A maior empresa do país, motor da economia brasileira, permanece enfrentando uma crise tão avassaladora que, entre profissionais de Recursos Humanos, um tema se tornou recorrente quando o assunto é a Petrobras. Como reestabelecer a confiança e o orgulho dos empregados em meio à crise que minou a reputação da empresa? Como fazer que os funcionários apostem e entrem na briga para reerguer a estatal que um dia foi a mais rentável do Brasil e hoje preocupa todos pelo seu nível de endividamento e modelo de governança?
Se há dez anos a Petrobras alcançava uma ótima fase com a descoberta de petróleo na região do pré-sal — atraindo investidores, turbinando suas atividades e elevando a autoestima e o engajamento dos funcionários —, hoje a empresa vive o momento máximo de contraponto daquela realidade. Atingida por pérfida gestão, a estatal tem um desafio proporcional à grandiosidade dos bons e velhos tempos: voltar a acreditar em si mesma. Em boa hora a atual gestão enxergou esta solução como medida sensata e salvadora.
No mercado corporativo, quando qualquer grande empresa enfrenta momentos de turbulência, cria-se um ambiente de instabilidade vulnerável a especulações, a rotina dos funcionários (e seus familiares) é diretamente afetada e a produtividade fatalmente oscila. Os alertas vermelhos não podem ser ignorados, para que o quadro não se torne irreversível.
No caso da Petrobras, a questão é mais preocupante. A crise é pública, e não lidamos com meras especulações sobre as negociatas, já comprovadas, e com perdas bilionárias. Trata-se de uma crise histórica, que afeta a economia brasileira e envergonha não somente os funcionários honestos da companhia — que certamente representam a maioria da folha de pagamento —, mas a todos nós, cidadãos. Não à toa uma das palavras mais escritas no Twitter este ano foi Petrobras, segundo levantamento da agência Bites.
O uso político da estatal e a corrupção desenfreada desenharam um quadro de difícil condução mesmo ao mais gabaritado especialista em gestão de crise. A ex- presidente Dilma Rousseff defendeu: “Nós devemos punir as pessoas, e não destruir as empresas”. Na época a declaração foi mal vista, pois além de contrariar a Lei Anticorrupção — que prevê suspensão de atividades, perda de bens e até dissolução como punição para a roubalheira —, soou como uma defesa às empreiteiras.
Numa leitura otimista, podemos entender que os responsáveis devem ser punidos e o capital humano, acima de tudo, preservado. Os funcionários são o maior ativo da empresa. Sem o engajamento de quem coloca a mão na massa, não se irá a lugar nenhum. E essa comunicação interna, transparente e mobilizadora, deve acontecer concomitantemente à “caça às bruxas”. É preciso cortar cirurgicamente, arrumar a casa, mas sem esquecer de quem faz a engrenagem girar. Não há mais dúvida de que o combate à corrupção não pode recuar e que o novo presidente terá de equilibrar mais do que o orçamento da estatal. A Petrobras só será melhor em 2017 com choque de gestão e de moralidade, que o povo brasileiro espera para voltar a ter o mesmo orgulho de outrora.
*Paulo Sardinha é presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos – Rio (ABRH-RJ)