IBGE: pecuária brasileira colecionou recordes em 2022
Valor da produção cresceu 17,5% e alcançou R$ 116,3 bilhões

Da Agência Brasil

Produtos de origem animal, como leite de vaca, ovos de galinha e mel de abelha ajudaram a pecuária brasileira a atingir recordes no ano passado. O valor total da produção, que inclui ainda itens como ovos de codorna, lã, casulos de bicho-da-seda, camarão e peixes, foi de R$ 116,3 bilhões, um aumento de 17,5% em relação ao ano anterior. Os dados fazem parte da Pesquisa da Pecuária Municipal (PPM), divulgada nesta quinta-feira (21) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

Um dos recordes atingidos pelo Brasil foi o número de cabeças de gado. O país terminou 2022 com 234,4 milhões animais, um crescimento de 4,3% em relação ao ano anterior. Mato Grosso é o maior estado produtor, com 34,2 milhões de cabeças – 14,6% do total nacional.

Com 77,2 milhões de animais, o Centro-Oeste é a principal região produtora de gado. Mas o maior aumento de rebanho ficou com o Norte, impulsionado pelos pastos de Rondônia, do Pará, Tocantins e Acre.

Apesar de Mato Grosso liderar o ranking nacional, o município com maior quantidade de cabeças é paraense: São Félix do Xingu, com rebanho de 2,5 milhões de animais. A cidade tem 65.418 habitantes, de acordo com o Censo 2022. Isso significa que o número de cabeças de gado é 38 vezes maior que a quantidade de moradores.

Leite

A produção de leite diminuiu 1,6% no ano passado, ficando em 34,6 bilhões de litros. De acordo com o IBGE, a redução ocorreu pelo fato de a criação de vacas ter ficado mais onerosa para pequenos produtores. “Foi observado um abandono da atividade por produtores menores, que têm visto os valores dos insumos aumentarem e concluído que o arrendamento da terra para a produção de grãos, atividade em expansão em partes do país, daria melhor retorno financeiro”, mostra a pesquisa.

As regiões Sul e Sudeste são as maiores produtoras de leite. Cada uma responde por um terço da produção nacional. Minas Gerais tem a maior produção estadual. Foram 9,4 bilhões de litros, o equivalente a 27,1% do total do país. Castro, no Paraná, é o campeão municipal, com 426,6 milhões de litros.

Apesar de a atividade leiteira ter decrescido, o valor total da produção aumentou 17,7%, alcançando R$ 80 bilhões. Isso mostra que o preço médio pago pelo leite ao produtor foi de R$ 2,31 – aumento de 19,7% em um ano. Esse, no entanto, não é o preço final para o consumidor, pois ainda são incluídos custos como frete, intermediários e margem de lucro dos estabelecimentos de venda.

“O preço do leite continuou em ritmo de crescimento no ano de 2022, fruto da baixa oferta do produto, que levou a uma competição mais acirrada por parte dos laticínios, atingindo cotações recordes ao longo do terceiro trimestre, e aumento das importações ao longo do ano”, afirma a pesquisa do IBGE.

Aves

A produção de galináceos (grupo que inclui galinhas e aves para corte, como frango) obteve recorde e chegou a 1,6 bilhão de cabeças, representando aumento de 3,8%. Metade (49,3%) desse contingente fica em granjas da Região Sul. O Paraná é o destaque, com 29,7% do total nacional.

Quando se leva em consideração apenas a quantidade de galinhas, a Região Sudeste lidera o ranking nacional, com 91,2 milhões dos 259,5 milhões de todo o país. O estado de São Paulo sozinho tem 21,2% de todas as galinhas que existiam no Brasil em 2022.

A produção de ovos de galinha também foi recorde em 2022. O país produziu 4,9 bilhões de dúzias, 1,3% a mais que no ano anterior. O preço do ovo subiu 17,6%, fazendo crescer o valor total da produção brasileira, que apresentou alta de 19,1%, chegando a R$ 26,1 bilhões.

Apesar de o ovo ter ficado mais caro, o IBGE explica que a concorrência com outros tipos de proteína manteve aquecida a demanda. “Em 2022, com a elevação generalizada dos preços no setor de proteína animal, o ovo ganhou ainda mais destaque, sendo uma opção mais acessível aos consumidores, uma fonte relativamente mais econômica em comparação às carnes”, explica o IBGE.

Rebanhos de médio porte

De acordo com a PPM, rebanhos de caprinos e ovinos cresceram no ano passado. O Brasil terminou 2022 com 12,4 milhões de caprinos (+3,9%) e 21,5 milhões de ovinos (+4,7%). O Nordeste é a região que lidera o ranking nacional de criação desses animais.

Apesar de o Nordeste deter 69,9% dos ovinos do país, o Rio Grande do Sul se destaca com 15,6% do total nacional. Esse contingente faz com que o estado concentre quase toda a produção (95,4%) de lã do país.

Suínos

Mais um recorde da pecuária brasileira é representado pela quantidade de suínos, que atingiu 44,4 milhões de animais, alta de 4,3% em relação a 2021. De acordo com o IBGE, o consumo interno também seguiu em crescimento (7,8%), chegando a 18 quilos por pessoa no ano.

A Região Sul concentrou 51,9% do total de suínos, sendo Santa Catarina o estado líder, com 22,1% do rebanho nacional, o que equivale a 9,8 milhões de cabeças.

Mel

A produção de mel em 2022 chegou a 61 mil toneladas, recorde da pesquisa do IBGE. A produção cresceu 9,5% em relação a 2021. O maior resultado foi no Nordeste, que registrou incremento de 16,5% na produção, sendo origem de 38,7% do total do país.

“O crescimento da produção de mel está relacionado às condições climáticas favoráveis, que proporcionaram maior disponibilidade de recursos alimentares para as abelhas. A crescente demanda por produtos naturais e saudáveis, nacional e internacionalmente, também tem impulsionado a produção apícola nacional”, segundo o IBGE.

Mesmo com destaque para o Nordeste, o ranking estadual se manteve com Rio Grande do Sul e Paraná no topo, com 14,8% e 14,2% do total nacional, respectivamente, seguidos pelo Piauí (13,7%).

Aquicultura

A produção de peixes em 2022 foi de 617,3 mil toneladas. Esse dado mostra aumento de 6% na atividade e de 16,4% no valor de produção, que chegou a R$ 5,7 bilhões. A Região Sul concentrou 220,7 mil toneladas (35,8% do total nacional). O Paraná foi o principal estado, responsável por 27,1% da piscicultura brasileira, com destaque para a cidade paranaense de Nova Aurora, líder do ranking nacional. De cada 100 toneladas de peixes produzidas no Brasil, 66,1 são tilápias, à frente dos tambaquis (17,8).

A produção de camarão criado em cativeiro foi de 113,3 mil toneladas – 5,9% maior comparada ao ano anterior e mais um recorde identificado pela pesquisa do IBGE. O Nordeste concentrou 99,6% do total nacional, sendo o Ceará dono de mais da metade (54,1%) da produção do país. Dos 10 municípios com as maiores produções de camarão, oito estão no Ceará, sendo o campeão Aracati.

IBGE: apesar de estiagem, país teve safra recorde no ano passado
Produção agrícola chegou a 263,8 milhões de toneladas

Da Agência Brasil

A cidade de Sorriso, em Mato Grosso, pode ser considerada a capital da agricultura no país. No ano passado, o município alcançou o valor de produção agrícola de R$ 11,5 bilhões, um crescimento de 15,2% em relação a 2021. O dado faz parte da pesquisa Produção Agrícola Municipal (PAM), divulgada nesta quinta-feira (14), pelo IBGE. 

A pesquisa acompanha a safra de 64 produtos agrícolas no país e traz detalhes sobre área plantada, área efetivamente colhida, quantidade produzida, rendimento médio obtido e valores das culturas temporárias e permanentes.

Em 2022, o Brasil teve novo recorde de valor de produção. Foram R$ 830,1 bilhões. Essa cifra representa um crescimento de 11,8% em relação ao ano anterior. Desde 2019, a alta é de 130%, ou seja, mais que dobrou.

No ano passado, a área colhida cresceu 5,4% ante 2021 e alcançou 90,4 milhões de hectares. Para efeito de comparação, se essa área fosse contígua, seria do tamanho do estado de Mato Grosso.

A produção de cereais, leguminosas e oleaginosas atingiu o patamar de 263,8 milhões de toneladas. Evolução de 3,8% em relação a 2021.

Produtos

O principal produto agrícola do Brasil é a soja, o que torna o país o maior produtor mundial. Por causa dos efeitos de uma estiagem prolongada, a produção dessa cultura teve um decréscimo de 10,5% em 2022. Apesar disso, o valor da produção cresceu 1,3%, chegando a R$ 345,4 bilhões.

A soja representa 41,6% do valor total da produção agrícola. O milho vem em seguida (16,6%). Essa cultura foi a que mais contribuiu para o crescimento do valor de produção agrícola no ano, alcançando a marca de 109,4 milhões de toneladas, gerando R$ 137,7 bilhões em valor bruto, o que representou um acréscimo de 18,6% frente à safra anterior.

A produção de cana-de-açúcar alcançou 724,4 milhões de toneladas, com alta de 1,2%. O valor de produção subiu 24,2% e chegou a R$ 93,5 bilhões. A colheita de café cresceu 6,3% e chegou a 3,2 milhões de toneladas. Já o valor do café subiu 48,8%. Resultado que mantém o Brasil como maior produtor e exportador de café no mundo.

Ainda entre as principais culturas agrícolas, a PAM 2022 destaca o algodão, que teve alta de 12,4% na colheita, chegando a 6,4 milhões de toneladas. O valor da produção atingiu R$ 33,1 bilhões (+25,2% ante 2021).

O trigo manteve o ritmo de ampliação das áreas de cultivo, o que ajudou a garantir uma safra recorde de 10,3 milhões de toneladas, acréscimo de 31,3% em relação ao ano anterior. A ampliação na quantidade produzida e a valorização do preço de mercado permitiram que a cultura alcançasse quase R$ 15,7 bilhões em valor de produção, uma alta de 42,6%.

A falta de chuvas no Rio Grande do Sul no ano passado impactou a produção do arroz, que caiu 7,6% e ficou no patamar de 10,8 milhões de toneladas. A diminuição no valor de produção em comparação ao ano anterior foi ainda maior: 18,9%, gerando R$ 15,5 bilhões.

Estiagem muda ranking

Em 2022, o clima adverso na região Sul fez com que o Rio Grande do Sul perdesse posição no topo do ranking de estados produtores. A liderança é de Mato Grosso. Empurrados pela soja, milho e algodão, os campos mato-grossenses são donos de 21,1% do valor da produção agrícola nacional.

São Paulo, maior produtor nacional de cana-de-açúcar e laranja, ganhou uma posição entre 2021 e 2022 e ocupa o segundo posto (12,4%). Minas Gerais, líder nacional na produção de café, ganhou duas posições e é agora o terceiro colocado, com 10,5% do valor do agro nacional.

Apesar da estiagem que afetou a produtividade da soja, o Paraná permanece no quarto lugar do ranking (10,1%), à frente de Goiás. O Rio Grande do Sul, com a quebra das safras de soja e arroz, apresentou recuo de 28,8% no valor de produção em 2022, caindo da segunda para a sexta posição entre os estados.

Classificando por regiões, o Centro-Oeste é o maior celeiro do país, com valor de produção de R$ 304 bilhões. Em seguida vêm Sudeste, Sul, Nordeste e Norte.

Municípios campeões

Os dez municípios com os maiores valores da produção agrícola geraram juntos R$ 74,7 bilhões, concentrando 9% do valor obtido no país. Desses, seis pertenciam a Mato Grosso, enquanto Bahia e Goiás aparecem com duas cidades cada.

Os três principais municípios do ranking ficam em Mato Grosso. Além de Sorriso (R$ 11,5 bilhões), maior produtor de milho e soja, se destacam Campo Novo dos Parecis (R$ 8,2 bilhões) e Sapezal (R$ 8 bilhões).

Economia criativa vai gerar 1 milhão de empregos até 2030
Estudo da CNI aponta concentração de vagas no Sul e Sudeste

Da Agência Brasil

Um milhão de novos empregos serão gerados pela economia criativa até 2030, elevando, em consequência, a atual participação de 3,11% do setor no Produto Interno Bruto (PIB, a soma de todos os bens e serviços fabricados no país.

É o que indica levantamento feito pelo Observatório Nacional da Indústria (ONI), núcleo de inteligência e análise de dados da Confederação Nacional da Indústria (CNI). A economia criativa emprega hoje 7,4 milhões de trabalhadores no Brasil, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD contínua), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), para o 4º trimestre de 2022. O volume pode subir para 8,4 milhões em 2030.

“Isso está associado a uma necessidade de sobrevivência e inovação na sociedade como um todo. Não só na indústria”, afirmou nesta sexta-feira (1º) à Agência Brasil o gerente-executivo do Observatório, Márcio Guerra. “A gente estima que as profissões que estão relacionadas à economia criativa vão ter um crescimento significativo”, disse.

De acordo com Guerra, o conceito de economia criativa começa a se ampliar um pouco mais, uma vez que é preciso olhar também a necessidade de inovação e criatividade em produção de conteúdos digitais. “Essa cultura digital deve impulsionar essa demanda de forma significativa, nos próximos anos.”

As profissões da economia criativa estão espalhadas por diversos setores, como empreendedorismo, indústria, serviços e setor tecnológico. O gerente analisou que o aumento dos empregos e do dinamismo da economia criativa serão puxados, sobretudo, pela dimensão tecnológica, pela questão do desenvolvimento de produtos digitais.

“Esse eixo deve crescer significativamente, ao lado ainda da economia criativa tradicional, que era circunscrita mais ao empreendedorismo e à produção cultural. Hoje, a produção cultural tem um componente digital muito forte”.

Empregos

Guerra explicou que o aumento do número de empregos projetado para a economia criativa ocorrerá tanto no mercado formal, com carteira assinada, como no informal. “Isso pode ser percebido quando você olha a média salarial. São funções dentro do mercado formal de trabalho que já são valorizadas hoje e tendem a ganhar mais relevância nos próximos anos.”

O levantamento do observatório mostra que os profissionais da economia criativa possuem, em média, 1,8 ano de estudo a mais que os demais e recebem salários 50% maiores do que os profissionais de outras áreas. O salário médio do profissional da economia criativa é R$ 4.018, enquanto dos demais setores fica em torno de R$ 2.691.

Os salários mais altos são encontrados na parte de produção cultural e de criatividade relacionada à tecnologia, incluindo produção de aplicativos, desenvolvimento de softwares (programas de computador), design, desenvolvedores de games (jogos). “Essas profissões ganham mais relevância aos empregos tradicionais. Isso vai fazer com que os salários aumentem anda mais em relação à média da economia brasileira.”

Dentre os estabelecimentos da economia criativa no Brasil, 111,2 mil estão concentrados em micro e pequenas empresas, atrelados à questão do próprio empreendedorismo, sendo 86.917 microempresas e 24.381 pequenas empresas. As médias e grandes empresas juntas representam menos de 6 mil estabelecimentos.

Há uma concentração elevada de empresas de economia criativa no Sudeste (56.222) e no Sul (31.643) do país. Guerra argumentou que dada à dinâmica que tem acontecido na economia como um todo, vê-se um movimento interessante também nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, onde o número de estabelecimentos do setor, atualmente, alcança 2.939, 16.880 e 9.438, respectivamente.

Moda

No campo do empreendedorismo, a categoria moda reúne o maior número de estabelecimentos (45.874), seguida por publicidade e serviços empresariais (20.871), serviços de tecnologia da informação (11.712), desenvolvimento de software e jogos digitais (9.771) e atividades artesanais (8.398). “A concentração em micro e pequenas empresas, geralmente, é puxada por artesanato e moda. É onde você tem mais gente trabalhando, na ótica da economia criativa.”

Guerra destacou, por outro lado, que não é difícil se encontrar hoje, nas grandes capitais, artesanatos realizadas com tecnologia 3D, por exemplo. “Você começa a ter tecnologias transformando essas profissões que tinham caráter manual e que, agora, têm tendência a serem mais tecnológicas”. Também o uso de softwares começa a se disseminar entre as pequenas empresas, visando a criação de novas peças.

O levantamento aponta que o uso de Inteligência Artificial (IA), aliada à automação, por exemplo, pode servir para acelerar processos criativos. De acordo com o Índice de Desenvolvimento do Potencial da Economia Criativa, as cidades brasileiras com maior potencial de emprego na indústria criativa são Florianópolis, Vitória, São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba.

Na indústria criativa, a sondagem aponta que os setores que devem liderar a criação de empregos são publicidade e serviços empresariais, desenvolvimento de softwares e serviços de tecnologia da informação (TI), arquitetura, cinema, rádio e TV e design.

Política nacional

Desde o ano passado, está tramitando no Congresso Nacional o Projeto de Lei 2.732/2022 que cria a Política Nacional de Desenvolvimento da Economia Criativa. O projeto prevê, entre outras medidas, parceria entre empresas e universidades para qualificação profissional; desenvolvimento de infraestrutura para as dinâmicas econômicas dos setores criativos; promoção e fortalecimento de ecossistemas de inovação em territórios criativos para o desenvolvimento local e regional.

Márcio Guerra avaliou, entretanto, que diante das prioridades atuais do governo federal, a discussão sobre esse projeto deverá ficar para segundo plano, embora o tema seja de importância para o fortalecimento da economia. “Mas vai chegar”, afirmou. O projeto coloca em evidência o setor da economia criativa, regula melhor essa atividade, torna mais clara a questão de parcerias entre universidades e empresas, aborda investimento em infraestrutura, com fundos mais destinados ao setor, bem como políticas públicas.

Após alta no PIB, analistas apontam força do consumo interno
Juros altos e taxa de investimento são vistos como desafios

Da Agência Brasil

O crescimento de 0,9% da economia brasileira no segundo trimestre deste ano ante os três meses anteriores deu sinais da força do consumo interno, avaliam especialistas ouvidos pela Agência Brasil. Eles apontam sinais positivos e desafios após conhecerem dados do Produto Interno Bruto (PIB), ou seja, a soma de todos os bens e serviços produzidos no país, divulgados nesta quinta-feira, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). 

O professor Ecio Costa, do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), minimizou o recuo de 0,9% da agropecuária no segundo trimestre, em relação aos três primeiros meses do ano. Ele atribui o resultado ao comportamento sazonal da safra da soja, concentrada no começo do ano.

Para Costa, os resultados mostram que a principal máquina da economia brasileira é o setor de serviços, que cresceu 0,6% no trimestre. “Representa mais de 70% do PIB e quando cresce, puxa a economia”, aponta.

Demanda na indústria

Sobre o comportamento da indústria, que apresentou avanço de 0,9% no trimestre, o professor da UFPE explica que é um desempenho relacionado à produção encomendada para o consumo de fim de ano, que é fabricada meses antes. Ele aponta ainda iniciativas do governo como subsídios ao consumo, que aquecem a produção industrial.

“Você tem o Bolsa Família com valor mais elevado, incentivos que foram dados como para aquisição de veículos, por exemplo”, cita Costa, que faz uma ressalva: “o custo do crédito ainda está bem elevado”.

O professor de economia destaca também que “a indústria ainda está muito distante do seu maior patamar da série histórica, que aconteceu em 2013. A indústria precisa se recuperar e, talvez, a reforma tributária venha ajudar nesse sentido”.

Crescimento projetado

Para o restante do ano, Costa acredita em mais crescimento. “O setor de serviços termina sendo puxado pelo consumo no segundo semestre, e as indústrias também produzem mais no segundo semestre. Em geral, quando a gente observa a série histórica [do IBGE], o segundo semestre é melhor que o primeiro, então se já tivemos um desempenho positivo, deve haver um crescimento importante para a economia brasileira em 2023”, prevê.

Um fator negativo apresentado pelo professor na divulgação do IBGE é a taxa de investimentos (17,2%), que caiu na comparação com o ano passado (18,3%). “A economia cresce de maneira sustentável com mais investimento. O Brasil está com patamar baixo de investimento”, lamenta.

Para Mauricio Andrade Weiss, professor de economia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o Brasil mostrou uma mudança no perfil de crescimento do PIB. Enquanto o primeiro trimestre foi puxado pela agricultura, o segundo teve participação mais marcante dos serviços, e não apenas os serviços relacionados com o agro, como transporte e armazenamento da produção agrícola.

“Agora a parte de serviços está mais ampliada para uma diversidade maior de setores. É um bom sinal para o país, indica uma sustentabilidade maior do investimento comparado ao que a gente tinha no primeiro trimestre”, considera.

Políticas públicas

O professor da UFRGS aponta que a chamada PEC da Transição, iniciativa do então governo de transição aprovada pelo Congresso no fim do ano passado para abrir espaço no orçamento para financiar programas do governo, foi um dos fatores que têm possibilitado o crescimento do PIB em 2023.

“Você tem uma ampliação do Bolsa Família, a retomada do Minha Casa, Minha Vida, aumento da renda dos aposentados, aumento real do salário mínimo, todos esses programas auxiliam na renda. Os efeitos não tinham sido observados no primeiro trimestre, mas foram sentidos nesse segundo trimestre”, pontua.

Para o ano de 2023, Weiss acredita em um crescimento da economia perto de 3%. Ele cita o corte na taxa de juros, iniciado em agosto, e o programa Desenrola, que permite a renegociação de dívidas, como medidas que começarão a ser sentidas no fim do ano. Na visão dele, o cenário é de “otimismo, com uma taxa de crescimento continuada”.

O economista Bruno Sobral, professor da Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), enxerga dados positivos no comportamento do PIB no segundo trimestre, como um crescimento de serviços ligados a áreas produtivas da economia. Programas de transferência de renda também foram avaliados como tendo uma influência positiva para a economia, melhorando o mercado de trabalho e impulsionando o consumo das famílias.

Desafio na indústria

Porém, Sobral ressalta desafios importantes. Um deles é relacionado ao setor industrial, que teve o crescimento puxado principalmente pela indústria extrativa (1,8%), relacionada ao petróleo, gás e mineração. Para o professor, a indústria de transformação (fábricas que transformam matéria-prima em um produto final ou intermediário) fica devendo, de forma recorrente, a ponto de o setor como um todo não ter conseguido ainda atingir o ponto máximo da série histórica do IBGE, que foi em 2013.

“É fundamental ter políticas de desenvolvimento econômico de uma maneira mais concreta, um plano de reindustrialização”, aponta. “Pensando essa recuperação para setores de inovação, setores que fortaleçam complexos econômicos estratégicos, de alta produtividade”.

Uma situação que se entrelaça com a baixa taxa de investimento no país. “Pensando a taxa de investimento como algo que possa fortalecer as infraestruturas, as bases fundamentais para a recuperação econômica”, destaca.

Outro desafio sinalizado pelo economista da Uerj, que estima um crescimento do PIB perto ou até maior que 3% em 2023, é o nível alto de juros, que impulsiona a inadimplência. “Ainda há um problema de inadimplência, um desafio para obtenção de crédito. Se superado, o crescimento seria ainda maior”.