No dia 10 de maio, chega ao Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), no Rio de Janeiro, a exposição Será o Benedito. Com sua pintura expressiva, a artista visual Fátima Farkas retrata em suas telas personagens marcantes das lutas raciais, esquecidos devido à herança racista e patriarcal. Ela constrói uma reelaboração da memória através da apropriação de retratos fotográficos de negros. É o caso de Benedito Caravelas, mais conhecido como Benedito Meia-Légua, por liderar grupos quilombolas que invadiam senzalas e libertavam escravos em amplas regiões do Nordeste e do Espírito Santo. Para representá-lo, a artista toma como ponto de partida a fotografia de um anônimo, realizada por Alfred Henschel no Recife de 1869.
Em outro caso, a artista transforma em pintura a imagem de uma mulher preta desconhecida com uma flor no cabelo, a partir de uma imagem registrada por Chichiko Alckmin em Diamantina. Uma fotografia da imprensa carioca, de 1910, serviu de modelo para o retrato de João Cândido Felisberto, líder da Revolta da Chibata, deflagrada contra as torturas sofridas pelos marujos da Marinha brasileira. As pinturas que representam o abolicionista Luiz Gama e o arquiteto burquinês Diébédo Francis Kéré seguem o mesmo processo. Entre as figuras femininas, destaca-se Nzinga, rainha de Ndongo e de Matamba no século XVI, reinventada pela artista.
Outros retratos tiveram os rostos substituídos por vegetação – em especial a cana-de-açúcar, sumidouro de tantos corpos – ou por um desolador vazio branco, marcas do apagamento de toda uma população e daqueles que foram lançados ao mar e perdidos no limbo dos tempos. Ao dar novas faces a tantos personagens, Farkas, que buscou desde o início desenvolver seu trabalho nas artes plásticas como uma expressão de questões brasileiras étnicas e culturais, denuncia o esquecimento como ação repressiva e demonstra que o antídoto da memória reside tanto nos fatos quanto na imaginação.