Publicado inicialmente na Folha de S.Paulo. Leia aqui.
O interesse de universitários por carreiras da área da saúde tem se ampliado nos últimos anos, especialmente após a pandemia.
Dados da Educa Insights e da Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) mostram que o número de ingressantes em carreiras de saúde nas instituições particulares cresceu cerca de 146% entre 2015 e 2022 —nos cursos em geral, o aumento foi de 76%.
“Há uma maior demanda por profissionais de saúde”, afirma Celso Niskier, diretor-presidente da Abmes. “Naturalmente as universidades tentam acompanhar isso: quem não tem esses cursos busca criá-los.”
Entre as carreiras mais procuradas, Niskier destaca a medicina e a psicologia. “Estudantes do ensino básico também estão sofrendo com questões de saúde mental, e isso abre um mercado ainda maior para esse tipo de profissional”, diz ele.
No caso da medicina, o imbróglio quanto à abertura de novos cursos gera uma demanda reprimida, de acordo com o representante da Abmes. Momentaneamente parado, o tema está em julgamento no STF.
Niskier atribui a falta de vagas em faculdades de medicina no país à imigração de universitários para vizinhos na América do Sul, como a Argentina, onde há 20 mil brasileiros cursando a carreira.
Uma das universidades com interesse em formar médicos é o Mackenzie, que aguarda o processo de tramitação no MEC. A instituição construiu um novo prédio, de 6.300 m², no campus de Alphaville e pretende renovar seu portfólio de opções para graduação, que pode incluir psicologia e fisioterapia.
Hoje, os alunos da unidade cursam direito, administração, ciência da computação ou sistemas de informação.
Dos R$ 42 milhões investidos na construção do prédio, R$ 17 milhões foram destinados a laboratórios para saúde, incluindo instalações voltadas para medicina e enfermarias.
“Há um sonho antigo do Mackenzie de dedicar a área de Alphaville a vocações do campo da saúde”, diz Marco Tullio Vasconcelos, reitor da instituição presbiteriana. A universidade particular foi considerada a melhor de sua categoria na pesquisa Datafolha, com 23% das menções espontâneas.
Segundo Vasconcelos, a quarta vitória seguida no levantamento é fruto da constante modernização tecnológica e estrutural dos campi. Neste ano, foram inaugurados três novos laboratórios na faculdade de engenharia, por exemplo, que pela primeira vez teve mais estudantes ingressantes do que formandos.
Outro fator que explica a popularidade entre as classes A e B —contempladas pela pesquisa— é a proximidade do Mackenzie com o mercado e a indústria, seja institucionalmente, seja através dos professores, muitos dos quais dividem a docência com atuação profissional.
“Temos parcerias com grandes empresas nacionais e estrangeiras, que vêm olhar o que temos e, às vezes, até montam showrooms dentro dos nossos laboratórios”, acrescenta o reitor.
Também impulsionados pela pandemia, os cursos EAD têm se expandido dentro das instituições. O Mackenzie tem cerca de 4.500 alunos distribuídos entre 15 opções de graduação a distância, entre licenciaturas e tecnólogos.
A maioria das pessoas que optam pelo EAD, diz Vasconcelos, são mais velhas, já têm emprego e estão cursando a segunda graduação. No presencial, predominam os estudantes com idade entre 17 e 26 anos.
Elizabeth Guedes, presidente da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup) e membro do Conselho Nacional de Educação, chama atenção para o interesse de pequenas faculdades em oferecer apenas ensino a distância.
Ela critica as instituições que produzem conteúdo online sem base em um projeto pedagógico. “Eu acho que esse modelo tem perna curta, porque o que vence no final é a qualidade.”