Endividamento segue em alta em junho, com foco crescente em dívidas de curto prazo, aponta CNC
Mesmo com estabilidade geral, inadimplência aumenta entre as famílias de classe média

Da Redação

Pelo quinto mês consecutivo, a Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de junho apontou crescimento do percentual de famílias endividadas no Brasil, que chegou aos 78,4%. No mês de maio, o índice foi de 78,2%.  Apesar do avanço, o patamar aferido pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC) é inferior ao registrado no mesmo período de 2024 (78,8%).

O levantamento também mostrou alta da percepção sobre estar “muito endividado”, sendo este o sentimento de 15,9% dos núcleos familiares frente aos 15,5% do mês anterior. Apesar disso, não houve piora nos indicadores de inadimplência: 29,5% dos lares seguem com contas em atraso e 12,5% não terão condições de quitá-las, espelhando maio.

O tempo de endividamento, no entanto, tem diminuído. O comprometimento com dívidas de prazo de mais de um ano caiu pelo sexto mês seguido, para 32,2%, atingindo assim o menor nível desde março do ano passado (31,7%). A maior concentração de dívidas está, agora, em até seis meses, deixando claro que as famílias têm optado pelos compromissos mais curtos.

“Os consumidores estão preocupados com os custos de prolongar dívidas. Esse comportamento revela uma postura mais consciente diante do crédito mais caro, em meio a um cenário em que a inflação permanece pressionando o orçamento doméstico. Esses fatores podem limitar a recuperação do consumo nos próximos meses”, afirma o presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac, José Roberto Tadros.

Dívidas atrasadas por menos tempo

Acompanhando a mesma tendência, também caiu o tempo de inadimplência. Agora, as famílias com contas vencidas há mais de 90 dias representam 47,3%, o que reduziu o tempo médio das dívidas em atraso para 64,1 dias. Na última pesquisa mensal, a média constatada foi de 64,3 dias.

Outra boa notícia é que o comprometimento da renda apresentou melhora. O percentual de famílias que entregam mais da metade da renda para o pagamento dos débitos caiu para 19,2%, fazendo a média do orçamento familiar destinada a este fim cair para 29,6% – um recuo de 0,2 ponto percentual frente a maio e de 0,3 p.p. frente a junho de 2024.

Carnês ganham espaço

Entre os tipos de dívida, o cartão de crédito segue liderando, sendo utilizado por 83,8% dos endividados, apesar da queda de 2,5 p.p., no comparativo com o mês equivalente de 2024. Os carnês, por outro lado, aumentaram sua participação em 1 ponto percentual, em um ano, chegando a 17%, na segunda colocação de modalidade mais usada. Logo atrás, aparece o crédito pessoal, que cresceu 0,6 p.p. nos últimos 12 meses. Carnês e crédito pessoal, no entanto, tiveram tímidas reduções de 0,2 p.p. e de 0,1 p.p., respectivamente, em referência a maio.

Classe média mais inadimplente

A pesquisa da CNC revelou ainda que a alta do endividamento de junho foi puxada pelas famílias cuja renda é de três até cinco salários mínimos: o índice passou de 80,3% para 80,9% no intervalo de um mês, com este grupo ficando mais inadimplente 0,5 p.p. no período.

Já as famílias com renda entre cinco e dez salários mostraram leve queda do percentual de endividados, 78,7% (-0,2 p.p.), em relação a maio, mas piora de 0,1 p.p. nas contas atrasadas, chegando a 22,9%. As duas segmentações por faixa de renda apresentaram números piores que os de junho de 2024, tanto no endividamento quando nas contas em atraso.

De acordo com o economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, o avanço no endividamento entre as famílias brasileiras deve continuar ao longo do ano.

“A tendência é que até o fim do ano esse número suba ainda mais. No entanto, a expectativa de aumento da inadimplência pode conter esse crescimento. A CNC projeta famílias mais endividadas em até 2,5 pontos percentuais e mais inadimplentes em 0,7 ponto percentual. O cenário exige atenção, especialmente com o impacto de novos programas de crédito do governo”, avalia Bentes.

Endividamento sobe para 77%, mas com mudança no comportamento financeiro das famílias
Percentual de consumidores que se consideram muito endividados é o menor desde 2021, mas inadimplência é a mais alta em 12 meses

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (Peic) de novembro, realizada mensalmente pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), aponta mudanças nas modalidades de crédito e comportamento financeiro das famílias. O endividamento subiu levemente em novembro de 2024, atingindo 77% do total, comparado a 76,6% no mesmo período de 2023. Essa alta reflete o maior uso do crédito para compras de fim de ano, mas também aponta uma gestão mais cautelosa do orçamento. O percentual de consumidores que se consideram “muito endividados” caiu para 15,2%, o menor nível desde novembro de 2021.

Por outro lado, a inadimplência segue em alta, com 29,4% das famílias reportando dívidas em atraso – o maior patamar desde outubro de 2023. O número de consumidores que afirmam não ter condições de quitar suas dívidas aumentou para 12,9% (em outubro, esse percentual era de 12,6% e, em novembro do ano passado, 12,5%).

“O aumento sazonal do crédito é esperado nesta época do ano, mas o perfil mais equilibrado das dívidas indica uso mais consciente, com menor impacto na renda mensal”, afirma José Roberto Tadros, presidente do Sistema CNC-Sesc-Senac. Ele destaca a importância de prazos mais longos no planejamento financeiro familiar.

Projeções para dezembro mostram estabilidade na inadimplência

A CNC projeta que o endividamento continuará crescendo em dezembro, impulsionado pelas compras de Natal. Entretanto, a inadimplência deve permanecer estável, dado o ajuste das famílias ao cenário de juros altos.

“A recuperação do consumo depende de uma gestão responsável do crédito. Apesar de um leve aumento do endividamento, o impacto na renda mensal tem diminuído, refletindo o esforço das famílias em manter suas contas equilibradas mesmo diante de adversidades econômicas”, avalia Fabio Bentes, economista-chefe da CNC em exercício.

Famílias de menor renda enfrentam mais dificuldades

Entre as famílias de menor renda (0 a 3 salários mínimos), o endividamento aumentou para 81,1%, o maior índice entre todas as faixas. Essas famílias também registraram o maior percentual de inadimplência, com 37,5% relatando dívidas em atraso, e 18,5% afirmando não ter condições de quitar os débitos.

Por outro lado, famílias com renda acima de 10 salários mínimos reduziram seu endividamento para 66,7%, com 14,6% reportando dívidas em atraso e apenas 5% afirmando não ter condições de pagá-las. Esse comportamento reflete maior capacidade de planejamento financeiro e menor dependência de crédito.

Menor comprometimento da renda e prazos mais longos ajudam na estabilidade

O comprometimento médio da renda com dívidas foi de 29,8% em novembro, uma leve queda em relação a outubro. Além disso, o percentual de consumidores com mais da metade da renda comprometida caiu para 20,3%, o menor índice desde agosto de 2024.

Os prazos mais longos para quitação de dívidas também avançaram, atingindo 35,9% das famílias endividadas, o maior nível desde dezembro de 2021. Essa mudança tem ajudado a reduzir o tempo de atraso das contas, com queda do percentual de inadimplentes há mais de 90 dias para 49,6%.

Cartão mantém liderança, mas crédito pessoal ganha destaque

O cartão de crédito continua sendo a principal modalidade de dívida, presente em 83,8% das famílias endividadas, embora tenha registrado queda de 3,9 pontos percentuais em relação a novembro de 2023. Já o crédito pessoal manteve-se em destaque, com crescimento de 2,5 pontos percentuais na comparação anual. Apesar de uma leve redução mensal (de 12% em outubro para 11,7% em novembro), ele é favorecido pelas menores taxas de juros entre as modalidades. Carnês, embora ainda relevantes, perderam participação em relação ao ano anterior.