Setembro Verde (doação de órgãos)
Coluna assinada por Fábio de Carvalho Maurício, gerente médico do Hospital e Maternidade Brasil - Rede D'Or

(Foto: Reprodução/CNN)

Publicado no jornal Diário do Grande ABC.

Qual a importância da doação de órgãos em relação à saúde pública?

A doação de órgãos é essencial para salvar vidas e melhorar a qualidade de vida de milhares de pessoas que sofrem de doenças graves e irreversíveis. Em 2022, foram realizados aproximadamente 10.300 transplantes de órgãos sólidos (como rins, fígado e cora-ção). No entanto, muitas pessoas ainda morrem na tila de espera, principalmente devido à falta de doadores.

O aumento do número de doações pode ajudar a reduzir a mortalidade entre esses pacientes e os custos com tratamentos paliativos, como a diálise, que impactam diretamente o sistema de saúde pública. No contexto da saúde pública, ela contribui para a eficiência do sistema de saúde ao prevenir mortes evitáveis e permitir que pacientes voltem a ter uma vida produtiva.

No Brasil, segundo a legislação, não é possível deixar autorizado em vida a doação de órgãos. Em razão disso, fale sobre a relevância do diálogo com familiares sobre o tema.

No Brasil, a decisão final sobre a doação de órgãos de uma pessoa falecida cabe à família. Mesmo que alguém expresse o desejo de ser doador, isso não tem valor legal se a família não der a autorização, sendo a taxa de recusa familiar para a doação de órgãos no Brasil muito alta, em torno de 40%. Por isso, é muito importante que as pessoas conversem com seus familiares enquanto estão vivas, deixando claro o desejo de doar. Isso facilita a decisão da familia em um momento difi-cil, ajudando a garantir que a vontade da pessoa seja respeitada e que mais vidas possam ser salvas.

Quais órgãos podem ser doados em vida? E após a morte, quais órgãos e outras partes do corpo estão habilitados?

Em vida, uma pessoa saudável pode doar um dos rins, parte do fígado e medula óssea. Já após a morte, é possível doar diversos órgãos e tecidos, como os rins, fígado, coração, pulmões, pâncreas, intestinos e tecidos como pele, córneas e ossos. Em 2023, o Brasil realizou 16.000 transplantes de córnea, e há cerca de 37 mil pessoas aguardando transplante de rim, o órgão mais demandado.

Quais são as principais características observadas pelas equipes médicas para efetivar a doação entre o doador e receptor, como compatibilidade sanguínea, por exemplo, entre outros fatores?

Para que a doação de órgãos seja efetiva, os médicos avaliam vários fatores de compatibilidade entre o doador e o receptor. Entre os principais estão a compatibilidade sanguínea e o tipo de tecido (compatibilidade HLA). Também é considerado o tamanho do órgão a ser transplantado e o estado de saúde geral do receptor, como idade, peso, altura e gravidade da doença. O objetivo é garantir que o órgão doado tenha a maior chance de ser aceito pelo corpo do receptor, reduzindo o risco de rejeição e aumentando a chance de sucesso do transplante.

De maneira geral, como funciona no Brasil a fila de espera para transplante?

A fila de espera para transplantes no Brasil é organiza-da de maneira transparente pelo Sistema Nacional de Transplantes (SNT), ligado ao Ministério da Saúde. Ho-je, há cerca de 60 mil pessoas na fila de espera por diferentes órgãos. Os pacientes são incluídos na lista de espera de acordo com critérios médicos, como a gravidade da doença e a compatibilidade com os órgãos dispo-níveis. Não é possível furar a fila, pois a distribuição dos órgãos segue regras claras para garantir justiça e igualdade no acesso aos transplantes. Além disso, as equipes médicas avaliam continuamente a urgência de cada caso, priorizando aqueles que estão em situação mais critica.