Polícia investiga desvio de vacinas e desrespeito a prioridades no Rio
Denúncias foram apresentadas pelo Conselho Regional de Enfermagem

 

Da Agência Brasil

A Polícia Civil do Rio de Janeiro vai apurar denúncias documentadas apresentadas pelo Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro (Coren-RJ) de desrespeito a prioridades por profissionais da categoria na vacinação contra a covid-19 no estado.

Em reunião com o delegado Thales Nogueira, os inspetores Rafael Ferreira e Carlos Guerra; a presidente do Coren-RJ, Lilian Behring, a vice-presidente, Ellen Peres e a procuradora Fábia Souza informaram casos de desvio de vacinas, que acabam beneficiando os fura-filas. As denúncias, registradas em todo o estado do Rio, vão servir de base para as investigações da Polícia Civil. A reunião foi ontem (25) no Departamento Geral de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e à Lavagem de Dinheiro (DGCOR-LD).

“No dia 20, fomos surpreendidos no Conselho Regional de Enfermagem por inúmeras denúncias, que começaram logo após a deflagração da campanha nacional de imunização, que, em sua maioria, eram de não priorização da equipe de enfermagem na vacinação”, disse Lilian Behring, em entrevista à Agência Brasil.

De acordo com a presidente do Coren-RJ, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem estavam sendo preteridos por outros grupos na hora da vacinação. “Tínhamos pessoas que não estavam recebendo vacinação trabalhando em CTI [centro de terapia intensiva], emergências, Samu [Serviço de Atendimento Móvel de Urgência], e isso continua”, afirmou Lílian.

Ela disse que, em 24 horas após o início da vacinação, o conselho recebeu denúncias em quase metade dos municípios do estado, o que o levou a montar uma força-tarefa para apurar as ocorrências. “A função do conselho é fiscalizar o exercício legal profissional, que estava sendo preterido, porque se nós, profissionais de enfermagem, que somos os que vacinam, não recebemos a vacina, colocamos em risco a população a ser vacinada e poderíamos colocar em risco o Programa Nacional de Imunização, porque não estávamos tendo prioridade.”

Para o Coren-RJ, o cruzamento de dados por meio do CPF e as informações passadas pelos relatórios das instituições de saúde serão fundamentais para verificar quem foi vacinado. O conselho quer também a colaboração dos responsáveis técnicos das instituições para ter dados sobre abusos e privilégios. Todas as denúncias devem ser anotadas para que sejam encaminhadas à autoridade policial, o que permitirá controle do fluxo de vacinação.

As denúncias vão desde desvio de vacinas às furadas de fila por autoridades que levam a família para se imunizar. Lilian destacou que os profissionais passam também por coação e recebem ameaças, sem condição de reagir. Por causa das investigações, não se pode revelar o número de denúncias já registradas, que aumenta a cada dia, nem as regiões, os nomes e onde trabalham os profissionais , ressaltou Lílian. “Tudo isso está em sigilo por motivo óbvio”, afirmou, lembrando que os profissionais da linha de frente no combate à covid-19 e na vacinação são extremamente vulneráveis às questões de violência.

A presidente do Coren-RJ informou que a categoria reúne cerca de 300 mil profissionais no estado, dos quais 42 mil são enfermeiros e os demais, técnicos e auxiliares de enfermagem. Destes, 129 mil trabalham na capital, onde foi feita a maioria de denúncias, o que levou à primeira reunião do conselho com autoridades para discutir o assunto. Segundo Lílian, no encontro o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz, comprometeu-se a tomar medidas para coibir qualquer desvio com relação à vacina.

“Estamos com os conselheiros do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro em todas as regiões do estado do Rio de Janeiro e, além de receber as denúncias, indo in loco para ver a situação dessas pessoas”, afirmou Soranz.

Para reforçar as investigações do DGCOR-LD o conselho terá o apoio da própria enfermagem para relatar casos de abusos, de privilégios indevidos e outras irregularidades. O controle evitará o desabastecimento para a segunda dose, uma vez que cada CPF estará relacionado às duas doses da vacina. “Quem vacina tem que ser vacinado, prioritariamente”, defende o Coren-RJ.

No encontro com o delegado Thales Nogueira, ficou acertado que, em 48 horas, a polícia receberá dados sobre o número de vacinas em estoque e as pessoas imunizadas e cruzará essas informações para evitar possíveis desvios. “O desvio de doses da vacina implica crime de infração de medida sanitária e, dependendo do caso, pode resultar em peculato-desvio, corrupção ativa e passiva, que têm penas que chegam até 12 anos de reclusão”, explica a Polícia Civil.

Idosa de 108 anos abre mão da vacina contra Covid-19 e dá a vez ao próximo em Rio das Flores
Dona Hilda havia sido selecionada para ser uma das primeiras imunizadas

 

Dona Hilda Cândida diz que não vai se vacinar para deixar o imunizante para os mais novos

 

Do jornal O Globo

Numa época em que a solidariedade e a empatia têm sido cada vez mais exigidas, Dona Hilda Cândida tem orgulho de pensar no próximo. Aos 108 anos, a idosa seria a primeira pessoa a ser vacinada em Rio das Flores, cidadezinha do Sul Fluminense. Mas abriu mão da dose a que tinha direito. Segundo ela, a generosidade é um dos valores mais importantes do ser humano.

— Eu já vivi tanta coisa nessa vida, com quase 109 anos, que prefiro dar a vacina para alguém mais novo, que ainda pode viver mais do que eu posso. Estou quase partindo, não quero essa vacina — afirma a idosa, que faz aniversário em 2 de março.

Com dores crônicas nas pernas — fruto da idade avançada —, Dona Hilda passa boa parte do dia sentada no banco da varanda da casa onde mora. A lucidez ainda está presente. Durante a entrevista, fecha os olhos a cada vez que busca as lembranças de uma vida “bem aproveitada”, como ela mesma define. Parece tentar trazê-las à tona, mesmo as mais antigas, de quando era bebê em Santo Antônio de Olaria (MG).

— Eu tive pneumonia ainda bebê e não pude nem mamar no peito da minha mãe. Acharam que eu morreria e correram com o batizado para eu pelo menos ir sob as bênçãos de Deus. Aí minha madrinha fez uma papinha de angu morno para colocar sobre as minhas costas, acreditando na minha melhora. E aquilo deu certo — diz.

O sabor dos remédios não é seu favorito, mas mesmo assim ela não deixa de tomar as vitaminas receitadas pelos médicos e enfermeiros que a visitam periodicamente em casa. O que agrada o paladar de Dona Hilda é algo mais saboroso e geladinho.

— Eu gosto é de sorvete, de picolé, ainda mais nesse calor. Leite também, é tudo de bom. Eu gosto é das coisas boas, por isso nunca fumei e nunca bebi — diz, antes de uma longa gargalhada. — Eu adoro brincar, rir, a vida é boa assim. Quando fiquei dias internada no hospital, as enfermeiras nem queriam que eu fosse embora. Diziam que eu era a alegria por lá — conta, aos risos.

O bom humor é marca registrada. Na hora das fotos, questiona a fotógrafa sobre o tempo utilizado para as imagens. “E essa foto, sai ou não? Parece que está presa aí dentro (da câmera) e não quer sair por nada no mundo” e solta outra gargalhada.

Hoje, a idosa mora sozinha no distrito de Manuel Duarte e conta com o apoio de um neto que reside em outra casa no mesmo terreno. Segundo ela, a família mora longe. Dos sete filhos, três já morreram. Os netos ela não soma mais, perdeu as contas. Tem tararanetos que ela não conhece ainda.

Durante a pandemia, mantém-se isolada de vizinhos e amigos, a quem acena do portão. A Covid-19, que desde março já matou sete pessoas em Rio das Flores, é assunto que a idosa prefere deixar de lado. Mas mesmo sem aceitar a vacina, promete não descuidar da proteção e seguir usando máscara e álcool em gel.

— Falar em doença é ruim, por isso eu sempre digo que ela já acabou — afirma.

Especialista condena recusa e alerta para risco

Epidemiologista do Instututo de Medicina Social da Uerj, Claudia de Souza Lopes destaca que a vacinação dos idosos é fundamental para protegê-los, e afirma que tanto a CoronaVac quanto a vacina de Oxford utilizam tecnologias conhecidas e não têm efeitos colaterais significativos.

— Não é a toa que os idosos estão no grupo prioritário. É porque eles são mais vulneráveis e, pegando a doença, tem mais chances de ter um quadro grave — explica — O fato de o sistema imunologico de uma pessoa idosa estar mais fraco é mais um motivo para vacinar, e não o contrário — completa.

A especialista lembra que mesmo pessoas vacinadas podem ter formas menos graves da doença, de acordo com a taxa de eficácia da vacina, e que só a imunização coletiva vai garantir que o vírus não se propague:

— Quanto mais idosos não se vacinarem em um abrigo por exemplo, isso vai aumentando o risco das pessoas pegarem. A vacina dá uma proteção individual, mas ela dá uma proteção maior coletiva na medida em que o vírus não encontra o hospedeiro sem proteção.

A cidadezinha com pouco mais de 8 mil habitantes recebeu nesta terça-feira as 170 doses da CoronaVac destinadas a ela pelo governo estadual. Uma profissional da saúde e dois idosos foram vacinados. O restante será aplicado a partir de quarta-feira, utilizando a prioridade de quem atua na linha de frente contra a doença e dos idosos com mais de 75 anos de idade.

Alunos e professores em home office “furam fila” da vacina no HC de SP.
Prefeitura reclama de "privilégio" no HC

Do UOL

Embora existam na capital paulista postos de saúde e hospitais ainda sem previsão de receber a vacina contra a covid-19, estudantes de medicina, funcionários da administração e professores do Hospital das Clínicas trabalhando em home office foram imunizados nesta semana com as doses distribuídas pelo governo do estado. Na ultima terça, o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que o governo vai priorizar a vacinação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente, pois “infelizmente”, não há doses para todos os trabalhadores da saúde.

O UOL teve acesso à lista com os nomes das pessoas escolhidas pelo HC para receberem o imunizante da CoronaVac, entre elas estudantes e profissionais que não atuam na linha de frente no combate ao coronavírus, viu em redes sociais publicações e fotos de professores e alunos sendo vacinados, conversou com um deles e com médicos que testemunharam a imunização de quem não deveria estar, pelos critérios do governo, no início da fila.

“Não sou grupo de risco, já peguei covid e ainda devo estar com anticorpos. Mais do que isso, não atuo na linha de frente no combate à pandemia. Vou ao HC apenas algumas vezes na semana para supervisão no curso de Fisioterapia Esportiva, em que poucos pacientes são do grupo de risco”, afirmou um aluno pós-graduando em uma postagem no Instagram em que exibe uma carteirinha de vacinação. O nome dele está na lista consultada.

“Concordando ou não com a estratégia de vacinação dessas primeiras doses, fui e fiz minha parte. Vamos seguir na expectativa e cobrança para o acesso o quanto antes dos grupos prioritários”, disse o rapaz. “Baita organização do @hospitalhcfmusp. Menos de 2 min que entrei já estava vacinado.”.

Um médico que conversou com a reportagem sob a condição de não se identificar contou que, na quarta-feira, um de seus alunos deixou de ir ao estágio no hospital para se vacinar no HC. Ele disse ter ficado ainda mais indignado ao saber que a professora dos alunos que estagiam com ele —que está trabalhando de casa— receberá a vacina também. “Eu recebo as alunas das docentes, ensino no campo, só tenho contato com a professora por videochamadas. Eu formo para ela, mas ela é vacinada antes de mim”, afirmou.

Segundo relatos feitos à reportagem por outros profissionais que também pediram anonimato, há professores e alunos ligados ao Fofito, o Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da faculdade de medicina, sendo vacinados no hospital. Uma professora da fonoaudiologia compartilhou uma mensagem de áudio em um grupo de médicos no WhatsApp dizendo ter sido convocada por e-mail para ser vacinada. Caso recusasse, disse ela, a opção seria esperar a chegada da vacina a um posto de saúde.

Prefeitura reclama de “privilégio” no HC

O governo do estado de São Paulo enviou lotes da CoronaVac à Prefeitura de São Paulo nesta semana para imunizar trabalhadores da linha frente nos hospitais da cidade. O HC, no entanto, apresentou seu plano de vacinação diretamente ao governo estadual, que encaminhou as doses ao hospital, referência no tratamento à covid-19.

Para isso, HC montou 30 estações no centro de convenções do complexo. “Em outros hospitais, profissionais que enfrentaram a pandemia desde o começo, trabalhando em UTIs, podem ficar sem o imunizante”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. “Há declarações de que até funcionários do setor administrativo receberam vacina. Não somos contra o HC, somos a favor de ter critérios que priorizem os da linha de frente.”

Brasil passa a exigir teste negativo de covid-19 para entrada no país
Regra vale para brasileiros e estrangeiros que vierem do exterior

Da Agência Brasil

A partir de hoje (30), passageiros de voos internacionais que embarcarem para o Brasil precisarão apresentar um teste RT-PCR negativo ou não reagente para covid-19. O exame deve ter sido feito até 72 horas antes da viagem. A obrigatoriedade vale para todos os viajantes, brasileiros ou estrangeiros, independentemente de sua origem.

Crianças menores de 2 anos estão dispensadas da apresentação do teste, assim como crianças com idade entre 2 e 12 anos, desde que seus acompanhantes cumpram todas as exigências. Já crianças entre 2 e 12 anos viajando desacompanhadas são obrigadas a apresentar o exame, da mesma forma que os demais viajantes.

A medida está prevista na portaria nº 648/2020, publicada na semana passada, que e também trata da proibição, em caráter temporário, da entrada no Brasil de voos com origem ou passagem pelo Reino Unido e Irlanda do Norte. No último dia 17, o governo já havia determinado a exigência do exame na portaria nº 630/2020.

Declaração de Saúde do Viajante
De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), brasileiros e estrangeiros que vierem do exterior por via aérea deverão preencher a Declaração de Saúde do Viajante (DSV) e apresentar o e-mail de comprovação de preenchimento para a companhia aérea.

O teste deverá ter sido realizado em laboratório reconhecido pela autoridade de saúde do país do embarque. Na hipótese de voo com conexões ou escalas em que o viajante permaneça em área restrita do aeroporto, o prazo de 72 horas será considerado em relação ao embarque no primeiro trecho da viagem.

As obrigações fixadas pela norma não valem para voos procedentes do exterior com paradas técnicas ou conexão no Brasil desde que não ocorra qualquer procedimento de desembarque seguido de imigração.

O descumprimento da exigência pode gerar responsabilização civil ou penal, deportação de volta ao país de origem ou a invalidação do pedido de refúgio, caso ele existe.