Tabagismo custa R$ 56,9 bilhões por ano ao Brasil

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Taxa de fumantes no país caiu de 15,7% para 10,2% na última década

O Brasil tem prejuízo anual de R$ 56,9 bilhões com o tabagismo. Desse total, R$ 39,4 bilhões são gastos com despesas médicas e R$ 17,5 bilhões com custos indiretos ligados à perda de produtividade, causada por incapacitação de trabalhadores ou morte prematura.

A arrecadação de impostos com a venda de cigarros no país  é de R$ 12,9 bilhões, o que gera saldo negativo de R$ 44 bilhões por ano, revela o estudo Tabagismo no Brasil: Morte, Doença e Política de Preços e Esforços, feito com base em dados de 2015. O trabalho foi apresentado hoje (31), Dia Mundial sem Tabaco, pelo Instituto Nacional do Câncer José de Alencar Gomes da Silva (Inca), em evento no Rio de Janeiro.

A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é a enfermidade relacionada ao tabagismo que mais gerou gastos aos sistemas público e privado de saúde em 2015, com R$ 16 bilhões. Doenças cardíacas vêm em segundo lugar, com custo de R$ 10,3 bilhões. Também entraram no levantamento o tabagismo passivo; cânceres diversos, entre os quais o de pulmão; acidente vascular cerebral (AVC) e pneumonia.

Em 2015, morreram no país 256.216 pessoas por causas relacionadas ao tabaco, o que representa 12,6% dos óbitos de pessoas com mais de 35 anos. O estudo informa ainda que, desse total, 35 mil foram vítimas de doenças cardíacas e 31 mil de DPOC. O câncer de pulmão é o quarto motivo de morte relacionado ao tabagismo, com 23.762 casos. O fumo passivo foi a causa de morte de 17.972 pessoas.

A diretora-geral do Inca, Ana Cristina Pinho, destaca que o tabagismo é a principal causa de mortes evitáveis no mundo. “O Brasil é um dos pioneiros nessas políticas e os números mostram uma relação direta entre o controle do tabagismo e a redução da prevalência de determinados tipos de câncer, relacionados a esse hábito. São doenças absolutamente evitáveis, é um problema mundial, mas a conscientização acerca dos males relacionados ao tabagismo só vem aumentando, e os governos precisam adotar políticas de Estado, de nação, para efetivamente buscar essas estratégias de redução do uso do tabaco.”

Novas medidas

O estudo fez uma simulação para os próximos 10 anos com a elevação de 50% no preço dos cigarros. Essa medida evitaria mais de 130 mil mortes, 500 mil infartos, 100 mil AVCs e quase 65 mil casos de câncer, além de ganhos econômicos de R$ 97,9 bilhões com o aumento da arrecadação tributária e a diminuição dos gastos com a saúde e da perda de produtividade.

Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, que participou do evento por videoconferência, essa é uma das medidas em discussão no governo. “Há uma proposta do aumento de 50% no preço dos cigarros, que implicaria em redução do consumo. Mas, se houver muito contrabando, não teremos o efeito que queremos com o aumento do preço e perderemos o controle da qualidade. Os cigarros contrabandeados representam mais da metade do consumo no Brasil e, evidentemente, não esão sob controle da nossa vigilância sanitária”.

O ministro disse que outra medida é proibir os aditivos de sabores ao cigarro, pois, segundo ele, esse é um subterfúgio para atrair adolescentes para o consumo de tabaco. “Foi uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária [Anvisa] para proibir os aditivos de sabor ao cigarro. Foi judicializado pela indústria do tabaco e está sob julgamento no Supremo Tribunal Federal, sob relatoria da ministra Rosa Weber. Está com pedido de vista. Temos feito visitas, já fui pessoalmente, e temos insistido com a Advocacia-Geral da União para agilizar isso.”

Vigitel

Também foram apresentados hoje os dados da pesquisa Vigilância de Fatores de Risco para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel 2016) relacionadas ao tabagismo. De 2006 a 2016, a prevalência de fumantes na população caiu de 15,7% para 10,2%. Homens fumam mais do que mulheres em todas as faixas de escolaridade, indo de 17,5% para homens e 11,5% para mulheres com até oito anos de estudo e caindo para 9,1% dos homens e 5,1% das mulheres com mais de 12 anos de estudo.

Por faixa etária, a prevalência é 7,4% entre jovens com menos de 25 anos e 7,7% entre idosos com mais de 65. A faixa com mais fumantes, 13,5%, é a de adultos entre 55 e 64 anos. Entre as capitais, Curitiba tem a maior proporção de fumantes (14%), seguida de Porto Alegre (13,6%) e São Paulo (13,2%). A menor prevalência é em Salvador, com 5,1% de fumantes.

Número de fumantes cai 42% entre beneficiários de planos de saúde

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Pesquisa registra que 7,2% dos beneficiários de planos de saúde fumam

O estudo Vigitel da Saúde Suplementar, divulgado hoje (21) pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), revela que os beneficiários de planos de saúde do país fumam 42% menos, se alimentam melhor e praticam mais exercícios, mas ainda há excesso de peso e obesidade em boa parte dessa população.

O estudo Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) é feito pelo Ministério da Saúde desde 2006, em todas as capitais e no Distrito Federal. A partir de 2008, o Vigitel foi ampliado, em parceria com a ANS, e passou a englobar beneficiários de planos de saúde. Esta é a quarta edição da pesquisa envolvendo as duas instituições. As anteriores foram publicadas em 2009, 2012 e 2015, tendo como referência o ano anterior.

O Vigitel da Saúde Suplementar identificou redução de 42% no número de fumantes entre os beneficiários de planos de saúde, que caíram de 12,4%, em 2008, para 7,2%, em 2015. “Isso é muito bom”, disse à Agência Brasil a diretora de Normas e Habilitação dos Produtos da ANS, Karla Santa Cruz Coelho. Significa que a política de combate ao tabagismo, com leis federais e aumento de incentivos fiscais, orientaram e deram mais informações sobre os riscos do tabagismo, segundo ela.

Em contrapartida, ocorreu crescimento de 12,5% na proporção de beneficiários de planos de saúde com excesso de peso. A proporção de 46,5%, em 2008, subiu para 52,3% em 2015. Do mesmo modo, a proporção de obesos nessa população evoluiu 36%, passando de 12,5% para 17% no mesmo período.

Em relação à inatividade física, ou sedentarismo, houve redução de 16,2%. A proporção caiu de 19,1% para 16% na mesma comparação. “Parece que as pessoas estão mais saudáveis, fazendo mais atividades físicas. Isso foi bom, mas ainda não se reflete na redução do peso”. Houve ainda aumento de 21,8% nas pessoas que consomem regularmente a quantidade recomendada de frutas e hortaliças, que alcança cinco ou mais porções diárias durante cinco ou mais dias da semana.O lercentual passou de 27% para 32,9%. “Esse também é um dado positivo para a ANS”, disse Katia.

Fatores de risco

A Agência Nacional de Saúde Suplementar avalia os fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis (DCNT) recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Segundo a diretora, as DCNT matam mais pessoas no mundo por doenças que poderiam ser preveníveis, entre as quais doenças cardiovasculares, neoplasias e doenças respiratórias crônicas. Segundo a OMS, as doenças crônicas não transmissíveis são responsáveis por 70% dos óbitos registrados em 2014, equivalentes a 38 milhões de mortes. No Brasil, as DCNT responderam, em 2013, por 72,6% das causas de morte.

Para reverter esse quadro, Katia Coelho destaca a necessidade de mudanças nos hábitos da população. Na saúde suplementar, a ANS estimula as operadoras a adotarem programas de promoção da saúde e prevenção de doenças que gerem resultados específicos para um grupo de pessoas. “A gente identifica os problemas dentro daquelas operadoras, de forma oportuna, e procede ao monitoramento para que as ações em saúde possam atuar nesses indicadores”, disse ela.

Kátia entende também ser necessário articular a rede de atenção, que deve ser interdisciplinar e intersetorial. Para isso, a ANS desenvolve diretrizes clínicas baseadas em evidências, com foco no excesso de peso e obesidade, “porque precisamos reverter essa questão importante”. O comitê gestor da agência discute periodicamente as ações voltadas para os beneficiários de planos de saúde e planeja sua implementação.

A adesão das operadoras a esses programas é voluntária. Katia destacou, porém, que se elas aderirem, recebem pontuação melhor na ANS. Os programas são cadastrados e avaliados por especialistas que trocam informações com as operadoras participantes de oficinas regionais com a ANS para melhorar os programas. “Muitas já têm resultados positivos e a gente traz para o debate, para que elas apresentem para as outras, dependendo do assunto que estão trabalhando”, salientou.

Exames preventivos

A ANS está em tratativas com o Ministério da Saúde para fazer novo Vigitel este ano, para avaliação da saúde suplementar em 2016. Além dos fatores de risco para doenças crônicas não transmissíveis, o Vigitel avalia exames diagnósticos preventivos do câncer, como mamografia, Papanicolau e de colo de útero.

Segundo a diretora, é muito importante a detecção precoce do câncer de colo de útero e de mama. “A gente observou que 88,3% das beneficiárias de planos de saúde fazem o exame dentro do padrão recomendado para o câncer de mama; 91,9% fizeram o Papanicolau em algum momento da vida, sendo 87,3% nos últimos três anos”, explicou.

A medida serve também para avaliar o acesso a esses exames pelas beneficiárias de planos. A conclusão, disse Katia, é que não há dificuldade para a realização desses exames na saúde suplementar. “E a gente também orienta sobre o diagnóstico precoce dessas doenças, o que permite uma sobrevida melhor dessas pacientes e um tratamento mais adequado”.

A quarta edição do Vigitel da Saúde Suplementar foi feita com base em 53.021 entrevistas por telefone, das quais 30.549 pessoas afirmaram ter plano de saúde, sendo 19.345 mulheres e 11.204 homens.