Aneel mantém bandeira tarifária verde para fevereiro
Contas de luz estão sem cobrança extra desde abril

Da Agência Brasil

O consumidor não pagará cobrança extra sobre a conta de luz em fevereiro. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) manteve a bandeira verde para o próximo mês para todos os consumidores conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN).

A conta de luz está sem essas taxas desde o fim da bandeira de escassez hídrica, que durou de setembro de 2021 até meados de abril de 2022. Segundo a Aneel, na ocasião, a bandeira verde foi escolhida devido às condições favoráveis de geração de energia, com os reservatórios das usinas hidrelétricas em níveis satisfatórios.

Caso houvesse a instituição das outras bandeiras, a conta de luz refletiria o reajuste de até 64% das bandeiras tarifárias aprovado em junho de 2022 pela Aneel. Segundo a agência, os aumentos refletiram a inflação e o maior custo das usinas termelétricas neste ano, decorrente do encarecimento do petróleo e do gás natural nos últimos meses.

Bandeiras Tarifárias

Criadas em 2015 pela Aneel, as bandeiras tarifárias refletem os custos variáveis da geração de energia elétrica. Divididas em níveis, as bandeiras indicam quanto está custando para o SIN gerar a energia usada nas casas, em estabelecimentos comerciais e nas indústrias.

Quando a conta de luz é calculada pela bandeira verde, não há nenhum acréscimo. Quando são aplicadas as bandeiras vermelha ou amarela, a conta sofre acréscimos, que variam de R$ 2,989 (bandeira amarela) a R$ 9,795 (bandeira vermelha patamar 2) a cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Quando a bandeira de escassez hídrica vigorou, de setembro de 2021 a 15 de abril de 2022, o consumidor pagava R$ 14,20 extras a cada 100 kWh.

O Sistema Interligado Nacional é dividido em quatro subsistemas: Sudeste/Centro-Oeste, Sul, Nordeste e Norte. Praticamente todo o país é coberto pelo SIN. A exceção são algumas partes de estados da Região Norte e de Mato Grosso, além de todo o estado de Roraima. Atualmente, há 212 localidades isoladas do SIN, nas quais o consumo é baixo e representa menos de 1% da carga total do país. A demanda por energia nessas regiões é suprida, principalmente, por térmicas a óleo diesel.

Conta de luz mais cara eleva custos no comércio e pressiona até decoração de Natal
Segundo o economista Fabio Bentes, a luz representa, em média, 7,6% das despesas de operação no varejo. Em hipermercados e supermercados, a marca sobe para 10,4%

 

Por Leonardo Vieceli e Filipe Oliveira, da Folhapress 

Reflexo da crise hídrica, a conta de luz mais cara é um desafio adicional para o varejo no Natal deste ano, segundo analistas e empresários.

É que, além de elevar a inflação para o consumidor, as tarifas mais altas de energia elétrica aumentam os custos de operação para os lojistas, que apostam na data para aquecer as vendas.

Às vésperas do Natal, lojas e shoppings costumam funcionar com horário ampliado, o que exige um consumo maior de eletricidade.

“A pressão da energia traz dois impactos. O primeiro é a redução no poder de compra do consumidor com a energia mais cara e a subida da inflação”, aponta o economista Fabio Bentes, da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo).

“O segundo efeito é de custo. A energia tem peso bastante significativo para determinados segmentos do comércio”, emenda.

Segundo Bentes, a luz representa, em média, 7,6% das despesas de operação no varejo.

Em hipermercados e supermercados, a marca sobe para 10,4%, devido ao uso de equipamentos para refrigeração de produtos. Esse percentual fica ainda maior e beira os 20% no caso de mercados e armazéns de pequeno porte, indica o economista.

Ao longo deste ano, a energia ficou mais cara em razão da crise hídrica no Brasil.

A escassez de chuva força o acionamento de usinas térmicas, o que aumenta os custos para geração de eletricidade. O reflexo é a conta mais alta para empresas e consumidores.

No cálculo do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), a energia elétrica residencial acumula alta de 19,13% no ano, até outubro, e disparada de 30,27% em 12 meses.

A luz é uma das principais responsáveis pela escalada do índice oficial de inflação do Brasil. O IPCA chegou a 10,67% em 12 meses, até outubro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Em meio a esse cenário, até a montagem das tradicionais decorações com luzes natalinas, em centros comerciais ou em espaços abertos, tendem a ficar mais custosas neste ano.

Natal Luz, no município de Gramado, na serra gaúcha, começa a sentir o efeito da luz mais cara, segundo a organização do evento, que começou no final de outubro e vai até janeiro.

A programação é composta por uma série de espetáculos natalinos, e pontos da cidade são decorados com luzes e enfeites da data.

“Sem dúvida nenhuma, teremos um impacto bastante expressivo em relação aos outros anos e, principalmente, em relação aos meses em que esses pontos de energia não são utilizados”, diz a arquiteta Tatiana Ferreira, chefe do departamento de infraestrutura e segurança da Gramadotur, autarquia responsável pelo Natal Luz.

“Ainda não conseguimos estabelecer um comparativo, pois não completamos um mês de evento, mas já se percebe o impacto financeiro”, completa.

A pressão de custos não para por aí. É que, segundo Tatiana, o evento utiliza geradores de energia para a realização dos espetáculos. Esses geradores consomem óleo diesel, que também ficou mais caro neste ano.

O combustível subiu com a recuperação do petróleo no mercado internacional e o avanço do dólar, dois fatores levados em consideração pela política de preços da Petrobras.

“Não conseguimos fugir do aumento de custos”, define Tatiana.

Mesmo assim, ela vê um cenário mais positivo neste ano. É que, em 2020, o evento teve espetáculos cancelados devido à pandemia.

Os shoppings também preparam decorações e apostam no Natal para aquecer os negócios. Apesar da pressão de custos, os estabelecimentos não vão abandonar as luzes e os enfeites da data, relata o diretor institucional da Alshop (Associação Brasileira de Lojistas de Shopping), Luís Augusto Ildefonso.

Segundo ele, a decoração de Natal é um investimento que funciona para levar mais público até os centros comerciais.

Em tempos de energia mais cara, o gasto com as luzes natalinas até deve ser maior, mas o principal impacto é o do consumo para manter as lojas abertas por mais tempo, relata o dirigente.

“O Natal é a melhor época do ano para os shoppings. Então, o investimento em decoração tem retorno quase garantido.”

“É claro que isso pode gerar um acréscimo na conta de luz, mas é menor, bem menos significativo, se comparado ao custo da energia para receber mais pessoas e deixar as lojas abertas por mais tempo”, acrescenta.

Empresas especializadas começaram, até antes do Dia das Crianças, a enviar decorações natalinas para centros de compras de todas as regiões do Brasil. Empreendimentos na América Latina e na África chegaram a fazer encomendas.

A companhia criada em 1981 por Conceição , e com fábrica em Jacareí, na região do Vale do Paraíba, em São Paulo, tem 95% de suas vendas oriundas das decorações e atrações que fornece para 80 centros comerciais.

A empresa perdeu 60% das vendas em 2020, resultado da pandemia da Covid-19, conta Rita Cipolatti, diretora comercial da marca. Para este ano, Rita diz que os carrosséis, playgrounds, rodas-gigantes e montanhas-russas estão recebendo alguma procura, mas que não voltarão com tudo, porque ainda há receio de contaminação pela Covid-19.

Outra atração que ganhou força nos shoppings com a pandemia são os robôs, controlados por um ator que interage com as crianças remotamente, relata a empresária. “Como este ano ainda é preciso evitar o toque, terá muito pedido de urso, cachorro e esquilo que conversam com as crianças”, afirma.

Com o reaquecimento do setor, a Cipolatti prevê que seu quadro de funcionários, que fora da época de festas é de 150 pessoas, pode ir de 1.500 a 1.800 pessoas no final de 2021. No ano passado, a companhia contou com 1.000 pessoas.

Mesmo assim, Rita é cautelosa em relação à recuperação. O patamar de vendas de antes da pandemia pode voltar em 2022, e a empresária vê a polarização política e o momento ruim da economia como desafios.

“As pessoas ainda não estão indo para o shopping fazer gastança. Vão porque querem passear depois de tanto tempo em casa, mas estão comprando o básico”, afirma.

A empresa também sofre desde o começo do ano com a alta dos preços de material de construção e do custo de importação de lâmpadas de led e eletrônicos, impactados pela depreciação do real em relação ao dólar.

Diretor do Sindilojas-SP (Sindicato do Comércio Varejista e Lojista do Comércio de São Paulo), Aldo Macri vai na mesma linha. Ele também cita o desafio da inflação mais alta, que atinge consumidores e empresários.

Nesse cenário, os lojistas vêm tentando reduzir custos de operação, inclusive de energia, diz o dirigente.

“A gente apaga uma luz aqui, outra ali, tem essa preocupação.”

Macri projeta uma alta de 2% a 2,5% nas vendas do Natal de 2021, frente a 2020, no comércio de São Paulo. Na visão do dirigente, o crescimento é contido pelas dificuldades que permanecem no cenário econômico.

Em setembro, a CNC estimou alta de 3,8% nas vendas natalinas no país, em 2021, na comparação com o ano passado. Mas a pressão inflacionária tende a provocar uma revisão para baixo na previsão, que deve ficar entre 3% e 3,5%, conforme Fabio Bentes, economista da entidade.

A conta de luz vai aumentar no DF, GO e SP

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) autorizou na terça-feira (17) reajustes nas contas de luz dos consumidores atendidos pela Companhia Energética de Brasília (CEB) e pela Celg Distribuição (CELG D), que fornece energia para o estado de Goiás.

O reajuste médio foi de 7,35% nas tarifas da CEB. Para consumidores conectados à alta-tensão, o aumento será de 8,46%, e para a baixa tensão, a alta será de 6,84%.

No caso da CELG D, o aumento médio foi de 14,65%, sendo 15,89% para os consumidores da baixa tensão e 12,03% na alta. Os novos valores passarão a ser cobrados no próximo domingo (22).

A CEB atende a 1,05 milhão de unidades consumidoras no Distrito Federal. Já a CELG tem uma base de aproximadamente 2,8 milhões de unidades consumidoras.

São Paulo

Durante a reunião desta segunda-feira a Aneel também autorizou o reajuste no tarifário anual nas contas de luz para consumidores do estado de São Paulo. Terão aumento de 24,37% na conta de luz os clientes da Bandeirante Energia S.A., que atende a 1,8 milhão de unidades consumidoras.

Também terão aumento na energia as cerca de 1,6 milhão de unidades consumidoras da Companhia Piratininga de Força e Luz (CPFL) – Piratininga, cujo reajuste médio será de 17,28%. Os novos valores passarão a ser cobrados no dia 23 de outubro.

Para calcular o reajuste do tarifário anual, a Aneel considera a variação de custos associados à prestação do serviço. O cálculo leva em conta a aquisição e a transmissão de energia elétrica, bem como os encargos setoriais e atualização dos custos típicos da atividade de distribuição.

Bandeira vermelha deve continuar na conta de luz até o fim do ano

O diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Romeu Rufino, disse hoje (4) que provavelmente as contas de luz continuarão com a bandeira vermelha patamar 1 acionada até o fim do período seco, que vai até novembro. Por causa da falta de chuvas, essa bandeira tarifária foi acionada e começou a valer no início de abril.

“Muito provavelmente no período seco não haverá uma reversão da situação. Se hoje, no final do período úmido, já se justifica despachar térmicas acima do patamar que aciona a bandeira vermelha, não é provável que essa situação se reverta até o início do próximo período úmido”, disse Rufino.

A bandeira vermelha patamar 1, que está em vigor, implica uma cobrança extra de R$ 3 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos. Ela é usada quando é preciso acionar usinas termelétricas mais caras, por causa da falta de chuvas.

Rufino explicou que o período úmido está se encerrando nas regiões Sudeste e Centro-Oeste e Nordeste, por isso, mesmo que haja um regime de chuvas melhor do que nos outros anos durante o período seco, o volume de água nos reservatórios ainda estará baixo. “Não é nesse período que vai recuperar o enchimento de reservatórios”, afirmou.

Bandeira

O sistema de bandeiras tarifárias foi criado em 2015 como forma de recompor os gastos extras com a utilização de energia de usinas termelétricas, que é mais cara do que a de hidrelétricas. A cor da bandeira é impressa na conta de luz (vermelha, amarela ou verde) e indica o custo da energia em função das condições de geração.

Quando chove menos, por exemplo, os reservatórios das hidrelétricas ficam mais vazios e é preciso acionar mais termelétricas para garantir o suprimento de energia no país. Nesse caso, a bandeira fica amarela ou vermelha, de acordo com o custo de operação das termelétricas acionadas.

Desconto

Apesar da bandeira tarifária vermelha, os consumidores terão um desconto na tarifa em abril, por causa da devolução dos valores cobrados a mais no ano passado. Os percentuais de redução variam de 0,95% a 19,47%.

A devolução vai ocorrer porque o custo da energia proveniente da termelétrica de Angra 3 foi incluído nas tarifas do ano passado, mas a energia não chegou a ser usada porque a usina não entrou em operação.