A transformação digital está sendo discutida intensamente nas empresas com a promessa de ampliar a competividade, alavancar negócios e melhorar a experiência dos clientes. Apesar disso, há muito ainda a ser feito para incluir as áreas de contabilidade, que estão começando a ser envolvidas nesse processo de transformação.
De acordo com a pesquisa “Automação de relatórios financeiros e contabilidade técnica” da KPMG UK, as áreas de contabilidade e relatórios financeiros ainda estão operando em um modelo antigo de tecnologia. Essa afirmação fica clara quando observamos que mais de 50% dos respondentes informaram que usam planilhas eletrônicas e de texto no processo de preparação das demonstrações financeiras e somente uma minoria possui um software ou ferramenta em Nuvem para essas atividades.
O uso de tecnologia na contabilidade agiliza processos, aumenta eficiência, reduz erros e melhora a precisão da informação, fornecendo aos tomadores de decisão melhor embasamento nas suas decisões estratégicas. Quando a abordagem é baseada em análise de dados, identifica atributos e riscos, fornece informações preditivas, realiza análises automatizadas, previne erros e otimiza o processo de geração de informação.
Esses benefícios já estão começando a ser percebidos pelos profissionais da contabilidade, pois 90% dos entrevistados considera importante o processo de automação nas atividades de elaboração de relatórios financeiro e nas funções técnicas contábeis. Outro dado bastante interessante da pesquisa revela que uma grande parte dos profissionais planeja iniciar um processo automação nos próximos 2 anos.
Além dos benefícios já citados, outro ganho relevante para os profissionais e as empresas nesse processo de transformação digital é a possibilidade de investirem o seu tempo em atividades que geram valor ao negócio e desempenharem um papel mais estratégico dentro da organização.
Contudo, a entrada de novas tecnologias nas áreas contábil e de finanças, também impõe desafios. O primeiro diz respeito à disponibilidade de soluções efetivas, além disso, existem desafios relacionados a obtenção de orçamento para investimentos em ferramentas e conhecimento sobre como e, também, o que mudar dentro do processo de transformação digital das áreas de contabilidade e finanças.
Outro desafio depende do profissional contábil se adaptar para acompanhar o ritmo de alterações das normas contábeis, da tecnologia, demandando investimentos em recursos humanos no desenvolvimento de novas habilidades, já que a tecnologia vem transformando o perfil desse especialista.
Além dos desafios impostos, é importante que os profissionais de finanças tenham uma compreensão clara da estratégia de negócios e das expectativas de seus acionistas, bem como avaliem as oportunidades no contexto de suas atividades, considerando a automação de atividades repetitivas, uso de ferramentas analíticas, uso de tecnologias com alto potencial de processamento de dados, entre outros recursos.
Cabe ao diretor financeiro e aos líderes da função financeira mapearem esses pontos, as tendências da transformação digital, determinarem um plano e impulsionarem o processo. Em muitos casos, isso já começou — e é provável que acelere, dada a evolução que os entrevistados esperam ver em suas funções.
As tecnologias estão invadindo as áreas de contabilidade e finanças no Brasil em um caminho sem volta. A utilização de recursos como automação, análise de dados, inteligência artificial, robótica, computação cognitiva estão possibilitando uma redução significativa no tempo gasto em atividades manuais e rotineiras e potencializando o fator humano em atividades mais analíticas, fazendo com que os profissionais possam se antecipar as mudanças de cenário a partir dados preditivos somados a informação contábil, que é o principal instrumento dos tomadores de decisão.
A transformação digital está submetendo os profissionais de finanças e contabilidade a uma jornada desafiadora, uma vez que essa mudança extrapola iniciativas isoladas relacionadas exclusivamente a processos de negócios e implementação de novas tecnologias, mas, também, possui um forte viés na cultura e nas pessoas. As empresas que capitalizarem essa transformação e vencerem a batalha da transformação de dados em valor assumirão posições relevantes e terão a oportunidade de alavancarem novos negócios a partir do uso estratégico da informação contábil.
*Carmo Barboni é sócio-diretor da Prática de Consultoria Contábil da KPMG no Brasil