Os processos de globalização, consolidados, alcançam máxima amplitude. Os avanços da tecnologia, principalmente nas áreas da comunicação e de transporte, proporcionam a integração com maior intensidade das relações socioespaciais em escala mundial. Entretanto, o impacto extraordinário desse processo não vem resultando, necessariamente, na redução da intolerância à diversidade. A oposição que ainda há em torno de políticas de gênero, bem como as discussões de medidas antimigratórias na Europa, e a proposta do governo Trump, de construção de um muro entre as fronteiras do México e dos Estados Unidos, exemplificam como o combate ao preconceito permanece como um desafio global.
Diante desse cenário, o historiador e professor da Unicamp Leandro Karnal defende que as empresas devem assumir um papel de protagonismo na disseminação da tolerância à diversidade. Ele avalia que, hoje, o conceito de empregador envolve questões como a responsabilidade social, a sustentabilidade ecológica e a viabilidade financeira. “Os dias atuais demandam um papel mais amplo do que produzir ou fazer circular bens e serviços. Muitas empresas conseguem melhores resultados por associarem a sua imagem à ideia de tolerância ativa”, pondera.
Karnal acredita que as organizações não podem fugir ao desempenho de uma postura política. Porém, não no sentido partidário, mas no de comprometimento com causas sociais. “Quando a empresa opta por uma palestra contra o racismo ou a misoginia, isso é fazer uma boa política”, aconselha.
O diretor de RH da L’Oréal Brasil, Fábio Rosé, concorda com o historiador, mas destaca que a questão da diversidade no Brasil sofre com a falta histórica de políticas de inclusão. “Nossa pluralidade étnica, por exemplo, é muito superior à nossa capacidade de inclusão social e essa relação ainda está longe de atingir um ponto de equilíbrio”.
Ele observa que, no Brasil, menos de 40% da população com deficiência possui ensino fundamental completo. É estimado que 15% da população mundial vivam com algum tipo de deficiência e o desemprego desse grupo pode chegar a 80% em alguns países. Dada a ausência de políticas nacionais, as iniciativas das empresas podem trazer resultados consideráveis. A L’Oréal, por exemplo, no Dia da Mulher do ano passado, lançou no Brasil uma campanha com a Valentina, uma modelo transgênera.
“Ela acabou virando porta-voz da marca e, recentemente, foi a primeira transgênera a ser capa da revista Vogue. Poder contribuir com uma questão importante como essa é motivo de orgulho para nós”, destaca Rosé.
O diretor da multinacional francesa não tem dúvidas de que a força de trabalho diversificada traz ganho interno e externo para a empresa, pois aumenta a criatividade da organização e o seu poder de entender os consumidores. “Isso permite refletir melhor a realidade de cada país, entender suas características e desenvolver produtos que sejam relevantes para cada gosto ou necessidade”, afirma.