Tabagismo é responsável pela maioria de casos de câncer de pulmão
Cerca de 80% dos casos diagnosticados da doença estão associados ao consumo de derivados de tabaco

(Imagem: Freepik)

Da Redação

O câncer é uma das doenças de maior incidência no mundo. Para cada ano do triênio 2023-2025, são esperados 704 mil novos casos de câncer no Brasil. O câncer de pulmão, traqueia e brônquio é o 4º mais incidente na população brasileira, com estimativa de 35.560 novos casos para cada ano do triênio 2023-2025, segundo o Instituto Nacional do Câncer (INCA).

De acordo com a oncologista da Oncologia D’Or Martha Mesquita, o tabagismo e a exposição passiva ao tabaco são importantes fatores de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão. “Em cerca de 85% dos casos diagnosticados, o câncer de pulmão está associado ao consumo de derivados de tabaco. Temos outros fatores de risco que são exposição à poluição, doença pulmonar obstrutiva crônica, enfisema pulmonar, bronquite crônica, exposição a agentes químicos como radônio, arsênico, cromo, níquel e fuligem, dentre outros”, explica a oncologista.

O cigarro eletrônico está cada vez mais popular no meio dos jovens. Mas, segundo o oncologista da Oncologia D’Or Lucianno Santos, por estar difundido há pouco tempo, ainda não são conhecidos todos os efeitos danosos a longo prazo. “Atualmente, nota-se o aumento de doenças pulmonares não-oncológicas em pacientes que utilizam o cigarro eletrônico, a relação direta entre o cigarro eletrônico e o câncer de pulmão ainda não foi comprovada de forma enfática. Faz-se necessário mais tempo de acompanhamento desta população e a conclusão de estudos científicos em andamento”, afirma Lucianno.

Apesar disso, o cigarro eletrônico, assim como o convencional, pode causar dependência ao usuário, devido à presença de nicotina. “Embora os cigarros eletrônicos não contenham alcatrão e monóxido de carbono, substâncias nocivas presentes nos cigarros convencionais, a nicotina ainda é uma substância altamente viciante que pode levar à dependência. Em termos gerais, quem é usuário de vape inala vapor e não fumaça. Além disso, o cigarro eletrônico não possui alcatrão em sua composição, diferente do convencional. Por outro lado, suas semelhanças são inúmeras. Os dois geram dependência e fumantes passivos, os dois causam diversas doenças e os dois podem levar à morte”, explica a oncologista Martha Mesquita.

Segundo dados mais atuais do Atlas de Mortalidade, disponibilizado pelo INCA, um total de 29.576 pacientes foram a óbito no ano de 2022 decorrente deste tipo de câncer. “Para que um paciente consiga vencer a dependência do cigarro ou cigarro eletrônico faz-se necessário um conjunto de fatores, como o desejo do paciente em largar o vício, acompanhamento médico e psicológico especializado e o apoio da família. A falta de alguns destes fatores pode dificultar o sucesso do processo”, finaliza o oncologista Lucianno Santos.

Câncer de intestino: conheça os principais sintomas, prevenção e tipos de tratamento
Inca estima cerca de 45 mil novos diagnósticos de câncer de intestino por ano até 2025 e aumento de 10% na probabilidade de óbito prematuro entre pessoas de 30 a 69 anos até 2030

O câncer de intestino, chamado também de câncer de cólon, é um dos que mais atingem homens e mulheres no Brasil. Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), cerca de 45 mil casos da doença serão diagnosticados por ano até 2025. Após o aumento de celebridades jovens diagnosticadas com a doença, como Simony, Emilio Surita e Preta Gil, o assunto ganhou visibilidade.

A incidência de casos entre os jovens vem crescendo nos últimos anos. O Inca estima aumento de 10% na probabilidade de óbito prematuro entre pessoas de 30 a 69 anos até 2030. Para Rodrigo Almeida, oncologista do Hospital Unimed Volta Redonda, a principal causa de câncer de cólon em indivíduos abaixo dos 50 anos, tem relação com os hábitos alimentares.

O consumo exagerado de carne vermelha, alimentos embutidos, álcool e o baixo consumo de verduras e hortaliças são alguns dos fatores de risco que contribuem para o aumento da incidência do câncer de cólon. Ter uma alimentação mais saudável, praticando atividade física, evitando álcool, tabaco, embutidos, carne vermelha, pode impactar positivamente para diminuição da incidência deste câncer, diz Rodrigo Almeida, coordenador médico da Oncologia do Hospital Unimed Volta Redonda.

Segundo o especialista, caso o paciente seja diagnosticado com essa doença, o tipo de tratamento depende da fase e região que está localizado o tumor. “Em alguns casos, podemos realizar a cirurgia e dependendo do grau de invasão da doença nas paredes do intestino, iniciar a quimioterapia adjuvante no pós-operatório. Se o tumor já estiver em outro órgão, precisamos avaliar a possibilidade de cirurgia e se não for possível, o tratamento será quimioterápico, podendo ou não acrescentar imunoterapia. Além desses, existem casos que iniciamos com quimioterapia e radioterapia, visando reduzir a lesão e evitar a necessidade de uso de colostomia definitiva, seguido de cirurgia”, explicou o médico.

Os principais sintomas da doença são: sangue nas fezes, mudança do hábito intestinal, dor ou desconforto abdominal, alteração na forma das fezes, fraqueza e anemia, perda de peso sem causa aparente e massa (tumoração) abdominal. Essas alterações precisam ser investigadas quanto antes, mas podem não ser câncer de intestino. Se você tem alguns sintomas, procure atendimento médico.

Brasil deve registrar 704 mil casos de câncer ao ano entre 2023 e 2025
Brasil deve registrar 704 mil casos de câncer ao ano entre 2023 e 2025

Da Agência Brasil

O Brasil deve registrar 704 mil casos novos de câncer ao ano no triênio 2023-2025, com destaque para as regiões Sul e Sudeste, que concentram cerca de 70% da incidência da doença. A previsão é do Instituto Nacional de Câncer (Inca). Nesta segunda-feira (27), é lembrado o Dia Nacional de Combate ao Câncer

“A estimativa é a principal ferramenta de planejamento e gestão na área oncológica no Brasil, fornecendo informações fundamentais para a definição de políticas públicas”, destacou o Inca, ao se referir à publicação Estimativa 2023 – Incidência de Câncer no Brasil. O material traz estimativas para a ocorrência dos 21 tipos de câncer mais incidentes no país.

O levantamento mostra que o tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).

Em homens, o câncer de próstata é predominante em todas as regiões, totalizando 72 mil casos novos estimados a cada ano no triênio fixado – atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Nas regiões de maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), os tumores malignos de cólon e reto ocupam a segunda ou a terceira posição, sendo que, nas de menor IDH, o câncer de estômago é o segundo ou o terceiro mais frequente entre a população masculina.

Já entre as mulheres, o câncer de mama é o segundo mais incidente (atrás apenas do câncer de pele não melanoma), com 74 mil casos novos previstos por ano até 2025. Nas regiões mais desenvolvidas, em seguida, vem o câncer colorretal, mas, nas de menor IDH, o câncer do colo do útero ocupa a terceira posição.

Entenda

De acordo com o Ministério da Saúde, câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem tecidos e órgãos. Dividindo-se rapidamente, essas células tendem a ser muito agressivas e incontroláveis, determinando a formação de tumores, que podem espalhar-se para outras regiões do corpo.

A doença surge a partir de uma mutação genética, ou seja, de uma alteração no DNA da célula, que passa a receber instruções erradas para suas atividades. Quando os casos começam em tecidos epiteliais, como pele ou mucosas, são denominados carcinomas. Se o ponto de partida são os tecidos conjuntivos, como osso, músculo ou cartilagem, são chamados sarcomas.

O câncer não tem uma causa única. Há, segundo a pasta, diversas causas externas (presentes no meio ambiente) e internas (como hormônios, condições imunológicas e mutações genéticas), sendo que entre 80% e 90% dos casos estão associados a causas externas. Mudanças provocadas no meio ambiente pelo próprio homem, hábitos e estilo de vida podem aumentar o risco.

Preço baixo de cigarros favorece iniciação de adolescentes ao fumo
Médico defende reajuste para produtos derivados do tabaco

Da Agência Brasil

Pesquisa divulgada nesta segunda-feira (28) pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), no Rio de Janeiro, reforça um fato observado por pesquisadores há alguns anos: o preço do cigarro fabricado no Brasil, bem como do cigarro contrabandeado, é baixo.

“Desde 2017, não há reajuste, nem do imposto que incide sobre os produtos derivados do tabaco, nem sobre o preço mínimo estabelecido por lei. O preço está congelado desde o final de 2016”, afirma o médico e estudioso da Divisão de Pesquisa Populacional – Coordenação de Prevenção e Vigilância (Conprev) do Inca, André Szklo, autor do estudo inédito The cigarette market in Brazil: new evidence on illicit practices from the 2019 National Health Survey [O mercado de cigarros no Brasil: novas evidências sobre práticas ilícitas a partir da Pesquisa Nacional de Saúde 2019].

O levantamento foi feito em parceria com a Universidade de Illinois, em Chicago, Estados Unidos, e publicado na Tobacco Control, uma das principais revistas sobre controle do tabaco no mundo.

André Szklo afirmou que, com isso, a cada ano, o preço vai perdendo o seu valor real e fica mais acessível para a população. Internamente, a indústria não realiza aumento nominal no preço do produto.

“É uma estratégia que acaba casando: não tem o reajuste da política fiscal sobre os produtos derivados do tabaco e a indústria pressiona para o preço ficar baixo, para inibir o contrabando. E o que a gente já está observando é um reflexo natural na proporção de fumantes entre os jovens e adolescentes, especialmente meninas”, acentuou.

Iniciação

Assim, a população de adultos jovens e adolescentes, que não tem tantos recursos financeiros, é a que vai acabar se “beneficiando” de um preço do cigarro mais barato – o que favorece a iniciação precoce no fumo.

“A gente já está observando isso, que está havendo um aumento na proporção de fumantes entre adolescentes e jovens”, disse Szklo. Para ele, a proporção de jovens adultos que fuma vinha recuando desde 1989, mas parou de cair – um reflexo direto do enfraquecimento da política de preços e impostos, a principal diretriz para prevenir a iniciação ao fumo.

O pesquisador do Inca reiterou que nunca esteve tão baixa a relação entre o preço do cigarro legal e do cigarro ilegal, mas negou que a principal solução para coibir o contrabando seja reduzir o preço internamente. Mais de 25% das marcas ilegais que circulam no país são vendidas a um valor igual, ou levemente superior, ao preço mínimo estabelecido por lei para os cigarros legalizados, que está estagnado em R$ 5 o maço, desde 2016.

O preço médio do cigarro adquirido por fumantes brasileiros alcança R$ 5,68. Nos estados que fazem fronteira com o Paraguai, o valor cai para R$ 4,96. “Essa diferença está tão reduzida que a gente tem quase uma junção do preço do produto legal com o produto ilegal. O estudo conclui que, em algumas regiões, isso é mais crítico e que o consumo do cigarro ilegal favorece também a iniciação no hábito de fumar”, salientou.

O médico disse que, desde 2017, a participação do mercado ilegal vem caindo no mercado brasileiro porque o produto legal está praticamente sendo comercializado ao mesmo preço do cigarro ilegal.

O reflexo disso está na saúde. “Quando você tem aumento na proporção de fumantes, isso vai gerar um custo para o país. Hoje em dia, o Brasil gasta R$ 125 bilhões – entre custos diretos e indiretos – com doenças relacionadas ao uso de produtos derivados de tabaco, e a arrecadação, por exemplo, da indústria de tabaco não cobre nem 10% disso”, destacou.

Nova geração

Ele argumentou que, quando se vê o preço do cigarro legal tão barato, percebe-se que isso vai levar a um prejuízo financeiro para o país a curto, médio e longo prazos.

“A gente está tendo uma nova geração de fumantes que está substituindo uma parcela da população atual que, infelizmente, virá a falecer”, revelou.

Estudos publicados no país indicam que dois em cada três usuários atuais de tabaco virão a morrer em decorrência do uso desses produtos. “Então, há uma necessidade de a indústria do tabaco repor essa população que, atualmente, gera lucro. É o que acontece quando a gente tem esse preço baixo”, assegurou.

Solução

O pesquisador defendeu, ainda, que a solução para todo esse cenário é voltar a aumentar o preço do cigarro fabricado no Brasil, retomar a política tributária aumentando as alíquotas dos impostos que incidem sobre os produtos derivados do tabaco, reajustar o preço mínimo estabelecido por lei e, em paralelo, implementar o Protocolo para Eliminar o Comércio Ilícito de Produtos de Tabaco, ratificado pelo Estado em 2018.

“Existe uma medida prevista para o Brasil para combater o mercado ilegal. É uma medida do Estado que ratificou esse protocolo e precisa implementar. São duas medidas que têm de andar paralelamente”, disse o médico e pesquisador do Inca.

Ele salientou também que a reforma tributária, que está sendo discutida no Congresso Nacional, é uma “oportunidade de ouro” para se fortalecer essa necessidade do imposto seletivo sobre os produtos do tabaco, de forma a assegurar que a arrecadação desse tributo seletivo possa ser revertida em ações de tratamento e de prevenção e em iniciativas de conscientização, visando inibir essa iniciação ao fumo e, também, possa estimular a cessação do hábito entre os fumantes atuais.

O cigarro legal brasileiro é o segundo mais barato das Américas. Após a reforma tributária de 2012, o preço médio do produto legal era quase 150% mais alto em relação ao cigarro ilegal. Atualmente, essa diferença caiu pela metade.

Ainda de acordo com a pesquisa, cerca de 40% dos cigarros consumidos no território nacional ainda pertencem a marcas que entram no Brasil de forma ilegal. Desde 2016, observa-se queda na proporção de consumo desses produtos nos estados, mas o percentual ainda é elevado.

Os dados da pesquisa serão detalhados durante evento virtual promovido pelo Inca nessa terça-feira (29), quando se comemora o Dia Nacional de Combate ao Fumo, com transmissão da TV Inca, no YouTube. Para participar, os interessados devem acessar o link.