Ainda é difícil enxergar o fim da atual crise. O desemprego permanece alto e os índices econômicos estão longe de provocar euforia. Porém, mesmo em um cenário adverso, o mercado vê a economia criativa apresentar bons resultados. Para quem não lida com o ambiente corporativo o termo talvez não seja conhecido, mas já é utilizado há mais de uma década para definir modelos de negócios que exploram o capital intelectual, um dos bens mais valiosos em tempos de instabilidade, retração econômica e desemprego.
E onde estão esses brasileiros que vêm se reinventando e fomentando este novo segmento? O leque é amplo. Em grande parte estão nas seguintes áreas: publicidade, design, editoração, arquitetura, artes e antiguidades, artesanato, moda, cinema e vídeo, televisão, artes cênicas e rádio. Neste ponto, encontramos mais um desafio para o atual Governo, o de investir cada vez mais nesses profissionais, sem deixar de olhar para a economia tradicional, e, em especial, para seus cinco segmentos mais promissores (tecnologia, agronegócio, alimentação, educação e turismo), que merecem toda a atenção e esforços hercúleos.
Segundo dados da Firjan, estima-se que, somente no Rio de Janeiro, a economia criativa representa 4% do PIB estadual, tendo ocupado, em 2010, cerca 59,11% dos trabalhadores fluminenses. É preciso definir políticas de incentivo para quem inova, cria tendências, impulsiona novos mercados, gera empregos e produz receita. Não se pode ignorar um movimento que já apresenta bons resultados e se mostra tão promissor em curto prazo.
Entretanto, apesar do país, ainda estar apenas engatinhando nesse mercado, é possível prever que o seu crescimento, muito em breve, ficará limitado, pois não há como esperar uma forte expansão de um setor que depende, essencialmente, da capacidade intelectual, quando o país permanece nas últimas posições nos rankings das três disciplinas avaliadas pelo Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), na comparação dos dados de 2015 com 2012. O que torna tudo mais alarmante é que o Pisa não avalia conhecimentos técnicos e especializados. Pelo contrário. As médias baixas representam um déficit em relação a conhecimentos básicos de matemática e leitura. Isso retrata uma realidade em que os estudantes saem da escola com dificuldade para interpretar um texto ou fazer um simples cálculo matemático. O que podemos esperar de profissionais que apresentem tais deficiências?
Como resposta, as empresas estão, cada vez mais, investindo em qualificação, seja financiando a graduação ou pós-graduação de funcionários, a concretização de parcerias com faculdades ou a criação de suas universidades corporativas. Porém, enquanto o problema estiver na base da educação, dificilmente o quadro será revertido e o país terá uma barreira impedindo a inovação e a criatividade.
Paulo Sardinha é Presidente da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH-RJ).