Pesquisa mapeia igualdade de gênero em empresas

Uma pesquisa inédita mapeou o papel das mulheres em cargo de liderança em 43 companhias nacionais e 45 multinacionais atuantes em 14 setores econômicos no Brasil. O estudo, coordenado pela professora de “Políticas de Gênero” da Escola de Direito de São Paulo (FGV Direito SP), Ligia Paula Pires Pinto Sica, gerou uma base de dados que foi utilizada como subsidio para formular o Guia Mulheres na Liderança, uma realização da revista Exame e da associação WILL (Women in Leadership in Latin America).

“Notamos que, ao menos a nível nacional, a adoção dessas políticas ainda é pouco avançada”, afirma Lígia Sica.

Os primeiros resultados analisaram políticas, práticas e processos de equidade de gênero. A professora explica que a pesquisa consistiu primeiramente no desenvolvimento de uma metodologia própria, mas em consonância com as iniciativas já existentes no Brasil e no mundo em sustentabilidade social, na forma de um questionário, que fosse capaz de levantar as práticas e políticas adotadas pelas empresas com sede no país para promover e incentivar a ascensão e permanência de mulheres em seus cargos de liderança e medir a eficácia destas na promoção desses objetivos.

Nessa etapa foram consideradas três premissas: existe uma sub-representação de mulheres em cargos de liderança nas empresas brasileiras;  é natural que as empresas possuam diferentes graus de compromisso, de preocupação ou de utilização de princípios de equidade de gênero em seus processos e; empresas que são conduzidas por um modelo de negócio que leva em consideração a gestão de relacionamento com seus stakeholders e o trazem para o alinhamento estratégico desenvolvem uma vantagem competitiva perene.

O questionário, estruturado em três blocos, previa ações e áreas de atuação que poderiam servir de modelo para as empresas se espelharem, enfrentarem situações de desigualdade entre os gêneros, introjetarem preceitos de acolhimento e inclusão em suas culturas, bem como modernizar seus processos e práticas. As questões diziam respeito à estrutura e processos da empresa e também especificamente sobre o posicionamento externo e o olhar interno da empresa sobre a temática da equidade de gênero e a liderança feminina.

Em um segundo momento, as práticas e políticas descritas pelas empresas por meio do questionário de autoavaliação, enquadradas em seis eixos temáticos e avaliadas pelas pesquisadoras por meio de um sistema de pontuação, segundo o qual cada prática e política recebeu um ponto de -1 a +1, de acordo com o seu potencial de promover a ascensão e permanência de mulheres na liderança; o que permitiu que as empresas participantes fossem ranqueadas em seus respectivos setores.

Os dados obtidos por meio do questionário e a pontuação de cada respondente foram utilizados para formular o Guia Mulheres na Liderança. Constatou-se, por exemplo, que há setores nos quais há mais práticas e políticas com vistas à promoção da equidade de gênero (com destaque para o setor de bens de consumo) do que em outros (o setor de serviços foi o que menos pontuou), mas que isso não reflete necessariamente um maior número proporcional de mulheres na liderança (o setor de saúde não obteve destaque no número de políticas, mas foi o mais bem colocado em número de mulheres na liderança).

A pesquisa conduzida ao longo dos anos de 2016 e 2017 contou com financiamento conjunto da Fundação Getulio Vargas e do Banco Itaú e está disponível para consulta no site.