Crise energética na China pressiona AL
Especialistas apontam os riscos de o país asiático reduzir a demanda por commodities

 

Por Roberto Lameirinhas, do Valor Econômico

A América Latina assiste preocupada ao desenrolar da crise de energia que paralisa fábricas na China e tem o potencial de frear a demanda do país por commodities. O risco de paralisação nas cadeias de produção chinesas pressiona economias globalmente, mas os efeitos podem ser mais danosos para os grandes exportadores de matérias-primas da região.

“Os mercados globais sentirão a pressão da escassez de oferta de produtos que vão de tecidos a peças de máquinas”, escreveu Ting Lu, economista-chefe para a China da Nomura, em um relatório, afirmando que isso deve ampliar a pressão inflacionária no mundo. O efeito mais claro aparece na escassez mundial de semicondutores, que prejudica a indústria automobilística. A situação é agravada pelas incertezas nos setores imobiliário e de construção chineses e podem afetar a demanda por metais.

As sucessivas ondas de choque causadas pela China, considerada o principal motor do crescimento mundial, podem ter outros efeitos. “Um canal potencial de contágio da crise chinesa é uma desaceleração desordenada na China que leve a condições financeiras globais mais apertadas e maior aversão ao risco em relação aos mercados emergentes”, disse o economista do Goldman Sachs, Alberto Ramos. “Isso impactaria negativamente os fluxos de capital para a América Latina e também geraria ventos contrários ao crescimento.” O Goldman Sachs prevê crescimento zero do PIB da China no terceiro trimestre.

Pesquisa da semana passada do grupo Nikkei, com 29 economistas, concluiu que o crescimento chinês deve cair para 5%, de julho a setembro, em razão das medidas contra a covid-19 e à escassez de energia. Eles apontam os problemas imobiliários da China como principal risco para o restante do ano, especialmente o impacto da crise da dívida de Evergrande na indústria e suas consequências para os setores bancário e de seguros.

“Um rebaixamento significativo das expectativa de crescimento na China, com impacto sobre o preço das commodities, empurrará para baixo as previsões de crescimento para a América Latina”, disse William Jackson, economista da Capital Economics. “A crise de energia chinesa deve levar a restrições maiores do que as que pesam hoje sobre a indústria global.”

“Os efeitos são muitos, e um dos mais visíveis é que, para os bancos centrais latino-americanos, isso justifica a continuação da política de aumento das taxas de juros de forma agressiva”, prosseguiu. “O resultado é a desaceleração da indústria na região, que sofre ainda com as dificuldades em garantir peças de componentes exportadas pela China”

Embora hesitem em mencionar um número, a maioria dos analistas vê agora um ritmo de crescimento na região muito mais lento do que nos últimos meses. Um cenário que ocorre ao mesmo tempo em que o aumento da demanda pós-pandemia e a redução da oferta de produtos industrializados pressionam a inflação.

“A China passa por uma desorganização importante nas cadeias produtivas; o que leva a um custo adicional de produção industrial, principalmente de produção de energia elétrica”, afirmou o economista da FGV-Ibre Livio Ribeiro. “Se isso vai levar a um efeito de exportação de inflação para a América Latina e para mundo é um tema a se acompanhar de perto. O certo é que nesse momento o custo de se produzir na China está mais alto.”

O relatório do Banco Mundial divulgado na semana passada – que não leva totalmente em conta os problemas na China – ainda prevê crescimento de 6,3% para a América Latina em 2021 – que não conseguirá reverter completamente a contração de 6,7% do ano passado em razão da pandemia.

“De modo geral, é possível o cenário em que a desaceleração da atividade na China contenha a pressão inflacionária sobre algumas commodities básicas, especialmente as de construção”, explicou o analista da Oxford Economics no México, Joan Domene. “Porém, a pressão na frente de energia poderia ser mais duradoura e acreditamos que haverá inflação acima da meta em toda a região devido a esses choques.”

“Acreditamos firmemente que, à medida que os estímulos fiscais e monetários diminuem, os países latino-americanos voltarão ao baixo crescimento”, prosseguiu Domene. “Também observamos que a estagflação é um risco, embora não seja um cenário de base.”

Para a especialista Margaret Myers, do centro de estudos de Washington Inter-American Dialogue, a crise atual precisa ser encarada pela região como um desafio geopolítico, além do econômico. “A dependência contínua e ampliada das exportações de commodities para um único mercado deixa os países latino-americanos vulneráveis a choques de preços futuros e inevitáveis”, declarou.

“Há uma possibilidade muito clara de que muitos outros desafios econômicos, demográficos e estruturais da China acabarão por reduzir consideravelmente o envolvimento do país em setores-chave na região no médio prazo”, acrescentou.

China contraria plano da OMS de investigar origens do coronavírus no país
Vice-ministro chinês pede que a entidade trate o surgimento do vírus como 'questão científica, sem interferência política'

 

O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde chinesa, Zeng Yixin

 

Do Estadão

A China se opôs ao plano da Organização Mundial de Saúde (OMS) de realizar uma segunda fase da investigação sobre a origem do coronavírus, incluindo a hipótese de que ele poderia ter vazado de um laboratório chinês. A entidade recomendou este mês que sejam feitas auditorias de laboratórios e mercados na cidade de Wuhan, pedindo transparência das autoridades. O vice-ministro da Comissão Nacional de Saúde do país asiático, Zeng Yixin, disse nesta quinta-feira, 22, que a iniciativa “contraria o bom senso”.
“Não aceitaremos este plano de rastreamento, pois, em alguns aspectos, ele ignora o bom senso e desafia a ciência”, disse Yixin a repórteres. Ele acrescentou que ficou surpreso ao ler a sugestão da OMS pela primeira vez, já que consta a hipótese de uma violação de protocolos de laboratório por parte da China.
O chefe da OMS afirmou, no início de julho, que as investigações sobre as origens da pandemia estavam sendo dificultadas pela falta de informações sobre os primeiros dias de disseminação do vírus. Zeng reiterou a posição da China de que alguns dados não podem ser completamente compartilhados devido a questões de privacidade.
“Esperamos que a OMS analise seriamente as considerações e sugestões feitas por especialistas chineses e trate a origem da covid-19 como uma questão científica, sem interferência política”, disse o vice-ministro.
A busca pelas origens do vírus se tornou uma questão diplomática complicada, cujo efeito foi piorar as relações da China com os Estados Unidos e muitos de seus aliados. Os EUA e outros países dizem que o país asiático não foi transparente sobre o que aconteceu nos primeiros dias da pandemia. Já a China se defende dizendo que a questão está sendo politizada e deveria ser deixada para os cientistas.

Tedros Adhanom, diretor-geral da OMS, reconheceu na semana passada que é prematuro descartar uma possível ligação entre a pandemia e um vazamento de laboratório do governo chinês em Wuhan, a cidade onde a doença foi detectada pela primeira vez no fim de 2019. Ele disse esperar por uma melhor cooperação e acesso a dados, acrescentando que este foi um desafio para a equipe internacional de especialistas que viajou ao país este ano para investigar a causa do surto.

“Eu também fui técnico de laboratório, e acidentes acontecem”, disse Adhanom. Seu posicionamento foi apoiado pelo ministro da saúde da Alemanha, Jens Spahn, que pediu às autoridades chinesas que permitissem que a investigação continuasse.

Zeng disse que o laboratório de Wuhan não trabalha com vírus que infectem humanos diretamente. Ele observou que a equipe de especialistas coordenada pela OMS concluiu que um vazamento era altamente improvável.

No primeiro semestre, a equipe afirmou que o vírus provavelmente passou de animais para humanos, com especulações sobre sua origem focadas em morcegos, que por sua vez podem tê-lo transmitido para pangolins, tradicionalmente vendidos nos mercados chineses de alimentos.

Segundo Zeng, não são verdadeiros os relatos de que funcionários e alunos de pós-graduação do Instituto de Virologia de Wuhan contraíram o vírus e o transmitiram a outras pessoas. Ele reiterou que a China “sempre apoiou o rastreamento científico da doença” e deseja que isso se estenda a vários países e regiões em todo o mundo. “No entanto, nos opomos a politizar o trabalho de rastreamento”, finalizou.

Lira pede ajuda da China para acelerar combate à covid-19 no Brasil
Presidente da Câmara quer "olhar humano e solidário" de parceiros

 

Da Agência Brasil

O presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), pediu ao embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, ajuda ao governo chinês para superação da pandemia de covid-19. Após reunião com Yang Wanming, por videoconferência, nesta terça-feira (9), Lira divulgou uma carta em que reafirma a parceria entre Brasil e China e pede que o país asiático ofereça insumos e vacinas contra a covid-19.

“Eu me dirijo ao governo chinês neste momento de grande angústia para nós brasileiros, para que nossos parceiros chineses tenham um olhar amigo, humano, solidário e nos ajudem a superar a pandemia, oferecendo os insumos, as vacinas, todo o apoio” de que o Brasil precisa “neste grave momento”, disse o deputado.

Lira defendeu ainda a vacinação em massa contra a covid-19 como forma de superar a pandemia, bem como o acesso a todos os imunizantes disponíveis contra a doença. “Se nós não vacinarmos em massa a população brasileira, não sairemos dessa situação grave da pandemia. É importante que tenhamos acesso a todas as vacinas produzidas no mundo”, afirmou. “Em nome da Câmara, eu reafirmo este apelo, e que nós encontremos bilateralmente uma solução mais rápida para dar essa resposta ao povo brasileiro”, destacou.

Na carta, Lira lembra que a China é o maior parceiro comercial do Brasil e defende o diálogo para reforçar os laços entre os dois países e minimizar possíveis atritos diplomáticos.

Segundo Lira, os interesses das duas nações não podem ser afetados pelas “circunstâncias, pelas ideologias, pelos individualismos”. Mas apenas e tão somente pelo interesse nacional e pelo bem-estar dos dois povos, enfatizou.

“Faço esse apelo para que salvemos vidas de brasileiros – brasileiros que alimentam e salvam vidas de chineses com nossa produção agrícola. É com compreensão, diálogo e respeito, solidariedade mútua, que iremos reforçar cada vez mais nossos laços”, afirmou Lira.

Estreitamento de relações

Por meio de uma rede social, o embaixador Yang Wanming disse que a conversa com Lira foi uma enorme “alegria”.

“Trocámos opiniões sobre o intercâmbio entre os poderes legislativos, estreitamento das relações sino-brasileiras, sobretudo a parceria no combate à pandemia e cooperações pragmáticas”, escreveu.

China contribuiu com mais da metade do superávit comercial do Brasil
Desempenho das commodities explica o valor exportado em 2020

 

O setor agropecuário aumentou em 17% o volume de exportação para China

 

Da Agência Brasil

O Boletim de Comércio Exterior (Icomex) divulgado, hoje (15), pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FVG/Ibre) aponta que o único resultado positivo em 2020 no setor foi o superávit comercial. A análise foi feita diante do cenário de superávit da balança comercial de US$ 50,9 bilhões, dos investimentos estrangeiros no país de janeiro a novembro de US$ 33 bilhões e da previsão de recuo no Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e serviços produzidos no país) de 4,7%. Mesmo positivo, o superávit comercial contribuiu para a queda do déficit em conta-corrente em um momento de retração da entrada de capital no país.

De acordo com o Icomex, a China contribuiu com US$ 33,6 bilhões no superávit, enquanto entre os principais parceiros a contribuição dos Estados Unidos foi negativa. O saldo com a União Europeia foi positivo em US$ 1,5 bilhão, no entanto, o valor é abaixo dos países da América do Sul, inclusive Argentina, de US$ 6 bilhões, e do restante da Ásia.

Na edição de dezembro, o boletim do Icomex estimava um superávit de US$ 55 bilhões. A diferença entre a previsão e o fechamento, segundo o Ibre, foi provocada por uma importação de US$ 4,8 bilhões de plataformas de petróleo, que provocou um déficit na balança comercial de dezembro de US$ 41,6 milhões. “Sem as plataformas, o superávit em dezembro seria de US$ 4,7 bilhões e a nossa estimativa para o ano estaria correta”, diz o boletim.

A análise destaca também que mesmo excluindo as plataformas, as importações aumentaram na comparação interanual, o que também ocorreu no mês de novembro. “Esse resultado sinaliza um movimento de ompras positivo e, logo, de alguma melhora no nível de atividade”.

Commodities

O desempenho das commodities, na avaliação do Ibre, explica os 66% do valor exportado em 2020, o que representa o maior percentual da série histórica iniciada em 1998, quando foi de 40%. O valor das exportações de commodities cresceram 0,5% de 2019 para 2020 e das não commodities recuaram 18,5%. Em volume, as commodities cresceram 7,4% e as não commodities recuaram 13,5%.

Com o aumento de volume de 7,4%, o setor agropecuário foi líder nas exportações brasileiras em 2020, explicada pelo aumento do volume das exportações para a China (17%). A participação do país saiu de 28,1% para 32,3% de 2019 para 2020. Os demais países da Ásia também registraram contribuição positiva de 11,1%, e explicam 14,9% das exportações brasileiras.

Ainda na comparação anual, todos os outros principais parceiros recuaram nas exportações. No mês de dezembro repetiu-se o comportamento do mês de novembro, quando foi registrado aumento das vendas para a Argentina, demais países da América do Sul e outros países da Ásia.

De 2019 para 2020, o volume importado teve queda em todos os setores e a indústria extrativa registrou a maior queda, de 16,1%. Em dezembro, a indústria de transformação foi destaque com variação positiva de 12,7% nas vendas externas e aumento de 66,8% nas compras. “Aqui, no entanto, é preciso descontar o efeito das plataformas [de petróleo]. Sem as compras de plataformas, a variação foi de 21,2%”, diz o boletim.

A queda nas importações puxada pela recessão do nível de atividade influenciou o superávit da balança comercial, como também o aumento nas exportações de commodities direcionadas para a China, que reduziu a queda nas vendas externas em um ano de forte retração na demanda mundial, diz ainda o Icomex.

Previsões para 2021

O boletim indica que as incertezas relacionadas à pandemia ainda não desapareceram dos cenários mundial e do Brasil, mas alguns pontos sugerem condições positivas para as exportações brasileiras. O primeiro está ligado à alta nos preços das commodities, que já começou a ser observado no segundo semestre de 2020 e se refletiu na melhora dos termos de troca, a partir de julho de 2020.

“Os investimentos chineses demandaram compras de minério de ferro e cobre. Ademais, os preços de alguns alimentos como soja, carne, e de trigo, cresceram com retrações de oferta devido a secas e os efeitos que ainda perduraram da crise suína na China”.

Ainda conforme a análise, há um certo grau de sincronização de pacotes fiscais expansionistas na Europa, Estados Unidos e China, que sustentam o aumento da demanda. Para o Ibre, a posse de Joe Biden na Presidência dos Estados Unidos poderá intensificar as políticas expansionistas e, assim, provocar o enfraquecimento do dólar, que costuma ser acompanhado do aumento dos preços de commodities.

“O aumento de preços das commodities é uma boa notícia para o Brasil. A melhora nos termos de troca associada aos preços de commodities ajuda as exportações brasileiras de manufaturas com os parceiros sul-americanos exportadores de commodities. No entanto, para que o Brasil continue sendo um dos líderes nas vendas de commodities, especialmente agrícolas, o governo deve priorizar sua política ambiental e climática”, recomenda o Ibre.