Economia criativa vai gerar 1 milhão de empregos até 2030
Estudo da CNI aponta concentração de vagas no Sul e Sudeste

Da Agência Brasil

Um milhão de novos empregos serão gerados pela economia criativa até 2030, elevando, em consequência, a atual participação de 3,11% do setor no Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços fabricados no país.

É o que indica levantamento feito pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), núcleo de inteligência e análise de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A economia criativa emprega hoje 7,4 milhões de trabalhadores no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o 4º trimestre de 2022. O volume pode subir para 8,4 milhões em 2030.

“Isso está associado a uma necessidade de sobrevivência e inovação na sociedade como um todo. Não só na indústria”, afirmou nesta sexta-feira (1º) à Agência Brasil o gerente-executivo do Observatório, Márcio Guerra. “A gente estima que as profissões que estão relacionadas à economia criativa vão ter um crescimento significativo”, disse.

De acordo com Guerra, o conceito de economia criativa começa a se ampliar um pouco mais, uma vez que é preciso olhar também a necessidade de inovação e criatividade em produção de conteúdos digitais. “Essa cultura digital deve impulsionar essa demanda de forma significativa, nos próximos anos.”

As profissões da economia criativa estão espalhadas por diversos setores, como empreendedorismo, indústria, serviços e setor tecnológico. O gerente analisou que o aumento dos empregos e do dinamismo da economia criativa serão puxados, sobretudo, pela dimensão tecnológica, pela questão do desenvolvimento de produtos digitais.

“Esse eixo deve crescer significativamente, ao lado ainda da economia criativa tradicional, que era circunscrita mais ao empreendedorismo e à produção cultural. Hoje, a produção cultural tem um componente digital muito forte”.

Empregos

Guerra explicou que o aumento do número de empregos projetado para a economia criativa ocorrerá tanto no mercado formal, com carteira assinada, como no informal. “Isso pode ser percebido quando você olha a média salarial. São funções dentro do mercado formal de trabalho que já são valorizadas hoje e tendem a ganhar mais relevância nos próximos anos.”

O levantamento do observatório mostra que os profissionais da economia criativa possuem, em média, 1,8 ano de estudo a mais que os demais e recebem salários 50% maiores do que os profissionais de outras áreas. O salário médio do profissional da economia criativa é R$ 4.018, enquanto dos demais setores fica em torno de R$ 2.691.

Os salários mais altos são encontrados na parte de produção cultural e de criatividade relacionada à tecnologia, incluindo produção de aplicativos, desenvolvimento de softwares (programas de computador), design, desenvolvedores de games (jogos). “Essas profissões ganham mais relevância aos empregos tradicionais. Isso vai fazer com que os salários aumentem anda mais em relação à média da economia brasileira.”

Dentre os estabelecimentos da economia criativa no Brasil, 111,2 mil estão concentrados em micro e pequenas empresas, atrelados à questão do próprio empreendedorismo, sendo 86.917 microempresas e 24.381 pequenas empresas. As médias e grandes empresas juntas representam menos de 6 mil estabelecimentos.

Há uma concentração elevada de empresas de economia criativa no Sudeste (56.222) e no Sul (31.643) do país. Guerra argumentou que dada à dinâmica que tem acontecido na economia como um todo, vê-se um movimento interessante também nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde o número de estabelecimentos do setor, atualmente, alcança 2.939, 16.880 e 9.438, respectivamente.

Moda

No campo do empreendedorismo, a categoria moda reúne o maior número de estabelecimentos (45.874), seguida por publicidade e serviços empresariais (20.871), serviços de tecnologia da informação (11.712), desenvolvimento de software e jogos digitais (9.771) e atividades artesanais (8.398). “A concentração em micro e pequenas empresas, geralmente, é puxada por artesanato e moda. É onde você tem mais gente trabalhando, na ótica da economia criativa.”

Guerra destacou, por outro lado, que não é difícil se encontrar hoje, nas grandes capitais, artesanatos realizadas com tecnologia 3D, por exemplo. “Você começa a ter tecnologias transformando essas profissões que tinham caráter manual e que, agora, têm tendência a serem mais tecnológicas”. Também o uso de softwares começa a se disseminar entre as pequenas empresas, visando a criação de novas peças.

O levantamento aponta que o uso de Inteligência Artificial (IA), aliada à automação, por exemplo, pode servir para acelerar processos criativos. De acordo com o Índice de Desenvolvimento do Potencial da Economia Criativa, as cidades brasileiras com maior potencial de emprego na indústria criativa são Florianópolis, Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

Na indústria criativa, a sondagem aponta que os setores que devem liderar a criação de empregos são publicidade e serviços empresariais, desenvolvimento de softwares e serviços de tecnologia da informação (TI), arquitetura, cinema, rádio e TV e design.

Política nacional

Desde o ano passado, está tramitando no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.732/2022 que cria a Política Nacional de Desenvolvimento da Economia Criativa. O projeto prevê, entre outras medidas, parceria entre empresas e universidades para qualificação profissional; desenvolvimento de infraestrutura para as dinâmicas econômicas dos setores criativos; promoção e fortalecimento de ecossistemas de inovação em territórios criativos para o desenvolvimento local e regional.

Márcio Guerra avaliou, entretanto, que diante das prioridades atuais do governo federal, a discussão sobre esse projeto deverá ficar para segundo plano, embora o tema seja de importância para o fortalecimento da economia. “Mas vai chegar”, afirmou. O projeto coloca em evidência o setor da economia criativa, regula melhor essa atividade, torna mais clara a questão de parcerias entre universidades e empresas, aborda investimento em infraestrutura, com fundos mais destinados ao setor, bem como políticas públicas.

Após alta no PIB, analistas apontam força do consumo interno
Juros altos e taxa de investimento são vistos como desafios

Da Agência Brasil

O crescimento de 0,9% da economia brasileira no segundo trimestre deste ano ante os três meses anteriores deu sinais da força do consumo interno, avaliam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Eles apontam sinais positivos e desafios após conhecerem dados do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, divulgados nesta quinta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O professor Ecio Costa, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), minimizou o recuo de 0,9% da agropecuária no segundo trimestre, em relação aos três primeiros meses do ano. Ele atribui o resultado ao comportamento sazonal da safra da soja, concentrada no começo do ano.

Para Costa, os resultados mostram que a principal máquina da economia brasileira é o setor de serviços, que cresceu 0,6% no trimestre. “Representa mais de 70% do PIB e quando cresce, puxa a economia”, aponta.

Demanda na indústria

Sobre o comportamento da indústria, que apresentou avanço de 0,9% no trimestre, o professor da UFPE explica que é um desempenho relacionado à produção encomendada para o consumo de fim de ano, que é fabricada meses antes. Ele aponta ainda iniciativas do governo como subsídios ao consumo, que aquecem a produção industrial.

“Você tem o Bolsa Família com valor mais elevado, incentivos que foram dados como para aquisição de veículos, por exemplo”, cita Costa, que faz uma ressalva: “o custo do crédito ainda está bem elevado”.

O professor de economia destaca também que “a indústria ainda está muito distante do seu maior patamar da série histórica, que aconteceu em 2013. A indústria precisa se recuperar e, talvez, a reforma tributária venha ajudar nesse sentido”.

Crescimento projetado

Para o restante do ano, Costa acredita em mais crescimento. “O setor de serviços termina sendo puxado pelo consumo no segundo semestre, e as indústrias também produzem mais no segundo semestre. Em geral, quando a gente observa a série histórica [do IBGE], o segundo semestre é melhor que o primeiro, então se já tivemos um desempenho positivo, deve haver um crescimento importante para a economia brasileira em 2023”, prevê.

Um fator negativo apresentado pelo professor na divulgação do IBGE é a taxa de investimentos (17,2%), que caiu na comparação com o ano passado (18,3%). “A economia cresce de maneira sustentável com mais investimento. O Brasil está com patamar baixo de investimento”, lamenta.

Para Mauricio Andrade Weiss, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Brasil mostrou uma mudança no perfil de crescimento do PIB. Enquanto o primeiro trimestre foi puxado pela agricultura, o segundo teve participação mais marcante dos serviços, e não apenas os serviços relacionados com o agro, como transporte e armazenamento da produção agrícola.

“Agora a parte de serviços está mais ampliada para uma diversidade maior de setores. É um bom sinal para o país, indica uma sustentabilidade maior do investimento comparado ao que a gente tinha no primeiro trimestre”, considera.

Políticas públicas

O professor da UFRGS aponta que a chamada PEC da Transição, iniciativa do então governo de transição aprovada pelo Congresso no fim do ano passado para abrir espaço no orçamento para financiar programas do governo, foi um dos fatores que têm possibilitado o crescimento do PIB em 2023.

“Você tem uma ampliação do Bolsa Família, a retomada do Minha Casa, Minha Vida, aumento da renda dos aposentados, aumento real do salário mínimo, todos esses programas auxiliam na renda. Os efeitos não tinham sido observados no primeiro trimestre, mas foram sentidos nesse segundo trimestre”, pontua.

Para o ano de 2023, Weiss acredita em um crescimento da economia perto de 3%. Ele cita o corte na taxa de juros, iniciado em agosto, e o programa Desenrola, que permite a renegociação de dívidas, como medidas que começarão a ser sentidas no fim do ano. Na visão dele, o cenário é de “otimismo, com uma taxa de crescimento continuada”.

O economista Bruno Sobral, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), enxerga dados positivos no comportamento do PIB no segundo trimestre, como um crescimento de serviços ligados a áreas produtivas da economia. Programas de transferência de renda também foram avaliados como tendo uma influência positiva para a economia, melhorando o mercado de trabalho e impulsionando o consumo das famílias.

Desafio na indústria

Porém, Sobral ressalta desafios importantes. Um deles é relacionado ao setor industrial, que teve o crescimento puxado principalmente pela indústria extrativa (1,8%), relacionada ao petróleo, gás e mineração. Para o professor, a indústria de transformação (fábricas que transformam matéria-prima em um produto final ou intermediário) fica devendo, de forma recorrente, a ponto de o setor como um todo não ter conseguido ainda atingir o ponto máximo da série histórica do IBGE, que foi em 2013.

“É fundamental ter políticas de desenvolvimento econômico de uma maneira mais concreta, um plano de reindustrialização”, aponta. “Pensando essa recuperação para setores de inovação, setores que fortaleçam complexos econômicos estratégicos, de alta produtividade”.

Uma situação que se entrelaça com a baixa taxa de investimento no país. “Pensando a taxa de investimento como algo que possa fortalecer as infraestruturas, as bases fundamentais para a recuperação econômica”, destaca.

Outro desafio sinalizado pelo economista da Uerj, que estima um crescimento do PIB perto ou até maior que 3% em 2023, é o nível alto de juros, que impulsiona a inadimplência. “Ainda há um problema de inadimplência, um desafio para obtenção de crédito. Se superado, o crescimento seria ainda maior”.

Governo anuncia R$ 66 bilhões para apoiar inovação tecnológica
“É o menor juro da história. Juro nominal de 4%”, diz Geraldo Alckmin

Da Agência Brasil

O governo federal anunciou hoje (31) a abertura de linhas de financiamento para inovação com juros – em valores atuais de 4% ao ano – 2% mais o índice da taxa referencial (TR). Ao todo serão disponibilizados para investimentos em pesquisa e desenvolvimento R$ 66 bilhões, que incluem recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Desse montante, R$ 16 bilhões serão distribuídos por editais e não precisarão ser devolvidos. Para os valores concedidos como financiamento, o prazo de pagamento é de 16 anos, com possibilidade de até quatro anos de carência.

Juros baixos

“É o menor juro da história. Juro nominal de 4%”, enfatizou o vice-presidente e ministro Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin (foto).

Atualmente, as linhas de crédito do BNDES oferecem juros para inovação com taxas entre 13% a 15%. A Finep tem opções com juros de 9%.

Os recursos devem começar a ser liberados no final do mês. Entre os tipos de projeto que podem ser contemplados estão os relacionados ao uso de inteligência artificial, ao desenvolvimento de combustíveis sustentáveis para aviação, à digitalização da economia, ao hidrogênio verde e ao desenvolvimento de formas de mobilidade sustentáveis.

Pandemia impulsionou digitalização de seguros no Brasil, diz pesquisa
Segundo Cnseg, foram ouvidas 47 empresas representado 86% do setor

Da Agência Brasil

A pandemia da covid-19 impulsionou a digitalização do setor segurador nacional, revela estudo divulgado pela Confederação Nacional das Seguradoras (Cnseg). Cerca de 56,5% das empresas do mercado segurador apontaram que mais de 75% de seus processos já podem ser realizados digitalmente. A pesquisa foi iniciada em maio de 2020 e finalizada em 2022. Ela mostra também que o fator segurança motivou as renovações das apólices e as novas contratações, ajudando a reduzir a necessidade de atendimento presencial, com o objetivo de proteger funcionários, corretores, profissionais dos demais canais, clientes e a sociedade em geral.

Foram ouvidas 47 empresas, que representam 86% do setor segurador nacional. A sondagem foi dividida em duas etapas. A primeira observou as ações do setor segurador brasileiro no cenário da pandemia, relacionadas ao atendimento e à prestação de serviços aos clientes, segurados, fornecedores e corretor, por meio de mapeamento do cenário antes, durante e depois da crise sanitária. Na segunda fase, foram feitas entrevistas com clientes e identificadas tendências para o mercado segurador.

A CNseg identificou que grande parte das seguradoras e corretores de seguros se movimentaram em torno de três pilares básicos: digitalização, que fez com que as empresas atuassem em ambientes digitais; novos produtos, centrado na criação de produtos focados no “humano”; e ganha-ganha, adoção de um modelo que beneficiou a sociedade por meio de investimento em pessoas, tecnologia e comunicação.

No início da pandemia, apenas 28% das companhias consultadas possuíam todos os seus processos realizados digitalmente. Com o avanço da pandemia, o percentual dobrou, passando para 56%, quando considerado o plano de implementação das empresas em até 12 meses. O estudo da CNseg destacou que, no momento inicial da crise sanitária, a digitalização dos processos de resgates não ocorria de forma eletrônica em 34% das companhias. Doze meses depois, 23% das empresas pretendiam implementar a solicitação de resgates de forma digital e 32% externaram o desejo de implantar pelo menos parte do processo para atendimento de forma eletrônica. Entre as 28% que não pretendem ainda adotar a digitalização, a justificativa é reduzir os riscos de fraude nos processos.

Atendimento

Na avaliação do líder do grupo de trabalho responsável pelo estudo pela Comissão de Inteligência de Mercado (CIM), Gilberto Garcia, a pesquisa evidencia que os grupos seguradores se transformaram durante a pandemia para melhor atender seus clientes, buscando aperfeiçoar seus processos e garantir maior nível de satisfação dos segurados. A pesquisa também trouxe como resultado que, mesmo com a digitalização dos processos, o cliente não quer perder o contato com o corretor. “Eles querem uma experiência “figital”, que une o físico e o digital”.

A maior quantidade de aplicações por parte das empresas no momento de pandemia (79%) foi direcionada para a assistência 24 horas e 21% informaram ter realizado melhorias nos serviços ofertados. Ocorreram avanços ainda nas vistorias prévias e inspeção de risco de forma virtual por 33% das consultadas, sendo que outras 43% já praticavam esse formato de atendimento; 27% promoveram descontos diferenciados em programas de fidelidade, que já eram executados por 45% das empresas; e avaliação prévia de saúde para seguros de vida, que já era praticada por 75% das empresas, aumentou 21%.

Para garantir o atendimento aos clientes, aos fornecedores e aos prestadores de serviços, 81% das seguradoras planejavam realizar melhorias nas plataformas de tecnologia da informação, de modo a garantir a estabilidade de sistemas; 70% na proteção e segurança da informação; e 66% realizaram o atendimento por sistemas de comunicação diferenciados. Entre as empresas que trabalham com seguros de vida, 71% adotaram a liquidação de ocorrências agilizada e 45% disponibilizaram processo de atendimento diferenciado aos serviços 24h.

Outros resultados

Outros impactos positivos da digitalização foram sentidos pelas empresas nas renovações (59%), nos seguros passíveis de alterações (53%), e em portabilidade de produtos de acumulação (63%), porque não houve perda de recursos no período. Para atingir esses resultados, as empresas promoveram várias ações financeiras, entre as quais a exclusão de encargos devido à reprogramação de parcela por 17% das empresas, ação que já era executada antes da pandemia por 34% das consultadas. Sobre a reprogramação de parcelas em atraso, 45% relataram terem realizado melhoria ou nova ação nesse processo.

Durante o estudo, 67% das empresas observaram redução na frequência dos avisos de ocorrências (sinistros) nos meses de pico da pandemia, entre março e abril de 2020. Posteriormente, porém, os números retornaram à estabilidade. Para 33% das empresas participantes da pesquisa, a alta nos casos ocorreu, principalmente, em relação ao seguro de vida. Gilberto Garcia indicou que isso ocorreu porque as empresas desconsideraram a cláusula de exclusão de eventos relacionados a pandemias, como a covid-19.