Campus Party debate a educação do futuro e oferece aulas gratuitas de robótica

A 11ª edição da Campus Party – evento de tecnologia, inovação e empreendedorismo do país que começa hoje (30) na capital paulista – tem como um dos temas de destaque a evolução da educação. No espaço Educação do Futuro, alunos e educadores podem participar, gratuitamente, de oficinas de robótica e linguagem de programação, promovidas pelo Centro Paula Souza e MIT Media Lab (do Instituto de Tecnologia de Massachusetts).

O setor Educação e Futuro é dedicado a crianças de 4 a 17 anos. “A gente está investindo muito, através da parceria com MIT. A ideia é que possa dar atividades para o jovem que ainda não tem idade para estar na arena. Ele verá robótica e fazedores, que vão formar e aperfeiçoar os educadores”, disse Tonico Novaes, diretor geral da Campus Party.

Francesco Farruggia, presidente do Instituto Campus Party, disse que realizou uma pesquisa com 7 mil estudantes de escolas públicas da periferia de São Paulo convidadas a conhecer a Campus Party. O levantamento revelou que 83% dos entrevistados gostaram do passeio, mas disseram que este não era “um mundo para eles”. “A primeira coisa que precisamos convencê-los é de que eles podem”, disse Farruggia.

Além da educação, a Campus Party também tem um espaço para impulsionar jovens empresas. Para este ano, foram selecionadas 120 startups, em fases desde embrionária até a mais avançada.

Para a edição paulista deste ano, são esperados  mais de 100 mil visitantes e 12 mil campuseiros. Este ano o evento também será feito em abril em Natal, maio na Bahia, junho em Brasília e setembro em Belo Horizonte.

O evento terá 24 horas de atividades no Pavilhão de Exposições do Anhembi, até o próximo domingo (4). O espaço tem 77,7 mil metros quadrados, dividido em três pavilhões, e conta com nove palcos. Até sábado (3), a área gratuita da Campus Party estará aberta ao público das 10h às 20h.

Tecnologia multiplica ‘nômades digitais’

luciana
Usando a internet do celular, Luciana consegue trabalhar da areia | Acervo Pessoal

A paulistana Luciana Zago vai colocar em prática um plano antigo de viver algum tempo na praia. Vai alugar um quarto na casa que alguns amigos dividem em Baleia, no litoral norte do Estado. Não é um sabático, pelo contrário.

Ela acaba de ser promovida a gerente de pesquisa clínica em uma multinacional que presta serviços para a indústria farmacêutica.

A questão é que, além de flexível, sua jornada de trabalho não tem base definida. Ela atua na fase inicial das pesquisas, coordenando equipes em diferentes países por meio de teleconferências e reunindo em uma plataforma digital todos os documentos para começar um novo projeto.

Para fazer isso, ela precisa basicamente de uma boa conexão de internet.

“A não ser que eu tenha que assinar algum documento, não precisaria nem de impressora”, ela brinca. Mesmo antes da promoção, com a obrigação de aparecer no escritório alguns dias na semana, Zago com frequência dava um jeito de ir além do home office. Já trabalhou com a Chapada dos Veadeiros (GO) ao fundo, de Natal (RN), de Miami. No fim do ano sua base será Boipeba, na Bahia.

Ela é o que o mercado de trabalho tem chamado de “nômade digital”, um grupo heterogêneo que, com a ajuda da banda larga, da computação na nuvem e dos aplicativos de comunicação, faz os lugares mais improváveis de escritório.

Com baixo custo de vida e boa infraestrutura, cidades como Chiang Mai, na Tailândia, Ubud, na Indonésia, e Odessa, na Ucrânia, reúnem hoje verdadeiras comunidades de freelancers e empreendedores digitais estrangeiros que não querem abrir mão de conhecer o mundo enquanto trabalham.

Sete anos e dezenas de países

Também paulistano, Eduardo Borges, de 33 anos, já fez de tudo. Desde atividades mais “convencionais”, desenvolvendo websites e a prestando serviços de marketing digital e de consultoria em SEO (search engine optimization) a modalidades mais inventivas.

Já ganhou dinheiro com “drop shipping” – ele comprava mercadorias no eBay e as revendia no Mercado Livre -, com a terceirização de pesquisas de mercado – projetos de US$ 1.000 que ele subcontratava por US$ 300 – e com a “investigação” de empresas – a produção de relatórios sobre firmas brasileiras para companhias americanas interessadas em fazer negócios com elas.

Desde 2010, ele viaja com 15 quilos de bagagem e um portarretrato dos dois cachorros. Já teve cerca de dez “bases” pelo mundo, nas quais ficou por um período mais longo, de até um ano. Entre elas estão Odessa, na Ucrânia, Budapeste, na Hungria, Medellín, na Colômbia, e Florianópolis, a capital catarinense.

No momento ele está em São Paulo, onde ficará por dois meses para finalizar o curso de marketing digital que está montando e o blog que leva seu nome. A ideia é divulgar o “lifestyle nômade” entre os brasileiros.

“Meu sonho é propagar essa cultura entre nossa comunidade local, hoje bastante impactada pela dificuldade com o inglês. A língua é um dos maiores impeditivos para que os brasileiros abandonem os empregos e se joguem pelo mundo. Não só pelo problema da comunicação local, mas também pelo fato de só conseguirem ganhar em real, que é uma moeda fraca quando convertida.”

O dinheiro não tira férias

Um dos primeiros registros do termo “nômade digital” aparece no livro Digital Nomad, de Tsugio Makimoto e David Manners, lançado em 1997. Makimoto, que fez carreira em empresas de tecnologia japonesas como Sony e Hitachi, chamava atenção, 20 anos atrás, para o número crescente de profissionais de sua área que, graças ao desenvolvimento da tecnologia digital, não tinham uma base de trabalho fixa.

O livro mais popular entre os nômades e aspirantes, entretanto, foi publicado dez anos depois, em 2007. No best-seller de autoajuda The 4-Hour Work Week (Trabalhe 4 Horas Por Semana, editora Planeta), que vendeu mais de um milhão de cópias, o americano Tim Ferriss ensina a usar o empreendedorismo digital para escapar do trabalho convencional, que ele chama de “rotina de 9h às 17h”, e para viver “em qualquer lugar” ganhando dinheiro.

Longe de ser regra, a “semana de quatro horas” é o que Ferriss chama de períodos de “miniaposentadorias”, dos quais se pode desfrutar quando um negócio finalmente passa a gerar renda de forma passiva. É o caso, por exemplo, dos aplicativos, que são rentabilizados por download.

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Novas tecnologias ajudam a manter o foco

Imagine um novo tipo de escritório, projetado para estimular as pessoas a fazerem o seu melhor no trabalho. Primeiro, você entra na galeria onde exemplos do trabalho de seus colegas estão pendurados nas paredes e você é inspirado a seguir e superar esses padrões. Então, você passa para o salão, que lembra um espaço de trabalho compartilhado (coworking space, em inglês), com seus sofás e o café, mas é o lar de um tipo de curiosidade combativa que prosperou nos cafés dos séculos XVII e XVIII; suas ideias são desenvolvidas em conversas inteligentes.

Em seguida vem a biblioteca, com material que você precisa estudar para fazer seu trabalho render mais. Depois disso, um cubículo para cuidar da administração. Finalmente, você chega ao espaço onde poderá fazer trabalho mais transformador: as câmaras de “deep work”, protegidas por paredes grossas e à prova de som. Aqui, você passa períodos de 90 minutos trabalhando sozinho na resolução dos problemas mais difíceis.

Esse sonho foi projetado por David Dewane, um professor de arquitetura, que o chamou de “Eudaimonia Machine”, por causa da palavra grega para prosperidade humana. A Eudaimonia Machine é uma visão de um lugar para trabalho sério e criterioso que contrasta dramaticamente com os atuais escritórios de plano aberto e seus equivalentes online: a caixa de entrada do correio eletrônico que fica cheia rapidamente e o aplicativo de conversas Slack.

A propagação pelas startups dos ambientes de trabalho casuais tornou a concentração ainda mais difícil, com os pulos das bolinhas de pingue-pongue e o barulho de garrafas de cerveja sendo abertas.

Cal Newport, um professor de ciências da computação e autor de um blog sobre os hábitos de trabalho, declarou que estamos em uma crise por causa de nossa incapacidade de fazer o “deep work” (o trabalho mais profundo), que também o título de um livro publicado no ano passado. Ele define “deep work” como “atividades profissionais realizadas em um estado de concentração livre de distrações e que estimula suas capacidades cognitivas ao limite”. Ele acrescenta: “Esses esforços criam um novo valor, melhoram suas habilidades e são difíceis de repetir novamente”.

O escritório moderno parece projetado para o trabalho superficial, definido como “tarefas de estilo logístico”, que são fáceis de reproduzir. Isso apesar da ascensão da inteligência artificial (IA) que, ao automatizar essas tarefas, exige que o trabalhador do conhecimento esteja preparado para oferecer algo melhor.

Mas poucas companhias parecem estar prontas para jogar fora as fileiras de mesas, onde você não tem como evitar escutar as conversas dos colegas. A maioria das novas tecnologias que estão sendo adotadas pelas empresas encorajam mais a colaboração por meio da conversa, como o Slack, o Dropbox Paper e o Salesforce da Quip. Os colegas de trabalho comandam seu dia, colocando eventos em seu calendário compartilhado e exigindo atenção o tempo inteiro, com seus comentários sobre documentos compartilhados no Google.

Mas há, porém, um antídoto surgindo em uma nova geração de tecnologias. Elas almejam fazer do tempo que você passa sozinho no trabalho uma indulgência viável, mesmo que você não seja o chefe.

A primeira categoria cuida de evitar aqueles maus hábitos encorajados pela internet e pelas redes sociais em particular. Pense nela como um esmalte de gosto ruim que faz você evitar roer as unhas. O aplicativo Forest evita que você fique pegando seu celular a cada segundo. Você abre o aplicativo e uma pequena árvore começa a crescer na tela. Se você fechar ou mudar para outro aplicativo, a árvore seca e morre. Ele quer fazer você se sentir mal por ter matado a árvore virtual.

Menos fofo é o aplicativo Self Control para Mac, que bloqueia, por um período de tempo, sites que podem distraí-lo, enquanto o Anti-Social, que funciona no Windows e no Mac, se concentra em bloquear sites de redes sociais. O Leech Block permite a você agendar quando poderá ter acesso a esses sites e cria senhas para “desestimular você em um momento de fraqueza”, se você tentar acessá-los fora da janela designada.

Se um software não for uma barreira suficiente, por US$ 500 você pode comprar uma Freewrite, uma máquina de escrever eletrônica em que a única coisa que você faz é escrever. Os fabricantes afirmam que é possível usá-la em interiores e exteriores, deixando seu smartphone na mesa e saindo ao ar livre para se espalhar em um gramado embora sua estética retrô e descolada possa atrair demais as atenções e dar início a conversas, distraindo você do trabalho.

A segunda categoria encoraja os trabalhadores que querem se concentrar criando sua própria bolha com música. Muitos profissionais que trabalham em escritórios de plano aberto adotaram os grandes fones de ouvido de estilo piloto, para reduzir o barulho e como um sinal de que não querem ser perturbados. Mas em vez de conversar e sapatear ao som de suas músicas preferidas, você pode tentar o Focus@Will, um aplicativo que toca música clássica voltada para o “deep work”. No fim de cada sessão, você avalia sua produtividade em termos porcentuais e usa essa classificação para ajudar a música que será tocada na próxima vez.

O SoundCurtain espertamente ouve o ambiente e adapta seu volume, afinação e tom para filtrar distúrbios. O aplicativo tem ajustes que incluem vento, chuva e, curiosamente, chuva simples. Você pode ajustar sua sensibilidade e a rapidez com que ele se adapta a novos ruídos.

O Brain.fm alega ser “a inteligência artificial compositora de música mais avançada do planeta”, criando músicas para concentração, meditação e para dormir. Em um estudo piloto, foi constatado que as pessoas reconhecem padrões mais rapidamente e com mais exatidão do que com “música placebo”.

A terceira categoria, para trabalhadores que são livres para sair do escritório, são os aplicativos que reservam a você de imediato seu próprio espaço. O Breather permite a você alugar espaços privados de escritório por hora em cidades dos Estados Unidos e Canadá. Esses hotéis para a mente pagos por hora estão equipados com sofás para reflexão e muitos possuem quadros brancos para que você possa rabiscar suas ideias. Em outras cidades, há quem esteja usando o serviço Airbnb com o mesmo propósito.

Mas nem todos os desafios à criação de seu próprio espaço para o “deep work” podem ser atendidos pela tecnologia. Os gestores podem ter a expectativa de ter respostas imediatas a e-mails, participação em reuniões muito longas e um trabalhador presente e disponível em uma cadeira. Em um podcast recente com o jornalista Ezra Klein, o professor Newport disse ver os escritórios evoluindo ao ponto de delegar tarefas como ler e-mails e conduzir logística para outros trabalhadores, para proteger o tempo daqueles que estão fazendo “deep work”. Isso soa sensato e o mesmo tempo familiar: é quase como o retorno das secretárias.

Brasília recebe Campus Party pela primeira vez

Nesta quarta-feira (14), a partir do meio-dia, os 4 mil campuseiros inscritos na primeira Campus Party realizada em Brasília, poderão ter acesso à arena onde ocorre o maior encontro de tecnologia do universo digital. Serão cinco dias com mais de 250 horas de programação sobre inovação, ciência, empreendedorismo e criatividade.

Participante usual do encontro em outras cidades, o analista de sistema José Roberto Pereira foi o primeiro campuseiro a retirar as credenciais desta edição. Para ele, o fato de ser na cidade onde mora gera ansiedade muito maior. “Como sempre vou ao encontro em São paulo e esta será a minha sexta edição, o fato de ser aqui em Brasília, na capital, bate aquela ansiedade. Por isso me esforcei para ser o primeiro”, conta.

O encontro reúne no Centro de Convenções Ulysses Guimarães uma estrutura com quatro palcos temáticos (principal, criatividade e entretenimento, Inovação e Ciência), duas áreas de workshops, um espaço para desafios, além de uma bancada com acesso à internet de alta velocidade ligada ao Ovini, um servidor central, que funciona como o coração da Campus Party.

A arena tem ainda um camping com 2,8 mil barracas para descanso dos inscritos entre as atividades “non stop”, que não param durante os cinco dias. José Roberto diz que dormir é uma das tarefas mais difíceis. “A gente tem um grito de guerra que é para deixar os campuseiros sempre acordados. É um grito que sempre vai ter um retorno, para informar que está acordado.”

Com o tema Feel the future (sinta o futuro), a edição pioneira prevê a participação de seis magistrais do universo tecnológico, que são especialistas como o cientista de dados Ricardo Cappra, a artista Ani Liu, o pai do software livre, Richard Stallman, o pesquisador Horst Hörtner, o consultor estratégico da Nasa (a agência espacial norte-americana), Matthew F. Reyes, e um dos criadores do encontro, Paco Ragageles.

Um fórum também debaterá as cidades inteligentes e humanas no futuro, além de diversos workshops e desafios, como o Hackatons, que reúne desenvolvedores em uma maratona de programação. Segundo José Roberto, as atividades de todas as edições da Campus Party são bastante completas, mas para ele a troca entre os participantes é o grande atrativo do encontro. “Vamos trocando informações, o que você não sabe o outro te ensina, o que você sabe você repassa para o outro, então, isso é uma grande família ali, a grande família Campus Party”.

A troca de conhecimento foi o que atraiu a estudante de administração Ana Maria Lisboa, que também garantiu a credencial para participar do encontro pela primeira vez. Embora não seja da área, ela já tinha lido algumas notícias sobre a Campus Party, mas imaginava que o encontro era para um público especializado. “Eu achava que era algo muito além da minha realidade, dos meus conhecimentos.”

Tem programação até para quem não conseguiu um dos 4 mil ingressos para a arena. A área open está preparada para receber 50 mil visitantes durante os cinco dias de encontro. Nela é possível experimentar simuladores, assistir às batalhas de robôs, campeonato de drones, além de visitar os espaço para trabalhos universitários inovadores, empreendedorismo e exposição de startups. “Quero sair daqui com muito conhecimento, quero aproveitar tudo ao máximo”, diz Ana Maria.