A movimentação do setor de saúde visando novos M&As
Dasa desperta interesse de grandes redes do segmento

Publicada inicialmente na Veja Negócios. Leia aqui.

Instalações do grupo Fleury. (Foto: Divulgação/Fleury)

A compra do laboratório São Lucas pela rede de serviços médicos Fleury, sacramentada na semana passada, foi o primeiro sinal do reaquecimento do setor. A última grande movimentação havia ocorrido em 2022, quando a Rede D’Or comprou a SulAmérica. Quem acompanha de perto o mercado de saúde garante que fusões e aquisições, os chamados M&As, serão retomadas com força no setor em 2024. Há um grande negócio em vista: Rede D’Or, Bradesco Saúde e Amil estariam interessadas no grupo de diagnósticos Dasa.

 

Pandemia acelera consolidação
Até maio, operações somam R$ 221,6 bi e cenário é de mais negócios

 

Do Valor Econômico

A pandemia acelerou este ano os processos de fusões e aquisições de companhias fragilizadas pela crise. De um lado, estão grupos capitalizados que buscam melhorar sua eficiência com a compra de rivais. De outro, empresas com dinheiro em caixa estão fechando transações para diversificar seus negócios.

Nos primeiros cinco meses do ano, o volume de transações atingiu a marca de 693, alta de 37,23% sobre o mesmo período do ano passado e 20,3% acima de janeiro a maio de 2019, segunda a consultoria espanhola TTR. O número supera, portanto, a base de 2019, antes do início da crise que, inicialmente, paralisou essas transações.

Em valores, as operações atingiram R$ 221,6 bilhões, alta de 334,50% sobre igual período do ano passado e 83% acima de 2019. A TTR inclui em suas estatísticas transações que não envolvem necessariamente assessores financeiros na intermediação. Dados da Dealogic mostram a mesma tendência. A consultoria registrou 237 transações de janeiro a maio deste ano, ante 185 sobre janeiro a maio do ano passado. Em valor, as operações alcançaram US$ 49,671 bilhões (R$ 250 bilhões, ante US$ 5,941 bilhões (R$ 29,9 bilhões), aumento de 736% sobre os cinco meses de 2020.

Para este ano, as projeções de especialistas, assessores e bancos ouvidos pelo Valor apontam para um volume de operações superior a 2020, voltando a patamares pré-covid-19. Com o cenário de juros em baixa e maior liquidez, ganha força o movimento de consolidação de empresas nacionais. O câmbio apreciado, que torna os ativos mais baratos, também estimula a entrada de empresas estrangeiras. Mas, diante das incertezas econômica e política, esse tipo de investidor costuma ficar mais receoso para fechar negócios no país.

“O avanço dessas operações não são necessariamente para concentração de mercado. Há negócios para capturar sinergias e entrada em novos mercados”, observa Sílvio Laban, professor do Insper, a respeito da mudança de perfil das transações recentes no país. “O movimento que estamos vendo é muito mais de empresas não concorrentes do que as que disputam o mesmo mercado. Vamos ver mais compras de empresa não-competidoras, mas, sim, complementares”, aponta Ulysses Reis, coordenador do MBA de Varejo da Fundação Getúlio Vargas.

Há consenso de que setores de tecnologia e operações financeiras continuarão liderando o total de transações. Mas saúde, educação, varejo e agronegócio devem protagonizar importantes negociações. Para os próximos meses, dois negócios de peso na área petroquímica estão para serem anunciados – a venda da Oxiteno, que pertence ao grupo Ultra, e a venda da fatia da Odebrecht na Braskem, transação que pode ser a maior do ano.

No setor aéreo, a concentração poderá ser maior, se as conversas da Azul com a Latam avançarem. O setor de moda aguarda os próximos passos da Arezzo, que tentou comprar a Hering, mas foi atravessada pelo grupo Soma. Ainda há conversas entre Vivara e H.Stern, que estão na fase de diligência dos números, diz uma fonte.

O setor de saúde movimentou, recentemente, em apenas sete dias, R$ 1,5 bilhão em negócios com a conclusão de sete transações envolvendo os principais grupos do país. O setor de educação passa pelo mesmo movimento, diz Carlos Mello, sócio do escritório Souza, Mello e Torres Advogados. O escritório de Mello assessorou a Fael, faculdade de ensino a distância comprada pela gigante Ser. “Veremos os maiores players em educação comprando empresas médias do setor”, diz Mello.

Com o mercado de capitais aquecido, com empresas indo à bolsa em 2020 e 2021, as ações viraram a principal moeda nos movimentos de fusões e aquisições, diz Gustavo Miranda, responsável pela área de banco de investimento do Santander. “Empresas de capital aberto também voltaram à bolsa para se capitalizar, preparando-se para expansão”, diz.

Foram os casos da Renner, que levantou quase R$ 4 bilhões (e estuda comprar pequenos negócios, como startups de tecnologia, diz fonte), e da rede de hospitais D’Or, que fez em dezembro um dos maiores IPOs da história da bolsa, com R$ 11,4 bilhões, e mais R$ 1,8 bilhão em uma oferta subsequente em março.

Há o efeito do barateamento de ativos. “Isso fez com que investidores voltassem mais os olhos para as empresas abertas. Mas também há grupos fechados, sem maiores dificuldades financeiras, que estão pensando: ‘Já cheguei até aqui, sobrevivi à crise, qual meu próximo passo?”, diz Douglas Carvalho, sócio da Target Advisor, butique de fusões e aquisições (M&A). Para ele, ainda há uma questão de “timing” certo. “Tem muita companhia que sabe que podem vir outras crises, e o ano eleitoral está chegando, o que gera instabilidade. Há outras empresas que entendem que é a hora de realizar [o lucro, se desfazendo de sua posição]. Isso tudo aumenta os M&As.”

Pedro Quintão, responsável pela área de M&As do Bradesco BBI , lemra que há uma corrida pela digitalização, sobretudo nas áreas de varejo e operações financeiras. Isso obriga as companhias a fecharem acordos com empresas com outras ‘expertises’ para reforçar a própria estrutura. É o caso, por exemplo, de Magazine Luiza, Via e B2W. Só o Magalu fez 16 aquisições de plataformas e startups de janeiro de 2020 a abril deste ano.

O Bradesco BBI, Itaú BBA e Santander estão com maior fluxo de mandatos neste ano em relação ao ano passado. “As incertezas sobre o futuro em junho deste ano são menores em relação ao mesmo período do ano passado”, diz Quintão.

Para Cristiano Guimarães, diretor-executivo do Itaú BBA, os cheques deverão ser maiores. “Veremos transações relevantes. Com a pandemia, surgiram operações não consideradas antes da crise.”

Leonardo Dell’Oso, da consultoria PwC, concorda. Segundo ele, o mercado nacional sempre foi de operações de porte médio.

Segundo Guimarães, apesar da volatilidade nos últimos dois meses, a atividade econômica dá sinais de retomada. “Querendo ou não, a pandemia toca em diversos outros temas, com questões políticas e econômicas. Mas a percepção é que o mercado vai melhorar.”

Diversidade nas empresas é sinônimo de ganhos para os negócios

Atualmente, um dos temas mais abordados na área de Recursos Humanos é a diversidade. Tenho sido bastante questionado sobre o assunto e principalmente sobre o valor que a diversidade agrega não apenas ao ambiente das empresas, mas aos resultados efetivos delas.

A resposta está inserida no competitivo ambiente empresarial dos dias de hoje, em que todas as equipes de uma organização, seja da área operacional ou do alto escalão, devem inovar continuamente, testando novas ações e processos em busca de melhores resultados. É aí que se pode obter uma vantagem: a diversidade — abordada da forma correta, que vai além da questão de gênero — significa reunir pessoas com diferentes histórias profissionais e de vida, que podem contribuir com ideias, vivências e experiências distintas no trabalho em equipe, trazendo formas alternativas de pensar e operar, possibilitando novas estratégias e gerando benefícios efetivos às empresas.

Lidar com equipes assim, entretanto, exigirá cada vez mais dos líderes, pois seus integrantes se motivam e se engajam de formas diversas. Além disso, caberá aos gestores administrar eventuais conflitos entre os membros dessas equipes. Assim, ao abraçar a causa, as empresas precisam se assegurar de que os líderes tenham clareza sobre a sua missão de “liderar as pessoas”, preparando-os para as questões que poderão surgir, até porque já está provado que, quando as dificuldades são superadas, as equipes com diversidade trazem resultados muito superiores às tradicionais.

Mas o treinamento das lideranças não é a única questão a ser observada. A própria formação de equipes com diversidade é um ponto que precisa de atenção. Para criá-las é essencial contratar profissionais considerando as competências necessárias, independente de possuírem alguma deficiência e da cor da pele, gênero, religião, classe social ou idade.

Isso significa que os recrutadores devem deixar de lado os vieses inconscientes nos processos seletivos. Porém essa não é uma tarefa simples: afinal, avaliar um candidato sem nenhum pré-julgamento é algo complexo, já que aprendemos a trabalhar dessa forma e fizemos assim a vida inteira. Nesse cenário, o apoio de um software de inteligência artificial em processos seletivos pode facilitar a valorização da diversidade, pois levará às entrevistas finais apenas os selecionados a partir de critérios predefinidos, com objetividade, sem a intervenção humana. A partir daí, se continuarmos a verificar um mesmo padrão na contratação, o problema pode estar no decisor final, e então a solução será um treinamento para esse profissional.

Vale a pena frisar que nenhum sistema é infalível e muitas vezes os programas podem refletir os vieses inconscientes daqueles que os desenvolveram. É por isso que temos visto empresas revendo seus processos de seleção por AI, já que a ferramenta pode aprender um comportamento existente na companhia, não condizente com o apoio à diversidade. É famoso o exemplo da Amazon, que investiu uma quantia considerável na elaboração de um sistema seletivo por AI para profissionais de TI para depois abandoná-lo quando notou que ele continuava recrutando apenas homens, repetindo um padrão que a empresa queria evitar.

A seleção às cegas segue o mesmo raciocínio relacionado à AI. Nesse caso, o RH promove a seleção, mas apresenta os finalistas aos decisores sem mostrar critérios passíveis de discriminação. Isso não se configura, porém, em uma garantia de isenção, o que só é possível de se obter se todas as perguntas a seguir forem respondidas de forma positiva:

· Nas etapas anteriores do processo seletivo garantimos que todos foram avaliados de forma objetiva?
· O RH está encaminhando os finalistas com base apenas em critérios justos?
· Os decisores que estão fazendo as entrevistas finais foram treinados para avaliar os candidatos deixando de lado seu viés inconsciente?

Nenhum processo é fácil ou infalível, mas decisões pessoais em processos seletivos certamente dificultam a criação de um ambiente com diversidade. Isso porque sempre que precisamos tomar uma decisão, nossa tendência natural é ir pelo caminho que já conhecemos, repetindo padrões existentes. Por exemplo, se estamos procurando um profissional comunicativo, a tendência é escolher alguém do gênero feminino, e se procuramos alguém que tome decisões frias e duras, a tendência é procurar alguém do gênero masculino. Isso acontece porque aprendemos que os gêneros possuem diferentes competências comportamentais.

Porém, quando analisamos dados e fatos, percebemos que as mulheres e os homens possuem a mesma distribuição estatística de competências dentro da população. Não é verdade que as mulheres são mais comunicativas nem que os homens são mais frios nas tomadas de decisão. Essas competências estão presentes na mesma frequência entre os membros da nossa sociedade.

Para viabilizar a inclusão é vital investir em processos de decisão justos e objetivos, que avaliem competências comportamentais e não apenas as técnicas. E se usarmos os critérios corretos para recrutamento e seleção, a tendência é que, com o passar do tempo, as equipes reflitam a diversidade da população, tornando inclusive desnecessária a criação de cotas de contratação para um ou outro grupo da sociedade.

Claro que também precisamos investir no treinamento de forma geral, para que todos os profissionais sejam tratados com respeito e equidade em um ambiente que possibilite uma inclusão ampla e real, de forma que a questão da aceitação da diversidade não fique restrita ao processo seletivo.

Temos avançado bastante na questão da diversidade e só o fato do assunto estar constantemente em pauta entre profissionais de todos os níveis e áreas já demonstra que existe uma preocupação real relacionada à questão. O que não podemos negar é que ainda há muito que fazer: temos que encarar o problema de frente e pensar na diversidade como um todo. Mas acredito que se formos justos desde o início de um processo seletivo, tratando todos com igualdade, justiça e respeito, certamente estaremos fazendo parte da mudança, agindo a favor da inclusão e trabalhando para que as empresas tenham resultados cada vez melhores em seus negócios.

*Marcelo Souza é CEO do Grupo Soulan e Country Manager da Thomas International Brasil

Luxottica, fabricante da Ray Ban e Oakley, se une a Essilor e cria gigante das óticas

Com a fusão, a Luxottica deverá sair do mercado de ações

A italiana Luxottica, maior fabricante mundial de óculos de luxo — é dona de marcas como Ray Ban e Oakley — e a francesa Essilor — líder global em lentes de contato— anunciaram nesta segunda-feira uma fusão de € 46 bilhões que cria uma potência global no setor de óticas, com receitas superiores a € 15 bilhões.

A nova empresa se chamará EssilorLuxottica e terá suas ações negociadas na Bolsa de Paris. O quadro de funcionário chegará a 140 mil pessoas, e a empresa venderá seus produtos em mais de 150 países.

Pelos termos do acordo, o fundador da Luxottica, Leonardo Del Vecchio, de 81 anos, terá participação entre 31% e 38% na empresa combinada, por meio de sua empresa familiar, Delfin, o que o tornará o maior acionista da companhia.

Del Vecchio, que há dois anos voltou a trabalhar na Luxottica após uma década fora dos negócios, será o diretor executivo da nova empresa,

A Delfin, que tem 62% da Luxxotica, entregará uma ação do grupo italiano para casa 0,461 papel da Essilor.

A francesa, por sua vez, fará uma oferta obrigatória de troca de todas as ações restantes da Luxottica, na mesma proporção, a fim de tirar a italiana do mercado de ações.

Hubert Sagnières, presidente do conselho e diretor-executivo da Essilor, será vice-presidente executivo EssilorLuxottica, mantendo os poderes dos cargos que ocupa atualmente.

Leia aqui a matéria original.