Eventos climáticos extremos exigem mais inovação da indústria de alimentos
Tragédia no Rio Grande do Sul acende o alerta para maiores investimentos em tecnologia e ações para mitigar os efeitos climáticos

Um mês antes da tragédia no Rio Grande do Sul, PwC e Instituto Locomotiva iniciavam uma pesquisa inédita. Após ouvir 1.510 pessoas em várias regiões do País, o levantamento acabou por revelar que a maioria dos brasileiros reconhece a influência das mudanças climáticas, com 87% acreditando que a população será ainda mais impactada em seu dia a dia. A partir das enchentes no Sul, outra pesquisa, desta vez elaborada pela Quaest, indicou que 99% dos entrevistados associavam os eventos devastadores aos efeitos climáticos. “As estatísticas, de fato, indicam uma percepção importante. E a situação no Estado dá a real dimensão de como o efeito climático afeta a produção de comida, que provoca inflação, que chega à mesa do brasileiro”, afirma Paulo Silveira, fundador e CEO do FoodTech Hub Latam. Neste cenário, ressalta, “a indústria de alimentos precisa se preparar e inovar”.

As consequências climáticas no Sul, segundo Silveira, trazem uma discussão fundamental sobre a cadeia de fornecimento de alimentos. “Um produto in natura dura 3, 4 dias. Mas a indústria consegue elaborar, de maneira segura, comida que se consegue estocar por mais tempo”, diz.

O arroz, que compõe uma porção generosa do prato do brasileiro, tem no Rio Grande do Sul o maior produtor nacional. “Tanto a cadeia do arroz quanto outras pedem alternativas”, reforça. O executivo toma como exemplo a tecnologia aplicada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no desenvolvimento genético de alimentos resistentes a calor extremo, que conseguem ter a produção assegurada.

Há cerca de uma década as premissas “mudança de clima” e “sustentabilidade” não eram consideradas na cadeia produtiva. “Atualmente, a produção dos alimentos do futuro está intrinsecamente ligada a estes dois fatores”, ressalta.

As novas formas de colocar na mesa proteína que não dependa somente da carne do boi ou de vaca, que consome muita água, requer grandes espaços e tem alta geração de gás metano, vão coexistir no futuro e interferir positivamente na questão climática. Proteínas vegetais, que já são consumidas no dia a dia, comprovadamente ajudam na mitigação do gás carbônico na atmosfera, segundo a ciência.

Como organizador do V International FoodTech Forum, um dos mais importantes eventos de FoodTechs da América Latina, Paulo Silveira observa que nas palestras, workshops, participações de investidores e público especializado “a base de toda conexão é inovação”.

Voltado a sustentabilidade, meio ambiente, inovação, operação Supply Chain, design de alimentos, qualidade e segurança alimentar, pesquisa e desenvolvimento, novos negócios, pesquisa e ciência, tecnologia e estratégia, o fórum vai reunir representantes de vários segmentos, além da indústria de alimentos e bebidas: governos, agências de fomento, fornecedores de ingredientes e equipamentos, empresas de food service, de embalagem, universidades e instituições de pesquisa.

A atual edição escolhe como tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. “A resiliência pode ser entendida como uma capacidade que permite lidar com as adversidades, absorver choques e promover adaptações à medida que rupturas e crises se interpõem às realizações”, destaca o organizador.

A indústria brasileira, que produziu 270 milhões de toneladas de alimentos e bebidas em 2023, segundo a Associação Brasileira de Alimentos (ABIA), investe cerca de 4% em inovações. Comparativamente, a indústria de software aplica 18%; a farmacêutica 12%. “Este é mais um alerta para que as empresas de alimento ampliem investimentos em inovação capaz de mitigar os efeitos climáticos para continuar abastecendo uma população mundial que não cessa de crescer”, finaliza Paulo Silveira.