Controle da pandemia no país exige pelo menos três vezes mais vacinados
DF e 20 Estados têm de imunizar mais de 30% para começar a deter o vírus, diz estudo

 

Do Valor Econômico

Perto de completar cinco meses, a vacinação contra a covid-19 no Brasil ainda está longe de controlar as taxas de transmissão do vírus entre a população. Hoje, dez Estados e o Distrito Federal precisam vacinar cerca de 45% ou mais de suas populações para assistir queda sustentada dos casos da doença, indica estudo do grupo de pesquisa Ação Covid-19. Em outros nove locais esse percentual ainda é superior a 30%. Como os vacinados com duas doses no país ainda são pouco mais de 10% da população, significa dizer que é preciso vacinar, pelo menos, três a quatro vezes e meia mais pessoas para começar a deter o vírus. A pior situação é a do Paraná, onde a imunização necessária para controlar a doença chega um pico de 56,24% da população. O Estado tinha a condição mais crítica do país nos 30 dias até 19 de maio, período considerado nos cálculos.

No levantamento anterior, de abril, esse posto era do Ceará (60,5%), que não aparece na apuração da vez devido à falta de regularidade no repasse dos números de infectados, o que inviabiliza os cálculos. Outros quatro Estados também não tiveram a situação aferida por esse motivo, indicando que a situação do país pode ser ainda mais grave quanto à necessidade de vacinas. Coordenador do Ação Covid-19, o economista e professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) José Paulo Guedes Pinto destaca o caso do Maranhão. Apesar do aumento na demanda mínima por vacinas, de 21,4% em abril para 22,4% em maio, o Estado continua isolado como o que menos precisa vacinar para controlar a pandemia, ainda que tenha a terceira menor cobertura vacinal do país, inferior a 8% da população segundo o consórcio de veículos de imprensa. “Isso é notável porque mostra o peso de medidas de isolamento mais rigorosas e constantes, além da importância de um programa robusto de auxílio financeiro local, inclusive ampliado para pequenos empresários”, diz.

Além do Paraná, ele cita o Rio de Janeiro como destaque negativo. O Estado viu a necessidade de vacinação mais que dobrar entre os meses de março e maio, quando chegou a 54,8%. “No caso de um Estado ‘no meio da tabela’ da vacinação, só o que explica esse desempenho é a queda brusca do isolamento social”, diz o pesquisador. Para ele, o fato indica como o isolamento ainda é um ponto-chave do enfrentamento à pandemia no momento em que a cobertura vacinal é pequena.

Pelo terceiro mês consecutivo, os pesquisadores calcularam o percentual de vacinados em cada Estado para que a taxa de transmissão do vírus (R) fique abaixo de 1. Nessa condição, um infectado não contaminaria mais de uma pessoa, o que levaria a uma queda consistente dos casos.

Como o número de imunizados, por vacinação ou infecção prévia é sempre crescente, a tendência do levantamento é indicar percentuais de vacinação para controle da pandemia cada vez menores. Na passagem de abril para maio, porém, isso ocorreu somente em 11 Estados – um deles é São Paulo, onde o índice caiu de 40,6% em abril para 35,6% em maio.

Em outros seis – Rio, Roraima, Pernambuco, Alagoas, Bahia e Maranhão – o controle da crise ficou mais distante: houve aumento da quantidade mínima de pessoas a serem vacinadas para sustar a circulação do vírus ante o verificado no mês anterior. Segundo Guedes Pinto, essa dinâmica acusa um “descontrole permanente” da transmissão do vírus em todo o país. “Mesmo onde verificamos queda da cobertura mínima necessária, a melhora foi quase sempre insignificante.”

Em maio a cobertura vacinal mínima só recuou mais de cinco pontos percentuais em três Estados e, de forma geral, teve variações bem inferiores às registradas em abril, quando o país colhia os efeitos de medidas mais duras de isolamento impostas na esteira do pico de mortes da pandemia, em março. O caso do Tocantins é sintomático: o Estado precisava vacinar pelo menos 83,2% da população em março, número que caiu para 47,6% em abril, mas, em maio, desceu somente para 45,9%.

A desaceleração na queda da cobertura mínima necessária ou mesmo seu aumento se repete na maior parte do país, e indica recrudescimento da pandemia. “Mais do que continuidade do descontrole, os números dizem que caminhamos rápido para um novo pico de infecções e mortes”, diz a física Patrícia Magalhães, do Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), responsável pelo modelo matemático ao lado da estatística Pamela Chiroque-Solano, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A previsão vai no mesmo sentido dos alertas semanais da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Na sexta-feira, a instituição apontou tendência de aumento de casos síndrome respiratória aguda grave (SRAG) em 13 Estados e o Distrito Federal. Como 96% dos casos de SRAG no Brasil hoje se devem a infecção por covid-19, fica patente a provável escalada dos casos da doença nas próximas semanas. Para chegar aos resultados, os pesquisadores do Ação Covid-19 calculam a média da taxa de transmissão do vírus (R) de cada Estado a partir dos números de infectados, recuperados e “suscetíveis” indicados por secretarias estaduais durante 30 dias. Com o indicador, é possível estimar quanto de cada população precisa estar imunizada para levá-lo a valor igual ou menor que 1. Na conta, vacinados são computados como suscetíveis, mas “pesados” pela eficácia da vacina Coronavac (50,38%), ainda a mais aplicada no país.

Empregos na saúde indicam melhora da economia
Levantamento da CNSaúde registra saldo positivo de postos de trabalho de janeiro a abril maior do que todo o ano de 2020

 

Breno Monteiro destaca que a saúde se mantém como um polo gerador de oportunidades

 

Da Redação

Mesmo com a crise econômica provocada pela pandemia, o setor de saúde mostrou a sua força e a capacidade de resiliência. Prova disso é que fechou 2020 com um superavit de 110.799 postos de trabalho. O resultado superou inclusive a projeção da Confederação Nacional de Saúde (CNSaúde) de saldo positivo de 100 mil empregos. Agora os indícios são de uma melhora do cenário econômico do país. Levantamento da CNSaúde, a partir de dados do Caged, registram que, de janeiro a abril, o setor já registrou um saldo positivo de 120.244 de empregos gerados. Resultado maior do que todo o ano passado.

Para o presidente da CNSaúde, Breno Monteiro, os números do setor indicam um cenário macroeconômico melhor do que o do ano passado. Além disso, em um momento em que o país ainda sofre com uma elevada taxa de desemprego, a saúde se apresenta como um polo gerador de oportunidades para todos os níveis de instrução. Profissionais com o ensino médio, por exemplo, respondem por 70% das contratações.

Ainda assim, saúde enfrenta enormes desafios, como a elevação de custos provocada pela inflação de insumos essenciais e a cotação do dólar. São fatores que estrangulam a capacidade de investimento de um setor que já tem 37% do total de seu custo dedicado a salários e encargos de pessoal. Ainda assim, a saúde privada responde por 57% de tudo que é investido em um segmento que hoje representa quase 10% do PIB brasileiro.

Dasa compra Hospital da Bahia por R$ 850 milhões
É a primeira grande aquisição da empresa após o “re-IPO”

 

Segundo Pedro Bueno, a empresa busca integrar serviços de baixa e alta complexidade

 

Da Beth Koike, do Valor Econômico

Dentro de sua estratégia de participar dos vários elos da cadeia de saúde, o Grupo Dasa fechou a aquisição de 100% do Hospital da Bahia, em Salvador, por R$ 850 milhões. A transação marca ainda a entrada da companhia na capital baiana, onde sua rede medicina diagnóstica detém a liderança de mercado.

Hoje, o grupo tem hospitais em São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Maranhão. “Nosso propósito é integrar desde a baixa complexidade até a alta complexidade. Com o hospital da Bahia e os laboratórios Leme e Image, que são do grupo, temos um ecossistema integrado”, disse Pedro Bueno, presidente do Grupo Dasa.

É a primeira grande aquisição após o “re-IPO” (oferta de ações para empresas já listadas) da companhia, que levantou R$ 3,3 bilhões em abril.

Com receita de cerca de R$ 300 milhões e 309 leitos operacionais, o Hospital da Bahia era uma dos ativos mais cobiçados há anos, entre outros motivos por estar localizado em Salvador.

Em 2016, o conglomerado chinês de investimentos Fosun esteve próximo de adquirir o controle do hospital. A meta era criar uma rede de hospitais no país, mas após um ano e meio de negociações os fundadores desistiram devido às incertezas dos chineses.

O valor da transação representa um múltiplo de 13 vezes o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). Cada leito foi avaliado em R$ 2,4 milhões considerando nessa conta que hospital abrirá mais 111 leitos. A negociação envolveu ainda a quitação de uma dívida que o Hospital da Bahia tinha com a Petros, fundo de pensão da Petrobras, levantada para construção do empreendimento em 2006.

A Dasa também anunciou, em maio, a compra da corretora Case, que faz serviços de corretagem e consultoria de gestão de planos de saúde para empresas que oferecem o benefício a seus funcionários. Com isso, o Hospital da Bahia e a corretora Case somam um investimento de mais de R$ 1 bilhão.

A Dasa iniciou o processo de criação uma plataforma de saúde em 2017, mas essa diversificação ficou mais visível a partir de novembro de 2019, quando foi anunciada uma integração da rede de medicina diagnóstica da Dasa com os hospitais da Ímpar — ambos controlados pela família Bueno.

Após essa junção dos ativos, a companhia iniciou um forte processo de aquisições de hospitais, corretoras, laboratórios e empresa de gestão de saúde. A maior transação, até o momento, é a compra do Hospital Leforte, que tem três unidades em São Paulo, por R$ 1,7 bilhão.

No total, a companhia já investiu R$ 8 bilhões em aquisições, expansão orgânica e tecnologia para criação de um ecossistema de saúde.

Fleury compra dois laboratórios por R$ 315 milhões
Com a aquisição do Pretti e Bioclínico, companhia entra no mercado do Espírito Santo

 

De acordo com Jeane Tsutsui, as aquisições fazem parte da estratégia da companhia de expansão

 

Da Betk Koike, do Valor Econômico

O Fleury, segunda maior rede de medicina diagnóstica que também está diversificando seu negócio, anunciou ontem a aquisição dos laboratórios Pretti e Bioclínico, ambos do Espírito Santos, por R$ 315 milhões.

Com receita bruta de R$ 53,6 milhões e 25 unidades, o Pretti foi avaliado em R$ 193 milhões. Já o Bioclínico, que apurou um faturamento de R$ 43 milhões e tem 33 laboratórios, foi adquirido por R$ 122 milhões. “A transação marca a nossa entrada no Espírito Santo. As duas empresas atuam com análises clínicas, mas enxergamos oportunidade para oferecer exames de imagem também”, disse Jeane Tsutsui, presidente do Fleury. A companhia passa a ter presença em nove Estados e Distrito Federal.

A executiva destaca que a transação faz parte da estratégia da companhia de se expandir via aquisições tanto de laboratórios, sua principal fonte de receita, como de outros negócios de saúde. Em abril, o Fleury comprou o controle da clínica de fisioterapia e ortopedia Vitta, de São Paulo, por R$ 136 milhões.

Jeane lembrou ainda que, nos últimos cinco anos, o Fleury fez 12 aquisições que juntas somaram R$ 1 bilhão e acrescentaram uma receita de R$ 500 milhões à companhia. No ano passado, o grupo apurou um faturamento de R$ 3,2 bilhões.

A companhia não revela o múltiplo exato da mais recente aquisição. “Mas ficou um pouco acima das transações anteriores, que foram entre 7 e 8,5 vezes Ebitda”, disse Fernando Leão, diretor de relações com investidores do Fleury. Ele explicou ainda que os negócios de análises clínicas têm margem maior e por isso as aquisições do Pretti e do Bioclinico ficaram acima das transações anteriores, cujos ativos tinham também exames de imagem. As compras dos laboratórios do Espírito Santo foram realizadas com recursos do caixa, que hoje é de R$ 600 milhões.

A companhia tem no radar cerca de cinco ativos para aquisição, com negociações em estágios distintos, e possibilidade de levantar recursos caso seja necessário. Hoje, o endividamento do Fleury é de apenas uma vez o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda). “No ano passado, no começo da pandemia, fizemos duas captações para atravessar possíveis crises. Temos um colchão de liquidez”, disse Leão.

No ano passado, a companhia captou um total de R$ 550 milhões via emissão de notas promissórias e Cédulas de Crédito Bancário (CCB).

Em sua estratégia de diversificação, o Fleury já investiu de forma orgânica ou por aquisições em clínicas de ortopedia, oftalmologia, infusão de medicamentos imonubiológicos, medicina reprodutiva, telemedicina, clínica médica de atenção primária, gestão de planos de saúde corporativos e em um “marketplace” (shopping virtual) de serviços de saúde para atingir também o público que não possui convênio médico. Atualmente, menos de 25% da população brasileira têm plano de saúde.

Segundo Jeane, as especialidades médicas que passaram a ser oferecidas pelo Fleury podem ter sinergias com a área de medicina diagnóstica, uma vez que os tratamentos demandam exames. O objetivo é que os procedimentos médicos sejam realizados todos numa mesma plataforma.