A advogada Paula Tavares, especializada em Gênero pelo Banco Mundial, apresentou, no último dia 18, no Grupo de Pesquisas em Direito, Gênero e Identidade (GDPG) da Escola de Direito de São Paulo (FGV Direito SP) os resultados da pesquisa “Women, Business and The Law 2018” formulada pelo Banco Mundial, que analisa o marco legal e regulatório que afeta a capacidade econômica e o empreendedorismo das mulheres.
No caso brasileiro, apesar de somar mais da metade da população, as mulheres compõem 43% da força de trabalho, ocupam tão somente 37,8% dos cargos gerenciais e, em relação à representação política, perfazem apenas 10,5% do corpo político. E, apesar de ter mais qualificação que os homens, o salário das mulheres equivale a 25% menos.
Ligia Paula Pires Pinto Sica, coordenadora do GDPG, destacou que a sub-representação feminina ainda piora quando se avança na cúpula de decisão das empresas. Ela cita pesquisa que coordenou na própria FGV Direito SP, a qual concluiu que, nos últimos 20 anos, o percentual de cargos de comando nas empresas variou entre 7% e 12%, expressos em cargos de diretoria, presidência ou conselho de administração ocupados pelas mulheres. Paula Tavares citou pesquisa do FGV-GPDG que corrobora dados também trazidos pelo Banco Mundial.
“As políticas de licença maternidade e paternidade influenciam bastante no custo gerado pela gravidez. Há leis muito mais avançadas do que o Brasil nesse tema – a exemplo de Portugal, França, Islândia e Japão”.
Para as pesquisadoras, sem uma intervenção consistente do Estado, por meio da adoção de políticas públicas que incentivem a inserção e a melhor qualificação das mulheres em todos os ambientes.
Mulheres podem ganhar até 38% que colegas homens que atuam na mesma função, segundo estudo elaborado pelo site de anúncios de empregos Catho. A levantamento revela que a desigualdade salarial ocorre em todos os setores e entre trabalhadores com diferentes níveis de instrução.
A pesquisa foi feita com 7.957 profissionais. A maior disparidade, de 38%, foi registrada entre consultores e consultoras. Enquanto os homens recebem, em média, R$ 5.456,64 para desempenhar a função, as mulheres ganham R$ R$ 4.091,50. Em geral, a discrepância tende a ser maior nas maiores faixas salariais. A diferença entre remunerações de presidentes, diretores ou gerentes, por exemplo, chega a 31,84%. Nos cargos que pagam menos, a desigualdade é menor, mas persiste: entre assistentes, chega a 8,22%.
Quando a divisão é feita por escolaridade, a maior desigualdade também é observada entre os mais qualificados. Mulheres que têm MBA, por exemplo, ganham cerca de R$ 5.811,80, pouco mais que a metade do que ganham os homens com o mesmo nível de instrução (R$ 10.106,18).
Na avaliação da Catho, autora do estudo, houve avanços na redução das desigualdades, mas ainda há desafios. “O maior acesso à educação superior influenciou bastante na redução da desigualdade. A internet também tem papel de peso nesse processo, já que permite mais informação e contato com outras mulheres. No entanto, as diferenças ainda são significativas e a verdade é que estamos longe da equiparação salarial, como podemos observar na pesquisa. Em especial quando percebemos que elas ainda ganham menos que eles em todas as áreas de atuação consultadas”, ressalta Kátia Garcia, gerente de relacionamento com cliente da Catho, em comunicado, destacando a importância de políticas de equiparação salarial nas empresas.
A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Cármen Lúcia, disse hoje (8) que o Dia Internacional da Mulher é um dia de reflexão sobre o que fazer para combater a violência contra a mulher. A manifestação da ministra foi motivada pelas homenagens recebidas pelos colegas durante a sessão da Corte.
Na sessão desta tarde, Cármen Lúcia citou casos que acompanhou no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão que também preside, onde ouviu relatos de mulheres que foram espancadas por seus companheiros por decidirem terminar o relacionamento. A ministra também citou uma situação vivida por uma juíza de uma vara de violência doméstica em São Paulo que foi agredida por um homem após decretar medidas protetivas contra ele com base na Lei Maria da Penha.
Aos colegas, a ministra disse que os tempos atuais mostram como as mulheres estão sofrendo. “Leio Dostoevsky desde os 14 anos de idade, e nunca li nada do que tenho lido nos processos que todos nós juízes leem, mas certamente a leitura que nós fazemos hoje da vida é muito diferente, até pela solidariedade, que ainda é muito rara com as mulheres. Continuamos sendo seres vulneráveis, seres que respondem por esta vulnerabilidade por uma única circunstância, somos mulheres. Ninguém reagiria, talvez, com a violência de tentar, com um pedaço de pau, dizer que você não passa de um bicho e, por isso, merece morrer como tal”, disse a ministra.
Ana paula Alfredo é coach e membro do Grupo Nikaia
Empreender é uma aventura. É preciso coragem. É preciso vontade. É preciso persistência. Todos sonhamos, mas empreender é apostar que vai dar certo e agir para que isso aconteça. Ao ler essas frases, feche os olhos e imagine o perfil que estamos descrevendo… E aí? Você pensou em uma figura masculina? As estatísticas dizem que é bastante provável que isso tenha acontecido. Mas, empreendedorismo é sim realidade para milhões de mulheres em todo mundo.
De acordo com o relatório da Global Entrepreneurship Monitor (GEM) Women, em 2016, cerca de 160 milhões de mulheres iniciaram ou abriram novos negócios. Com um número tão significativo, não há como ignorar o impacto da presença feminina no empreendedorismo. O levantamento aponta ainda que o índice de atividade empreendedora (TEA), ou seja, a porcentagem da população adulta, entre 18 e 64 anos, que empreenderam em algum momento, para a população feminina, aumentou em 10% em comparação ao período anterior e o gap de gênero foi reduzido em 5%.
No Brasil, a presença feminina é ainda mais forte do que a média mundial, se destacando em um seleto grupo de cinco países pesquisados, onde há equilíbrio entre os empreendedores de ambos os sexos. E por que isso acontece? O GEM divide as motivações em dois grandes grupos: a necessidade e a oportunidade. Em terras brasileiras as mulheres têm maior tendência em empreenderem por necessidade enquanto os homens mais por oportunidade. Num cenário de maior desemprego e num país onde 40% dos lares são chefiados por mulheres, faz sentido esse indicador.
A imagem da mulher empreendedora no Brasil é bem menos glamorosa do que a figura criada no início do artigo. Segundo a pesquisa “Quem são elas”, realizada pela Rede Mulher Empreendedora, 55% das empreendedoras brasileiras têm filhos. E destas, dois terços decidiram investir em um novo negócio depois da maternidade, com esperança de uma melhor qualidade de vida e de poder equilibrar seus diferentes papeis.
Mas, isso não é realidade apenas do Brasil. O grau de empreendedorismo está relacionado a existência ou não de políticas de apoio a mulheres com filhos, como licença maternidade, creches públicas e opções de trabalho em meio período. Essa é uma das conclusões do estudo de Sarah Thebaud que identificou uma correlação entre um menor número de mulheres empreendedoras em países com mais políticas de apoio à classe feminina trabalhadora (em geral, países mais desenvolvidos), e que acabam optando, muitas vezes, por buscar um trabalho em uma empresa ao invés de empreender.
As mulheres têm uma visão positiva das oportunidades e percebem o empreendedor de forma favorável, entendendo que essa é uma atividade que deve ser admirada, até pelos muitos exemplos que temos no país. Porém, o medo de fracassar é um empecilho e 60% das que tinham intenção de empreender não o fizeram por esse motivo.
Além de acumular em grande parte o trabalho doméstico, as barreiras para a mulher não param aí. Segundo pesquisa divulgada pela Rede Mulher empreendedora, realizada com 800 mulheres entre agosto e setembro de 2017, 30% dos novos negócios (com até três anos de funcionamento) são informais e a falta de dinheiro é apontada como principal causa para isso. Por outro lado, 73% das mulheres teriam interesse na expansão de seus negócios se a opção de investimento fosse possível. Contudo, o acesso a crédito é outro obstáculo apresentado ao empreendedorismo feminino, já que, segundo o mesmo estudo, é bem mais difícil para uma mulher conseguir o investimento do que um homem.
Mas se por um lado há muitas dificuldades, por outro, o perfil da mulher apresenta pontos positivos para empreender. São muitas as características femininas que favorecem seu sucesso como empreendedoras, como a habilidade de lidar com pessoas, a escuta ativa, a habilidade de solução de problemas e a capacidade multitarefas. Seja para sustentar suas famílias ou como forma de realização pessoal, a realidade é que as mulheres entraram para valer nesse mundo empreendedor nos últimos anos, gerando empregos e fornecendo produtos e serviços de alto valor. Trazer esse assunto para a discussão é sim uma forma de criar consciência e colaborar para que mais mulheres enxerguem o empreendedorismo como opção e não como a única saída.