Outras categorias podem ter piso nacional estabelecido por lei, como ocorreu com a enfermagem
Editorial do jornal O Globo reflete sobre os riscos desse cenário

 

Editorial do jornal O Globo desta terça-feira (06) alerta que há quase 150 projetos em tramitação no Congresso para estabelecer piso nacional de diversas categorias profissionais.  Leia abaixo o texto completo.

 

Piso da enfermagem deveria ser alerta para Parlamento

Não parece ter limite a desconexão da realidade que toma conta dos grupos organizados com capacidade de pressão política. Tramitam no Congresso, de acordo com levantamento do site Poder360, nada menos que 148 propostas para criar pisos salariais para 59 categorias profissionais, 133 na Câmara e 15 no Senado. A exemplo do piso nacional instituído para a enfermagem, proliferam propostas que tentam garantir remuneração mínima para toda sorte de ocupação.

Estão na lista psicólogos, médicos, dentistas, veterinários, biólogos, histotecnologistas, técnicos agrícolas e industriais, agentes comunitários, assistentes sociais, professores, educadores físicos, instrutores de artes marciais, operadores de telemarketing, costureiras, nutricionistas, fisioterapeutas, garçons, farmacêuticos, vigilantes, mecânicos e, naturalmente, os onipresentes bombeiros e policiais. Felizmente, até agora a única tentativa que deu certo foi a dos enfermeiros. Ela revela tudo o que há de absurdo nessas iniciativas.

A ideia de gravar o patamar mínimo de remuneração na lei ou na própria Constituição não tem o menor cabimento do ponto de vista econômico. Para começar, os custos das atividades são distintos num país continental como o Brasil. Nas palavras do ministro Luís Roberto Barroso, relator do processo contra o piso da enfermagem no Supremo, “pisos nacionais num país com as diferenças e as desigualdades regionais do Brasil, como regra geral, não parecem ser boa ideia”.

Além das diferenças regionais apontadas por Barroso, há um problema mais grave: numa economia de mercado, não cabe ao Estado legislar sobre o valor dos contratos negociados livremente entre empregadores e empregados. A consequência desse tipo de intervenção é a pior possível: engessamento do mercado, inviabilização de milhares de empresas, aumento do desemprego e da informalidade. É o que já se vislumbra no caso da enfermagem, cujo piso imediatamente pôs no horizonte a bancarrota de prefeituras e serviços privados de saúde.

O plenário do STF referendou a liminar de Barroso que suspendeu a aplicação do piso da enfermagem em setembro do ano passado. Mas o próprio Barroso autorizou o pagamento depois que o Congresso deu um jeito de aprovar o financiamento do Tesouro a estados e municípios que não tinham como arcar com o custo. Como em qualquer outra das benesses do funcionalismo, quem pagará a conta é o contribuinte, num momento em que o país enfrenta uma crise fiscal sem paralelo.

Quanto ao setor privado, não é muito difícil enxergar os efeitos nefastos da solução adotada por Barroso. Ele deu 45 dias de prazo para as empresas negociarem com os sindicatos remuneração menor, sob pena de terem de pagar o piso depois de esgotado o prazo, na primeira semana de julho. Parece evidente o que acontecerá com hospitais, clínicas e laboratórios que não tiverem condição de manter o nível de remuneração mais alto. Farão as contas e promoverão ondas de demissões. Sairá prejudicada a saúde da população, que precisa dos enfermeiros.

A mesma sucessão de eventos acontecerá com qualquer categoria para a qual o Congresso se meter a assegurar benefícios economicamente insustentáveis. Bastará os parlamentares cederem aos lobbies e grupos de pressão empenhados nesses 148 projetos para a realidade tratar de se impor.

*Leia também no site do Globo, pelo link Piso da enfermagem deveria ser alerta para Parlamento (globo.com).

CCJ da Câmara aprova piso salarial para enfermagem
Texto segue para análise da comissão especial

 

Da Agência Brasil

A Comissão de Constituição de Justiça (CCJ) da Câmara dos Deputados aprovou o texto da Proposta de Emenda à Constituição 11/2022, que dá segurança jurídica ao piso salarial nacional de enfermeiros, técnicos de enfermagem, auxiliares de enfermagem e parteiras. Agora, o texto segue para a comissão especial, que deverá discutir a PEC antes de sua apreciação em plenário.

A votação, ocorrida de maneira simbólica, só não foi unânime porque o partido Novo foi divergente. Já o deputado Bilac Pinto (União Brasil-MG) afirmou que a comissão especial deve definir qual será a fonte de custeio desse piso salarial. “Nós somos a favor, mas não podemos botar essa conta somente para as prefeituras e para os hospitais”, disse.

A matéria foi proposta após senadores e deputados aprovarem o PL 2.564/2020, de autoria do senador Fabiano Contarato (PT-ES), que prevê piso mínimo inicial para enfermeiros no valor de R$ 4.750. Pela proposta, esta será a remuneração mínima a ser paga nacionalmente por serviços de saúde públicos e privados. No caso dos demais profissionais, o texto fixa 70% do piso nacional dos enfermeiros para os técnicos de enfermagem e 50% para os auxiliares de enfermagem e as parteiras.

Piso enfermagem pode provocar fechamento de hospitais
Projeto de lei que estabelece o piso deve ser votado nesta semana

 

Morato avalia que piso pode tornar inviável muitos hospitais e aumentar a desigualdade no acesso a serviços de saúde

 

O setor de saúde monitora atentamente o movimento para votação na Câmara nesta semana do projeto do piso salarial de enfermagem. Estudos apontam que o texto aprovado pelo Senado no ano passado provocará um aumento de despesas com folha de pagamento da ordem de R$ 16,31 bilhões, considerando instituições de saúde públicas e privadas. O presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Adelvânio Francisco Morato, relata que a principal indagação é de onde virá os recursos para que os hospitais assimilem esses custos. Mesmo em São Paulo e Rio de Janeiro, dois dos estados mais ricos, o piso vai representar, respectivamente, um aumento de 10% e 17% na média salarial de enfermeiros e de 40% e 74% na de técnicos de enfermagem. “Porém há diversos estados em que o aumento vai ser de mais de 120%, o que vai tornar inviável muitos hospitais e aumentar a desigualdade no acesso a serviços de saúde”, projeta Morato.

O presidente da FBH também pondera que é imprescindível o diálogo sobre o Projeto de Lei nº 2564/2020, que estabelece  um piso salarial de R$ 4.750,00 mensais para enfermeiros; 70% desse valor para técnicos de enfermagem e 50% para auxiliares de enfermagem. “Não é possível determinar na caneta aumento de custos, sem antes ter uma fonte de recursos para sustentar isso”, observa Morato, que explica que o projeto de lei, do jeito que está, vai ampliar a crise de pequenos e médios hospitais, além de estrangular as finanças de cidades do interior. As regiões Norte e Nordeste são as que mais vão sentir o peso se não houver mudanças no texto. No Norte, em quase todos os estados o piso representará um aumento de mais de 50% na média salarial dos enfermeiros e de mais de 100% entre os técnicos de enfermagem. No Acre, por exemplo, o aumento será de 126% e 173%, respectivamente. O levantamento abaixo, feito pela FBH, retrata o peso que o piso vai ter em cada estado.

 

REGIÃO SUL Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Rio Grande do Sul 3.894,40 4.750,00 22% 1.974,49 3.325,00 68%
Paraná 3.053,08 4.750,00 56% 1.730,43 3.325,00 92%
Santa Catarina 3.033,65 4.750,00 57% 1.821,09 3.325,00 83%
REGIÃO SUDESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
São Paulo 4.322,85 4.750,00 10% 2.367,60 3.325,00 40%
Rio de Janeiro 4.057,92 4.750,00 17% 1.910,88 3.325,00 74%
Espírito Santo 3.081,84 4.750,00 54% 1.539,86 3.325,00 116%
Minas Gerais 2.961,02 4.750,00 60% 1.556,03 3.325,00 114%
REGIÃO CENTRO-OESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Distrito Federal 3.852,43 4.750,00 23% 1.906,85 3.325,00 74%
Goiás 3.054,42 4.750,00 56% 1.413,52 3.325,00 135%
Mato Grosso 2.995,81 4.750,00 59% 1.514,41 3.325,00 120%
Mato Grosso do Sul 2.940,70 4.750,00 62% 1.452,04 3.325,00 129%
REGIÃO NORTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Pará 3.399,45 4.750,00 40% 1.675,72 3.325,00 98%
Tocantins 3.079,62 4.750,00 54% 1.298,00 3.325,00 156%
Amazonas 2.928,17 4.750,00 62% 1.455,21 3.325,00 128%
Amapá 2.690,56 4.750,00 77% 1.415,09 3.325,00 135%
Rondônia 2.687,51 4.750,00 77% 1.372,70 3.325,00 142%
Roraima 2.444,23 4.750,00 94% 1.315,61 3.325,00 153%
Acre 2.106,32 4.750,00 126% 1.218,06 3.325,00 173%
REGIÃO NORDESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Rio Grande do Norte 3.395,51 4.750,00 40% 1.219,36 3.325,00 173%
Ceará 3.343,59 4.750,00 42% 1.243,33 3.325,00 167%
Bahia 3.041,89 4.750,00 56% 1.491,88 3.325,00 123%
Alagoas 3.012,33 4.750,00 58% 1.317,71 3.325,00 152%
Maranhão 2.943,75 4.750,00 61% 1.337,83 3.325,00 149%
Piauí 2.896,22 4.750,00 64% 1.390,79 3.325,00 139%
Sergipe 2.675,92 4.750,00 78% 1.285,77 3.325,00 159%
Pernambuco 2.222,40 4.750,00 114% 1.173,10 3.325,00 183%
Paraíba 2.052,23 4.750,00 131% 1.163,98 3.325,00 186%

 

Piso nacional de enfermagem preocupa pequenos hospitais
Projeto de Lei pode provocar aumento de mais de 100% na média salarial em diversos estados

 

Presidente da FBH teme que muitos hospitais fechem as portas

 

Da Redação

Estudo da Federação Brasileira de Hospitais mostra que as regiões Norte e Nordeste serão as que mais vão sentir o impacto do piso nacional de enfermagem. O levantamento foi enviado à deputada federal Carmem Zanotto, que coordena o Grupo de Trabalho responsável por avaliar os efeitos do Projeto de Lei que estabelece o piso. Segundo o estudo, o salário de R$ 4.750 proposto para enfermeiros representa um aumento na média salarial que varia, dependendo do estado, de 40% a 131%, no Nordeste, e de 40% a 126%, no Norte. O salário de R$ 3.325 para técnicos de enfermagem significará uma elevação que pode oscilar de 123% a 186% e de 98% a 173%, respectivamente. O presidente da FBH, Adelvânio Francisco Morato, defende que é preciso considerar as diferenças regionais, sob pena de onerar de forma desproporcional os pequenos hospitais localizados, principalmente, no interior do país.  “Muitos vão fechar, o que vai aumentar a desigualdade regional na oferta de serviços de saúde”, avalia.