Muitos já ouviram falar no termo Comunicação Não-Violenta (CNV), mas poucos ainda fazem uso desse importante e eficaz instrumento que pode ser aplicado por organizações e instituições, a fim de desenvolver empatia, promover entendimento, cooperação e pacificação. A constatação não é diferente na área jurídica: boa parte dos cerca de 300 participantes do debate ‘Diálogo, Escuta, Comunicação e a Mediação’ – realizado no último dia 18, durante o III Seminário Internacional de Mediação, em Belo Horizonte (BH) – afirmou ter conhecimento sobre CNV, mas menos de 20 pessoas informaram ter passado por algum treinamento. A plateia era formada por ministros – Delaíde Arantes (TST) e Reynaldo Soares da Fonseca (STJ) –, juízes, desembargadores, advogados, mediadores, profissionais atuantes no campo do Direito e acadêmicos. O evento foi promovido pela Conférence Internationale de Médiation pour la Justice (CIMJ), pelo Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG) e Instituto de Mediação Aplicada (IMA).
“Em alguns litígios, ocorre uma ruptura do diálogo. A CNV ajuda o mediador a demonstrar empatia para as partes em conflito e oferece ferramentas que, independentemente do âmbito, possam equilibrar questões emocionais, identificar interesses e necessidades subjacentes, além de estabelecer, entre os interessados, uma comunicação que conduza a consensos e acordos. Em se tratando do Judiciário, a mediação preserva relações, evita custos, desperdício de recursos e tempo”, explica Marie Bendelac Ururahy, sócia e cofundadora da Be Coaching Brasil, que participou da mesa como palestrante e debatedora.
Marie foi convidada pela juíza Martha Halfeld Furtado de Mendonça Schmidt – do TRT 3ª Região e Tribunal de Apelação da ONU – e pela psicanalista Rita Andréa Guimarães de Carvalho Pereira, mestre em Mediação pelo Institut Kurt Bosch Sion e presidente do Instituto de Mediação Aplicada (IMA). O bom engajamento dos participantes gerou interesse para que a cofundadora da Be Coaching Brasil promova em Belo Horizonte, no segundo semestre, o curso Comunicação Não-Violenta para Mediadores, que também será organizado, em agosto, na Câmara de Comércio França-Brasil (CCFB), no Rio de Janeiro.
“A CNV vem revolucionando os relacionamentos em mais de 100 países e despertando atenção cada vez maior no Brasil, tanto em relação à sua utilidade individual quanto nos ambientes corporativos e institucionais, como em governos e até na ONU. Desenvolvida pelo psicólogo norte-americano Marshall Rosenberg durante aproximadamente 50 anos de pesquisa, é oportuníssima em momentos como o atual, em que as pressões sociais, econômicas e políticas agem como potencializadores do estresse coletivo, o que gera frequentes desentendimentos e desacordos, com prejuízos aos envolvidos”, explica Marie. Ela destaca que, nos anos 60, Rosenberg trabalhava como orientador educacional em escolas e universidades dos Estados Unidos que aboliram a segregação racial. Em meio às tensões geradas do período, ele conduzia um processo de transição pacífica, por meio de arbitragem e treinamento em técnicas comunicativas.
O III Seminário Internacional de Mediação foi organizado com o intuito de promover amplo debate sobre a mediação, a partir da difusão de ideias e práticas que permitam a realização da justiça nos tempos atuais. “O mediador de conflitos tem papel fundamental em nossa sociedade. Devido às tensões do cotidiano, as pessoas vêm sendo obrigadas a lidar com diferentes situações, mas que requerem soluções, pois o preço dos rompimentos é muito alto para qualquer um, sejam cidadãos ou instituições”, diz Marie. O evento foi encerrado com palestra de Michèle Guillaume Hofnung, professora catedrática de Direito Público na França, responsável pelo projeto de mediação da Universidade de Paris II e vice-presidente da Comissão dos Direitos Humanos da Comissão Nacional Francesa para a UNESCO.