Nova presidente da Academia Brasileira de Ciências toma posse hoje
Helena Nader quer maior aproximação com o Congresso Nacional

 

Da Agência Brasil

A presidente da Academia Brasileira de Ciências (ABC), Helena Nader, toma posse  hoje (4) à noite, no Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, para o triênio 2022-2025. Nos planos de Helena está uma maior aproximação com o Congresso Nacional, a continuidade da formação educacional dos jovens e a correção dos valores das bolsas para pesquisadores científicos.

A solenidade ocorrerá durante Reunião Magna da ABC. Biomédica da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Helena foi eleita no dia 29 de março, com 398 votos a favor e 22 abstenções, e é a primeira mulher a presidir a entidade em seus 105 anos de existência.

Falando à Agência Brasil, a nova presidente da ABC disse que pretende continuar “com o trabalho de excelência que tem sido feito pelas últimas diretorias”. Atuando como vice-presidente da ABC desde 2019, a pesquisadora vai assumir a cadeira do físico Luiz Davidovich. O químico Jailson Bittencourt de Andrade, professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (UFBA) e atuante no Centro Universitário Senai-Cimatec, ocupará a vice-presidência. Serão ao todo 13 diretorias, das quais oito comandadas por mulheres, incluindo a da presidente.

Congresso

Helena disse que a ABC pretende ter uma presença mais incisiva dentro do Congresso Nacional, tanto com deputados, como com senadores. Ela destacou que, como a ciência é transversal, ela quer visitar todos os ministérios. “Todos os ministérios dependem de ciência. Por exemplo, o Ministério da Infraestrutura é pura ciência. Quando você pensa em organização de porto, é ciência; é tecnologia da informação (TI), é inteligência artificial (IA). O mesmo acontece com a saúde”. Para isso, haverá uma divisão de trabalho.

Helena Nader deseja também que a ABC tenha uma presença muito forte na discussão da educação. “Por mais ciência que se tenha, sem educação, não vai adiantar. Se não tiver educação, não vai acontecer. Se olhar o que ocorreu com a pandemia (do novo coronavírus), deixou o país nu”, apontou.

Enem

A pesquisadora disse que o número de inscrições para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) caiu. Isso significa que menos jovens terminaram o ensino médio e menos jovens estão buscando a continuidade de formação. Helena vai buscar expoentes dessa área entre os membros da ABC e também de fora, porque ela diz que a sabedoria e o conhecimento não estão concentrados em uma única pessoa, mas em várias.

Helena Nader declarou que vai continuar a luta pelo aumento da demanda de pós-graduação. A ideia é esclarecer que o pós-graduando, que acabou uma universidade, está fazendo seu mestrado e depois o doutorado, e não pode continuar recebendo bolsas com valores na faixa de R$ 1,2 mil a R$ 1,3 mil, porque muitos desses jovens são arrimo de família e têm a bolsa como única opção de renda, com dedicação exclusiva. “Nós vamos continuar nessa luta para reverter isso, porque estamos há seis ou oito anos sem correção no valor da bolsa. O que não falta são coisas para a gente trabalhar”.

Mulheres

Para Helena, a participação feminina em ciências tem aumentado no Brasil, mas não é majoritária em todas as áreas. A meta é que alcance, pelo menos, 50%, igualando a presença masculina. “As mulheres não atingem os cargos mais altos, porque têm uma segregação. Mas isso não é só na ciência; em outras áreas também”, constatou. Ela disse que ao procurar um emprego, a mulher escuta, na maior parte das vezes, se é casada e se pretende ter filhos. “Ninguém pergunta isso para o homem. Então, na corrida de obstáculos, ela já parte com um handicap (vantagem) muito baixo. Ela tem que provar muito mais do que o homem. A gente vai continuar trabalhando muito para reverter isso. Vai continuar sendo prioridade”.

Atualmente, Helena Nader é co-presidente da Rede Interamericana de Academias de Ciências (IANAS) e membro do conselho administrativo do International Science Council (ISC). Aumentar o intercâmbio da ABC com entidades de outros países é uma das metas da nova presidente da ABC.  Está na pauta da nova presidente da ABC a realização de reuniões online com jovens da graduação e da pós-graduação de todo o Brasil e, depois, da América Latina. Um encontro presencial está programado para o início de 2023.

Reunião magna

A posse de Helena Nader ocorrerá durante a Reunião Magna da ABC, que será realizada a partir de hoje e se estenderá até 5 de maio, em formato híbrido: presencialmente no Museu do Amanhã (RJ) e online no canal da ABC no YouTube. O tema da Reunião Magna é O Futuro é Agora.

Na avaliação de Helena, o Brasil está jogando fora uma janela de oportunidades que vai se extinguir. “As pessoas falam daqui a 40 anos; mas 40 anos é amanhã”. Segundo a pesquisadora, em 2070, a população maior de 65 anos vai aumentar e o número de jovens vai diminuir. “Começam a declinar. É nessa janela que o país tem que investir porque o velho tem todo o direito à aposentadoria, à sua saúde. Mas isso tudo o Brasil só vai poder dar se estiver preparado”.

Academia Brasileira de Ciências e Instituto D’Or homenageiam um dos primeiros médicos negros do Brasil
A quinta edição em vídeo do projeto "Ciência Gera Desenvolvimento" presta tributo a Juliano Moreira, precursor da psiquiatria moderna no país

 

Da Redação

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) e o Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) acabam de lançar mais um vídeo do “Ciência Gera Desenvolvimento”, projeto criado pela ABC em 2017 e com parceria do IDOR desde o ano passado. O objetivo da iniciativa é divulgar, através de animações curtas e com linguagem acessível, a vida e legado de grandes nomes da ciência brasileira. Em novembro do ano passado, foi escolhido o geógrafo Milton Santos; já em 2020, a quinta edição do projeto homenageia o psiquiatra Juliano Moreira.

Nascido em Salvador, no ano de 1873, Juliano Moreira foi um dos principais nomes da psiquiatria brasileira e um dos primeiros a trazer para a área os conceitos da psicanálise, criada por Sigmund Freud, e da genética psiquiátrica moderna, desenvolvida por Emil Kraepelin. Moreira representou o Brasil em diversos congressos na Europa, África e Ásia, além de ter revolucionado o tratamento de pacientes psiquiátricos através de práticas humanizadas, como a abolição do uso de camisas de força e do uso de grades nas janelas dos hospitais. O médico ainda foi um dos principais nomes da ciência nacional a refutar as teorias do racismo científico predominante na época, que defendia que transtornos psiquiátricos estavam associados a misturas étnicas, o que marcaria a sociedade brasileira como geneticamente inferior às europeias.

“Juliano Moreira foi um nome extremamente importante na história da psiquiatria no Brasil. E um aspecto é digno de nota: se nos tempos atuais o racismo perdura no país, no fim do século XIX, Juliano, um jovem negro, ultrapassou imensos obstáculos para entrar na faculdade de medicina enquanto ainda existia escravidão no Brasil, um dos últimos países do mundo a aboli-la. Ele viveu em um período no qual o país se definia prioritariamente pela cor da pele, até mesmo na ciência, cuja teoria de degeneração, na época, defendia que a miscigenação com pessoas negras trazia contribuições negativas para população. Mesmo assim, vivendo em um contexto adverso como aquele, Juliano alcançou a merecida fama, como um dos mais importantes médicos de toda a nossa história”, observa o psiquiatra Paulo Mattos, coordenador da área de neurociências no IDOR e professor da UFRJ.

Como relata Paulo, além de suas brilhantes conquistas profissionais e pioneirismos científicos, Juliano Moreira também rompeu rígidas barreiras racistas da época. Negro e filho de uma empregada doméstica, recebeu uma boa educação proporcionada por seu padrinho, e patrão de sua mãe, o Barão de Itapuã. E Juliano aproveitou bem a oportunidade, ingressando na Faculdade de Medicina da Bahia aos 13 anos — dois anos antes da abolição formal da escravatura no país. Mais tarde, Moreira ainda participou como membro fundador da Sociedade Brasileira de Psiquiatria, Neurologia e Medicina Legal e da própria ABC, na qual, como vice-presidente, recebeu o físico Albert Einstein no país, em 1925. No triênio seguinte, tornou-se presidente da entidade que ajudou a erguer.

“Juliano Moreira foi um memorável humanista. Ingressou em 1916 na ABC, foi vice-presidente e depois presidente, totalizando mais de 12 anos dedicados à Academia, de 1917 a 1929. Nesse período, recebeu Albert Einstein e Marie Curie em suas visitas ao Brasil. Ele teve grande atuação nos meios científicos internacionais, envidando grandes esforços para fortalecer a imagem da ciência brasileira no exterior. Foi realmente um grande líder da psiquiatria e da ciência brasileira. E é uma honra poder homenageá-lo com esse vídeo”, declara o físico Luiz Davidovich, atual presidente da ABC.

Academia Brasileira de Ciências promove Webinário sobre Covid-19
As inscrições são gratuitas

A Academia Brasileira de Ciências (ABC) promove nesta terça-feira (7) o seu primeiro webinário transdisciplinar, “O Mundo a partir do Coronavírus”, um importante fórum de debates unindo especialistas de diferentes áreas. O médico infectologista Mauro Teixeira vai abordar evidências médicas relativas à pandemia da Covid-19, desmistificando expectativas errôneas por uma solução de cura imediata e destacando o tratamento existente.

O antropólogo Ruben Oliven tratará dos impactos sociais, como a reformulação do papel do Estado e do mercado. Já o economista Naércio Menezes vai focar nos efeitos econômicos da pandemia, como a recessão e o aumento do desemprego

O debate será ao vivo, das 16h às 18h, sob a mediação do presidente da ABC, Luiz Davidovich.  As inscrições são gratuitas. A transmissão pode ser acompanhada pelo link http://transmissao.abc.org.br