Cultura por atendimento especializado e regulação são entraves para atenção primária na saúde suplementar
Questões foram debatidas em live da INLAGS Academy

 

Paulo Marcos Senra observou que a redução de custo não pode nortear o atendimento primário

 

Da Redação

Os desafios da implementação de programas de atenção primária na saúde suplementar (APS) foram debatidos em live promovida, nesta quarta-feira, pelo INLAGS Academy, com transmissão pelo Youtube. Dificuldade de mudar uma cultura de atendimento especializado, de estruturar equipes qualificadas, bem como de conseguir integralizar os dados de cuidado do paciente foram apresentados como principais entraves para as operadoras consigam desenvolver a atenção primária. Co-fundador do INLAGS, Paulo Marcos Senra ressaltou que estruturar um atendimento de APS não pode se resumir a uma ação de marketing ou a iniciativas para reduzir custos. O foco deve ser de viver mais e melhor. “Naturalmente, com o sucesso do programa de APS, haverá uma redução de custo de forma indireta que nem sempre consegue se medir, devido a queda de internações e de realização de exames. Mas tudo passa por escolher bem as pessoas que irão trabalhar na atenção primária”, avalia.

Especializado em gestão de saúde, Henry Sznejder apresentou estudos que ratificam as palavras de Paulo Marcos. Ele mostrou pesquisas sobre o impacto do acompanhamento da atenção primária em pacientes renais e oncológicos. Nos dois casos, foi observado menor necessidade de internação, bem como de realização de exames. No caso dos pacientes renais, o cuidado primário postergou por anos a necessidade de diálise. Isso significa mais qualidade de vida e economia de recursos.

Entretanto, o consultor da Leve Saúde Leonardo Graever relatou que há um desafio enorme de mudar uma cultura, influenciada pela experiência norte-americana, de modelo de shopping médico, que fragmenta o atendimento. “Esse modelo leva a pessoa que tem um doa no peito, por exemplo, achar que já tem que ir não cardiologista, quando se deveria começar o cuidado com um profissional geral, em uma unidade de atenção primária”, explica. Graever relatou que a Leve vem tentando mudar a cultura investindo em profissionais capacitados em medicina da família. “Eles têm uma capacidade de comunicação que ajudam a fidelizar o paciente já no primeiro atendimento”, destaca.

Ele ainda ressaltou que a regulação do setor é outro entrave, pois os planos precisam oferecer consultas de qualquer especialidade em determinado tempo. Não podendo, assim, priorizar o atendimento com um generalista. A consultora de operadoras de saúde Paula Corrêa comentou que muitas ainda apresentam dúvidas de como compor uma rede de APS e estabelecer a integralidade do cuidado, bem como da unificação de dados. “Em um ambiente de uma operadora verticalizada, esse cenário é mais fácil, mas é mais difícil para aquelas que têm rede contratualizada ou híbrida”, ponderou.