Empresas de saúde valorizam Compliance, mas ainda é preciso avançar no engajamento

O impacto dos recentes acontecimentos no país envolvendo corporações em escândalos, problemas de ética, conflitos de interesses e corrupção – o que ocasionou, inclusive, a edição de uma lei com esse foco, a 12.846/2013 – levou empresas a passar a considerar o Compliance, antes visto como gerador de custos, um investimento para prevenir e mitigar riscos à sua reputação e estabilidade. Em saúde, o tema vem avançando bastante, mas ainda precisa sensibilizar e engajar. Além disso, o mecanismo deixou de ser apenas norteador de comportamentos, para ter relação estratégica com a sustentabilidade da cadeia produtiva, concluíram os partcipantes do debate Compliance em Saúde, que aconteceu na última terça-feira, 13, na Câmara de Comércio França-Brasil (CCIFB-RJ).

Promovido pela Med-Rio Check-Up – primeira clínica do Rio de Janeiro a lançar um Código de Conduta – e pelo escritório Siqueira Castro Advogados, o encontro reuniu as consultorias corporativas Mckinsey & Company, KPMG Internacional e Ernst & Young (EY). “O Compliance deve ser visto como um instrumento de transparência a fim de gerar segurança para quem contrata os serviços de saúde. Por isso, em nosso Código de Conduta, há um item esclusivamente dedicado ao cliente. Em saúde, o acesso às informações – como procedência dos prestadores de serviços, nível de qualidade dos testes e currículo de um médico – pode evitar passivo para as empresas”, ressaltou Gilberto Ururahy, fundador e diretor-médico da Med-Rio.

Segundo Bernardo Lemos, sócio-diretor de Práticas de Auditoria Interna, Riscos e Compliance da KPMG, entre empresas dos segmentos Saúde e Financeiro, os principais riscos no campo do Compliance envolvem fraude, corrupção e lavagem de dinheiro (63%); gestão de terceiros (63%); conflito de interesses e informação privilegiada (63%); e tecnologia (45%). Os dados foram extraídos de aferição que a consultoria faz há dois anos – a Pesquisa Maturidade do Compliance no Brasil –, com a finalidade de sondar a eficiência da aplicação dessa ferramenta pelas organizações. Segundo Lemos, um dos principais desafios é garantir a independência do Compliance nas empresas.

Para Christiana Souto, consultora da McKinsey & Company, quando se fala em Compliance na saúde, o paciente é pouco citado. “Ele hoje está mais empoderado, informado, é tomador de decisões e influenciador. E mais: opera o sistema a seu favor. O que é o Compliance do ponto de vista do paciente? É preciso observar que o brasileiro superutiliza o sistema de saúde. Em 2014, fizemos três vezes mais ressonâncias magnéticas que os ingleses”, ressaltou Christiana, no debate, lembrando que é importante pensar na sustentabilidade dos sistemas de saúde, algo discutido no mundo todo.