Segundo dia de Congresso Mundial de Hospitais destaca cirurgia robótica, telemedicina e ESG
Líderes e delegados de diversos cantos do mundo se unem para debater o futuro da saúde

Vanessa Alvarenga e Vanessa Teich no debate sobre sistemas robóticos na rede pública de saúde. (Foto: Divulgação)

Da Redação

O segundo dia do 47º Congresso Mundial de Hospitais movimentou o Windsor Expo Center, na Zona Oeste do Rio de Janeiro. O evento teve palestras promissoras sobre o futuro da saúde que contaram com palestrantes renomados de diversas nacionalidades na última quarta-feira. Temas como telemedicina, cirurgia robótica, ESG (Environmental, social and Governance) e liderança na saúde foram alguns dos destaques do segundo dia de evento, que retorna hoje (12) para mais conferências e debates. “Quanto mais unidos estivermos, solidários uns com os outros, priorizando a pesquisa e o conhecimento, mais fortes seremos para enfrentar as crises e os desafios que possam surgir”, destacou Muna Tahlak, presidente da Federação Internacional de Hospitais (IHF), durante a abertura do evento, dia 10.

O dia começou com o debate sobre melhorar a equidade entre o uso de sistemas robóticos para operações entre sistemas privados e públicos. O Hospital Israelita Albert Einstein assumiu a gestão de algumas unidades públicas e focou no treinamento dos profissionais. O tema foi conversado por Vanessa Teich, diretora de Transformação da Oncologia e Hematologia, e por Vanessa Alvarenga, cirurgiã ginecológica, ambas do Hospital Albert Einstein. Para Teich, o grande problema das cirurgias robóticas atualmente é a dificuldade de acesso ao procedimento. “A inequidade de acesso entre pacientes do setor público é privado é grande. São 77 robôs em hospitais privados, e 33 no SUS. Outro problema de acesso que enfrentamos é regional: 59% dos sistemas robóticos estão no Sudeste”, explicou a diretora.

Ainda pela manhã, a sessão plenária “Desmascarando os mitos” contou com a presença de Carrie Owen Plietz, presidente da Kaiser Permanente, que reforçou a atuação de sua ONG nos Estados Unidos, fornecendo assistência médica para mais de quatro milhões de pessoas na Califórnia. Nick Watts, diretor do Centro de Medicina Sustentável de Singapura, reforçou sobre sustentabilidade. “Nunca tivemos tantos dados para lidar com as mudanças ambientas. Há questionamentos sobre qual projeto abraçar, mas faça o que quiser fazer, não precisa ser o mais revolucionário, mas comece a trabalhar no que acredita. Pode ser pequeno, mas é preciso começar”, incentivou.

Antes do horário de almoço e networking entre os delegados, a palestra “Getting transformation right” apresentou mudanças em diferentes tipos de sistemas da saúde. Joseph Hazel, CEO da Elegancia Healthcare, comentou um estudo de caso no Qatar, sinalizando que o grande desafio é o custo da saúde. “Temos uma população jovem, todos precisam ter emprego e visto. O custo é sempre crescente, mas se parece com o National Health System do Reino Unido”, disse Joseph. CEO do Coimbra’s Healthcare Integrated Delivery System, Alexandre Lourenço explicou sua visão sobre o modelo de saúde. “Se o modelo atual não for capaz de mudar como o serviço é fornecido, é preciso mudar o modelo. Precisamos de gestão para passar a uma nova configuração, para um modelo mais complexo”, completou.

Ao longo da tarde, diversas salas atraíram os delegados. Dentre os debates mais visados, destacaram-se os de telemedicina, trazendo o surgimento, evolução e perspectivas para o futuro; e governança, com representantes do Brasil, Hungria, Espanha e Suíça. Em outra mesa, onde foram apresentadas expectativas para o futuro da saúde por jovens líderes executivos da Federação Internacional de Hospitais, a zambiana Tiza Chipungu defendeu a necessidade de mais igualdade no setor. “Nossa tarefa é descobrir como usar recursos para aumentar a equidade de gênero nas próximas gerações. As mulheres são 70% da força de trabalho, mas poucas são líderes. Para chegarmos na equidade, é preciso que os líderes estejam a frente da força de trabalho”, explicou Tiza.

A 47ª edição do Congresso Mundial de Hospitais continua nesta quinta-feira e seguirá abordando temas centrais para o setor hospitalar mundial, como inovação e sustentabilidade na saúde. O principal evento de líderes globais de hospitais e da saúde do mundo está realizando sua segunda edição no Rio de Janeiro na história.

Cerimônia de abertura do 47º Congresso Mundial de Hospitais reúne referências no setor da saúde
Evento, que acontece pela segunda vez na história no Rio de Janeiro, começou hoje (10) e irá até quinta-feira

Muna Tahlak, presidente da Federação Internacional de Hospitais (IHF) [Foto: Vicente Arantes]
Da Redação

Começou oficialmente na manhã desta terça-feira (10/09) a 47ª edição do Congresso Mundial de Hospitais, promovido pela Federação Internacional de Hospitais (IHF). A cerimônia de abertura foi realizada no Windsor Expo Center, na Barra da Tijuca, e contou com a presença de grandes nomes da saúde, dentre eles Muna Tahlak, presidente da IHF; Adelvânio Morato, presidente da FBH; Daniel Soranz, secretário municipal de saúde do Rio de Janeiro; Meiruze Freitas, diretora da ANVISA; Caio Antonio Mello de Souza, subsecretário de saúde do Rio de Janeiro; e Paulo Rebello, presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar. “Quanto mais unidos estivermos, solidários uns com os outros, priorizando a pesquisa e o conhecimento […] mais fortes seremos para enfrentar as crises e os desafios que possam surgir.”, destacou Muna Tahlak.

O secretário municipal de saúde Daniel Soranz deu boas-vindas para todos os representantes dos mais de 65 países presentes neste primeiro dia de congresso. Ele convidou os representantes para, além do evento, conhecerem bairros e pontos turísticos da Cidade Maravilhosa. “Espero que todos aproveitem cada minuto e momento de troca para fazerem nossos sistemas de saúde se desenvolverem cada vez mais”, completou.

Caio Antonio Mello de Souza compareceu representando Claudia Mello, atual secretária de saúde do Estado e que não pôde estar presente. O subsecretário citou a pandemia de Covid-19 e como o Rio de Janeiro deu a volta por cima após o período. “Todos tivemos diversas perdas com o vírus, mas, assim como todas as crises, também criamos melhorias e nos reinventamos. O Rio de Janeiro criou o CIS, que é o maior centro de inteligência em saúde da América Latina. O lema da nossa Secretaria de Saúde é ‘a saúde é feita de pessoas que cuidam de outras pessoas’, o ser humano é a maior e melhor ferramenta que podemos aprimorar e utilizar”, afirmou o subsecretário.

Também foi destaque a quantidade de empregos gerados pela saúde no Brasil. O presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar, Paulo Rebello destacou que 25% dos brasileiros possuem plano de saúde, enquanto o presidente da FBH Adelvânio Morato citou que mais da metade dos hospitais brasileiros atendem pelo Sistema Único de Saúde. “A saúde é um dos setores que mais emprega no país”, afirmou o presidente.

Presidente da ANS, Paulo Rebello discursa durante cerimônia de abertura. (Foto: Vicente Arantes)

A 47ª edição do Congresso Mundial de Hospitais, que vai até quinta-feira, ainda abordará diversos temas centrais para o setor hospitalar mundial, como inovação, sustentabilidade e equidade de gênero nas lideranças da saúde. O principal evento de líderes globais de hospitais e da saúde do mundo espera receber cerca de 1.250 delegados de mais de 65 países do globo. Ao longo de três dias, serão 40 sessões plenárias e paralelas, mais de 250 palestrantes renomados e 200 apresentações em pôsteres.

Congresso Mundial de Hospitais deve receber mais de 1.300 delegados no Rio de Janeiro. (Foto: Vicente Arantes)

Piso enfermagem pode provocar fechamento de hospitais
Projeto de lei que estabelece o piso deve ser votado nesta semana

 

Morato avalia que piso pode tornar inviável muitos hospitais e aumentar a desigualdade no acesso a serviços de saúde

 

O setor de saúde monitora atentamente o movimento para votação na Câmara nesta semana do projeto do piso salarial de enfermagem. Estudos apontam que o texto aprovado pelo Senado no ano passado provocará um aumento de despesas com folha de pagamento da ordem de R$ 16,31 bilhões, considerando instituições de saúde públicas e privadas. O presidente da Federação Brasileira de Hospitais, Adelvânio Francisco Morato, relata que a principal indagação é de onde virá os recursos para que os hospitais assimilem esses custos. Mesmo em São Paulo e Rio de Janeiro, dois dos estados mais ricos, o piso vai representar, respectivamente, um aumento de 10% e 17% na média salarial de enfermeiros e de 40% e 74% na de técnicos de enfermagem. “Porém há diversos estados em que o aumento vai ser de mais de 120%, o que vai tornar inviável muitos hospitais e aumentar a desigualdade no acesso a serviços de saúde”, projeta Morato.

O presidente da FBH também pondera que é imprescindível o diálogo sobre o Projeto de Lei nº 2564/2020, que estabelece  um piso salarial de R$ 4.750,00 mensais para enfermeiros; 70% desse valor para técnicos de enfermagem e 50% para auxiliares de enfermagem. “Não é possível determinar na caneta aumento de custos, sem antes ter uma fonte de recursos para sustentar isso”, observa Morato, que explica que o projeto de lei, do jeito que está, vai ampliar a crise de pequenos e médios hospitais, além de estrangular as finanças de cidades do interior. As regiões Norte e Nordeste são as que mais vão sentir o peso se não houver mudanças no texto. No Norte, em quase todos os estados o piso representará um aumento de mais de 50% na média salarial dos enfermeiros e de mais de 100% entre os técnicos de enfermagem. No Acre, por exemplo, o aumento será de 126% e 173%, respectivamente. O levantamento abaixo, feito pela FBH, retrata o peso que o piso vai ter em cada estado.

 

REGIÃO SUL Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Rio Grande do Sul 3.894,40 4.750,00 22% 1.974,49 3.325,00 68%
Paraná 3.053,08 4.750,00 56% 1.730,43 3.325,00 92%
Santa Catarina 3.033,65 4.750,00 57% 1.821,09 3.325,00 83%
REGIÃO SUDESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
São Paulo 4.322,85 4.750,00 10% 2.367,60 3.325,00 40%
Rio de Janeiro 4.057,92 4.750,00 17% 1.910,88 3.325,00 74%
Espírito Santo 3.081,84 4.750,00 54% 1.539,86 3.325,00 116%
Minas Gerais 2.961,02 4.750,00 60% 1.556,03 3.325,00 114%
REGIÃO CENTRO-OESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Distrito Federal 3.852,43 4.750,00 23% 1.906,85 3.325,00 74%
Goiás 3.054,42 4.750,00 56% 1.413,52 3.325,00 135%
Mato Grosso 2.995,81 4.750,00 59% 1.514,41 3.325,00 120%
Mato Grosso do Sul 2.940,70 4.750,00 62% 1.452,04 3.325,00 129%
REGIÃO NORTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Pará 3.399,45 4.750,00 40% 1.675,72 3.325,00 98%
Tocantins 3.079,62 4.750,00 54% 1.298,00 3.325,00 156%
Amazonas 2.928,17 4.750,00 62% 1.455,21 3.325,00 128%
Amapá 2.690,56 4.750,00 77% 1.415,09 3.325,00 135%
Rondônia 2.687,51 4.750,00 77% 1.372,70 3.325,00 142%
Roraima 2.444,23 4.750,00 94% 1.315,61 3.325,00 153%
Acre 2.106,32 4.750,00 126% 1.218,06 3.325,00 173%
REGIÃO NORDESTE Enfermeiro Técnico de Enfermagem
UF 2021 Proposta PL 2564 2021 Proposta PL 2564
Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio Média Salarial (Jornada 40h) Salário mensal % aumento médio
Rio Grande do Norte 3.395,51 4.750,00 40% 1.219,36 3.325,00 173%
Ceará 3.343,59 4.750,00 42% 1.243,33 3.325,00 167%
Bahia 3.041,89 4.750,00 56% 1.491,88 3.325,00 123%
Alagoas 3.012,33 4.750,00 58% 1.317,71 3.325,00 152%
Maranhão 2.943,75 4.750,00 61% 1.337,83 3.325,00 149%
Piauí 2.896,22 4.750,00 64% 1.390,79 3.325,00 139%
Sergipe 2.675,92 4.750,00 78% 1.285,77 3.325,00 159%
Pernambuco 2.222,40 4.750,00 114% 1.173,10 3.325,00 183%
Paraíba 2.052,23 4.750,00 131% 1.163,98 3.325,00 186%

 

Piso nacional de enfermagem preocupa pequenos hospitais
Projeto de Lei pode provocar aumento de mais de 100% na média salarial em diversos estados

 

Presidente da FBH teme que muitos hospitais fechem as portas

 

Da Redação

Estudo da Federação Brasileira de Hospitais mostra que as regiões Norte e Nordeste serão as que mais vão sentir o impacto do piso nacional de enfermagem. O levantamento foi enviado à deputada federal Carmem Zanotto, que coordena o Grupo de Trabalho responsável por avaliar os efeitos do Projeto de Lei que estabelece o piso. Segundo o estudo, o salário de R$ 4.750 proposto para enfermeiros representa um aumento na média salarial que varia, dependendo do estado, de 40% a 131%, no Nordeste, e de 40% a 126%, no Norte. O salário de R$ 3.325 para técnicos de enfermagem significará uma elevação que pode oscilar de 123% a 186% e de 98% a 173%, respectivamente. O presidente da FBH, Adelvânio Francisco Morato, defende que é preciso considerar as diferenças regionais, sob pena de onerar de forma desproporcional os pequenos hospitais localizados, principalmente, no interior do país.  “Muitos vão fechar, o que vai aumentar a desigualdade regional na oferta de serviços de saúde”, avalia.