O impacto do estresse nas organizações

Gilberto Ururahy reduzida
Gilberto Ururahy é diretor-médico da Med-Rio Check-Up

O estresse crônico bateu à porta do ambiente profissional em companhias do mundo todo. Considerado o mal do início deste século, ele é hoje, a causa de uma grande variedade de doenças, como o acidente vascular cerebral e o infarto do miocárdio. Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e com carga horária crescente em todos os níveis hierárquicos – tida como excessiva por 60% dos executivos, segundo pesquisas −, atualmente, as empresas são consideradas verdadeiras fábricas de estresse. Nem mesmo a prática de atividade física tem compensado o peso do trabalho na vida das pessoas. Um levantamento da Med-Rio Check-up registrou que o sedentarismo entre os executivos diminuiu nos últimos 16 anos, mas isso não resultou, necessariamente, na melhora da qualidade de vida deles. Enquanto o sedentarismo caiu 5% entre homens e mulheres no período, o estresse subiu 13% entre os engravatados e 17% entre elas.

Pesquisas atestam que o custo do estresse profissional nos EUA passa de 300 bilhões de dólares ao ano. No Brasil, estima-se que chegue a quase 4% do PIB, ou mais de 80 bilhões de dólares, segundo a ISMA (International Stress Management Association). No caso das empresas, o estresse impacta diretamente nos custos médicos, ligados a tratamentos, internamentos e consultas. Mas, o maior efeito nem sempre é possível de ser mensurado, pois é o prejuízo relacionado à baixa produtividade, ao absenteísmo, ao turnover, ao burnout, além da necessidade de buscar profissionais no mercado devido à dificuldade de reter talentos.

Dados de um estudo elaborado pela ISMA-BR apontam que o estresse foi responsável por um aumento de 140% nos gastos trabalhistas das empresas brasileiras nas últimas décadas. De olho no prejuízo, muitas empresas já estão investindo em programas contra o estresse, campanhas de conscientização para a necessidade do lazer, além da realização de check-ups, que podem prevenir a evolução e proporcionar o controle de doenças como a hipertensão.

Nos Estados Unidos, cerca de 80% das empresas desenvolvem programas de promoção à saúde de seus colaboradores, com o considerável retorno de US$ 4 para cada dólar investido. A lógica docheck-up é simples: Se uma doença é detectada em estágio inicial, maiores são as chances de ela ser curada. O serviço inclui a realização de exames preventivos que ajudam a reduzir os fatores de risco entre os profissionais e a aumentar a produtividade. O objetivo é atender à demanda de empresas que se preocupam em diminuir os índices de afastamento de funcionários por motivo de doenças. Os sintomas do estresse podem aparecer de diversas formas.

O indivíduo estressado fica vulnerável à ocorrência de doenças degenerativas e infecciosas, apresenta distúrbios alimentares e de sono, falhas de memória e de concentração e maior irritabilidade. Isso sem contar as dificuldades no relacionamento interpessoal, desestruturação da vida familiar, queda na performance e na eficiência − fatores que, somados, podem levar ao desemprego e à depressão. É importante lembrar que, além de investir no bem-estar de seus funcionários, paralelamente, o executivo deve estar atento à sua própria saúde. Vícios como o tabagismo, álcool, maus hábitos alimentares e sedentarismo devem ser evitados. Ter uma condição física saudável, dormir um sono repousante, praticar atividades físicas regularmente e cultivar a espiritualidade são táticas fundamentais para gerenciar o estresse.

Estresse é motivo para executivos trocarem de emprego

Entre os executivos brasileiros que consideram sofrer com o estresse decorrente do trabalho, a maioria vê o problema interferir na capacidade de produção e o considera motivo para trocar de emprego. A maior arma para mitigar esses efeitos negativos – intensificados pela crise econômica nos últimos anos – é a prática de atividades físicas.

Os dados fazem parte de um levantamento realizado pela empresa de recrutamento executivo Talenses, que contou com a participação de mais de mil gestores, a maior parte em cargos de gerência e diretoria. Quarenta por cento dos respondentes se consideram estressados. Dentre eles, a maioria afirma que o estresse interfere na sua capacidade de produção (71%) e considera buscar um novo emprego no mercado por consequência disso (80%). Em 66% dos casos, eles não se enxergam com a mesma rotina de trabalho nos próximos cinco anos.

Luiz Valente, diretor da Talenses, percebeu um aumento, nos últimos dois anos, de altos executivos em busca de novas oportunidades por se encontrarem em uma “situação limite” de estresse e insatisfação. “Eles têm o bom senso de entender que um momento de crise não é o melhor para tentar uma mudança de empresa, mas mesmo assim muitos nos procuram dizendo que estão abertos até a uma remuneração um pouco menor”, diz.

Um terço dos executivos que sofrem com o estresse buscaram acompanhamento médico por conta do problema. Entre eles, 19% incluíram as atividades físicas na rotina e cerca de 14% iniciaram tratamento com medicamentos para ansiedade, insônia ou depressão. Quase 30% não buscaram médicos mas recorreram às atividades físicas como forma de mitigar os efeitos do estresse. Para 12%, a terapia foi uma saída encontrada e 22% dizem ainda não terem tomado uma providência.

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