No mês da luta contra hepatites virais, especialista explica tratamento e alerta para importância do diagnóstico precoce
Julho Amarelo preza pela conscientização no combate às doenças hepáticas virais, que mataram mais de 80 mil pessoas no século XXI

Por Vicente Arantes

Dia 28 de julho é marcado por ser o Dia da Luta Contra Hepatites Virais, celebrado mundialmente e que busca abrir os olhos da população para a doença hepática. No último dia 4 de julho, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei que implementa o Julho Amarelo, expandindo para o mês todo a prevenção e conscientização sobre as hepatites virais. Para a hepatologista Ana Maria Pittella, do Hospital Quinta D’Or, o diagnóstico precoce é essencial. “É preciso informar a população sobre a importância dos exames de check-up, sobretudo para os grupos de risco, para hepatites B e C; no caso do vírus C, o tratamento cura em 90% dos casos. A população precisa ser conscientizada”, afirmou a profissional.
 
Dados divulgados pelo Ministério da Saúde em julho do ano passado apresentaram números entorno das hepatites virais no Brasil no século: foram 718 mil casos, sendo mais de 75% deles das hepatites B e C, que também são as formas mais perigosas da doença hepática. Nos óbitos, a maior parte foi decorrente de complicações da hepatite C: 62 mil mortes, quase 77% do total das hepatites virais. Apesar dos altos números, é bom lembrar que as hepatites A, B e C possuem tratamento: no caso dos vírus A e B, já existem vacinas que combatem a doença, enquanto no vírus C existem medicações que trazem a cura em 90% dos casos. A vacina contra hepatite B, inclusive, pode ser encontrada em qualquer posto público de saúde no Brasil.
 
Ana Pittella explica que, nos casos do vírus B, o tratamento com medicamentos também foi alterado com o tempo. “Trabalhávamos no passado com o interferon, depois viemos com drogas orais e hoje nós temos medicamentos dedicados a pacientes com comprometimento renal”, levanta a doutora, que acrescenta: “hoje em dia, com relação à hepatite C, pacientes tomam pílulas de 8 a 12 semanas e estão curados. Ficamos muito felizes em poder oferecer um tratamento praticamente sem efeito adverso”.
 
Ambos os vírus, das hepatites B e C, podem levar à cronificação da doença hepática e a complicações graves, como cirrose e câncer de fígado. No vírus C, no entanto, o grande perigo está na maneira silenciosa que ele se espalha, na maioria dos casos de forma assintomática. A melhor forma de descobrir a hepatite C é através de exames de rotina, que identifiquem a presença do vírus antes de problemas mais sérios. “Nós pensamos ‘hepatite C tem tratamento, a população está bem informada’, mas não é bem assim. Nós tratamos pacientes com hepatite C e que desconhecem da doença, não é incomum que recebamos um paciente que descobriu um nódulo hepático por acaso em ultrassonografia”, conta Ana Pittella, que também é pesquisadora do Instituto D’Or desde junho de 2020.
 
A médica do Quinta D’Or também alerta para que pacientes com câncer e que serão submetidos a quimioterapia façam exame para identificar possível presença dos vírus das hepatites B ou C no organismo. O motivo é que, caso haja a infecção e a quimioterapia seja iniciada, o tratamento oncológico pode exacerbar a hepatite, gerando complicações mais graves no futuro. “Nós, hepatologistas, entendemos que não podemos trabalhar sozinhos. Temos que estar em parceria com outras especialidades, como os  oncologistas, para que o doente seja o maior beneficiado”, finaliza Ana.
 
Doença hepática gorda não alcoólica merece atenção
 
Por mais que não se trate de uma hepatite viral, a esteatose hepática é o tipo de hepatite que mais ocupa os ambulatórios hospitalares em 2023 e, para Ana Pittella, merece grande atenção por parte da população. A doença do fígado gordo, como é popularmente chamada, é um distúrbio do metabolismo que causa o acumulo de gordura dentro do fígado, podendo ocasionar problemas idênticos as hepatites virais, como cirrose e o próprio câncer de fígado. A especialista alerta pessoas que façam parte do grupo de risco da esteatose hepática, como os diabéticos ou portadores de sobrepeso ou obesidade, a procurarem aconselhamento médico e mudarem o estilo de vida: “Nós temos formas de corrigir isso”.