Indústria de alimentos: resiliência e inovação para sustentar as populações
Primeiro dia do V International FoodTech Forum, em Campinas (SP), debate a necessidade de inovar para produzir alimentos com sustentabilidade

A indústria de alimentos tem como compromisso sustentar uma população mundial que deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, segundo estimativa da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Simultaneamente a este desafio, o sistema agroalimentar global busca reduzir em quase um terço as emissões de gases de efeito estufa por meio de ações que garantam abastecimentos mais seguros e tornem os processos de produção resistentes às mudanças climáticas. Com o propósito de discutir as transformações dos ecossistemas alimentares, o V International FoodTech Forum reuniu no primeiro dia do evento (05/06), no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital Campinas), lideranças mundiais em palestras e painéis em torno do tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. O fórum estende sua programação até quinta-feira (06/06), agregando o IV FoodTech Expo.

O V International FoodTech Forum, que se consolida como o mais importante evento de FoodTechs da América Latina, tem como eixos sustentabilidade, meio ambiente, inovação, operação Supply Chain, design de alimentos, qualidade e segurança alimentar, pesquisa e desenvolvimento, novos negócios, pesquisa e ciência, tecnologia e estratégia. Além de reunir representantes da indústria de alimentos e bebidas, governos, agências de fomento, fornecedores de ingredientes e equipamentos, empresas de food service, de embalagem, a programação agrega universidades e instituições de pesquisa.

“O fórum é um ponto de encontro para discussões de alto nível sobre a produção global de alimentos, considerando-se todos os aspectos desta complexa cadeia e os desafios diante das mudanças climáticas”, afirma Paulo Silveira, fundador e CEO do FoodTech Hub Latam, organizador do evento. Não por acaso, esta edição escolhe como tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. “A resiliência pode ser entendida como uma capacidade que permite lidar com as adversidades, absorver choques e promover adaptações à medida que rupturas e crises se interpõem às realizações”, destaca.

Durante a manhã, foram realizados dois debates: “CEO Resiliente” e “Inovação Resiliente e Colaborativa”.

À tarde, nutrição e inteligência artificial conduziram o debate “NutriTech”. As cadeias sustentáveis e inclusivas, mais especificamente voltadas à produção de cacau, foram abordadas a partir da visão de pesquisadores e do posicionamento de indústrias processadoras de cacau e outras organizações. O último debate, “Fermentação de precisão”, envolveu sistemas produtivos e nutrição.

A vez das startups

O IV FoodTech Expo reúne as startups mais disruptivas do Brasil e da América Latina e as mais importantes agri-food techs sul-americanas. Com mentores globais, a exposição também proporciona acesso a investidores.

As startups expositoras do FoodTech EXPO vão participar da seleção do Foodtech Global Challenge. Com escolha do público, as cinco mais votadas serão selecionadas para o pitch final do evento, no dia 06/06, com um corpo de jurados definindo a vencedora.

O International FoodTech Forum e o FoodTech Expo são eventos carbono zero. Tudo o que é gerado na realização da programação será compensado em créditos de carbono na parceria do FoodTech Hub Latam com a Ambipar. “Somos o primeiro evento de FoodTechs da América Latina com esse viés de sustentabilidade, um dos pilares do ecossistema FoodTech Hub Latam”, ressalta Paulo Silveira.

Eventos climáticos extremos exigem mais inovação da indústria de alimentos
Tragédia no Rio Grande do Sul acende o alerta para maiores investimentos em tecnologia e ações para mitigar os efeitos climáticos

Um mês antes da tragédia no Rio Grande do Sul, PwC e Instituto Locomotiva iniciavam uma pesquisa inédita. Após ouvir 1.510 pessoas em várias regiões do País, o levantamento acabou por revelar que a maioria dos brasileiros reconhece a influência das mudanças climáticas, com 87% acreditando que a população será ainda mais impactada em seu dia a dia. A partir das enchentes no Sul, outra pesquisa, desta vez elaborada pela Quaest, indicou que 99% dos entrevistados associavam os eventos devastadores aos efeitos climáticos. “As estatísticas, de fato, indicam uma percepção importante. E a situação no Estado dá a real dimensão de como o efeito climático afeta a produção de comida, que provoca inflação, que chega à mesa do brasileiro”, afirma Paulo Silveira, fundador e CEO do FoodTech Hub Latam. Neste cenário, ressalta, “a indústria de alimentos precisa se preparar e inovar”.

As consequências climáticas no Sul, segundo Silveira, trazem uma discussão fundamental sobre a cadeia de fornecimento de alimentos. “Um produto in natura dura 3, 4 dias. Mas a indústria consegue elaborar, de maneira segura, comida que se consegue estocar por mais tempo”, diz.

O arroz, que compõe uma porção generosa do prato do brasileiro, tem no Rio Grande do Sul o maior produtor nacional. “Tanto a cadeia do arroz quanto outras pedem alternativas”, reforça. O executivo toma como exemplo a tecnologia aplicada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no desenvolvimento genético de alimentos resistentes a calor extremo, que conseguem ter a produção assegurada.

Há cerca de uma década as premissas “mudança de clima” e “sustentabilidade” não eram consideradas na cadeia produtiva. “Atualmente, a produção dos alimentos do futuro está intrinsecamente ligada a estes dois fatores”, ressalta.

As novas formas de colocar na mesa proteína que não dependa somente da carne do boi ou de vaca, que consome muita água, requer grandes espaços e tem alta geração de gás metano, vão coexistir no futuro e interferir positivamente na questão climática. Proteínas vegetais, que já são consumidas no dia a dia, comprovadamente ajudam na mitigação do gás carbônico na atmosfera, segundo a ciência.

Como organizador do V International FoodTech Forum, um dos mais importantes eventos de FoodTechs da América Latina, Paulo Silveira observa que nas palestras, workshops, participações de investidores e público especializado “a base de toda conexão é inovação”.

Voltado a sustentabilidade, meio ambiente, inovação, operação Supply Chain, design de alimentos, qualidade e segurança alimentar, pesquisa e desenvolvimento, novos negócios, pesquisa e ciência, tecnologia e estratégia, o fórum vai reunir representantes de vários segmentos, além da indústria de alimentos e bebidas: governos, agências de fomento, fornecedores de ingredientes e equipamentos, empresas de food service, de embalagem, universidades e instituições de pesquisa.

A atual edição escolhe como tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. “A resiliência pode ser entendida como uma capacidade que permite lidar com as adversidades, absorver choques e promover adaptações à medida que rupturas e crises se interpõem às realizações”, destaca o organizador.

A indústria brasileira, que produziu 270 milhões de toneladas de alimentos e bebidas em 2023, segundo a Associação Brasileira de Alimentos (ABIA), investe cerca de 4% em inovações. Comparativamente, a indústria de software aplica 18%; a farmacêutica 12%. “Este é mais um alerta para que as empresas de alimento ampliem investimentos em inovação capaz de mitigar os efeitos climáticos para continuar abastecendo uma população mundial que não cessa de crescer”, finaliza Paulo Silveira.

Agro se atualiza com emprego de recursos de IOT, conectividade e gestão de dados
Atividade responsável por 25% do PIB brasileiro vive uma aceleração digital

O agronegócio é um grande motor que move a economia brasileira a passos largos, sendo responsável por cerca de 25% do PIB (Produto Interno Bruto). Devido a uma peculiaridade do modelo de atividade, que se ampara na produção no campo, existe ainda um mito de que esse segmento não anda em consonância com os avanços tecnológicos, como a chegada do 5G, a automatização da produção, a conectividade nas fazendas e o uso de inteligência artificial para otimizar processos.

De acordo com a pesquisa “Caminhos da Tecnologia no Agronegócio”, coordenada pela SAE Brasil e liderada pela KPMG entre 2023 e 2024, muitos dos entrevistados (produtores rurais, cooperativas, indústria de máquinas, equipamentos de tecnologia e prestadores de serviços) salientam que a adoção de novas tecnologias proporciona maior produtividade, ganhos de performance e redução nos custos. Além disso, o estudo indicou que a conectividade no campo, que antes era uma novidade, agora se tornou uma tendência emergente.

A Skyone, plataforma que simplifica a rotina e potencializa a produtividade empresarial, trabalha com diversas soluções em computação em nuvem, dados, cibersegurança, marketplace e gestão de dados, dedicando-se também a grandes produtores do agronegócio que desejam aprimorar a performance em plantio, colheita, criação de gado de corte e cultivo de commodities. De acordo com Ricardo Fernandes, diretor de operações da companhia, “um dos gargalos do setor era a conectividade e essa barreira está sendo quebrada, ainda mais com a chegada do 5G”.

“A Skyone oferece diversas oportunidades para o fazendeiro e para o produtor rural que se profissionaliza. O agronegócio nacional está cada vez mais conectado e integrado”, adianta o gestor, desmistificando o pensamento de que as fazendas continuam operando de maneira offline.

Para Fernandes, que também é um produtor agro autônomo, os avanços tecnológicos podem ser uma experiência real em fazendas em todo o País. “Atualmente, é possível programar um drone para ter uma dosagem específica. Pode-se ter internet em um trator. Além disso, tarefas então consideradas mais intuitivas, como análise da terra, colheita e armazenamento, podem ser feitas de maneira conectada e com automação”, acrescenta.

De fato, a tecnologia traz uma eficácia muito alta para o agricultor, isto é, um fazendeiro pode estar em São Paulo e, ao mesmo tempo, ficar a par do que acontece em uma propriedade no Mato Grosso. Alguns avanços, amparados por recursos tech, já são uma realidade há algum tempo, como as estações meteorológicas que operam na previsão e na precisão climática para otimizar plantações e colheitas.

Integração do agro com a tecnologia

De acordo com Fernandes, a principal integração entre agro e TI é por meio de dados. “A conectividade do campo, somada à IOT e à assertividade dos dados são uma receita para o sucesso. Quando digo isso, refiro-me a uma boa gestão das informações existentes em uma fazenda, que vai do controle do plantio, passando pela colheita e pelo manejo, e indo ao ensacamento ou à venda direta. Todas essas etapas devem ser bem registradas e esses dados precisam ser armazenados para, posteriormente, serem usados a favor do fazendeiro”, ressalta.

O diretor de operações comenta que a internet das coisas (IOT) deve se tornar uma realidade em fazendas brasileiras muito em breve, ainda mais com os avanços na agenda da inteligência artificial. “O agronegócio depende diretamente de inúmeros fatores, como clima, contexto sociopolítico internacional, economia global, mercado de commodities, variação cambial, contexto sanitário mundial, entre outros. É aqui que entraria o tripé de conectividade, IOT e gestão de dados, altamente capaz de amparar no manejo dos negócios de maneira ágil e eficiente”, complementa.

Instituto Crescer Legal supera a marca de mil jovens beneficiados
Com formato inovador, principal programa desenvolvido pela entidade visa combater o trabalho infantil e levar qualificação profissional e renda a adolescentes do meio rural

Instituto já beneficiou mais de mil jovens do meio rural (Foto: Junio Nunes)

Ao completar nove anos de atuação no próximo dia 23 de abril, o Instituto Crescer Legal já se fez presente em 20 municípios da Região Sul do Brasil, onde foram sediadas 54 turmas do Programa de Aprendizagem Profissional Rural. O formato inovador, validado pelo Ministério do Trabalho, utiliza a lei da aprendizagem.

Ao usar cotas de suas empresas associadas e apoiadoras, todas indústrias do setor do tabaco, o Instituto Crescer Legal proporciona aos filhos de produtores rurais, de 14 a 17 anos, a contratação como jovens aprendizes para que frequentem o curso de Empreendedorismo e Gestão Rural no contraturno escolar, garantindo que fiquem longe de atividades impróprias para a idade.

“O Instituto nasceu com uma vocação: ofertar oportunidades. Ouvimos muitas vezes, durante eventos de conscientização sobre o combate ao trabalho infantil, realizados junto aos produtores, a angústia dos pais, em especial de adolescentes, que gostariam de ver seus filhos estudando no contraturno, mas não tinham oportunidades nas suas comunidades. Ouvir o apelo desses pais deu o grande start para um movimento que acabou gerando o Instituto”, comenta o diretor presidente do Instituto, Iro Schünke.

Em nove anos, o Instituto Crescer Legal já esteve presente na vida de mais de mil adolescentes do campo. “É uma marca que alcançamos com o apoio de várias parcerias e o esforço de uma equipe comprometida em levar oportunidades aos adolescentes do meio rural. Temos a certeza de que estamos preparando pessoas melhores para o futuro”, celebra Schünke.

Em 2024, um passo importante foi dado: com o início de uma turma em São João do Triunfo, no Paraná, o Programa de Aprendizagem Profissional Rural, passou a abranger os três estados do Sul do Brasil. Os outros municípios beneficiados em 2024 com a iniciativa são Itaiópolis, em Santa Catarina; Gramado Xavier, Vera Cruz, Agudo, Novo Cabrais e São Lourenço do Sul, no Rio Grande do Sul. Com um total de 800 horas remuneradas, o curso iniciou em março e segue até o mês de dezembro com atividades teóricas e práticas concomitantes conduzidas pelo Instituto.

Durante o curso, os aprendizes passam por cinco eixos de aprendizagem que estão alinhados com a realidade do campo e os levam a pensar sobre seus projetos de vida e possibilidades para o futuro. São eles: o estudo e análise das propriedades rurais; o diagnóstico do município e região com estudos dos arranjos produtivos rurais; o mapeamento das parcerias locais e aliança estratégicas; trabalhos em grupo envolvendo as famílias e a comunidade; e criação e estudos de viabilidade e de desenvolvimento de um produto de gestão ou empreendedorismo.

Egressos do Instituto têm compartilhado suas vivências e projetos de vida no blog Histórias, do Instituto. É o caso da jovem Paola Natalia Silveira Bittencourt, 15 anos, que foi aprendiz em 2023, na turma de Rio Pardo (RS). “Nasci e me criei no campo e jamais quero deixá-lo porque o meio rural é meu lugar e minha grande paixão. Meus pais são agricultores e eu sempre tive orgulho e admiro muito a profissão deles. O campo tem um leque de opções para quem deseja construir uma carreira promissora no agro, que é o setor que coloca comida na mesa das pessoas”, reflete. Para conhecer mais histórias, acesse: www.crescerlegal.com.br/historias .