Diretora de Cardiologia da Rede D’Or alerta que ansiedade é fator de risco para hipertensão
Em seminário promovido pelo jornal O Globo, Olga Ferreira de Souza ressaltou que uso incessante de celular tem deixado as pessoas ansiosas

 

Olga Ferreira de Souza, diretora de cardiologia da Rede D’Or: “É hábito olhar o celular a toda hora”

 

Da Redação

Controlar o estresse e a ansiedade é primordial para reduzir os riscos de desenvolver hipertensão. Esse foi um dos alertas da diretora de cardiologia da Rede D’Or, Olga Ferreira de Souza em encontro sobre hipertensão arterial promovido pelo jornal O Globo na terça-feira. Mediada pela jornalista Adriana Dias Lopes, a mesa também reuniu o cardiologista Cláudio Domênico a presidente do Instituto Lado a Lado pela Vida, Marlene Oliveira e o subsecretário de Atenção Primária, Promoção e Vigilância em Saúde do Rio de Janeiro, Renato Cony.

O evento colocou em debate os fatores de risco e as formas de prevenir uma doença que responde por 40% das mortes cardiovasculares no Brasil. Olga ponderou que é importante promover campanhas e levar informação a população, pois metade dos pacientes não desenvolve sintomas. “Relatório da Organização Mundial de Saúde aponta que 45% da população brasileira desconhece que tem hipertensão”, contou a diretora da Rede D’Or.

Olga explicou que, na maioria dos casos, a adoção de hábitos saudáveis é a principal forma de prevenir ou controlar a doença. É assim que é possível aprender a evitar o estresse recorrente em situações do dia a dia que as pessoas não têm como controlar. “Quando ficamos estressados, aumenta a produção de cortisol a adrenalina e a pressão sobe”, explicou a diretora da Rede D’Or, que ressaltou que é preciso buscar atividades que ajudem a relaxar, como ouvir música.

No entanto, para ela, a ansiedade que as pessoas têm apresentado é um estado emocional ainda mais preocupante. E Olga é direta em apresentar o uso incessante do celular como uma das causas, por fazer as pessoas estarem conectadas o tempo inteiro. “Ninguém tem paciência de esperar uma resposta, por exemplo. É hábito olhar o celular a toda hora”, observou.

Para a diretora da Rede D’Or, é preciso que as pessoas mudem seus hábitos e passem a valorizar a atividade que estão fazendo. Se vai ao cinema, ao bar com amigos ou na refeição em família, o ideal, defende ela, é guardar o celular para aproveitar aquele momento. “Como vamos lidar com isso para não nos tornarmos pessoas ansiosas, é um desafio”, relata.

O impacto do estresse nas organizações

Gilberto Ururahy*

O estresse crônico bateu à porta do ambiente profissional em companhias do mundo todo. Considerado o mal do início deste século, ele é hoje, a causa de uma grande variedade de doenças, como o acidente vascular cerebral e o infarto do miocárdio. Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e com carga horária crescente em todos os níveis hierárquicos – tida como excessiva por 60% dos executivos, segundo pesquisas −, atualmente, as empresas são consideradas verdadeiras fábricas de estresse. Nem mesmo a prática de atividade física tem compensado o peso do trabalho na vida das pessoas. Um levantamento da Med-Rio Check-up registrou que o sedentarismo entre os executivos diminuiu nos últimos 29 anos, mas isso não resultou, necessariamente, na melhora da qualidade de vida deles. Enquanto o sedentarismo caiu 15 pontos percentuais entre homens e mulheres no período, o estresse subiu oito pontos percentuais entre os engravatados e 27 pontos entre elas.

Pesquisas atestam que o custo do estresse profissional nos EUA passa de 300 bilhões de dólares ao ano. No Brasil, estima-se que chegue a quase 4% do PIB, ou mais de 80 bilhões de dólares, segundo a ISMA (International Stress Management Association). No caso das empresas, o estresse impacta diretamente nos custos médicos, ligados a tratamentos, internamentos e consultas. Mas, o maior efeito nem sempre é possível de ser mensurado, pois é o prejuízo relacionado à baixa produtividade, ao absenteísmo, ao turnover, ao burnout, além da necessidade de buscar profissionais no mercado devido à dificuldade de reter talentos.  Dados de um estudo elaborado pela ISMA-BR apontam que o estresse foi responsável por um aumento de 140% nos gastos trabalhistas das empresas brasileiras nas últimas décadas. De olho no prejuízo, muitas empresas já estão investindo em programas contra o estresse, campanhas de conscientização para a necessidade do lazer, além da realização de check-ups, que podem prevenir a evolução e proporcionar o controle de doenças como a hipertensão.

Nos Estados Unidos, cerca de 80% das empresas desenvolvem programas de promoção à saúde de seus colaboradores, com o considerável retorno de US$ 4 para cada dólar investido. A lógica do check-up é simples: Se uma doença é detectada em estágio inicial, maiores são as chances de ela ser curada. O serviço inclui a realização de exames preventivos que ajudam a reduzir os fatores de risco entre os profissionais e a aumentar a produtividade. O objetivo é atender à demanda de empresas que se preocupam em diminuir os índices de afastamento de funcionários por motivo de doenças. Os sintomas do estresse podem aparecer de diversas formas.

*Gilberto Ururahy é diretor médico da Med-Rio Check-up

O Mito das Malabaristas de Plantão

andrea junqueira
Andreia Junqueira é coach executiva e membro do Grupo Nikaia

Você já se sentiu como uma malabarista, tentando sustentar vários pratos ao mesmo tempo no ar? Esse é o estereótipo de uma mulher bem-sucedida no século XXI. Uma malabarista ágil e precisa, capaz de manter os muitos aspectos de sua vida no ar, sem deixar nenhum prato cair ou quebrar. É o sentimento que acompanha o dia a dia de muitas mulheres que buscam conciliar os avanços na carreira com os cuidados com a casa e a família, perpetuando um ideal feminino de equilíbrio.

Estamos longe de ter alcançado a igualdade de gêneros em nossa sociedade, mas é inegável os avanços conquistados nos últimos anos: maiores níveis de escolaridade, melhores oportunidades profissionais, aumento de salários, reconhecimento e influência social, econômica e política. No entanto, pesquisas realizadas por Stevenson e Wolfers da WhartonSchool revelam que essas conquistas não se traduziram em mais felicidade e realização.

Ao contrário, o que tem sido evidenciado, são maiores níveis de estresse, redução da qualidade de vida, menor ambição das jovens em se tornarem líderes e um risco potencial de perda de mulheres em cargos executivos.Para continuarmos a avançar na ambição de uma sociedade com oportunidades iguais é preciso colocar uma lente sobre esse tema.

Quando buscamos as raízes históricas dessa aparente contradição, percebemos que na tentativa de conquistar espaço no mercado de trabalho e continuar a atender as expectativas sociais de nossos diferentes papéis, acreditamos que seríamos capazes de realizar tudo com maestria, conquistando o tão sonhado equilíbrio entre a vida pessoal e profissional.  Com isso, ignoramos o fato de que nossas vidas pessoais e profissionais estão totalmente conectadas e que não somos capazes de transformar o tempo em um recurso elástico.

Essa crença disfuncional advinda da era industrial foi e ainda é, em alguns casos, fortemente reforçada nos ambientes organizacionais que consideram normal e até necessário “deixar as questões pessoais em casa”. É obvio que essa mentalidade afeta também a qualidade de vida dos homens. A diferença é que eles não são cobrados pela sociedade de cuidar da casa e da família.

A pesquisa PNAD 2017 revela que apesar do tempo dedicado a realização dos afazeres domésticos e cuidados familiares ter crescido entre os homens, as mulheres dedicam, ainda hoje, o dobro do tempo a essas atividades, chegando a 20,9 horas semanais, contra apenas 10,8 horas gastas por homens.

Um estudo conduzido por pesquisadoras da Universidade Federal de São Carlos concluiu que esta divisão desigual gera maior sobrecarga para as mulheres, prejudicando-as em relação à sua satisfação com seu desempenho profissional, familiar e o seu bem-estar geral. A pesquisa relata ainda que, para ter tempo para questões familiares, elas acabam reduzindo o período dedicado ao descanso, as atividades sociais e ao cuidado com a própria saúde física.

No pano de fundo, estão crenças femininas arraigadas que se transformaram em verdadeiras armadilhas. Como, por exemplo, que é possível ter tudo, fazer tudo com perfeição e ser multitarefa. Infelizmente, tentar ser tudo para todo mundo o tempo todo, além de ser improdutivo, esgota a mente, o corpo e a alma. A habilidade de realizar múltiplas tarefas ao mesmo tempo, sem perder qualidade e sem aumentar os níveis de cortisol, é rara. Quando tentamos ser multitarefas simultâneos, elevamos os níveis de estresse e o cansaço, reduzimos a capacidade de pensar com clareza, de tomar decisões e nos tornamos mais lentos. Quando esses comportamentos entram no “piloto automático”, os efeitos são ainda mais devastadores.

Tendo em conta que as mulheres ainda se deparam com um ambiente de trabalho que foi criado pelos homens e suas necessidades, os princípios vigentes permanecem: quanto mais se investe tempo e esforço, mais se avança na carreira, reforçando, assim, as crenças e comportamentos descritos.

Hoje somente 40% das mulheres que entram nas organizações aspiram se tornar executivas seniores, é o chamado gap de ambição de liderança feminina de acordo com a pesquisa Women in theWorkplace 2015. Mesmo entre as que manifestam o desejo de se tornarem líderes há uma preocupação se vão conquistar a posição e se serão capazes de gerenciar suas vidas pessoais e profissionais.

Quando o foco são as que já estão em posições executivas, há frequentes relatos sobre os desafios de realizar um trabalho perfeito, a culpa por não conseguir equilibrar vida pessoal e profissional e a ambivalência frente ao poder, conforme artigo publicado em 2018 pela Korn Ferry.

Outro olhar relevante recai sobre o conceito de sucesso. Apesar de ser um atributo de valoração individual, a expert em liderança feminina Sally Helgesen e o coach executivo Marshall Goldsmith afirmam, em livro recém lançado, que ele tende a variar também com o gênero. Para os homens e para a maioria das organizações, conquistar pacotes de remuneração atrativos e posições de destaque são os principais indicadores de sucesso. Já as mulheres bem-sucedidas consideram dinheiro e posição importantes, mas tendem a atribuir um alto valor também à qualidade de suas vidas no trabalho, ao propósito e impacto de suas contribuições, assim como observado nas pesquisas relativas as novas gerações. A miopia organizacional aliada a essa distinta forma de análise de custo benefício, pode tornar as mulheres que já estão em posições executivas menos realizadas e mais propensas a deixar empregos que ofereçam altos salários e posições de destaque, mas que comprometam de forma significativa suas qualidades de vida. Na perspectiva futura, esse é um fator preocupante tendo em vista a saída dos profissionais baby boomers e, segundo dados da consultoria Deloitte, aumento da presença dos Millennials e Geração Z que são atraídos por bons salários e culturas positivas, mas consideram o ambiente diverso e a flexibilidade fatores críticos para sua retenção.

Excesso de proatividade pode atrapalhar concretização de novos projetos

Em todos os fins de ano ou inícios, boa parte das pessoas mergulha num estado de ansiedade coletiva por transições e alento para solucionar situações de desgaste ou estagnadas. É como um disparador psicológico que indica um bom período para iniciar mudanças na vida pessoal, nos relacionamentos e, principalmente, profissionais. Nessa época, uma frase ecoa quase que invariável, seja silenciosamente ou compartilhada com próximos: “Ano que vem, tudo será diferente”. “Será? Tudo mesmo? É o que deveríamos nos perguntar ao avaliar com cuidado o que e quando é preciso mudar”, afirma Ana Carolina Lynch, psicanalista com formação em treinamento empresarial e consultora em gestão de pessoas.

Se o assunto é realização no trabalho – universo que costuma concentrar muitas das resoluções de fim de ano –, é preciso considerar fatores que, apesar de insuspeitos para alguns, podem virar obstáculos. “Querer assumir responsabilidades demais, fazer mais planos do que os que cabem em 12 meses ou fixar metas por demais desafiadoras achando que isso é algo positivo são exemplos”, alerta Ana Carolina. Segundo ela, trata-se do excesso de proatividade em planejar o futuro, postura que, ao contrário de produzir bons resultados, quase sempre desencadeia boa dose de estresse e pode até sabotar projetos.

“Tudo em excesso é prejudicial, até o desejo de ser eficiente. As pessoas podem se perder quando se exigem demais ao estabelecer projetos e buscar transformações. Há certa fantasia, alimentada pela ditadura do sucesso, de que temos total controle sobre o que está reservado a nós”, diz a consultora. Ela acrescenta que planejar e se movimentar são atitudes fundamentais, mas nem sempre a resposta é imediata. “Estamos nos distanciando de valores importantes, como amadurecer as ideias, saber esperar e perceber, a si e o entorno, que tem suas regras. As escolhas, por vezes, nos são oferecidas, e muitas trazem vantagens para as pessoas mais adaptáveis”, garante Ana Lynch.