Aliança Global é essencial para política dos biocombustíveis que precisam de políticas públicas específicas para se desenvolverem
*Por Marcela Rodrigues e Isabela Morbach

   

Marcela Rodrigues (esquerda) é engenheira ambiental, e Isabella Morbach é advogada.

 

O Brasil produz e utiliza biocombustíveis há 40 anos e vem gradativamente ampliando a sua utilização. Segundo o Balanço Energético Nacional, em 2022 as biomassas (cana, lenha, lixívia entre outras) responderam por 31,4% da oferta de energia interna do Brasil. O crescimento desse setor tem oferecido benefícios importantes como a criação de empregos, geração de renda regional e estímulo para a redução de parte das emissões de gases do efeito estufa vindos de transportes rodoviários. Para se ter uma ideia, apenas os biocombustíveis líquidos geraram 4% do total de energias para transportes em 2022. Para além do uso da madeira e da cana, os resíduos agroindustriais e biomassas com ciclos de crescimento curtos e de baixo custo complementam a oferta de biocombustíveis.

Mas mesmo com a participação significativa, a valorização dos biocombustíveis e o potencial de crescimento na matriz energética nacional, algumas fontes de bioenergia ainda são desvalorizadas e associadas a subdesenvolvimento

Uma explicação para a desvalorização dessas fontes em âmbito nacional é a carência de políticas específicas para o seu desenvolvimento, como acontece no caso do etanol e do biodiesel, além da existência de legislações que excluem ou não englobam as particularidades de todas os biocombustíveis. É necessário replicar políticas públicas específicas, como aquelas desenvolvidas para estimular o aumento de produção do etanol e biodiesel nos anos 70, diante da crise do Petróleo. O PróAlcool (Programa Brasileiro de Álcool) é um exemplo de política que ajudou a alcançar o potencial de produção de biocombustíveis atual.

Já no mercado externo a valorização é crescente. Na União Europeia, o consumo de pellets, um tipo de combustível sólido produzido a partir de materiais orgânicos, atingiu 24,5 milhões de toneladas em 2021 – um aumento de 18% em relação ao ano anterior – com os setores residencial e comercial (aquecimento de espaços) representando dois terços (66,1%) desse consumo. A indústria e as utilidades (vapor e energia) representaram os restantes 33,9%. A chegada do inverno no hemisfério norte em um cenário de volatilidade de preços e de incerteza de abastecimento de fontes fósseis demonstra a existência da grande demanda e do potencial comercial de exportação de combustíveis de biomassa.

E é pensando no crescimento da demanda internacional que há de se elogiar o lançamento, durante o encontro do G20 em 2023, da Aliança Global para Biocombustíveis, iniciativa que reúne 19 países incluindo Brasil, Estados Unidos e Índia (os três principais produtores de biocombustíveis do mundo) e 12 organizações internacionais. A iniciativa inclui diversas medidas de fomento à produção sustentável e ao uso de biocombustíveis no mundo como a adoção de 20% de mistura de etanol na gasolina, a fabricação de automóveis flex e o desenvolvimento e produção de biocombustíveis de segunda geração.

A Aliança Global para Biocombustíveis é uma oportunidade histórica para a consolidação de uma cooperação entre países em nível governamental, acadêmico, tecnológico e empresarial, através da produção sustentável de biocombustíveis e da recuperação da produtividade de áreas já degradadas. De acordo com dados da Agência Internacional de Energia, a produção global de biocombustíveis sustentáveis precisa triplicar até 2030 para que o mundo possa alcançar emissões líquidas zero até 2050. As metas de aumento da participação de biocombustíveis aumentarão ainda mais o consumo mundial e a necessidade de ampliação do número de fornecedores.

É preciso pensar nos biocombustíveis como um dos meios estratégicos para a redução de emissões de gases do efeito estufa no Brasil. É importante olharmos também para o controle dos usos da terra, tecnologias de captura e armazenamento de carbono, entre outras soluções. Nessa diversidade de soluções, os biocombustíveis são parte da cadeia sustentável e a criação de uma aliança que fortalece o setor oferecerá diversos benefícios a nível mundial, além de criar um ambiente favorável para a criação de novas políticas públicas e criação de regras específicas para cada um dos biocombustíveis utilizados.

*Marcela Rodrigues é Engenheira Ambiental, assessora legislativa e pesquisadora do Laboratório de Energia e Ambiente da UnB

*Isabela Morbach é advogada, doutora em Planejamento Energético, Counsel do Campo Mello Advogados in cooperation with DLA Piper e diretora da CCS Brasil

Brasil chega a 2 milhões de sistemas de energia solar
Para setor, dados refletem potencial de crescimento no país

Da Agência Brasil

Levantamento da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) aponta que o país superou a marca de 2 milhões de sistemas solares fotovoltaicos instalados em telhados, fachadas e pequenos terrenos.

Desta forma, são 22 gigawatts (GW) de potência instalada em residências, comércios, indústrias, propriedades rurais e prédios públicos.

Para a vice-presidente da Absolar, Bárbara Rubim, os números mostram o potencial de crescimento do setor. “Isso confirma não só o potencial enorme que o Brasil tem para a geração solar fotovoltaica, mas também o desejo do consumidor brasileiro de gerar a própria energia, não só economizando na conta de luz, mas também fazendo sua parcela, para ajudar com o desenvolvimento sustentável do país”, disse.

No começo deste ano, a energia solar ultrapassou a fonte eólica (gerada pela força do vento), passando a ocupar o segundo lugar na matriz elétrica brasileira. Do total da potência instalada no país, 14,3% vêm da energia solar, perdendo apenas para a hídrica (51%).

As perspectivas para 2023 é a produção entre 25 e 28 GW. O ano de 2022 terminou com quase 18 GW de potência instalada. Este ano, a perspectiva é de acréscimo de mais 10 GW de capacidade instalada.

Matriz energética

Conforme o estudo, os 2 milhões de sistemas fotovoltaicos abastecem 2,6 milhões de unidades consumidoras. Porém, representa menos de 3% do número total de unidades consumidoras existentes no Brasil.

O levantamento da Absolar aponta que a tecnologia fotovoltaica já está presente em 5.530 municípios e em todos os estados, sendo Minas Gerais, São Paulo, Rio Grande do Sul e Paraná com as maiores participações.

A meta, segundo Bárbara Rubim, é atingir todos os 5.570 municípios até o fim do ano. “A gente acredita que, tendo cada vez mais programas do governo para energia fotovoltaica, inclusive com geração em prédios públicos, a tendência é conseguir isso”.

Investimentos

Desde 2012, foram aplicados R$ 111,2 bilhões em recursos  privados no setor, com geração de quase  700 mil novos empregos e arrecadação para os cofres públicos de R$ 29,8 bilhões.

A vice-presidente explica que, no primeiro semestre deste ano, houve desaceleração nas vendas em razão de mudança no cenário político do país e da situação macroeconômica, que afetou o varejo em geral.

Para o segundo semestre, a previsão é de retomada de crescimento, ampliação do número de sistemas instalados e de beneficiados.