Maioria dos jovens empreendedores não recebe apoio do poder público
População entre 18 e 25 anos almeja trabalho que faça sentido

Da Agência Brasil

Entre os jovens empreendedores, 89% não recebem nenhum apoio do poder público, e a maior parte deles ganha, com seu empreendimento, menos do que um salário mínimo. É o que aponta o artigo Mapa de políticas públicas para a juventude e o trabalho na cidade de São Paulo: uma perspectiva contemporânea.

“Embora tenha um chamado amplo de incentivo e estímulo ao empreendedorismo, esse apoio não tem chegado até os jovens, eles não dispõem de linhas de crédito para empreender. Deveria ter agências de suporte aos jovens, principalmente nas periferias. Em São Paulo ainda tem o Programa para a Valorização de Iniciativas Culturais (VAI), que é muito acessado pelos jovens, mas é uma lei de fomento, mas específica para a cultura”, disse a pesquisadora Maria Carla Corrochano, autora do artigo junto aos pesquisadores Luís Paulo Bresciani e Maria Eduarda Raymundo Nogueira.

O grupo recebeu apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) por meio do estudo Coletiva Jovem: um projeto de pesquisa e ação para suporte aos coletivos juvenis de produção nas periferias de São Paulo e Buenos Aires, conduzido por Carla Corrochano na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), campus de Sorocaba.

A população jovem da cidade de São Paulo foi estimada em 2,1 milhões de pessoas, com idades variando entre 15 e 29 anos. Esse número, que corresponde a 21% da população total, foi levantado pela Fundação Seade, em 2022. A faixa etária segue sendo a mais atingida pelo desemprego e o subemprego. Em 2021, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou uma taxa de desocupação de 31% na faixa etária de 18 a 24 anos de idade.

Crédito

Os pesquisadores ponderam que o estímulo ao empreendedorismo pode ser uma saída importante para geração de trabalho e renda para jovens dos 18 aos 29 anos, “desde que acompanhado de medidas concretas de criação de linhas de crédito e de apoio à formalização dos empreendimentos, aliadas à melhoria na qualidade do trabalho. Também é fundamental que sejam estimuladas propostas não apenas de empreendimento individual, mas coletivo, na perspectiva da promoção da economia popular e solidária”, diz o artigo.

Os programas são basicamente de formação, disse a pesquisadora. “Tem programas para formar para ser empreendedor. Mas, para ser empreendedor precisa de crédito, de espaços específicos de trabalho. A pesquisa mostrou que a maior parte dos jovens trabalha na própria casa, ou na casa de um amigo. Não têm um espaço específico para o trabalho e não têm equipamentos disponíveis”.

A pesquisa, apoiada pela Fapesp em convênio com o Canada’s International Development Research Centre, fez uma investigação qualitativa com 208 moradores das periferias sul e leste da cidade de São Paulo que participavam de coletivos ou de microempreendimentos individuais, ou combinavam uma atividade com a outra. Realizada de 2020 a 2021, durante a pandemia da covid-19, as entrevistas foram realizadas online por dez pesquisadores, também jovens, com idades variando entre 17 e 29 anos.

A pesquisa identificou que 62,5% dos coletivos e empreendimentos tinham como local de trabalho a casa de algum integrante. Perguntados sobre as desvantagens de fazer parte, os empreendedores responderam não ter direitos associados ao trabalho, como seguro-saúde, vale-refeição ou vale-transporte (70,8%); não ter possibilidade de descansar nos finais de semana ou tirar férias (65,3%); sofrer algum tipo de discriminação por ser jovem (48,6%).

Já os integrantes dos coletivos reportaram não ter segurança de renda mensal (70,8%); não dispor de recursos suficientes para as necessidades individuais ou familiares (58,30%) e não ter carteira assinada (50%).

A pesquisa mostra que o jovem adere ao empreendedorismo consciente das condições adversas. “Ele está bem consciente da precariedade dessa condição, que é muitas vezes assumida por não haver alternativa ou para construir alternativas face à baixa qualidade dos trabalhos que consegue acessar. Reivindica direitos associados ao trabalho formal, sabe que o crédito é fundamental e, principalmente, deseja um trabalho com sentido”, disse a pesquisadora.

Segundo a pesquisadora Carla Corrochano, a busca de sentido no trabalho, ou seja, almejar um trabalho que seja uma aspiração individual e que esteja conectado em alguma dimensão com o ativismo, foi muito citada pelos jovens na pesquisa. “Há jovens que, por exemplo, abrem um brechó porque são ativistas do consumo consciente, outras que trabalham com ações que visam a sustentabilidade ambiental, com a venda de coletores menstruais, e também aqueles que produzem camisetas que valorizam a própria quebrada, com estampas para o jovem da comunidade em que está inserido. Ou seja, uma prática que está muito evidente, mas que eles têm clareza de que não é fácil”.

Várias iniciativas com esse enfoque se integraram ao Centro Coletiva Jovem, uma experiência-piloto nascida da pesquisa e conduzida em parceria com a Ação Educativa e outras organizações da sociedade civil. As iniciativas estão descritas no Catálogo Coletiva Jovem.

O artigo investigou as políticas públicas de geração de trabalho e renda para a juventude, descrevendo e analisando as mudanças mais relevantes ocorridas na cidade de São Paulo a partir de 2013, ano marcado pelas manifestações de rua na maior cidade do país que impactaram o país.

Informações sobre o Centro Coletiva Jovem estão disponíveis no site do centro.

FAESP defende melhores condições para produção de alimentos ao invés de reduzir imposto de importação
Para o presidente da Federação, Fábio de Salles Meirelles, redução interna de tributos seria medida mais eficaz para conter as pressões inflacionárias

 

“É fundamental uma reforma tributária que modernize, simplifique e desonere os consumidores e os setores produtivos”

 

Da Redação

“Até as 16 horas do dia 24 de maio, os brasileiros já haviam pagado R$ 1,15 trilhão em tributos, desde 1º de janeiro, segundo o Impostômetro da Associação Comercial de São Paulo. Parte expressiva do valor refere-se à taxação de alimentos e produtos agropecuários. Assim, cabe avaliar com critério a decisão do governo, que acaba de ser anunciada pelo governo federal, de reduzir as alíquotas do Imposto de Importação de numerosos produtos agrícolas e gêneros alimentícios”. A ponderação é de Fábio de Salles Meirelles, presidente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de São Paulo (FAESP).

O Governo anunciou mais uma redução de 10% nas alíquotas do Imposto de Importação sobre grande parte dos produtos comprados no exterior. A redução dos tributos inclui ao todo 6.195 códigos tarifários da NCM (Nomenclatura Comum do Mercosul), mais de 87% do universo tarifário do país, incluindo feijão, carne, massas, biscoitos, arroz e materiais de construção. A redução começa em 1º de junho e terá validade até 31 de dezembro de 2023.

Para o dirigente, o governo deve analisar medidas capazes de reduzir as atuais pressões inflacionárias. “Porém, antes de pensar em diminuir impostos dos importados, valeria a pena reduzir os custos tributários que recaem sobre os produtos brasileiros”, salienta. “Nossos consumidores pagam 29%, na soma de todos os tributos, quando compram carne no varejo; 17,24%, no feijão; e 26,80% no frango. Esses índices do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) mostram ser necessário rever de modo mais profundo a questão”, sugere.

Também são muito pesados os custos com insumos, logística, equipamentos, máquinas, energia elétrica, imposto territorial rural e outros ônus bancados pelos produtores. Ademais, muitas vezes eles enfrentam dificuldades na obtenção de crédito. “Como se não bastasse, quando se esgotam as linhas subsidiadas do Plano Safra, têm de recorrer ao mercado financeiro convencional, pagando hoje uma das taxas de juros mais elevadas do mundo”, argumenta Meirelles.

Segundo recente relatório do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, o setor pecuário brasileiro produz anualmente cerca de 10 milhões de toneladas de carne e segue como maior exportador do mundo. “É irônico reduzir o imposto de importação da carne, beneficiando produtores de países que tentam combater nossa pecuária, ao invés de melhorar efetivamente as condições para a redução do preço interno do produto”, afirma o presidente da FAESP, concluindo: “Por isso, é fundamental uma reforma tributária que modernize, simplifique e desonere os consumidores e os setores produtivos, em especial os responsáveis pelos gêneros de primeira necessidade”.

Projeto cria sistema para monitorar a circulação de variantes do SARS-CoV-2 na cidade de São Paulo
Projeto é resultado de parceria entre a prefeitura, a rede de laboratórios Dasa e a FAPESP

 

Karina Toledo | Agência FAPESP

Um sistema para monitorar a circulação de variantes do novo coronavírus na cidade de São Paulo está sendo implementado por meio de uma parceria entre a prefeitura local, a rede de laboratórios Dasa e a FAPESP.

A meta é analisar semanalmente 384 amostras de secreção nasofaríngea coletadas de moradores de todas as regiões da capital atendidos na rede pública de saúde e que testaram positivo para o SARS-CoV-2. No Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (IMT-USP), o material será submetido a um teste de RT-PCR capaz de identificar a presença de cinco cepas virais: Alfa (B.1.1.7, identificada no Reino Unido), Beta (B.1.351 ou sul-africana), Delta (B.1.617, da Índia), Gama (P.1, de Manaus) e Zeta (P.2, do Rio de Janeiro). Caso o resultado seja negativo para todas, a amostra será sequenciada para que seja possível identificar a linhagem presente.

Além disso, todos os meses, 25% das amostras que passaram pelo teste de RT-PCR serão selecionadas aleatoriamente para sequenciamento completo do genoma viral – trabalho que será feito pela equipe da Dasa.

“Já recebemos amostras coletadas no fim de maio e início de junho e começamos a análise. Também pretendemos estudar, retrospectivamente, material coletado desde janeiro deste ano. Um dos objetivos é tentar descobrir quando e por onde a variante P.1 entrou na capital e como ela se disseminou. E também se a cepa indiana já circula pela cidade”, conta a professora da USP Ester Sabino, que coordena a iniciativa ao lado de Carlos Fortaleza, da Universidade Estadual Paulista (Unesp) em Botucatu.

As amostras para análise serão selecionadas de forma proporcional à população de cada região da cidade (norte, sul, leste, oeste, centro e sudeste), sem viés de gravidade. As equipes da prefeitura também fornecerão aos pesquisadores algumas informações sobre os pacientes, como sexo, idade, local de moradia, se já foi ou não imunizado, data da coleta da secreção nasofaríngea e de início dos sintomas.

“Como estamos trabalhando com dados amostrais, é preciso que eles sejam representativos da população e que estejam bem distribuídos no tempo e no espaço. Ou seja, os dados devem ser uma maquete do que está acontecendo no município. A ideia é que possamos olhar para essa miniatura perfeita e saber como está a distribuição de variantes no momento”, explica Fortaleza, que foi responsável pelo desenho do projeto.

Por meio de técnicas estatísticas – com base no tamanho da população paulistana e admitindo uma margem de erro de até 5% –, o grupo calculou que seria necessário analisar 384 amostras por semana para conseguir mapear a circulação de variantes para as quais não se sabe, a priori, a proporção em que estão presentes.

De acordo com Fortaleza, o objetivo do projeto é implementar um sistema de vigilância genômica sensível (que não deixe passar despercebida nenhuma variante em circulação), representativo (capaz de mostrar a proporção das variantes de forma semelhante à distribuição real), oportuno (capaz de produzir dados a tempo de medidas de controle serem adotadas) e flexível (adaptável a todas as situações) para embasar ações de combate à doença.

Luiz Eugênio Mello, diretor científico da FAPESP, conta que a iniciativa partiu da Prefeitura de São Paulo e foi “catalisada” pela FAPESP. “Buscamos transformar o que deveria ser um trabalho de rotina da prefeitura em um trabalho dentro das linhas apoiadas pela Fundação. Há neste projeto um elemento indutor importante e com ele pretendemos sugerir novos desenhos organizacionais, em que a academia, o governo e o setor privado interajam de forma rápida e efetiva”, conta.

Benefícios

Como destaca José Eduardo Levi, pesquisador do IMT-USP e da rede de laboratórios Dasa, a vigilância genômica representa um dos três pilares principais de combate à COVID-19, sendo os outros dois a vacinação e as medidas de testagem e isolamento social.

“O vírus está evoluindo bem na nossa frente e, com essa estratégia, poderemos identificar precocemente variantes que poderão gerar uma nova onda e intervir o mais rapidamente possível”, afirma.

Com base na sequência genômica, explica Levi, é possível inferir se uma nova cepa eventualmente detectada pode ser considerada uma “variante de preocupação” (VOC, na sigla em inglês). “Caso seja localizado em um bairro um cluster de amostras que sugiram preocupação, será possível, por exemplo, distribuir máscaras e reforçar medidas de isolamento e de vacinação de forma direcionada. Outro exemplo: se começarmos a observar em uma região casos graves em indivíduos vacinados, poderemos trocar o tipo de imunizante no local”, sugere.

Segundo Sabino, as análises realizadas no âmbito do projeto vão ajudar a entender a dinâmica de espalhamento de novas variantes em São Paulo e isso pode levar à identificação de hubs de disseminação do vírus que poderão ser alvos de intervenções do poder público.

“O fato de a FAPESP se colocar à disposição da política pública, algo que já vinha acontecendo por meio de programas como o PPSUS [Programa de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde], representa algo muito importante: a ciência em benefício da vida. Essa junção de saberes – epidemiológico, virológico e de biologia molecular – com o trabalho prático dos técnicos da prefeitura permite construir pontes e, a partir delas, coisas muito importantes para a saúde pública podem surgir”, avalia Fortaleza.

FGV e FAPESP celebram parceria e fortalecem apoio a pesquisas

A FGV e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) assinaram um acordo de cooperação para apoio no desenvolvimento de pesquisas. A parceria, formalizada pelos presidentes das instituições, professor Carlos Ivan Simonsen Leal (FGV) e professor José Goldemberg (FAPESP) no último dia 30 de novembro, visa apoiar o desenvolvimento de pesquisas em todas as áreas do conhecimento pelos próximos cinco anos.

“É missão da FGV contribuir para o desenvolvimento socioeconômico nacional. Uma das nossas áreas de pesquisa prioritárias é a de avaliação de políticas públicas, uma grande demanda da sociedade”, destacou o presidente da FGV.

O acordo amplia as possibilidades de financiamento para os projetos de pesquisa dos professores da FGV, estimula a cooperação científica e a formação de redes de pesquisadores nacionais e internacionais e é a primeira parceria do gênero assinada pela FAPESP com uma instituição de pesquisa no Brasil. Ao ser divulgado no país e no exterior, para um grande número de instituições e pesquisadores, contribui significativamente para o posicionamento de excelência da FGV na área de pesquisa.

Além do professor Carlos Ivan, a FGV foi representada por diretores de sua Escolas e Unidades. Já a FAPESP contou com a presença de seu vice-presidente, Eduardo Moacyr Krieger, e demais diretores.