Na crise, uma janela para reduzir gastos e ganhar qualidade
João Uchôa *

* João Uchôa é arquiteto e sócio-fundador da CICLO Arquitetura

Entre 2015 e 2018, a crise econômica derrubou o setor da construção civil. Sem dinheiro em caixa, comprar, construir ou reformar um imóvel ficou em terceiro plano. O mercado literalmente parou. Na CICLO Arquitetura, os projetos de grande e médio porte simplesmente desapareceram. Os de pequeno porte não suportavam 10% das contas do mês. O escritório começou cortando planos de saúde, reduziu as escalas de trabalho e, por último, decidiu pela desmobilização e o desligamento de pessoal.

Do efetivo de 27 arquitetos que tínhamos em 2016, reduzimos para apenas três. Em março de 2018, os contratos voltaram a aparecer e começamos um processo de recontratação do time. Mas, diferentemente do formato operante de CLT, a crise nos mostrou alternativas mais viáveis para se recuperar das enormes perdas acumuladas.

Os cinco designers de imagens virtuais que trabalhavam presencialmente na CICLO passaram a operar em regime de home office – e por serviço especifico. A solução foi boa para todos. As horas perdidas em deslocamento de alguns designers que vinham da Barra da Tijuca, do Recreio ou de Jacarepaguá, na Zona Oeste do Rio, foram transformadas em produtividade e economia.

Hoje as reuniões são por meio de aplicativos como Zoom ou Skype. No escritório, o espaço ficou mais arejado, além de demandar menos equipamentos, software e gastos com café e ar-condicionado. Trabalhando em casa, com horários livres e metas de entrega, a equipe passou a operar com mais empenho até nos fins de semana. A entrega ganhou agilidade e o prazo de recebimento tornou-se mais curto.

Muito antes do coronavírus, apostamos nesse formato de trabalho como um meio de reduzir os deslocamentos e garantir qualidade de vida. O home office contribui para desafogar o trânsito e diminuir os índices de poluição das cidades. De quebra, permite baixar consideravelmente os gastos operacionais para todos os envolvidos na atividade profissional.

O resultado é um ganho em qualidade de vida, em produtividade e economia. O meio ambiente agradece: menos carros, menos gente circulando e menos poluição. Nessa linha, começamos a contratar arquitetos com residência próxima ao local das obras. Com isso garantimos facilidade e eficiência no atendimento e, mais uma vez, redução nos deslocamentos e nos custos operacionais.

Antes da reclusão em seus lares, já trabalhávamos com 12 arquitetos e designers em sistema de home office e outros 11 na sede do escritório. Com a chegada da

pandemia, determinamos que, a contar do último dia 16, todos deveriam ficar em casa. Fechamos a primeira semana com uma resultado de 100% de eficiência no atendimento e no cumprimento de nossas metas de produção e entrega de material técnico. O trio celular, computador e internet garantem hoje, para o desenvolvimento de projetos de arquitetura e de atendimento, um resultado confiável e qualitativo.

Estamos trabalhando no desenvolvimento de três novas (e grandes) atrações para o Rock in Rio 2021, no projeto do Bioparque do Rio (antigo RioZoo), no Clube da Brahma em Goiás, no Local Market (polo gastronômico) do Leblon, no LongBoard Paradise, no Bar do Zeca Pagodinho (que vai abrir as portas na Zona Sul) e na reforma do Colégio São Vicente de Paulo. Isso sem contar o projeto da Arena Gramado, no Rio Grande do Sul, e em vários outros projetos dentro e fora do Rio de Janeiro.

O trabalho em home office tirou um tanto da agradável presença dos parceiros e nos colocou em permanente contato pelas redes e equipamentos de comunicação. Sem dúvida, essa experiência poderá em um futuro próximo servir de um bom exemplo para reduzirmos os deslocamentos na cidade e, com isso, melhorar o trânsito, a qualidade do ar e garantir maior conforto operacional para os trabalhadores.

Sabemos que nem todos os segmentos da atividade profissional poderão se beneficiar desse sistema, mas certamente podem refletir sobre diferentes meios de redirecionar o antigo formato de prestação de serviços.