Cresce o nível de stress na população após isolamento social
Pesquisa revela aumento de casos de hipertensão, sedentarismo, tabagismo, entre outros fatores de risco para doenças crônicas

Gilberto Ururahy alerta para o risco do crescimento de doenças crônicas durante o isolamento

 

Por Elenilce Bottari (Agência de Notícias EuroCom)

A Organização Mundial de Saúde vem defendendo o isolamento social como única arma efetiva para se evitar uma explosão de casos e de mortes pelo covid19 no mundo. Defesa esta que põe também põe em risco a economia global e que no Brasil tem no presidente da República seu maior opositor. Mas será que o perigo para a vida está apenas do lado de fora do portão? Dados do Ministério da Saúde põem em xeque esta premissa. Até o dia 10 de abril, morreram no país 946 pessoas vítimas da pandemia. No mesmo período, outros 70 mil morreram de infarto do miocárdio ou de Acidente Vascular Cerebral; 15 mil, por problemas pulmonares e 12 mil, vítimas de diabetes.

Se por um lado achata a curva da pandemia e evita um consequente colapso da rede hospitalar, o afastamento social não elimina os fatores de risco que mais provocam mortes no país. Uma pesquisa feita pela Clínica Med-Rio Check-up, especializada em medicina preventiva, a pedido da Agência de Notícias EuroCom, comparou os dados de 300 clientes atendidos em suas unidades depois de 10 de março passado com o perfil de 4 mil clientes e mais de 150 mil check-ups realizados antes do isolamento.  Os resultados revelaram que, em apenas 40 dias, os níveis de stress subiram de 78% para 85% entre executivos homens entrevistados.

Outros dados confirmam os efeitos colaterais para a saúde do isolamento. De acordo com a pesquisa, o sedentarismo entre os homens subiu de 50% para 80%; entre as mulheres saltou de 55% para 90%. Os casos de insônia entre homens e mulheres subiram de 27% para 35%, enquanto que o consumo de álcool aumentou em 15%. O sobrepeso também aumentou de 62% para 75% dos casos.  Ao mesmo tempo em que se     descuidaram de uma alimentação adequada e das atividades físicas, aumentaram as soluções paliativas: a automedicação (ansiolíticos, antidepressivos e até remédios para distúrbios da ereção) disparou, saindo de 20% para 40% dos casos.

Em entrevista, o diretor médico da Med-Rio, Gilberto Ururahy, analisou a situação da pandemia e se mostrou otimista quanto a uma mudança de postura da população na preservação de sua saúde.

Como estava a saúde do brasileiro até a chegada do coronavírus?

O grande mal é o stress crônico, que está cada vez mais presente na população, principalmente nos grandes centros. E quais são os hormônios que um indivíduo sob stress libera?  São dois, adrenalina e o cortisol. A adrenalina mexe com todo nosso sistema cardiovascular; o coração entra em taquicardia, o indivíduo fica mais antenado, ligado. Já o cortisol deprime. Ele baixa nossas imunidades, espessa o nosso sangue, é um potente hormônio que interfere com a mucosa gastrointestinal.  Aquelas pessoas com predisposição irão desenvolver gastrites, úlceras. Uma das grandes descobertas da Psiquiatria moderna foi o excesso de cortisol na depressão. E este stress crônico do dia a dia que conduz os indivíduos a um estilo de vida inadequado. Sob a ação desses dois hormônios, ele passa a dormir mal e a acordar cansado. Para enfrentar a agenda do seu dia a dia, lança mão de alimentos poucos saudáveis, com excesso carboidratos de alto índice glicêmico e usa doses de cafeína enormes. Também não pratica uma atividade física e antes de ir embora para casa depois do trabalho, passa com os amigos no bar para beber. Esse álcool ingerido para relaxar, depois de metabolizado, passa a ser uma grande barreira para o sono de qualidade. Este ciclo precisa ser rompido. Por que é este estilo de vida pouco saudável que leva os indivíduos às doenças crônicas. E são elas os principais fatores de risco para a vida.

Há um receio de que a doença no Brasil se mostre ainda mais letal em razão das favelas. Qual o seu prognóstico?

Ainda não há informações suficientes sobre a doença. Nós estamos tendo tantas surpresas, tem muitas perguntas sem respostas. Por que no Norte da Itália, por exemplo, muitos idosos estão falecendo, enquanto no Sul, no mesmo país, quase não existe mortes? Por que muitos idosos estão morrendo nos estados do Norte dos Estados Unidos e no Sul o percentual é mínimo? Enquanto Nova Iorque é o epicentro da pandemia, o vizinho México está com 300. Em relação ao Brasil, da mesma forma que no México, a população brasileira é ainda jovem. Temos também uma população de idosos de até 15% ainda ativa. Eu não saberia definir a quantidade de idosos presentes em comunidades carentes, mas é pequena até porque, se o homem é fruto do meio em que vive, como o ser humano vai viver muito em um lugar de esgoto a céu aberto, com balas perdidas, com balas ativas, viroses, tuberculoses? As favelas são muito populosas, mas por jovens. Por isso, possivelmente teremos algumas surpresas com relação ao Brasil. Além disto, alguns dizem que o calor e a umidade matam o vírus. O Brasil é quente e úmido, diferente da Europa onde o clima é frio e seco. Então o clima é um parâmetro importante? Só o tempo vai dizer.

 

Dados da Pesquisa sobre o perfil de executivos examinados pela Med-Rio antes e depois do início do isolamento social

  Até fevereiro    Pós isolamento
STRESS

Homens:

Mulheres:

 

78%

82%

 

82%

75%

HIPERTENSÃO ARTERIAL

Homens:

Mulheres:

 

22%

20%

 

25%

23%

SEDENTARISMO
Homens:Mulheres:
 

50%

55%

 

80%

90%

TABAGISMO

Homens:

Mulheres:

 

3%

8%

 

5%

11%

DEPRESSÃO

Homens e Mulheres

 

18%

 

20%

 

 

Quais os efeitos para a saúde do isolamento social prolongado?

 O homem é fruto da emoção. Nós não podemos viver o dia a dia sem emoção. As emoções definidas por Darwin e que estão na humanidade independentemente de culturas são o medo, a tristeza, o desgosto, a surpresa, a raiva e a alegria. O cérebro, o sistema mais complexo do corpo, pensa a partir das emoções e não da quantidade de informações armazenadas. As emoções são tão inerentes ao ser humano que estão inscritas no nosso patrimônio genético. Mas hoje vivemos um momento em que a única emoção que não está presente é a alegria.  Vivemos um tempo de incertezas que geram nas pessoas ansiedade, medo, pânico, tristezas. Estas emoções negativas estão tendo um papel fundamental na gênese de doenças cada vez mais agressivas. De acordo com nossas individualidades, este emocional em ebulição pode provocar em você uma gastrite; em mim, hipertensão; no outro adiante, um AVC ou um infarto. O agravante é que isolamento social prolongado amplifica isto, porque não nascemos para viver isolados.

Como amenizar estes efeitos desta situação na população infanto-juvenil? Que tipo de prevenção se pode fazer nestes casos?

As crianças deveriam estar nas escolas, mas houve esta imposição da OMS que alguns países europeus abraçaram outros não. O Brasil seguiu a onda do isolamento, então as crianças estão pagamento fortemente, em seus emocionais, em seus físicos, porque estão engordando, estão hiperativas, estão com medo. Os pais deveriam buscar estimular as crianças para reduzir estes danos, estimulando-as a fazer uma pequena ginástica no dia a dia, a comer uma alimentação pobre, paupérrima em açúcar, porque o açúcar é um estimulante extremamente forte para a hiperatividade, a agressividade. Os pais deveriam buscar cursos online, criar atividades lúdicas dentro de casa, como, por exemplo, a construção de uma árvore genealógica com fotos da família, aguçar a criatividade delas com prática de artes e garantir um horário adequado do sono, sem mexer no relógio biológico das crianças. Este conjunto de ações aparentemente simples precisa ser praticado.  Já, entre os adolescentes a questão é mais complexa porque já têm as suas tribos. Esta é uma faixa etária em que os jovens começam a se robotizar, se robotizam na alimentação, no vestuário, nos dialetos e a palavra dos pais não tem grande valor. Mas, ainda assim, precisam fazer atividades físicas. E não existe nada mais democrático do que a atividade física. Qualquer um pode fazer, é só ter vontade.

Mas como evitar que jovens não transmitam a doença para os idosos, principais vítimas da letalidade da doença?

O que fez o Japão? Pôs as crianças nas escolas, mandou os adultos sem sintomas trabalharem e protegeu seus idosos. E lá, naquela ilhota com 125 milhões de habitantes, 28% da população tem mais de 65 anos. São mais de 35 milhões de idosos. E quantos morreram vítimas de Covid19? 148. Nos Estados Unidos já são mais de 50 mil mortos. O que faz a diferença? A diferença está na educação. O povo japonês é educado, disciplinado, cuida muito bem de sua saúde e protege seus idosos.  No Brasil, hoje botamos toda a população no mesmo saco, confinamos todo mundo, como se todos fossem apresentar virose. O ideal é testar a população, mas o Brasil tem teste para 210 milhões de habitantes? Então voltamos de novo a Darwin e ao conceito de seleção natural. Como acontece com toda pandemia, essa também vai passar e, ao final, verificaremos que a maior parte da população será negativa para o covid19. Isto porque a medida que a população contrai o vírus, faz a imunização natural. Deveríamos observar também outras experiências de países que vêm dando certo e que não estão quebrando tanto suas economias. As pessoas estão polarizando muito sobre o qual a maior prioridade, a saúde ou a economia. Mas não há a hipótese de saúde adequada para a população sem uma economia razoável. Corremos o risco de vivermos um problema ainda mais grave após o coronavírus: a pandemia de fome.

 

“O que não é saudável é se manter pessoas trancadas em casa, olhando o noticiário que está cada vez mais tóxico, porque só fala sobre mortes, vivendo só emoções negativas”

 

Qual sua receita então para o Rio de Janeiro?

O isolamento social é importante para você preservar evitar que milhares de pessoas busquem os hospitais concomitantemente, porque não tem meios para todo mundo. Então o objetivo é achatar a curva de contaminação, mas quando você achata a curva, estende a doença por um tempo maior. Mas até quando? Nenhum povo pode ficar enclausurado ad aeternum, o ser humano necessita de liberdade.  Então o que fazer para proteger nossos idosos? Nós, no Rio de Janeiro, podemos fazer isto utilizando a hotelaria que está toda vazia. Vamos mapear os idosos de comunidades carentes, que não têm acompanhantes, que não têm família ou mesmo aqueles que vivem em asilos, e transferi-los para esta hotelaria disponível por um período. Isto a Prefeitura pode fazer. Passou a pandemia? A vida retoma. A pandemia vai acabar e a vida vai sempre se impor, não existe outro caminho. O que não é saudável é se manter pessoas trancadas em casa, olhando o noticiário que está cada vez mais tóxico, porque só fala sobre mortes, vivendo só emoções negativas, que vão gerando medo no emocional e adoecendo o corpo.

Quem no Brasil se trata preventivamente? Este é um fator cultural ou imposição de empresas?

No Brasil, cada vez mais as pessoas estão buscando prevenção porque já estão inseridos no contexto cultural dos brasileiros os check-ups médicos.  Como surgiu? O governo americano na década de 60 iniciou seus programas espaciais, mas o homem só poderia ser enviado ao espaço em perfeitas condições de saúde. Daí surgiu a palavra check-up. No início, quando começamos nosso trabalho em 1990, a absoluta maioria dos nossos clientes eram empresas multinacionais que já traziam das suas matrizes a cultura da prevenção, hoje 50% das empresas que nos procuram são nacionais. Isto porque cada vez mais o trabalho exige resultados, as agendas são quase que inadministráveis, as cobranças são permanentes. Se você olhar para a mulher, 40% dos lares brasileiros são comandados por mulheres, que tem suas casas, seus filhos, seu trabalho, seus bancos universitários. Então precisamos estar com a nossa saúde em dia. Hoje é inadmissível o homem moderno se deparar com a surpresa de uma doença em estágio avançado. Passou a ser cada vez mais cultural no mundo a prevenção.

 O senhor indicaria algum modelo de saúde preventiva no mundo que pudesse ser adotado em um país continental e com tanta diversidade como o brasileiro?

O padrão ideal é sobretudo uma questão de educação. Saber o que faz bem e o que faz mal à saúde e ter disciplina. Ações simples como atividade física, alimentação adequada, vacinação em dia. Quem pratica atividade física regular e se alimenta corretamente seguramente não é obeso, dorme bem e tem sua imunidade mais fortalecida. Esta é a receita para a longevidade com autonomia. Nós atendemos a quatro mil clientes, muitos como mais de 80 anos de idade, alguns com 94, 96 anos, que chamamos de verdadeiros jovens porque são indivíduos experientes, mas com a saúde em dia.

Muitos hospitais e clínicas sofreram esvaziamento em razão do medo de contaminação por parte da população. Como a Med-Rio se preparou para enfrentar a pandemia?

O que nós vimos e continuamos a observar foi uma demanda por prevenção crescer. E a gente sabe que é o indivíduo que faz uma empresa crescer. E todos sabem também que saúde é o combustível da vida. Sem saúde, o homem não cresce em suas dimensões. Hoje nós temos em torno de 400 empresas clientes, de grande e médio portes, e estamos no mercado há trinta anos, com mais de 150 mil check-ups realizados em homens e mulheres. O que observamos ao longo dos 30 anos e agora com o coronavírus de forma mais intensa. Por esta razão estamos funcionando regularmente com nossas clinicas, fazendo todos os exames naturalmente. Claro que, em respeito ao nosso meio interno, em respeito ao nosso público externo, tomamos todas as medidas de segurança necessárias. Todos os nossos profissionais passaram por testagem, não entra nenhum cliente com sintomatologia, em todos os casos aferimos a temperatura, todos os profissionais trabalham com seus EPIs (equipamento de proteção individual). E isto é importante. Na semana passada identificamos em um executivo de 50 anos, a obstrução de suas coronárias. Passou por um procedimento simples de colocação de stents e está ótimo. Salvamos sua vida.

O que muda após a pandemia?

GILBERTO URURAHY — Eu sou otimista. Acredito que as pessoas valorizarão cada vez mais a sua saúde. As pessoas vão querer saber quais suas doenças crônicas ou como evitá-las. Este será o grande salto de qualidade na saúde do brasileiro. Como obter um estilo de vida saudável? Como promover a sua saúde. Com certeza vai haver uma busca por uma saúde de qualidade. Além disto, acredito que tanto nas residências como no âmbito corporativo haverá também mudanças de comportamento. As pessoas tenderão a se aproximar mais, a serem mais amáveis e respeitosas para com os próximos, como aconteceu em países com nível de educação mais elevado.

Cuidados com a saúde em tempos de coronavírus
Especialista em medicina preventiva alerta que hábitos saudáveis ajudam a manter a imunidade alta

 

Gilberto Ururahy: “é preciso fortalecer o corpo e a mente”

 

Da Redação

Em meio à pandemia do coronavírus Covid-19 e diante do cenário de isolamento, cuidar da saúde é ainda mais imprescindível, principalmente em relação a doenças crônicas como diabetes e hipertensão, que aumentam o risco de a pessoa contaminada ter mais complicações. A cidade do Rio, segundo dados do Ministério da Saúde, é a capital que tem o maior percentual de pessoas com diabetes (9,8%) e a maior taxa de pessoas com hipertensão (31,2%). Hoje, cerca de 9% da população brasileira sofre de diabetes, 22,5% tem hipertensão.

Por isso, o especialista em medicina preventiva, o diretor médico da Med-Rio Check-up, Gilberto Ururahy, alerta que mais do que nunca o carioca deve incorporar a rotina de uma alimentação saudável para controlar essas doenças crônicas. “Ver o mundo diante da pandemia causada pelo coronavírus tem pedido um olhar atento à saúde. É preciso ter atenção à higiene pessoal, mas também é preciso fortalecer o corpo e a mente”, explica Gilberto.

O diretor médico da Med-Rio observa que o ditado “é melhor prevenir do que remediar” nunca se fez tão verdadeiro, pois é preciso estar com a saúde em dia e a imunidade em alta para reduzir as chances de contaminação ou desenvolver a doença na sua forma mais grave. Nesse cenário, adotar um estilo de vida saudável é uma forma de combater a doença, o que passa por uma alimentação equilibrada, que reduza o consumo de sal e açúcar, mas que inclua uma variedade de frutas e vegetais, alimentos ricos em ômega 3; pela prática de exercícios físicos e por ter um sono adequado. “´É uma postura que deve ser mantida durante todas as fases da vida, mas agora ela é uma real necessidade de saúde pública”, explica Gilberto.

Mas também é importante zelar pela saúde mental. Valorizar o tempo que vai estar com a família contribui para reduzir o impacto psicológico do isolamento. Gilberto também recomenda realizar atividades que ajudem a estimular o cérebro. Leitura e jogos como passatempos são exemplos de atividades simples e que ajudam a ocupar a mente.

Estar com o check-up em dia é outro importante aliado no combate a doenças crônicas, pois a bateria de exames traça um perfil detalhado da saúde, indicando a necessidade de mudar os hábitos de vida. Justamente para permitir que as pessoas mantenham sua agenda de exames, a Med-Rio adotou, em suas duas unidades (Botafogo e Barra da Tijuca), medidas para ampliar a segurança de clientes e colaboradores.

Foi reforçada a higienização das instalações, com a limpeza e desinfecção periódica de superfícies, maçanetas, interruptores e corrimões. Gilberto relata que os funcionários realizaram exame contra o coronavírus e todos testaram negativo. Além disso, a clínica tem aferido a temperatura corporal dos clientes e colaboradores na entrada. “Também fornecemos álcool em gel e máscaras para quem vai fazer o check-up, e toda nossa equipe tem utilizado EPIs. Estamos preparados para receber e apoiar todos os seus clientes”, afirma Gilberto.

Academias nacionais de medicina de Brasil e França debatem o desafio de envelhecer bem

Evento sobre envelhecimento
Richard Villet e Bernard Charpentier, respectivamente, secretário e vice-presidente da Fundação da Academia Nacional de Medicina da França e Gilberto Ururahy, diretor médico da Med-Rio Check-up

O aumento da expectativa de vida do homem é um fato que precisa ser celebrado. Estamos vivendo mais. Entretanto, a longevidade também traz para a sociedade desafios que foram discutidos ao longo da manhã desta quinta-feira no Intercâmbio Franco-Brasileiro sobre o Melhor Envelhecimento, promovido pelas Academias Nacionais de Medicina do Brasil e da França.

Os dados apresentados pelo vice-presidente da Fundação da Academia de Medicina da França, Bernard Charpentier, sobre o crescimento do número de idosos entre os europeus, nortearam um rico debate, que contou com a presença do presidente da ANM, Jorge Alberto Costa e Silva, do professor Alain Franco, do professor de geriatria da Universidade Sorbonne Joël Belmin, da geriatra e coordenadora do Núcleo de Atenção ao Idoso da UERJ, Luciana Motta, e do diretor médico da Med-Rio Check-up, Gilberto Ururahy. Bernard fez paralelos, a partir de um relatório da Science Advice for Policy by European Academie sobre envelhecimento no Velho Continente, entre o cenário da longevidade francesa e europeia.

Hoje, a média de expectativa de vida francesa supera a europeia. Enquanto que os franceses estão vivendo até os 83 anos, a longevidade do europeu fica em torno dos 78 anos. Até 2050, a previsão é de que o país do Louvre registre uma média de vida de 87 anos, enquanto que no continente será de 83 anos.

Para além da constatação inevitável de que as pessoas estão vivendo mais, Gilberto Ururahy relatou que o que vem chamando atenção em suas clínicas é o perfil dos idosos atuais. São pessoas que alcançam a terceira idade mantendo disposição e se preocupando com a saúde. “Eles se alimentam equilibradamente, viajam e praticam exercícios físicos com regularidade. São pessoas que não veem a velhice como um impedimento para aproveitar a vida”, comentou.

Nesse sentido, é fundamental investir em prevenção para garantir que as pessoas alcancem a terceira idade com autonomia. Não é apenas uma questão de viver mais, mas de viver bem, que passa pelo estilo de vida do indivíduo. “O caminho da longevidade com autonomia passa pela prevenção. Conhecer os fatores de risco para a saúde e combatê-los é a forma mais eficaz de se viver mais e melhor”, afirma Gilberto.

Entretanto, outra questão relevante nesse debate é a inserção do idoso na sociedade. Bernard observou que ainda há muita discriminação no mundo por causa da idade. Ele criticou a falta de políticas que estimulem a inclusão dessa parcela da população. Segundo ele, o envelhecimento traz diversas oportunidades que devem ser aproveitadas tanto por governos e empresas quanto pelo próprio indivíduo. São pessoas que acumularam sabedoria e conhecimento ao longo de décadas, que alcançaram uma satisfação pessoal e que podem buscar novas carreiras e experiências de vida.

Mercado em ascensão

O diretor médico da Med-Rio ainda observou que o aumento da longevidade provoca, inclusive, novas demandas no setor médico e citou como exemplo a busca por consultórios de geriatras. Ele relembrou que o cenário hoje é bem distinto do de 30, 40 anos atrás, quando  a procura era muito pequena. “Hoje, é normal ouvir um familiar falar que está indo se consultar com um geriatra. E como a expectativa de vida vai continuar aumentando nas próximas décadas, então a procura por essa especialidade vai ser ainda maior”, destacou.

Prevenção é o caminho para empresas reduzirem custos com saúde

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Claudia Marchi e Gilberto Ururahy apontaram os desafios na gestão de saúde nas empresas       Felipe Gelani / ACRJ

Se por um lado, o plano de saúde está entre os três maiores desejos do brasileiro, por outro, é o segundo maior custo de uma empresa, respondendo, em média, de 12 a 15% da folha de pagamento. Foi para debater esse cenário e apresentar soluções às organizações, que aconteceu na manhã desta terça-feira, na Câmara de Comércio Americana do Rio de Janeiro (Amcham Rio), o Fórum “Quando o RH Solicita Saúde”. O diretor médico da Med-Rio Check-up, Gilberto Ururahy, e a CHRO & Partner da Degoothi Consulting, Claudia Marchi, destacaram ações necessárias para que as organizações melhorem a gestão de saúde.

Para ambos, é fundamental que as empresas invistam continuamente em prevenção. Segundo Claudia, há organizações que criam ações esporádicas ou que participam de campanhas, mas sem desenvolver uma cultura voltada para saúde. Para ela, isso é reflexo da forma como os gestores compreendem a saúde. “Ela não pode ser percebida como custo, porém é essa a visão que ainda persiste em muitas empresas”, observa a CHRO & Partner da Degoothi Consulting.

Para mudar isso, é preciso que as empresas tangibilizem em números o retorno que a gestão da saúde traz, inclusive no aspecto financeiro. Gilberto observou que colaboradores saudáveis reduzem o uso do plano de saúde com consultas, exames e internações. O resultado é o controle da sinistralidade do benefício, o que permite a empresa negociar melhores valores com a operadora na hora de renovar o contrato.

Diabetes, obesidade, hipertensão arterial são algumas das doenças crônicas citadas pelo diretor médico da Med-Rio que atingem boa parte da população e poderiam ser prevenidas com mudanças nos hábitos de vida. Em muitos casos, são elas as responsáveis pelo afastamento médico do colaborador. Além disso, a falta de uma rotina saudável aumenta o risco de sofrer um infarto, um AVC e até mesmo do desenvolvimento de vários tipos de câncer. Todas representam altos custos para o sistema de saúde. “Atualmente, 73% das mortes no mundo estão relacionadas ao estilo de vida”, alertou Gilberto, ao citar pesquisa da Universidade de Stanford.

Ele observa que é preciso que o indivíduo tome as rédeas do seu próprio cuidado. Porém, não é fácil promover mudanças sem apoio. A maior parte costuma alegar falta de tempo para realizar os exames preventivos. Por isso, é importante que a saúde seja um item primordial dentro da estratégia da empresa. “Tenho visto um relevante aumento no número de casos de depressão e de burnout no mundo corporativo. Isso reforça a necessidade das empresas olharem com mais atenção para a saúde dos seus funcionários”, afirma Gilberto.

Alerta aos RHs

Os palestrantes alertaram que é preciso que as empresas tenham cuidados na hora de contratar fornecedores e prestadores de serviço. Eles criticaram o fato de que muitos gestores olham apenas para o valor do serviço na hora da tomada de decisão. “Isso não pode ser o principal critério. Competência técnica inquestionável, serviços singulares e integridade no relacionamento são fatores essenciais”, ponderou Claudia.

Para Gilberto, as empresas também enfrentam um desafio por não terem pessoas especializadas em saúde. Ele explicou que são as áreas de RH e de Suprimentos que respondem, na maioria das vezes, pela contratação de um fornecedor, porém são formadas por profissionais que não costumam conhecer as singularidades do setor de saúde. “Tomar uma decisão sem conhecer os prestadores in loco, utilizando-se de e-mails e propostas, sem realizar uma visita técnica, é uma decisão extremamente frágil e arriscada. O resultado é a contratação de serviços que não atendem a necessidade da empresa. Isso significa aumento de custos e desperdício de recursos”, explica Gilberto, que contou a sua própria experiência. “São 30 anos trabalhando com check-up e durante todo esse período nunca recebi um pedido de um profissional de RH ou Suprimentos para conhecer nossas instalações e avaliar o nosso serviço”.