Rio recebe central de reciclagem de lixo eletrônico
Até o fim de novembro, serão dez capitais com tais pontos de descarte

 

Da Agência Brasil

Rio de Janeiro recebe, nesta semana, uma central de coleta e reciclagem de lixo eletrônico. A capital fluminense será a sétima cidade brasileira a ofertar esse serviço para a população. De acordo com o Ministério do Meio Ambiente (MMA),  a meta é que, até o fim de novembro, pontos semelhantes estejam instalados em um total de dez capitais.

As centrais começaram a ser instaladas em junho deste ano e, segundo o MMA, já estão presentes em Campo Grande, Florianópolis e Vitória, no Distrito Federal, em Maceió e Manaus. No Rio, a central será inaugurada quinta-feira (14). Curitiba, Goiânia e Fortaleza serão as próximas capitais a receber o serviço.

A Central de Logística Reversa de Eletroeletrônicos ficará em Realengo, na zona oeste do Rio de Janeiro. Além do ponto de consolidação, a cidade passará a ser atendida pela entidade gestora com logística que garante a destinação adequada para a reciclagem de eletrônicos. “O descarte inadequado dos resíduos causa inúmeros impactos para a saúde da população e para o meio ambiente”, diz o secretário de Qualidade Ambiental do MMA, André França.

A pesquisa Resíduos eletrônicos no Brasil – 2021, divulgada na semana passada, revela que, apesar de ser o quinto maior gerador desse tipo de lixo no mundo, o Brasil recicla apenas cerca de 3% dos eletrônicos descartados. Muita gente não sabe sequer o que é lixo eletrônico e desconhece os riscos do descarte incorreto.

A destinação correta do lixo eletrônico está prevista na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010) e é regulamentada pelo Decreto Federal 10.240/2020. Esse dispositivo define metas para os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes sobre a quantidade de pontos de entrega voluntária (PEVs) que devem ser instalados, o número de cidades atendidas e o percentual de aparelhos eletroeletrônicos a serem coletados e destinados corretamente.

Pelo decreto, as empresas devem, gradualmente, até 2025, instalar PEVs nas 400 maiores cidades do Brasil e coletar e destinar o equivalente em peso a 17% dos produtos colocados no mercado em 2018, ano definido como base. Apenas no Rio, estarão disponíveis 41 pontos, em diversos locais da cidade, onde os eletrônicos podem ser descartados. Pelo site do MMA é possível acessar as listas dos pontos de coleta disponíveis em todo o país. 

Logística reversa

A intenção é que seja consolidado no país o chamado ciclo da logística reversa. De forma simplificada, após serem descartados, os componentes são reciclados e transformados em novos aparelhos; e o que não é reciclado passa a ser dispensado da forma correta, por centrais especializadas.

O ciclo começa com a fabricação do produto, passa pelo uso pelo consumidor e chega ao descarte nos pontos de entrega quando o bem deixa de ser usado. A partir dai, ocorre a  tiragem e consolidação, a destinação para a reciclagem e, com isso, o retorno de matérias-primas secundárias para o fabricante e para outras indústrias de eletrônico. O que não é usado na reciclagem torna-se rejeito, que recebe a disposição adequada.

“Você consegue inserir esses eletroeletrônicos após descarte pelo consumidor, esgotada sua vida útil, na cadeia produtiva, gerando emprego e renda com sustentabilidade, ao mesmo tempo em que preserva os recursos naturais para outros usos e usos futuros, e evita o descarte inadequado no meio ambiente, o que compromete a saúde e a qualidade de vida da população”, diz França.

Pelo decreto, as chamadas entidades gestoras, que são constituídas pelas fabricantes e importadoras de produtos eletroeletrônicos, são as responsáveis pela operacionalização do sistema de logística reversa. Há duas entidades gestoras em atuação no país, a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree) e a Gestora para Resíduos de Equipamentos Eletroeletrônicos Nacional – Green Eletron.

Ao MMA cabe a articulação entre essas entidades, o Distrito Federal, os estados, municípios e os demais órgãos ambientais, além de compilação de informações e coordenação da política como um todo.

Dicas para descarte

O que é, afinal, considerado lixo eletrônico? O conceito de Resíduo de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE) é todo produto elétrico ou eletrônico descartado por não ter mais utilidade. Inclui grandes equipamentos como geladeiras, freezers, máquinas de lavar; pequenos equipamentos como torradeiras, batedeiras, aspiradores de pó, ventiladores; equipamentos de informática como computadores e celulares, além de pilhas e baterias.

França dá três dicas para a população na hora de fazer o descarte do eletrônico. A primeira é procurar um ponto de descarte ou fazer o agendamento da coleta domiciliar, especialmente no caso de grandes equipamentos. A segunda é sempre descartá-los desligados. A dica vale para aqueles que funcionam a base de pilhas e baterias.

E a última dica é, no caso de equipamentos que contenham dados, como computadores e celulares, verificar se foram todos apagados e removidos, pois, uma vez feito o descarte, não é possível recuperá-los.

São Paulo já reciclou 185 toneladas de lixo eletrônico

Com 65 pontos de coleta espalhados pelo estado de São Paulo, a Green Eletron recolheu, desde o final de 2017, cerca de 185 toneladas de lixo eletrônico. A iniciativa sem fins lucrativos para receber aparelhos descartados pelos consumidores foi fundada em 2016 pela Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). Assim, as empresas começaram a atender o previsto na Política Nacional de Resíduos Sólidos, legislação que entrou em vigor em 2010.

Entre os pontos estipulados pela lei está a obrigação da cadeia produtiva e de comercialização de produtos eletroeletrônicos, entre outros setores, de estabelecer um sistema de logística reversa. Ou seja, as empresas se tornaram responsáveis por garantir que o lixo gerado por seus produtos tenha um destino adequado.

Acordo setorial

São Paulo se antecipou ao resto do país ao implantar a coleta e reaproveitamento do lixo eletroeletrônico. O acordo setorial, que deverá tornar o sistema obrigatório em todo o país, entrou em consulta pública na última quarta-feira (31). Durante um mês, o Ministério do Meio Ambiente vai receber contribuições antes da formatação final do texto.

Em 2017, o governo estadual propôs um termo de compromisso para implementar a logística reversa dos eletroeletrônicos em São Paulo, o que alavancou a iniciativa empresarial. O modelo da Green Eletron se inspira, segundo o gerente executivo da gestora, Ademir Brescansin, em experiências internacionais. “Uma unidade gestora nos mesmos moldes do que existe na Europa, no Japão e nos Estados Unidos. Uma entidade sem fins lucrativos em que as empresas, que têm obrigação por lei, pudessem se associar e ratear os custos da implantação de todo esse sistema”, explica.

Reciclagem

Atualmente, a iniciativa tem 26 empresas associadas. São recolhidos materiais dos mais diversos. Desde o final de 2017, os postos de coleta receberam, por exemplo, 4,1 mil celulares e 6,5 mil eletroportáteis (aparelhos pequenos como cafeteira, liquidificador e forno de micro-ondas), entre outros itens.

O material é levado para empresas de reciclagem que promovem o reaproveitamento de matérias-primas, como o plástico, e até a transformação em novos produtos. Nesse sentido, o Brasil está à frente da maioria dos países, segundo o diretor de inovação da Sinctronics, Carlos Ohde. A empresa é uma das responsáveis por fazer o processamento dos eletrônicos descartados. “Quando a gente olha para os Estados Unidos e para a Europa, eles têm muito consumo de eletrônicos, mas eles não têm a produção, vem da Ásia. Então, esse processo que a gente tem de pegar um eletroeletrônico descartado e transformar em um eletroeletrônico novo, eles não conseguem”, comparou Ohde.

Essa capacidade de transformar o lixo eletrônico em novos produtos já rendeu reconhecimento internacional à Sinctronics. De acordo com o diretor, a empresa recebeu duas menções do Fórum Econômico Mundial e até uma premiação da Associação Americana de Empresas de Manufatura, país de origem da matriz da recicladora. “O Brasil está entre os primeiros países que fazem isso”, enfatiza Ohde sobre a capacidade da fábrica de transformar impressoras jogadas fora em novas.

Processos complexos

Algumas etapas da produção, no entanto, ainda tem que ser feitas no exterior, como no caso da extração de componentes das placas eletrônicas. “Tem uns quarenta elementos da tabela periódica naquela placa. Precisa de um processo químico ou térmico que é feito fora do país”, detalha o diretor. Segundo ele, isso porque é necessário um volume muito grande de material para que o processo seja viável.

No caso dos aparelhos com gás, como geladeiras e ar-condicionado, também há dificuldades no processo. “A gente tem no Brasil somente duas empresas que são capazes de reciclar esse tipo de produto”, ressalta Ademir Brescansin da Green Eletron. Os monitores de tubo são outro produto que apresenta riscos. “Como eles possuem chumbo e fósforo, você tem que ter um processo adequado só para eles, aspirar todas as substâncias, descontaminar para depois reciclar”, acrescentou.

A partir da assinatura do acordo setorial, que deve prever a coleta de 17% do 1,5 milhão de toneladas de lixo eletrônico produzidos no país anualmente, outros obstáculos devem aparecer. “Você implantar um sistema de logística reversa no Brasil é diferente do que em qualquer país da Europa que implantou. A gente tem as dimensões continentais do país. Tem regiões que não se chega nem de carro, só de avião ou barco. Mas se os produtos eletroeletrônicos chegaram a todas as regiões do país, é possível que eles voltem”, ressalta o gerente executivo da Green Eletron.

Apesar dos custos, a operação é importante, segundo Brescansin. Além de evitar a contaminação do solo com o descarte em lixões, que ainda existem em 2,5 mil municípios, também é uma forma de deixar de retirar novas matérias-primas da natureza, poupando recursos.