No Natal, 51% dos brasileiros dizem que vão comprar presente somente para familiares mais próximos
De acordo com levantamento do Grupo Consumoteca, 29% vão comprar presentes para alguns familiares mais distantes e amigos

 

Por Raquel Brandão, do Valor Econômico

 

Neste Natal, cujas celebrações devem ficar um pouco maiores do que as do ano passado, o consumidor está menos disposto a colocar a mão no bolso, uma vez que o cenário macroeconômico preocupa. De acordo com o Grupo Consumoteca, empresa de pesquisa e inovação, que realizou a pesquisa “O que esperar do Natal”, onde foram ouvidas 1.500 pessoas das classes A, B e C, 51% afirmam que vão comprar presente somente para familiares do seu núcleo, aqueles mais próximos, como pai, mãe, filhos, marido, esposa e irmãos.

Dos respondentes, 29% vão comprar presentes para alguns familiares mais distantes e amigos. Além disso, 74% estão planejando comprar presentes para amigos ou familiares, mas somente 27% vão realizar amigo secreto.

Loja física x e-commerce

O estudo também mostrou que as compras em loja física e on-line estão bem equilibradas. No geral, 77% das pessoas dizem comprar presentes de Natal em lojas físicas e 79%, no on-line de grandes varejistas.

Na classe A, 73% das pessoas compram em loja física, enquanto 84% também adquirem presentes no on-line. O comportamento na classe B é bem parecido: 73% compram na loja física e 86%, no ambiente on-line.

Já a classe C tem uma tendência maior em ir à loja física (80%) e 75% acreditam que os sites são opções a considerar. A maior preferência pela loja física, principalmente da classe C, é por conta do desconto que pode ser obtido. Já no on-line, a maior preocupação é se os presentes vão chegar antes do Natal.

Os consumidores também estão mais organizados para as compras. Segundo a pesquisa, 39% das pessoas criaram uma lista de compras, enquanto 41% já estão monitorando preços e 30% já têm um orçamento definido do que vão gastar.

Conta de luz mais cara eleva custos no comércio e pressiona até decoração de Natal
Segundo o economista Fabio Bentes, a luz representa, em média, 7,6% das despesas de operação no varejo. Em hipermercados e supermercados, a marca sobe para 10,4%

 

Por Leonardo Vieceli e Filipe Oliveira, da Folhapress 

Reflexo da crise hídrica, a conta de luz mais cara é um desafio adicional para o varejo no Natal deste ano, segundo analistas e empresários.

É que, além de elevar a inflação para o consumidor, as tarifas mais altas de energia elétrica aumentam os custos de operação para os lojistas, que apostam na data para aquecer as vendas.

Às vésperas do Natal, lojas e shoppings costumam funcionar com horário ampliado, o que exige um consumo maior de eletricidade.

“A pressão da energia traz dois impactos. O primeiro é a redução no poder de compra do consumidor com a energia mais cara e a subida da inflação”, aponta o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

“O segundo efeito é de custo. A energia tem peso bastante significativo para determinados segmentos do comércio”, emenda.

Segundo Bentes, a luz representa, em média, 7,6% das despesas de operação no varejo.

Em hipermercados e supermercados, a marca sobe para 10,4%, devido ao uso de equipamentos para refrigeração de produtos. Esse percentual fica ainda maior e beira os 20% no caso de mercados e armazéns de pequeno porte, indica o economista.

Ao longo deste ano, a energia ficou mais cara em razão da crise hídrica no Brasil.

A escassez de chuva força o acionamento de usinas térmicas, o que aumenta os custos para geração de eletricidade. O reflexo é a conta mais alta para empresas e consumidores.

No cálculo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a energia elétrica residencial acumula alta de 19,13% no ano, até outubro, e disparada de 30,27% em 12 meses.

A luz é uma das principais responsáveis pela escalada do índice oficial de inflação do Brasil. O IPCA chegou a 10,67% em 12 meses, até outubro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em meio a esse cenário, até a montagem das tradicionais decorações com luzes natalinas, em centros comerciais ou em espaços abertos, tendem a ficar mais custosas neste ano.

Natal Luz, no município de Gramado, na serra gaúcha, começa a sentir o efeito da luz mais cara, segundo a organização do evento, que começou no final de outubro e vai até janeiro.

A programação é composta por uma série de espetáculos natalinos, e pontos da cidade são decorados com luzes e enfeites da data.

“Sem dúvida nenhuma, teremos um impacto bastante expressivo em relação aos outros anos e, principalmente, em relação aos meses em que esses pontos de energia não são utilizados”, diz a arquiteta Tatiana Ferreira, chefe do departamento de infraestrutura e segurança da Gramadotur, autarquia responsável pelo Natal Luz.

“Ainda não conseguimos estabelecer um comparativo, pois não completamos um mês de evento, mas já se percebe o impacto financeiro”, completa.

A pressão de custos não para por aí. É que, segundo Tatiana, o evento utiliza geradores de energia para a realização dos espetáculos. Esses geradores consomem óleo diesel, que também ficou mais caro neste ano.

O combustível subiu com a recuperação do petróleo no mercado internacional e o avanço do dólar, dois fatores levados em consideração pela política de preços da Petrobras.

“Não conseguimos fugir do aumento de custos”, define Tatiana.

Mesmo assim, ela vê um cenário mais positivo neste ano. É que, em 2020, o evento teve espetáculos cancelados devido à pandemia.

Os shoppings também preparam decorações e apostam no Natal para aquecer os negócios. Apesar da pressão de custos, os estabelecimentos não vão abandonar as luzes e os enfeites da data, relata o diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luís Augusto Ildefonso.

Segundo ele, a decoração de Natal é um investimento que funciona para levar mais público até os centros comerciais.

Em tempos de energia mais cara, o gasto com as luzes natalinas até deve ser maior, mas o principal impacto é o do consumo para manter as lojas abertas por mais tempo, relata o dirigente.

“O Natal é a melhor época do ano para os shoppings. Então, o investimento em decoração tem retorno quase garantido.”

“É claro que isso pode gerar um acréscimo na conta de luz, mas é menor, bem menos significativo, se comparado ao custo da energia para receber mais pessoas e deixar as lojas abertas por mais tempo”, acrescenta.

Empresas especializadas começaram, até antes do Dia das Crianças, a enviar decorações natalinas para centros de compras de todas as regiões do Brasil. Empreendimentos na América Latina e na África chegaram a fazer encomendas.

A companhia criada em 1981 por Conceição , e com fábrica em Jacareí, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, tem 95% de suas vendas oriundas das decorações e atrações que fornece para 80 centros comerciais.

A empresa perdeu 60% das vendas em 2020, resultado da pandemia da Covid-19, conta Rita Cipolatti, diretora comercial da marca. Para este ano, Rita diz que os carrosséis, playgrounds, rodas-gigantes e montanhas-russas estão recebendo alguma procura, mas que não voltarão com tudo, porque ainda há receio de contaminação pela Covid-19.

Outra atração que ganhou força nos shoppings com a pandemia são os robôs, controlados por um ator que interage com as crianças remotamente, relata a empresária. “Como este ano ainda é preciso evitar o toque, terá muito pedido de urso, cachorro e esquilo que conversam com as crianças”, afirma.

Com o reaquecimento do setor, a Cipolatti prevê que seu quadro de funcionários, que fora da época de festas é de 150 pessoas, pode ir de 1.500 a 1.800 pessoas no final de 2021. No ano passado, a companhia contou com 1.000 pessoas.

Mesmo assim, Rita é cautelosa em relação à recuperação. O patamar de vendas de antes da pandemia pode voltar em 2022, e a empresária vê a polarização política e o momento ruim da economia como desafios.

“As pessoas ainda não estão indo para o shopping fazer gastança. Vão porque querem passear depois de tanto tempo em casa, mas estão comprando o básico”, afirma.

A empresa também sofre desde o começo do ano com a alta dos preços de material de construção e do custo de importação de lâmpadas de led e eletrônicos, impactados pela depreciação do real em relação ao dólar.

Diretor do Sindilojas-SP (Sindicato do Comércio Varejista e Lojista do Comércio de São Paulo), Aldo Macri vai na mesma linha. Ele também cita o desafio da inflação mais alta, que atinge consumidores e empresários.

Nesse cenário, os lojistas vêm tentando reduzir custos de operação, inclusive de energia, diz o dirigente.

“A gente apaga uma luz aqui, outra ali, tem essa preocupação.”

Macri projeta uma alta de 2% a 2,5% nas vendas do Natal de 2021, frente a 2020, no comércio de São Paulo. Na visão do dirigente, o crescimento é contido pelas dificuldades que permanecem no cenário econômico.

Em setembro, a CNC estimou alta de 3,8% nas vendas natalinas no país, em 2021, na comparação com o ano passado. Mas a pressão inflacionária tende a provocar uma revisão para baixo na previsão, que deve ficar entre 3% e 3,5%, conforme Fabio Bentes, economista da entidade.

Oferta de vagas no comércio para o Natal será a maior em seis anos

A Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) divulgou hoje (14) uma estimativa sobre os postos de trabalho temporários para o Natal deste ano. De acordo com a CNC, espera-se a contratação de 91 mil trabalhadores temporários para atender ao aumento da demanda do varejo no período natalino, ou seja, 4% maior do que em 2018 e a maior oferta dos últimos seis anos.

Estima-se que o Natal movimente R$ 35,9 bilhões no comércio varejista de todo o país, neste ano, segundo a CNC.

Para o presidente da confederação, José Roberto Tadros, essa “retomada parcial do nível de atividade do setor” está sendo influenciada pela inflação baixa, pelos juros básicos no piso histórico, por prazos mais amplos para a quitação de financiamentos e, principalmente, pela liberação de recursos extraordinários para o consumo, como os saques no FGTS e no PIS/Pasep.

Os estados que devem mais gerar vagas são São Paulo (22,6 mil), Minas Gerais (10 mil), Rio de Janeiro (9,4 mil) e Rio Grande do Sul (7,6 mil), que concentrarão mais da metade da oferta de vagas.

Já entre os setores do comércio, os maiores volumes de contratações deverão ocorrer nos ramos de vestuário (62,5 mil vagas) e de hiper e supermercados (12,8 mil). Oito em cada dez vagas ofertadas deverão ser preenchidas por vendedores (57 mil), operadores de caixa (13 mil) e pessoal de almoxarifado (4,6 mil).

Os maiores salários médios deverão ser pagos aos contratados para os cargos de gerente de marketing e vendas (R$ 2.724) e gerentes de operações comerciais (R$ 2.020).

A taxa de efetivação dos trabalhadores temporários deverá ser maior do que nos últimos cinco anos, com expectativa de absorção definitiva de 26,1%.