfoque organizacional integral, e que está sendo favorecido por uma série de fatores, como: a pressão pela eficiência econômica e sustentabilidade do sistema; as novas características do paciente, que se apresenta mais informado, participativo e exigente; a modificação do perfil do profissional e das profissões de saúde, com uma tendência ao trabalho multidisciplinar; e  a necessidade de melhoria da gestão e do monitoramento da qualidade dos serviços.

Esse contexto exige dos gestores investimento constante na ampliação das instalações, adaptação dos serviços, incluindo estrutura física e capacitação das equipes, bem como aquisição de novas tecnologias, com vistas a atender as demandas atuais. Isso tudo sem abrir mão do cuidado e da qualidade da assistência.

A verdade é que o papel do Hospital na sociedade ganhou novos contornos. Hoje, não é possível atribuir a essas instituições um papel isolado do restante do sistema, como acontecia com as Santas Casas na época colonial. É necessário pensar uma estrutura cada vez mais integrada, em redes de cuidado. Neste sentido, pela própria natureza da atividade, os hospitais têm muito a contribuir, pois são fortemente baseados em informação e conhecimento, e para isso investem em ferramentas que o auxiliam a identificar o perfil clínico da população que atendem e os resultados de seus processos de cuidado.

Certamente, ainda há muito para avançar. Os problemas enfrentados diariamente pelo sistema de saúde brasileiro estão longe de serem solucionados, mas as instituições de saúde estão empenhadas em buscar caminhos mais exitosos para o setor, na medida em que avançam em seus modelos de governança, cada vez mais estruturado no sentido de promover a melhoria contínua do nível de assistência e qualidade clínica do cuidado ao paciente, em um ambiente de boas práticas e de excelência.

Apesar dos novos paradigmas para a saúde, há um sentimento que prevalece desde os primórdios da assistência – os hospitais são instituições respeitadas e até reverenciadas pelo que representam para o bem mais precioso de uma pessoa, que é a saúde.

*Presidente da Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp)