A relevância e a urgência da eficiência energética nas empresas
Luis Dearo e Luis Oliani*

 

Luis Dearo é administrador e Presidente da APS

Existe uma previsão de que a população global deve aumentar para 9,7 bilhões de pessoas até 2050. No mesmo período, a expectativa é que economia global irá potencialmente dobrar. Além disso, a urbanização e a melhoria do padrão de vida devem aumentar significativamente a demanda por energia. Hoje, quase metade de toda a energia elétrica mundial é consumida por motores elétricos, mas muitas pessoas não sabem.

Por outro lado, esse crescimento populacional envolve outros aumentos de consumo. Se a população cresce 25%, isso significa mais consumo de alimentos, roupas, eletrônicos, eletrodomésticos, veículos, moradias, móveis, etc.

Com um aumento na população, há uma maior demanda por alimentos para sustentar mais pessoas. Isso gera, também, a necessidade de um aumento na produção agrícola, pesca e criação de animais para fornecer alimentos suficientes à população em crescimento.

O aumento na população significa, ainda, que haverá mais pessoas precisando de roupas e outros itens de vestuário, o que impacta na produção têxtil e no consumo de matérias-primas, como algodão e fibras sintéticas. Da mesma forma, o aumento populacional leva a uma demanda maior por plástico, que é amplamente utilizado na fabricação de uma variedade de produtos, desde embalagens até eletrônicos e automóveis. O consumo de plástico tende a subir, assim como a sua necessidade de produção, contribuindo para questões relacionadas à poluição e ao descarte inadequado de resíduos plásticos.

Mais pessoas também implicam em uma maior demanda por dispositivos eletrônicos, como celulares, TVs e outros aparelhos eletrônicos, que requerem matérias-primas e energia para sua produção, além de gerar resíduos eletrônicos quando descartados.

Além disso, o crescimento populacional significa que mais pessoas precisarão de moradia. Isso pode levar a um aumento na construção de novas residências, tanto em áreas urbanas quanto rurais, para acomodar essa população.

No que diz respeito à internet, um aumento na população traz mais demanda por serviços de internet e telecomunicações. Isso significa que mais pessoas vão usar a internet para se comunicar, acessar informações, realizar transações online e entretenimento digital, o que exigirá investimentos adicionais em infraestrutura de telecomunicações para atender às necessidades crescentes.

Num período mais curto do que esse, até 2040, ou seja, nos próximos 16, 17 anos, a quantidade de motores elétricos do mercado deve dobrar. No entanto, o mundo não tem a capacidade de dobrar os recursos disponíveis.   Quando falamos em motores elétricos nos referimos aos motores amplamente utilizados em várias aplicações industriais, comerciais e residenciais, como acionamento de máquinas, bombas, compressores, ventiladores e sistemas de climatização.

Luis Oliani é engenheiro e CEO da APS

Uma maneira eficaz de lidar com o aumento do consumo de energia é melhorar a eficiência energética em todos os setores. Isso pode ser alcançado por meio da adoção de tecnologias mais eficientes, como eletrodomésticos com melhor classificação energética, lâmpadas de LED, isolamento térmico adequado em edifícios e transporte público eficiente. Em empresas, a troca do parque de energia instalado por motores mais eficientes deve gerar uma economia de 10% de energia.

Por isso, o termo eficiência energética vai ganhando relevância. Avanços tecnológicos podem melhorar a eficiência dos dispositivos e aparelhos elétricos, reduzindo assim o consumo de energia por unidade. Na indústria atual, os avanços tecnológicos têm se concentrado em combinar automação, robótica e conectividade de equipamentos para aprimorar a gestão de consumo e alcançar maior eficiência energética.

A automação permite que processos sejam executados de forma autônoma, reduzindo erros humanos e aumentando a produtividade. A robótica desempenha um papel fundamental ao introduzir máquinas inteligentes capazes de executar tarefas complexas e repetitivas de maneira eficiente. Por meio dessa união entre automação, robótica e conectividade de equipamentos, as indústrias podem alcançar uma gestão mais eficiente do consumo de energia.

Trazer tecnologia promove eficiência energética e os seus benefícios contribuem amplamente para a conservação ambiental, ar e água mais limpos, melhor saúde pública, independência energética e crescimento e desenvolvimento econômico mais fortes. As empresas devem enxergar que o investimento de hoje reflete na eficiência do consumo energético do futuro e na contribuição com a diminuição do carbono a partir de energias limpas.

Temos que olhar para isso o quanto antes, principalmente, no controle e utilização de equipamentos industriais de modo mais eficiente, e fazer a nossa parte.

Geladeiras devem exibir hoje nova etiqueta de eficiência energética
Etiqueta indica diferença de conumo de até 30% entre produtos

 

Da Agência Brasil

A partir de hoje (1º), todos os refrigeradores que chegarem ao comércio brasileiro, fabricados nacionalmente ou importados, devem exibir a nova Etiqueta de Conservação de Energia Elétrica (Ence) do Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro). A nova etiqueta traz três subclasses, indicando diferença de consumo de até 30% entre os produtos mais eficientes. Além disso, introduz um QR Code que, no primeiro momento, vai remeter o consumidor ao status do registro do refrigerador, “se ele está ativo, inativo, suspenso ou cancelado”.

Segundo o chefe da Divisão de Verificação e Estudos Técnicos Científicos (Divet) do instituto, Hércules Souza, “na verdade, tem que estar sempre ativo. Significa dizer que aquele refrigerador atende os requisitos estabelecidos no regulamento e tem liberação aprovada pelo Inmetro para ser comercializado no mercado nacional”.

Hércules Sousa esclareceu que inicialmente, o QR Code vai fazer apenas o link com a página de registro, e o próprio consumidor poderá conferir o status do registro daquele refrigerador. Essa é a novidade que o Inmetro está implementando agora com a nova etiqueta. O chefe da Divet adiantou, entretanto, que existe um projeto em paralelo para dar robustez maior a esse QR Code.

Neste mês, o Inmetro vai contratar empresa que criará uma plataforma, em que não será gerada somente informação do status do registro da geladeira, mas também associará vídeos informativos para a utilização inteligente de refrigeradores, com dicas para o consumidor ficar atento e obter utilização eficiente do produto. Souza informou que o consumidor, a partir do QR Code, vai ser capaz também de acessar uma espécie de calculadora de gastos, para ter ideia do consumo e do valor monetário que terá na sua conta de energia pelo uso de um refrigerador mais econômico, em comparação a um aparelho menos eficiente.

Comparação

“Vai ser possível, usando os valores de cobrança de energia elétrica da região, definir de maneira mais qualificada financeiramente essa informação. E ele (o consumidor) poderá fazer outra coisa, que é comparar refrigeradores da mesma categoria em termos de volume. Ele poderá ainda dizer qual deles é o mais econômico, tem maior eficiência em termos energéticos e também monetários”. Segundo o técnico do Inmetro, a ideia é criar uma ferramenta a fim de promover ainda mais subsídios para a tomada de decisões do consumidor, usando a etiqueta de eficiência nacional de conservação de energia. A previsão é que a plataforma-piloto esteja pronta para ser testada até o fim deste ano. Os condicionadores de ar serão o segundo produto a ganhar QR Code na etiqueta.

A nova etiqueta para geladeiras introduz as subclasses A+++, A++ e A+ para classificar os modelos que consomem, respectivamente, menos 30%, 20% e 10% de energia do que o tradicional “A”. Com isso, o Inmetro pretende destacar para o consumidor qual o produto que realmente gasta menos energia e incentivar que a indústria adote novas tecnologias em seus produtos, para que se tornem mais eficientes. O comércio varejista tem prazo até 30 de junho de 2023 para continuar vendendo os produtos com a etiqueta antiga. “A gente espera, inclusive, que isso aconteça muito antes da data limite”.

Sousa disse ainda que muitos produtos foram etiquetados na lógica antiga e têm que continuar sendo fornecidos para o consumidor. Ele admitiu, porém, que já podem ser encontrados no mercado produtos com a nova etiqueta. “Muitos produtos já foram etiquetados. Ficou muito a cargo do próprio fabricante ou importador fazer essa mudança. Alguns já se anteciparam à data de 30 de junho de 2022 porque, a partir de 1º de julho, todos os refrigeradores têm que estar etiquetados na nova formatação, mas você poderá ainda encontrar essa convivência da etiqueta antiga com a nova porque, de fato, ele já pode ter escoado a produção para o comércio e não tem como trazer de volta para etiquetar de novo. Seria um duplo trabalho, e a gente não pode impor ao ente regulado”.

O consumidor deve estar atento para conviver com a etiqueta antiga, que fornece apenas a informação de categoria A. As subclasses inseridas agora qualificam melhor esse grupo de geladeiras que se encontra na categoria A. Caberá ao consumidor entrar em contato com o fabricante para tentar entender em que categoria, nessa nova etiquetagem, o refrigerador pode ser considerado. “A gente espera que 100% já estejam com a nova etiqueta, bem antes da data limite de 30 de junho de 2023’. O Inmetro estima que sejam poucos os fabricantes e importadores que ainda não tenham feito a mudança. “Porque interessa também a eles mostrar que o produto dele está em categoria de maior eficiência do que o A, que acabava englobando tudo, sem fazer diferenciação”.

Corrida

Souza reconheceu que haverá uma “guerra” entre os fabricantes para mostrar que o produto deles está no subgrupo A+++ e, portanto, supera os demais. “A etiqueta tem esse papel também de promover a busca por uma eficiência maior. Aí, os fabricantes acabam fazendo essa corrida para oferecer um produto de maior eficiência e, com isso, menor gasto energético, incentivado por uma indústria que adote novas tecnologias em seus produtos para tornar, nesse caso, refrigeradores, de fato mais eficientes. Essa é a ideia mesmo. A gente está provocando essa corrida contra o tempo, para o mercado oferecer refrigerador mais eficiente para o consumidor na ponta”.

O chefe da Divet destacou que o Inmetro conta com a ajuda do consumidor para agir contra fabricantes e importadores que não cumpram o prazo e mantenham geladeiras com etiqueta antiga após 30 de junho de 2023. “A gente pede ao consumidor que, iao dentificar esse problema, entre nos canais do Inmetro. A Ouvidoria é o caminho para fazer denúncias. Se ele encontrou no ponto de venda um produto que não está dentro da nova etiquetagem, a gente vai lá fiscalizar e autuar a empresa responsável por isso”. Souza assegurou que essa é uma prática irregular e mostra que o fabricante ou importador não está cumprindo as regras do regulamento. A parceria com o consumidor ajuda o Inmetro a coibir essa prática. A empresa pode ser autuada, ter o produto recolhido do mercado, além de sofrer multa, cujo valor é determinado de acordo com graus de dosimetria internos aplicados pelo Inmetro.

O Programa Brasileiro de Etiquetagem (PBE) para refrigeradores foi atualizado em 2021, por meio da Portaria nº 332, que estabeleceu novas regras para a classificação da eficiência energética dos produtos, por meio da adoção de subclasses para que o consumidor possa identificar quais os modelos de fato mais eficientes dentro da classe A. Foram determinadas mais duas reclassificações, uma em 2025 e outra em 2030, em que o rigor para a classificação da eficiência energética vai aumentando gradativamente.