A paulistana Luciana Zago vai colocar em prática um plano antigo de viver algum tempo na praia. Vai alugar um quarto na casa que alguns amigos dividem em Baleia, no litoral norte do Estado. Não é um sabático, pelo contrário.
Ela acaba de ser promovida a gerente de pesquisa clínica em uma multinacional que presta serviços para a indústria farmacêutica.
A questão é que, além de flexível, sua jornada de trabalho não tem base definida. Ela atua na fase inicial das pesquisas, coordenando equipes em diferentes países por meio de teleconferências e reunindo em uma plataforma digital todos os documentos para começar um novo projeto.
Para fazer isso, ela precisa basicamente de uma boa conexão de internet.
“A não ser que eu tenha que assinar algum documento, não precisaria nem de impressora”, ela brinca. Mesmo antes da promoção, com a obrigação de aparecer no escritório alguns dias na semana, Zago com frequência dava um jeito de ir além do home office. Já trabalhou com a Chapada dos Veadeiros (GO) ao fundo, de Natal (RN), de Miami. No fim do ano sua base será Boipeba, na Bahia.
Ela é o que o mercado de trabalho tem chamado de “nômade digital”, um grupo heterogêneo que, com a ajuda da banda larga, da computação na nuvem e dos aplicativos de comunicação, faz os lugares mais improváveis de escritório.
Com baixo custo de vida e boa infraestrutura, cidades como Chiang Mai, na Tailândia, Ubud, na Indonésia, e Odessa, na Ucrânia, reúnem hoje verdadeiras comunidades de freelancers e empreendedores digitais estrangeiros que não querem abrir mão de conhecer o mundo enquanto trabalham.
Sete anos e dezenas de países
Também paulistano, Eduardo Borges, de 33 anos, já fez de tudo. Desde atividades mais “convencionais”, desenvolvendo websites e a prestando serviços de marketing digital e de consultoria em SEO (search engine optimization) a modalidades mais inventivas.
Já ganhou dinheiro com “drop shipping” – ele comprava mercadorias no eBay e as revendia no Mercado Livre -, com a terceirização de pesquisas de mercado – projetos de US$ 1.000 que ele subcontratava por US$ 300 – e com a “investigação” de empresas – a produção de relatórios sobre firmas brasileiras para companhias americanas interessadas em fazer negócios com elas.
Desde 2010, ele viaja com 15 quilos de bagagem e um portarretrato dos dois cachorros. Já teve cerca de dez “bases” pelo mundo, nas quais ficou por um período mais longo, de até um ano. Entre elas estão Odessa, na Ucrânia, Budapeste, na Hungria, Medellín, na Colômbia, e Florianópolis, a capital catarinense.
No momento ele está em São Paulo, onde ficará por dois meses para finalizar o curso de marketing digital que está montando e o blog que leva seu nome. A ideia é divulgar o “lifestyle nômade” entre os brasileiros.
“Meu sonho é propagar essa cultura entre nossa comunidade local, hoje bastante impactada pela dificuldade com o inglês. A língua é um dos maiores impeditivos para que os brasileiros abandonem os empregos e se joguem pelo mundo. Não só pelo problema da comunicação local, mas também pelo fato de só conseguirem ganhar em real, que é uma moeda fraca quando convertida.”
O dinheiro não tira férias
Um dos primeiros registros do termo “nômade digital” aparece no livro Digital Nomad, de Tsugio Makimoto e David Manners, lançado em 1997. Makimoto, que fez carreira em empresas de tecnologia japonesas como Sony e Hitachi, chamava atenção, 20 anos atrás, para o número crescente de profissionais de sua área que, graças ao desenvolvimento da tecnologia digital, não tinham uma base de trabalho fixa.
O livro mais popular entre os nômades e aspirantes, entretanto, foi publicado dez anos depois, em 2007. No best-seller de autoajuda The 4-Hour Work Week (Trabalhe 4 Horas Por Semana, editora Planeta), que vendeu mais de um milhão de cópias, o americano Tim Ferriss ensina a usar o empreendedorismo digital para escapar do trabalho convencional, que ele chama de “rotina de 9h às 17h”, e para viver “em qualquer lugar” ganhando dinheiro.
Longe de ser regra, a “semana de quatro horas” é o que Ferriss chama de períodos de “miniaposentadorias”, dos quais se pode desfrutar quando um negócio finalmente passa a gerar renda de forma passiva. É o caso, por exemplo, dos aplicativos, que são rentabilizados por download.
Leia aqui a matéria completa.