Funcionários reclamam que diretor furou fila da vacinação em hospital municipal de SP
Relato é de profissionais do hospital Tide Setúbal; Secretaria Municipal da Saúde disse que vacinados visitam alas onde estão pacientes com Covid-19

 

 

Da Folha de S. Paulo

Funcionários do Hospital Municipal Tide Setúbal, em São Miguel Paulista (zona leste da capital paulista), acusam o diretor da unidade e dois enfermeiros do setor administrativo de furar a fila da vacinação contra a Covid-19 e receberem o imunizante mesmo sem atuar diretamente no atendimento a pacientes contaminados.

Os servidores afirmam que parte dos profissionais que trabalha em UTIs e no chamado “covidário” —locais que reúnem pacientes contaminados internados— ficaram sem receber a vacina.

O médico Carlos Alberto Velucci, diretor do hospital, a enfermeira Licia Figueiredo, que trabalha na diretoria e é responsável por receber os EPIs (Equipamentos de Proteção Individuais), e o enfermeiro Roger Rabelo, chefe do setor de imunização do hospital foram vacinados contra a Covid-19 na quinta-feira (21).

Carlos Alberto e Licia chegaram a publicar em suas redes sociais fotos celebrando a aplicação da vacina contra Covid-19.

Como a capital não recebeu todas as doses necessárias para imunizar os grupos prioritários, assim como o restante do país, a Secretaria Municipal da Saúde definiu que entre os profissionais de saúde o público-alvo seria aqueles que estivessem na assistência direta aos pacientes de Covid-19.

Documentos distribuído pela pasta na última segunda (18) determina que em hospitais públicos e privados a vacina seja destinada a “médicos, enfermagem das enfermarias e UTI Covid-19 e PS para sintomáticos respiratórios (Covidário)”, diz trecho do informativo.

A mesma orientação foi repetida pelo secretário municipal da Saúde, Edson Aparecido, à Folha na última terça-feira.

Mas cinco funcionários do hospital ouvidos pela reportagem informaram que o diretor e os enfermeiros não fazem qualquer tipo de atendimento a pacientes nem frequentam áreas do pronto-socorro. A Secretaria Municipal da Saúde nega.

Os funcionários ainda relatam que profissionais como os AGPPs (Agentes de Gestão de Políticas Públicas), que cuidam de serviços administrativos —como a papelada de internação, transferências e prontuários de pacientes— nas UTIs e enfermarias de atendimento a pacientes com Covid não foram vacinados.

Ficaram ainda sem vacina, segundo os funcionários, técnicos de eletrocardiograma e de raio-X do hospital, bem como parte dos trabalhadores das áreas de segurança, limpeza e portaria.

OUTRO LADO

A Secretaria Municipal da Saúde informou, por meio de nota, que os funcionários citados pela reportagem, além de funções administrativas também “realizam visitas/inspeções nas alas/locais onde são feitas a assistência direta a pacientes com Covid-19 (enfermarias e UTIs Covid-19)”.

A pasta também afirmou que segue rigorosamente as orientações dos programas estadual e nacional de imunização e todos hospitais receberam instrutivo sobre quem deveria ser vacinado nessa primeira fase.

“A gestão municipal adotou um sistema rigoroso de controle de distribuição e imunização para garantir que os profissionais que atuam na linha de frente, em contato direto com os pacientes diagnosticados com a Covid-19, sejam vacinados”, diz trecho da nota.

A secretaria destaca ainda que as vacinas serão dadas de forma escalonada “às demais categorias e profissionais que não estão na assistência direta a Covid-19, conforme o repasse de dose pelo Programa Nacional de Imunização.”

A reportagem tentou entrar em contato com o diretor e os enfermeiros desde a sexta (22), mas só localizou Licia, que preferiu não dar declarações a respeito da vacinação.

Alunos e professores em home office “furam fila” da vacina no HC de SP.
Prefeitura reclama de "privilégio" no HC

Do UOL

Embora existam na capital paulista postos de saúde e hospitais ainda sem previsão de receber a vacina contra a covid-19, estudantes de medicina, funcionários da administração e professores do Hospital das Clínicas trabalhando em home office foram imunizados nesta semana com as doses distribuídas pelo governo do estado. Na ultima terça, o secretário de Saúde do estado de São Paulo, Jean Gorinchteyn, afirmou que o governo vai priorizar a vacinação dos profissionais de saúde que estão na linha de frente, pois “infelizmente”, não há doses para todos os trabalhadores da saúde.

O UOL teve acesso à lista com os nomes das pessoas escolhidas pelo HC para receberem o imunizante da CoronaVac, entre elas estudantes e profissionais que não atuam na linha de frente no combate ao coronavírus, viu em redes sociais publicações e fotos de professores e alunos sendo vacinados, conversou com um deles e com médicos que testemunharam a imunização de quem não deveria estar, pelos critérios do governo, no início da fila.

“Não sou grupo de risco, já peguei covid e ainda devo estar com anticorpos. Mais do que isso, não atuo na linha de frente no combate à pandemia. Vou ao HC apenas algumas vezes na semana para supervisão no curso de Fisioterapia Esportiva, em que poucos pacientes são do grupo de risco”, afirmou um aluno pós-graduando em uma postagem no Instagram em que exibe uma carteirinha de vacinação. O nome dele está na lista consultada.

“Concordando ou não com a estratégia de vacinação dessas primeiras doses, fui e fiz minha parte. Vamos seguir na expectativa e cobrança para o acesso o quanto antes dos grupos prioritários”, disse o rapaz. “Baita organização do @hospitalhcfmusp. Menos de 2 min que entrei já estava vacinado.”.

Um médico que conversou com a reportagem sob a condição de não se identificar contou que, na quarta-feira, um de seus alunos deixou de ir ao estágio no hospital para se vacinar no HC. Ele disse ter ficado ainda mais indignado ao saber que a professora dos alunos que estagiam com ele —que está trabalhando de casa— receberá a vacina também. “Eu recebo as alunas das docentes, ensino no campo, só tenho contato com a professora por videochamadas. Eu formo para ela, mas ela é vacinada antes de mim”, afirmou.

Segundo relatos feitos à reportagem por outros profissionais que também pediram anonimato, há professores e alunos ligados ao Fofito, o Departamento de Fisioterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da faculdade de medicina, sendo vacinados no hospital. Uma professora da fonoaudiologia compartilhou uma mensagem de áudio em um grupo de médicos no WhatsApp dizendo ter sido convocada por e-mail para ser vacinada. Caso recusasse, disse ela, a opção seria esperar a chegada da vacina a um posto de saúde.

Prefeitura reclama de “privilégio” no HC

O governo do estado de São Paulo enviou lotes da CoronaVac à Prefeitura de São Paulo nesta semana para imunizar trabalhadores da linha frente nos hospitais da cidade. O HC, no entanto, apresentou seu plano de vacinação diretamente ao governo estadual, que encaminhou as doses ao hospital, referência no tratamento à covid-19.

Para isso, HC montou 30 estações no centro de convenções do complexo. “Em outros hospitais, profissionais que enfrentaram a pandemia desde o começo, trabalhando em UTIs, podem ficar sem o imunizante”, afirmou o secretário municipal de Saúde, Edson Aparecido, à colunista Mônica Bergamo, da Folha de S.Paulo. “Há declarações de que até funcionários do setor administrativo receberam vacina. Não somos contra o HC, somos a favor de ter critérios que priorizem os da linha de frente.”