Mais de 289 mil pessoas morreram de doenças cardiovasculares em 2019

A prevenção de mortes decorrentes de doenças cardiovasculares, como o acidente vascular cerebral (AVC) e a endocardite, é um dos temas do 5º Fórum Siga seu Coração, que ocorre hoje (24), em Brasília. De acordo com a plataforma Cardiômetro, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mais de 289 mil pessoas morreram em decorrência dessas patologias, no país, até as 15h desta terça-feira.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta as doenças cardiovasculares como a principal causa de morte no mundo. Em seu levantamento mais recente, que apresenta dados de 2015, a entidade informa que, naquele ano, o total de óbitos envolvendo essas enfermidades chegou a 17,7 milhões. O número representou 31% das mortes registradas em âmbito global.

O diretor de Promoção de Saúde Cardiovascular da SBC, Fernando Costa, disse que a hereditariedade pode favorecer o desenvolvimento desse tipo de doença. “Por outro lado, nós temos os fatores modificáveis. Quais são? Obesidade, circunferência abdominal, sedentarismo, hipertensão, diabetes e colesterol. Eu posso modificá-los, não posso? Tomo remédio, faço exercício. Quando você não modifica isso, há o que chamamos de estresse oxidativo. Isso causa um problema no vaso, nas artérias, principalmente”.

Segundo Costa, a medida que mais faz diferença é a adoção de um estilo de vida saudável, que alie dieta alimentar adequada à prática de exercícios físicos. “Prevenir é prolongar uma vida saudável”, disse.

Como sugestão às pessoas que têm dificuldade para se manter fisicamente ativas, o cardiologista simplifica, indicando caminhadas e o uso de aplicativos que contem os passos dados ao longo do dia. “Dez mil passos por dia e você tem atividade física”, disse.

Além do sedentarismo, o tabagismo e o uso abusivo de álcool são outros fatores de risco, no caso das doenças cardiovasculares. A apneia do sono, por sua vez, pode aumentar em 3,7% as chances de uma pessoa desenvolver tais enfermidades.

Atividades físicas

Em julho deste ano, o Ministério da Saúde divulgou uma atualização da Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). Uma das taxas que apresentou alta, na comparação de 2009 com 2018, foi a relativa à parcela da população que se exercita no tempo livre. No período analisado, a proporção subiu de 30,3% para 38,1%.

O estudo revelou ainda que a dedicação a uma rotina de exercícios que dure ao menos 150 minutos semanais é algo mais comum entre homens (45,4%) do que mulheres (31,8%). Adultos com idade entre 35 e 44 anos geraram o aumento mais expressivo na última década, de 40,6%.

Ainda conforme a pesquisa, a taxa global de inatividade física sofreu queda de 13,8% em relação a 2009. O percentual de inatividades das mulheres é de 14,2% e o dos homens, ligeiramente inferior, de 13%.

O governo federal destaca o lançamento do Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) como a ação mais significativa para a diminuição no número de internações e óbitos resultantes de doenças cardiovasculares. Na base do plano está a expansão da Atenção Básica, que conta, atualmente, com 42,9 mil unidades básicas de Saúde em funcionamento e 263,4 mil agentes comunitários de Saúde em todo o país. Ao todo, as 42,6 mil equipes de Saúde da Família atendem a 64,6% da população.

76% dos hospitais não têm condições de atender pacientes com AVC

Uma pesquisa do Conselho Federal de Medicina (CFM) com médicos neurologistas e neurocirurgiões de todo o Brasil indica que 76% dos hospitais públicos onde eles trabalham não apresentam condições adequadas para atender casos de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Apenas 3% dos serviços avaliados pelos médicos têm estrutura classificada como muito adequada e 21% como adequada, de acordo com estudo divulgado hoje (31).

O CFM ouviu 501 médicos que trabalham em serviços de urgência e emergência de unidades de saúde pública de todo o país. Eles responderam a um questionário sobre a situação do atendimento a pacientes com AVC, considerando critérios como o acesso exames de imagem em até 15 minutos, disponibilidade de leitos e medicamentos específicos, triagem dos pacientes identificados com AVC de forma imediata, capacidade numérica e técnica da equipe médica especializada e  qualidade das instalações disponíveis, entre outros pontos baseados em parâmetros internacionais e nacionais de atendimento ao AVC.

A percepção da maior parte dos médicos entrevistados aponta que as unidades públicas de saúde nem sempre estão preparadas para receber de forma adequada um paciente com sintomas do AVC, apesar de ser uma doença grave que está entre as principais causas de morte em todo o mundo.

“Nós fomos atrás dessa percepção em virtude do Acidente Vascular Cerebral ser a segunda principal causa de morte no Brasil, um dado epidemiológico. E é a principal causa de incapacidade no mundo e no Brasil, gerando inúmeras internações”, disse Hideraldo Cabeça, neurologista responsável pela pesquisa e coordenador da Câmara Técnica de Neurologia e Neurocirurgia do CFM.

Infraestrutura de atendimento é inadequada

Segundo a pesquisa, a infraestrutura de atendimento a casols de  AVC é inadequada em 37% dos serviços e pouco adequada em 39%, totalizando 76% de serviços que não se enquadram totalmente nos protocolos de atenção ao AVC estabelecidos pelo Ministério da Saúde.

Entre os itens essenciais que não estão disponíveis em mais da metade das unidades de saúde figura a tomografia em até 15 minutos e o acesso ao medicamento trombolítico, usado para dissolver o sangue coagulado nas veias do cérebro.

“Você não ter o uso do trombolítico em 100% dos serviços é um problema sério. Se o mesmo indivíduo chegar em locais diferentes, em um ponto ele vai ter atendimento próximo daquele que é recomendado e em outro local não. E se tem o trombolítico, tem local para fazer? Ele vai fazer na maca ou de forma respeitosa em um leito apropriado?”, questionou o neurologista.

A pesquisa aponta ainda que em 66,4% das unidades não havia apoio adequado do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). E em 87,9% dos hospitais não havia número suficiente de leitos para a demanda de AVC.

“Nosso objetivo é atender rápido e trazer menos prejuízos. Quanto menor o tempo de atendimento, maior a chance de menor sequela. Se você atende em um curto tempo, você aumenta a chance de benefício e recuperação desse indivíduo e seu retorno à sociedade” afirmou Hideraldo.

A rapidez no atendimento fez a diferença para a recuperação do treinador de futebol Ricardo Gomes. O então técnico do Vasco da Gama sofreu um AVC hemorrágico em 2011 na beira do campo, em um jogo contra o Flamengo. Ele foi prontamente atendido.

Seis anos após o acidente, Gomes ainda faz reabilitação para amenizar as sequelas, mas retomou sua rotina de trabalho. O caso do técnico é lembrado em campanhas de conscientização promovidas pela Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e outras associações médicas.

Entre os poucos serviços que foram avaliados na pesquisa do CFM como muito adequados no país, está o do Hospital das Clínicas (HC), da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, em Ribeirão Preto (SP). A capacitação dos profissionais e o tratamento do AVC como prioridade estão entre os motivos para a região atendida pelo hospital ter índices mais baixos de morte pela doença.

“A Organização Mundial da Saúde recomenda que – da porta do hospital até o início do tratamento trombolítico – o atendimento seja feito em no máximo 60 minutos. A gente conseguiu aqui no HC baixar esse tempo médio pra 29 minutos. É um hospital público, com todas as dificuldades, tem leito no corredor, mas a gente estruturou o atendimento, organizou e treinou todo mundo”, explicou Marques, que também é professor e chefe do Departamento de Neurologia Vascular do HC.

A cidade ainda conta com uma rede de atenção à urgência e regulação médica estruturada desde 2000, o que garante a rapidez do atendimento. “O paciente de AVC não pode ir de carro para o hospital, ele tem que ser orientado a ligar para o 192, porque o Samu já sabe qual o hospital naquela região que atende AVC e pode pré notificar o hospital”, explica Marques.

O hospital supera também os índices de oferta do medicamento trombolítico. Enquanto no Brasil estima-se que de 1,5% a 2% dos pacientes com AVC recebem o medicamento, na regional atendida pelo HC de Ribeirão Preto, em torno de 6 a 8% dos pacientes têm acesso ao tratamento.

Equipe de neurologia do Hospital Quinta D’Or é recertificada pelo padrão canadense de atendimento a casos de AVC

Hospital recebe certificação inédita no Brasil

O Hospital Quinta D’Or é uma das únicas duas unidades hospitalares certificadas com a Acreditação Canadense, do Canadian Council on Health Services Accreditation, na América Latina. No dia 16 de fevereiro recebeu a recertificação, selo que confere que os protocolos de assistência aos pacientes com Acidente Vascular Cerebral (AVC) são de alta performance, assegurando a qualidade e a segurança.

– Desde o início da implementação do protocolo de qualidade o hospital vem melhorando significativamente seus indicadores. A Certificação Canadense credencia todos os processos que visam o atendimento mais rápido e preciso, minimizando as sequelas e reduzindo óbitos em casos de AVC – declara a supervisora de qualidade do Hospital Quinta D’Or, Sandra Portella.

O fator “tempo” é um dos principais influenciadores para que os pacientes acometidos pelo Acidente Vascular Cerebral (AVC) tenham melhores condições de recuperação. É fundamental que a equipe de assistência médica seja apta a identificar os sinais e sintomas para imediatamente iniciar o protocolo de atendimento específico para cada caso: isquêmico ou hemorrágico.

– A agilidade no atendimento a pacientes com AVC é determinante e requer comprometimento da equipe multiprofissional, afim de obter a melhor evolução clínica do paciente, reduzindo o tempo de internação e aumentando as chances de evolução sem sequelas. No Quinta D’Or a equipe está capacitada a realização do diagnóstico imediato, para iniciar o tratamento o quanto antes. Além disso, o hospital conta com tecnologia e infraestrutura de ponta para exames de diagnóstico e cirurgias minimamente invasivas, além de especialistas habilitados para o processo de reabilitação – esclarece o neurologista do Hospital Quinta D’Or, Dr. Pedro Varanda.

O Acidente Vascular Cerebral deriva da alteração do fluxo de sangue ao cérebro e é caracterizado por dois tipos, o isquêmico e o hemorrágico. O AVC isquêmico ocorre devido a uma obstrução de vasos sanguíneos, e o hemorrágico em decorrência da ruptura do vaso. A estimativa é que uma em cada seis pessoas no mundo sofram AVC, sendo o isquêmico responsável por cerca de 80 a 85% dos casos.

Existe uma classificação de gravidade dos casos de AVC, e, para tanto, o paciente é submetido a avaliação clínica (feita pela equipe médica), e também radiológica (através da tomografia ou ressonância de crânio). Esta conduta permite identificar e mensurar os riscos ao paciente.

– Confirmado o diagnóstico, é iniciado o tratamento. No caso de isquemia cerebral, dependendo do tempo de chegada do paciente a unidade hospitalar, pode-se utilizar medicações visando desobstruir o vaso acometido e/ou realizar procedimento endovascular, para retirada do coágulo que está obstruindo a circulação. Caso o tempo não permita, é iniciado tratamento conservador com a realização de exames, medicações de prevenção e início precoce de reabilitação é instituído com equipe multidisciplinar. Para os casos de sangramento cerebral, após se determinar o fator causal, pode ser necessário procedimento neurocirúrgico, endovascular, realizado em uma sala especial de hemodinâmica, ou tratamento conservador multidisciplinar – ressalta o neurologista.

Forte dor de cabeça está entre os sintomas do AVC

AVC mais frequente antes dos 40 anos

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVC é uma das principais causas de morte e de sequelas no mundo, e a terceira causa de morte no Brasil. O Ministério da Saúde divulgou, ainda, que pessoas com menos de 40 anos estão cada vez mais propensas a ter casos de AVC. O estresse é um dos grandes responsáveis, assim como o histórico familiar e os maus hábitos (fumo, álcool, sedentarismo), e outros fatores de risco, como a hipertensão, diabetes e o colesterol.

Em caso de dor de cabeça súbita e de intensidade muito forte, é indicado a procura de atendimento hospitalar. Embora nem todos os casos possam ser diagnosticados como AVC, sempre é importante uma avaliação de especialista, já que o tempo de diagnóstico interfere diretamente na assistência.

Sinais e sintomas

O organismo emite alguns alertas que contribuem para o diagnóstico ágil dos quadros de AVC, sendo que a associação de alguns destes servem de maior alerta para a procura imediata por atendimento médico de emergência.

  • Forte dor de cabeça, com aparecimento súbito e, possivelmente, acompanhada por vômitos
  • Dormência na face, nos membros inferiores e superiores – geralmente em um dos lados do corpo
  • Dificuldade de movimentação, podendo evoluir para perda de equilíbrio e paralisia
  • Restrições na fala e na compreensão
  • Dificuldade para enxergar