Diante de Meirelles, diretora do FMI afirma que prioridade deve ser combate à desigualdade

Christine Lagarde criticou políticas econômicas que não combatem a desigualdade

Por: BBC Brasil

Após ouvir o ministro da Fazenda brasileiro, Henrique Meirelles, defender a necessidade de adotar reformas, como o governo Michel Temer tem feito no país, a diretora-geral do FMI (Fundo Monetário Internacional), Christine Lagarde, afirmou que a prioridade das políticas econômicas precisa ser o combate à desigualdade social.

O comentário de Lagarde ocorreu durante a participação de ambos em um painel do Fórum Econômico Mundial, que ocorre em Davos, na Suíça, em que se debatia, entre outras coisas, o que vem sendo chamado de “crise da classe média”. O conceito foi definido por Lagarde como abrangendo quem vive com renda de US$ 10 (R$ 32) a US$ 20 (R$ 64) dólares por dia.

Questionado pela moderadora sobre como convencer a classe trabalhadora a aceitar reformas que exigirão dela “grandes sacrifícios”, Meirelles disse que o Brasil vive uma situação diferente da enfrentada pelos países desenvolvidos, não tem a tradição de uma classe média sólida, e destacou que o desafio é voltar a crescer, modernizar e abrir a economia em busca de eficiência.

“Nos países em desenvolvimento, temos uma dinâmica diferente, não temos uma história de classe média crescente ou grande parte da população sendo classe média, como é nos países desenvolvidos. Isso é um fenômeno recente no Brasil”, afirmou o ministro.

“Nos últimos quinze anos, vimos a proporção da classe média na população dobrar. E isso aconteceu ao longo da última década. E como resultado da profunda recessão que vimos nos últimos anos, essa dinâmica se inverteu, e esse é o problema. Mas esse é um problema de muito mais curto prazo e, na minha visão, está diretamente relacionado a uma situação específica da econômica brasileira, isto é, ao fato de que a economia brasileira entrou em recessão”, disse Meirelles, acrescentando que isso afeta a todos, particularmente, a classe média e os mais pobres.

“Em suma, a saída para uma economia como a brasileira é começar a crescer de novo, voltar a gerar empregos, na verdade, modernizar e abrir economia para ficar mais eficiente. Estamos em um ciclo diferente do dos países desenvolvidos”, disse o ministro. A resposta de Meirelles foi dada em meio ao debate sobre o que vem sendo visto como uma pressão das urnas em países desenvolvidos por políticas “protecionistas”, não por mais, mas, sim, por menos abertura da economia.

Lagarde respondeu na sequência, dando ênfase à redução da desigualdade e destacando a oportunidade para reformas, como a fiscal, e da busca pela redistribuição.

“Não sei por que as pessoas não escutaram (que a desigualdade é nociva), mas, certamente, os economistas se revoltaram e disseram que não era problema deles. Inclusive na minha própria instituição, que agora se converteu para aceitar a importância da desigualdade social e a necessidade de estudá-la e promover políticas em resposta a ela”, afirmou a francesa.

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