Imagine um novo tipo de escritório, projetado para estimular as pessoas a fazerem o seu melhor no trabalho. Primeiro, você entra na galeria onde exemplos do trabalho de seus colegas estão pendurados nas paredes e você é inspirado a seguir e superar esses padrões. Então, você passa para o salão, que lembra um espaço de trabalho compartilhado (coworking space, em inglês), com seus sofás e o café, mas é o lar de um tipo de curiosidade combativa que prosperou nos cafés dos séculos XVII e XVIII; suas ideias são desenvolvidas em conversas inteligentes.
Em seguida vem a biblioteca, com material que você precisa estudar para fazer seu trabalho render mais. Depois disso, um cubículo para cuidar da administração. Finalmente, você chega ao espaço onde poderá fazer trabalho mais transformador: as câmaras de “deep work”, protegidas por paredes grossas e à prova de som. Aqui, você passa períodos de 90 minutos trabalhando sozinho na resolução dos problemas mais difíceis.
Esse sonho foi projetado por David Dewane, um professor de arquitetura, que o chamou de “Eudaimonia Machine”, por causa da palavra grega para prosperidade humana. A Eudaimonia Machine é uma visão de um lugar para trabalho sério e criterioso que contrasta dramaticamente com os atuais escritórios de plano aberto e seus equivalentes online: a caixa de entrada do correio eletrônico que fica cheia rapidamente e o aplicativo de conversas Slack.
A propagação pelas startups dos ambientes de trabalho casuais tornou a concentração ainda mais difícil, com os pulos das bolinhas de pingue-pongue e o barulho de garrafas de cerveja sendo abertas.
Cal Newport, um professor de ciências da computação e autor de um blog sobre os hábitos de trabalho, declarou que estamos em uma crise por causa de nossa incapacidade de fazer o “deep work” (o trabalho mais profundo), que também o título de um livro publicado no ano passado. Ele define “deep work” como “atividades profissionais realizadas em um estado de concentração livre de distrações e que estimula suas capacidades cognitivas ao limite”. Ele acrescenta: “Esses esforços criam um novo valor, melhoram suas habilidades e são difíceis de repetir novamente”.
O escritório moderno parece projetado para o trabalho superficial, definido como “tarefas de estilo logístico”, que são fáceis de reproduzir. Isso apesar da ascensão da inteligência artificial (IA) que, ao automatizar essas tarefas, exige que o trabalhador do conhecimento esteja preparado para oferecer algo melhor.
Mas poucas companhias parecem estar prontas para jogar fora as fileiras de mesas, onde você não tem como evitar escutar as conversas dos colegas. A maioria das novas tecnologias que estão sendo adotadas pelas empresas encorajam mais a colaboração por meio da conversa, como o Slack, o Dropbox Paper e o Salesforce da Quip. Os colegas de trabalho comandam seu dia, colocando eventos em seu calendário compartilhado e exigindo atenção o tempo inteiro, com seus comentários sobre documentos compartilhados no Google.
Mas há, porém, um antídoto surgindo em uma nova geração de tecnologias. Elas almejam fazer do tempo que você passa sozinho no trabalho uma indulgência viável, mesmo que você não seja o chefe.
A primeira categoria cuida de evitar aqueles maus hábitos encorajados pela internet e pelas redes sociais em particular. Pense nela como um esmalte de gosto ruim que faz você evitar roer as unhas. O aplicativo Forest evita que você fique pegando seu celular a cada segundo. Você abre o aplicativo e uma pequena árvore começa a crescer na tela. Se você fechar ou mudar para outro aplicativo, a árvore seca e morre. Ele quer fazer você se sentir mal por ter matado a árvore virtual.
Menos fofo é o aplicativo Self Control para Mac, que bloqueia, por um período de tempo, sites que podem distraí-lo, enquanto o Anti-Social, que funciona no Windows e no Mac, se concentra em bloquear sites de redes sociais. O Leech Block permite a você agendar quando poderá ter acesso a esses sites e cria senhas para “desestimular você em um momento de fraqueza”, se você tentar acessá-los fora da janela designada.
Se um software não for uma barreira suficiente, por US$ 500 você pode comprar uma Freewrite, uma máquina de escrever eletrônica em que a única coisa que você faz é escrever. Os fabricantes afirmam que é possível usá-la em interiores e exteriores, deixando seu smartphone na mesa e saindo ao ar livre para se espalhar em um gramado embora sua estética retrô e descolada possa atrair demais as atenções e dar início a conversas, distraindo você do trabalho.
A segunda categoria encoraja os trabalhadores que querem se concentrar criando sua própria bolha com música. Muitos profissionais que trabalham em escritórios de plano aberto adotaram os grandes fones de ouvido de estilo piloto, para reduzir o barulho e como um sinal de que não querem ser perturbados. Mas em vez de conversar e sapatear ao som de suas músicas preferidas, você pode tentar o Focus@Will, um aplicativo que toca música clássica voltada para o “deep work”. No fim de cada sessão, você avalia sua produtividade em termos porcentuais e usa essa classificação para ajudar a música que será tocada na próxima vez.
O SoundCurtain espertamente ouve o ambiente e adapta seu volume, afinação e tom para filtrar distúrbios. O aplicativo tem ajustes que incluem vento, chuva e, curiosamente, chuva simples. Você pode ajustar sua sensibilidade e a rapidez com que ele se adapta a novos ruídos.
O Brain.fm alega ser “a inteligência artificial compositora de música mais avançada do planeta”, criando músicas para concentração, meditação e para dormir. Em um estudo piloto, foi constatado que as pessoas reconhecem padrões mais rapidamente e com mais exatidão do que com “música placebo”.
A terceira categoria, para trabalhadores que são livres para sair do escritório, são os aplicativos que reservam a você de imediato seu próprio espaço. O Breather permite a você alugar espaços privados de escritório por hora em cidades dos Estados Unidos e Canadá. Esses hotéis para a mente pagos por hora estão equipados com sofás para reflexão e muitos possuem quadros brancos para que você possa rabiscar suas ideias. Em outras cidades, há quem esteja usando o serviço Airbnb com o mesmo propósito.
Mas nem todos os desafios à criação de seu próprio espaço para o “deep work” podem ser atendidos pela tecnologia. Os gestores podem ter a expectativa de ter respostas imediatas a e-mails, participação em reuniões muito longas e um trabalhador presente e disponível em uma cadeira. Em um podcast recente com o jornalista Ezra Klein, o professor Newport disse ver os escritórios evoluindo ao ponto de delegar tarefas como ler e-mails e conduzir logística para outros trabalhadores, para proteger o tempo daqueles que estão fazendo “deep work”. Isso soa sensato e o mesmo tempo familiar: é quase como o retorno das secretárias.