Fuga de cérebros faz Brasil cair a 80° lugar em ranking global que mede competitividade de talentos

O Brasil está ficando para trás e pode perder o bonde da revolução digital se não agir depressa. Sem mão de obra qualificada para atender as novas exigências do mercado, voltou a cair no ranking da chamada competitividade global de talentos criado pela Insead, uma das principais escolas de administração do mundo. Ficou em 80º lugar entre as 132 nações analisadas na edição deste ano.

Trata-se de uma queda de oito posições em comparação com índice de 2019, o que confirma a tendência negativa dos últimos anos. As notas do país pioraram em cinco dos seis pilares do indicador.

— O mundo está se desenvolvendo e o Brasil não está conseguindo acompanhar — afirmou ao GLOBO o professor associado da Insead, Felipe Monteiro, que é um dos responsáveis pela elaboração do índice.

A explicação para o desempenho ruim está sobretudo na falta de capacidade do Brasil de criar, reter e atrair novos talentos. Com uma diferença de apenas um ano entre as pesquisas, o item “fuga de cérebros” saltou da 45ª para a 70ª posição. Isso significa que os trabalhadores mais preparados estão deixando o país por oportunidades melhores lá fora. Talvez pelo fato de a “empregabilidade” no mercado brasileiro ser ruim.

O indicador  ficou com a 123ª posição, após atingir uma nota medíocre de 27,91 em 100. O mesmo aconteceu com o item “relevância do sistema educacional para a economia”, em que o Brasil teve nota 15,86 e despencando para o 126º lugar, seu pior resultado.

Os dados divulgados nesta quarta-feira pela Insead no Fórum Econômico Mundial (FEM) de Davos mostram que cresce a passos largos a distância entre o Brasil e outras economias. É verdade que se repetem entre as nações em desenvolvimento a falta de capacidade de reter talentos e de produzir mão de obra qualificada.

Mesmo assim, o Brasil perdeu feio para todos os países do BRICS (o acrônimo para se referir a Brasil, Rússia, Índia, China África do Sul, criado há duas décadas para enumerar as economias que seriam as locomotivas do futuro). A despeito da sua dificuldade de atrair e reter cérebros, a China, a segunda maior economia do mundo e uma das que mais crescem, vai se posicionando no grupo que a Insead chama de campeões (onde estão os países ricos), ainda com um pé entre aqueles que estão despontando, assim como a Índia.

O Brasil foi colocado no universo das nações que estão ficando para trás. Na Suíça e nos Estados Unidos, no topo do ranking, respectivamente, a situação é bem diferente. Os suíços são hoje os que mais atraem talentos e os americanos, os que mais preparam profissionais capacitados.

O curioso sobre situação brasileira é que os investimentos em inovação e qualificação têm crescido. E as universidades do país também estão bem avaliadas em comparação com o resto do mundo. Para Monteiro, estes investimentos não estão sendo capazes de preparar os novos profissionais para os desafios do mercado.

— O problema é menos no investimento. Está mais no resultado. Ou seja, o país pode estar investindo nas coisas erradas — destacou.

Ele afirma que o crescimento econômico é importante, mas que é fundamental que o país se abra para o resto do mundo para atrair o que há de melhor lá fora.

— Quanto mais competitivo for o cenário econômico, quanto mais o trabalho for de alto valor agregado, mais importante será você contar com as melhores pessoas, mais capacitadas, e, ao mesmo tempo, seguir mantendo esses profissionais no seu país — disse.

O ranking da Insead deste ano trabalha com dados coletados entre 2017 e 2018. Para Marco Stefanini, CEO da Stefanini IT Solutions, empresa brasileira presente em 24 países, o Brasil precisa saber se transformar e aproveitar a janela de oportunidade que se abre a partir da inteligência artificial (IA). Convidado para escrever um capítulo no estudo da Insead, justamente sobre este tema, ele afirma que o país pode queimar etapas para se tornar competitivo.

— Hoje, o Brasil tem uma oportunidade única. Neste momento, estão todos buscando se adaptar à IA. Se o Brasil conseguir mudar o seu sistema, saltar da etapa atual diretamente para a seguinte, poderá competir em igualdade de condições com outros países. Trata-se de um setor que exige qualificações muito diferentes para os profissionais de todos os países — afirmou.

De acordo com o estudo, ao mesmo tempo que a era da IA apresenta enormes benefícios para a humanidade, o seu desenvolvimento e os recursos necessários para que isso aconteça são distribuídos de maneira desigual. “Sem políticas e salvaguardas adequadas, a IA pode aumentar a exclusão digital”, diz o relatório da Isead, divulgado em parceria coma Tenda dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas.

*Reportagem do jornal O Globo

Pesquisa global revela as cinco tarefas administrativas “mais odiadas”

Um estudo global encomendado pela Automation Anywhere, com mais de 10 mil trabalhadores administrativos em 11 países (Alemanha, Austrália, Brasil, Coreia do Sul, Estados Unidos, França, Índia, Japão, México, Reino Unido e Singapura), revela que eles passam em média mais de três horas por dia realizando tarefas manuais e repetitivas no computador que não fazem parte de suas atribuições principais e estão sujeitas a erro humano.

A pesquisa, realizada pela OnePoll, investigou o tempo gasto com tarefas administrativas digitais manuais e repetitivas, bem como as opiniões sobre elas na empresa moderna. Os dados mostram que quase metade dos profissionais entrevistados que opinaram acha a administração digital chata (47%) e uma subutilização de suas habilidades (48%), enquanto a maioria disse que esse tipo de serviço atrapalha a realização do trabalho principal (51% no total, chegando a 80% na Índia) e reduz sua produtividade como um todo (64%). Mais da metade (52%) dos participantes millennials acredita que seria mais produtiva se tivesse menos tarefas administrativas, um pouco acima da média geral, 48%.

“Houve um momento, não muito tempo atrás, em que a tecnologia no local de trabalho era vista como libertadora”, afirma Shelly Kramer, analista principal da Futurum Research. “A era dos PCs livrou os trabalhadores de processos rígidos, dando a cada um de nós controle sobre nosso próprio fluxo de trabalho. Mas houve uma inversão e, hoje, essas tarefas viraram um fardo significativo. Se você trabalha em um escritório, provavelmente sua produtividade e sua felicidade são substancialmente prejudicadas por precisar ser responsável por tarefas administrativas realizadas manualmente no computador que poderiam facilmente ser automatizadas e absorvidas no dia a dia.”

Preenchimento de dados é a tarefa mais odiada do mundo

No topo da lista das tarefas mais odiadas está o preenchimento de dados em geral, como a inserção de dados manualmente em um computador ou em outro dispositivo. Na sequência, é possível encontrar o gerenciamento de tráfego de e-mails e organização de arquivos em pastas digitais, tais como documentos, planilhas, imagens ou PDFs. Completando o ranking das cinco tarefas mais detestadas, estão as tarefas de compilar relatórios de TI e de sistemas de software e gerenciamento de faturas.

A pesquisa revelou que as três mais odiadas também são as três tarefas administrativas com as quais os trabalhadores afirmam gastar mais tempo no dia a dia. No entanto, atualmente há centenas de robôs de software (bots) que podem realizar muitas dessas tarefas administrativas manuais.

Existe bot para isso

Hoje, mais de 700 bots disponíveis na Bot Store da Automation Anywhere realizam muitas das tarefas mais odiadas segundo o estudo e reduzem o tempo que as organizações gastam com elas. Com o expediente de 8 horas sendo a norma padrão global, o trabalhador comum perde 60 horas por mês com tarefas facilmente automatizáveis.

Ao empregar uma força de trabalho digital e automatizar essas tarefas repetitivas, os trabalhadores receberiam de volta um quarto de seu tempo de trabalho anual (4,5 meses) para focar trabalhos mais importantes, aumentando a produtividade e o valor do negócio como um todo.

A nova pesquisa também foca o impacto na felicidade do empregado fora do escritório. Quase metade (49%) dos entrevistados afirmou que serviços administrativos digitais simples muitas vezes os impedem de sair do trabalho no horário, indicando que impactam sua vida pessoal.  Quase todos os entrevistados afirmaram acreditar que a automação poderia facilmente eliminar tarefas administrativas digitais manuais e repetitivas que não são o foco de seu trabalho (85%) e acham que seriam mais felizes com essa mudança (88%). Com o tempo liberado, afirmam que poderiam desempenhar melhor seu trabalho principal, melhorar a produtividade em seu departamento e buscar oportunidades de aprender novas habilidades.

Trabalhadores veem a transição para a automação como responsabilidade do empregador

A maioria esmagadora (87%) dos trabalhadores administrativos que deram opinião gostaria que seus empregadores automatizassem mais processos manuais e repetitivos das empresas. Mais da metade (55%) afirmou que consideraria pedir demissão se essa carga administrativa manual se tornasse muito pesada, enquanto 85% deles se sentiriam atraídos a trabalhar em uma empresa que investisse em automação para reduzir tarefas administrativas digitais repetitivas.

“A pesquisa é clara. A produtividade e a motivação do trabalhador são impactadas negativamente pelo volume de processos administrativos manuais e repetitivos que caracterizam seu dia de trabalho”, afirma Stephen DeWitt, diretor executivo de estratégia da Automation Anywhere. “Liberar os profissionais a focarem em tarefas de maior valor é a principal promessa de uma força de trabalho digital. As empresas que aceitarem isso imediatamente terão uma vantagem competitiva em produtividade dos funcionários e um aumento enorme na capacidade de atrair e reter talentos valiosos”, completa DeWitt.