Superado ano de crise, saúde privada investe em tecnologia e inovação
Einstein, o hospital mais lembrado pela décima vez, quer encurtar permanência de pacientes em suas unidades

Publicado inicialmente na Folha de S.Paulo. Leia aqui.

Monitores da Central de Monitoramento Assistencial do Hospital Israelita Albert Einstein (Foto: Lalo de Almeida)

Por falta de recursos financeiros, 7 em cada 10 hospitais privados não conseguiram executar investimentos previstos em expansão e novas contratações em 2023, segundo relatório divulgado pela Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) em março deste ano.

A situação é reflexo da crise enfrentada pelo sistema de saúde suplementar nos últimos anos, que tem causado atrasos de pagamentos por parte dos planos.

A tendência é que este ano continue desafiador para a saúde suplementar, mas um pouco menos tenso, segundo Antônio Britto, diretor-executivo da Anahp. Para ele, a melhoria na situação dos planos deve refletir na transferência dos valores para os hospitais.

O principal desafio dos estabelecimentos é manter a qualidade assistencial, com investimentos em mão de obra qualificada, melhoria dos processos e equipamentos, diante das contas apertadas.

“Nesse momento, os hospitais lidam com uma taxa de ocupação que voltou ao normal do período pré-pandemia. O primeiro obstáculo é conseguir receber regularmente pelos serviços que prestam aos programas de saúde. O segundo é ganhar eficiência para que seja possível manter qualidade”, diz Britto.

As internações correspondem a mais de 48% de todas as despesas hospitalares, segundo a Anahp. Para Sidney Klajner, presidente do Hospital Israelita Albert Einstein, estratégias que buscam diminuir o tempo de permanência dos pacientes nas unidades amenizaram os efeitos da crise da saúde suplementar no hospital, que neste ano foi eleito o melhor de São Paulo, na opinião de 23% dos participantes de pesquisa Datafolha.

“O Einstein tem o propósito de entregar vidas saudáveis a um número cada vez maior de seres humanos. Por conta disso, temos procurado cada vez mais investir, dentro do segmento privado, em alta complexidade, qualidade, segurança e, principalmente, num cuidado cada vez mais humanizado”, diz.

Área interna do Hospital Israelita Albert Einstein (Foto: Keiny Andrade)

Ele também atribui o sucesso da instituição aos protocolos para evitar o desperdício de recursos e ao diálogo e negociação com as operadoras de saúde. “Dificilmente, com nossos projetos, infraestrutura e segurança, vamos ter um evento adverso. Isso é investimento. Temos procurado trazer essa excelência para que ela também seja um motivo pelo qual a gente consiga conversar com as operadoras”, afirma Klajner.

Tanto a prevenção de eventos adversos quanto a gestão de leitos no Einstein são feitas com a ajuda da tecnologia.

Por meio de algoritmos, que enviam indicadores de todos os leitos a uma central de monitoramento, os profissionais podem identificar com antecedência mudanças nos sinais vitais dos pacientes e, assim, evitar eventos graves. A inteligência artificial também consegue predizer a chance de internação dos pacientes ainda no pronto atendimento.

Segundo Klajner, um projeto para reduzir a mortalidade materna na Amazônia, por meio de inteligência artificial generativa, está em andamento. Recentemente, a organização inaugurou um centro de inovação em Manaus, com o objetivo de desenvolver tecnologias que possam impulsionar a saúde e a equidade na região. Já existem outras três unidades no país, uma em São Paulo e duas em Goiânia.

A transformação digital da saúde é uma tendência do setor que deve acelerar nos próximos anos, afirma Britto, da Anahp.

“No último ano, houve um salto na utilização de telemedicina e ferramentas de inteligência artificial na medicina. Acreditamos que, em 2024, o crescimento será exponencial nos dois casos.”

Saúde privada gerou 17% dos novos empregos formais em 2018

breno monteiro
Breno Monteiro é presidente da Confederação Nacional de Saúde 

A crise econômica prejudicou a rentabilidade do setor de assistência privada à saúde – hospitais, clínicas e laboratórios –, mas ainda assim as empresas seguiram investindo na expansão dos serviços e empregos. O fato transparece nos números de 2018 sobre o mercado de trabalho. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (CAGED) mostram que em 2018 os prestadores de saúde privados realizaram 610.015 admissões, contra 521.034 demissões. O saldo positivo de 88.981 postos de trabalho corresponde a 16,8% do total de empregos com carteira assinada criados no país no ano passado.

Ganha maior relevância a contribuição do setor em contraste com setores tradicionalmente conhecidos por gerar empregos de forma intensiva. O saldo positivo de postos de trabalho em serviços privados de saúde foi 34 vezes maior do que o de todos os segmentos que compõem a indústria de transformação (2.610); 27 vezes maior que o da agricultura (3.245); e cinco vezes maior que o da construção civil (17.957).

Entre 2010 e 2018, os prestadores privados de assistência à saúde foram responsáveis por um saldo positivo de mais de 704 mil empregos formais no país. Atualmente, o estoque de empregos no segmento é de 2.066.533 empregos formais, o que o coloca à frente de segmentos como a Construção Civil (2.010.217) e a Agricultura (1.559.184).

Os dados sobre emprego ressaltam algumas particularidades do setor. Primeiro, que, na saúde, apesar do uso intenso de tecnologia, o contingente de profissionais continua a crescer – ao contrário do que ocorre em outros setores. Segundo, que o crescimento vem acompanhado de maior exigência em relação à qualificação dos trabalhadores. Conforme os dados do CAGED, em 2018 foram extintas 3.774 vagas de  profissionais com o fundamental incompleto, ao passo que foram criadas 92.755 vagas para aqueles com nível de escolaridade entre o ensino médio incompleto e o superior completo.

É interessante notar ainda que a expansão do emprego na saúde privada se espraiou por todos os estados do país, com exceção do Acre, que apresentou saldo negativo de 119 vagas. São Paulo liderou a geração de empregos com 25.608 novos postos de trabalho. No total, em comparação com o ano anterior, o setor gerou 80% mais empregos formais.

Os números mostram o peso que a saúde privada adquiriu na economia brasileira, o que se explica pela demanda crescente por serviços de saúde. O fenômeno é mundial e decorre principalmente  da mudança no perfil demográfico e epidemiológico – a maior longevidade das pessoas, o aumento na proporção de idosos e a preponderância das doenças crônicas, próprias do envelhecimento, que exigem cuidados continuados.

O desempenho surpreendente da saúde privada na geração de empregos se deu, repetimos, apesar das condições de mercado desfavoráveis dos últimos anos. Percebe-se aí o papel estratégico que o setor desempenha para a sociedade brasileira, tanto do ponto de vista social como econômico. E percebe-se também o comprometimento das empresas do setor com a expansão e a modernização dos serviços, para atender mais e melhor a sociedade brasileira.