Diversidade nas empresas é sinônimo de ganhos para os negócios

Atualmente, um dos temas mais abordados na área de Recursos Humanos é a diversidade. Tenho sido bastante questionado sobre o assunto e principalmente sobre o valor que a diversidade agrega não apenas ao ambiente das empresas, mas aos resultados efetivos delas.

A resposta está inserida no competitivo ambiente empresarial dos dias de hoje, em que todas as equipes de uma organização, seja da área operacional ou do alto escalão, devem inovar continuamente, testando novas ações e processos em busca de melhores resultados. É aí que se pode obter uma vantagem: a diversidade — abordada da forma correta, que vai além da questão de gênero — significa reunir pessoas com diferentes histórias profissionais e de vida, que podem contribuir com ideias, vivências e experiências distintas no trabalho em equipe, trazendo formas alternativas de pensar e operar, possibilitando novas estratégias e gerando benefícios efetivos às empresas.

Lidar com equipes assim, entretanto, exigirá cada vez mais dos líderes, pois seus integrantes se motivam e se engajam de formas diversas. Além disso, caberá aos gestores administrar eventuais conflitos entre os membros dessas equipes. Assim, ao abraçar a causa, as empresas precisam se assegurar de que os líderes tenham clareza sobre a sua missão de “liderar as pessoas”, preparando-os para as questões que poderão surgir, até porque já está provado que, quando as dificuldades são superadas, as equipes com diversidade trazem resultados muito superiores às tradicionais.

Mas o treinamento das lideranças não é a única questão a ser observada. A própria formação de equipes com diversidade é um ponto que precisa de atenção. Para criá-las é essencial contratar profissionais considerando as competências necessárias, independente de possuírem alguma deficiência e da cor da pele, gênero, religião, classe social ou idade.

Isso significa que os recrutadores devem deixar de lado os vieses inconscientes nos processos seletivos. Porém essa não é uma tarefa simples: afinal, avaliar um candidato sem nenhum pré-julgamento é algo complexo, já que aprendemos a trabalhar dessa forma e fizemos assim a vida inteira. Nesse cenário, o apoio de um software de inteligência artificial em processos seletivos pode facilitar a valorização da diversidade, pois levará às entrevistas finais apenas os selecionados a partir de critérios predefinidos, com objetividade, sem a intervenção humana. A partir daí, se continuarmos a verificar um mesmo padrão na contratação, o problema pode estar no decisor final, e então a solução será um treinamento para esse profissional.

Vale a pena frisar que nenhum sistema é infalível e muitas vezes os programas podem refletir os vieses inconscientes daqueles que os desenvolveram. É por isso que temos visto empresas revendo seus processos de seleção por AI, já que a ferramenta pode aprender um comportamento existente na companhia, não condizente com o apoio à diversidade. É famoso o exemplo da Amazon, que investiu uma quantia considerável na elaboração de um sistema seletivo por AI para profissionais de TI para depois abandoná-lo quando notou que ele continuava recrutando apenas homens, repetindo um padrão que a empresa queria evitar.

A seleção às cegas segue o mesmo raciocínio relacionado à AI. Nesse caso, o RH promove a seleção, mas apresenta os finalistas aos decisores sem mostrar critérios passíveis de discriminação. Isso não se configura, porém, em uma garantia de isenção, o que só é possível de se obter se todas as perguntas a seguir forem respondidas de forma positiva:

· Nas etapas anteriores do processo seletivo garantimos que todos foram avaliados de forma objetiva?
· O RH está encaminhando os finalistas com base apenas em critérios justos?
· Os decisores que estão fazendo as entrevistas finais foram treinados para avaliar os candidatos deixando de lado seu viés inconsciente?

Nenhum processo é fácil ou infalível, mas decisões pessoais em processos seletivos certamente dificultam a criação de um ambiente com diversidade. Isso porque sempre que precisamos tomar uma decisão, nossa tendência natural é ir pelo caminho que já conhecemos, repetindo padrões existentes. Por exemplo, se estamos procurando um profissional comunicativo, a tendência é escolher alguém do gênero feminino, e se procuramos alguém que tome decisões frias e duras, a tendência é procurar alguém do gênero masculino. Isso acontece porque aprendemos que os gêneros possuem diferentes competências comportamentais.

Porém, quando analisamos dados e fatos, percebemos que as mulheres e os homens possuem a mesma distribuição estatística de competências dentro da população. Não é verdade que as mulheres são mais comunicativas nem que os homens são mais frios nas tomadas de decisão. Essas competências estão presentes na mesma frequência entre os membros da nossa sociedade.

Para viabilizar a inclusão é vital investir em processos de decisão justos e objetivos, que avaliem competências comportamentais e não apenas as técnicas. E se usarmos os critérios corretos para recrutamento e seleção, a tendência é que, com o passar do tempo, as equipes reflitam a diversidade da população, tornando inclusive desnecessária a criação de cotas de contratação para um ou outro grupo da sociedade.

Claro que também precisamos investir no treinamento de forma geral, para que todos os profissionais sejam tratados com respeito e equidade em um ambiente que possibilite uma inclusão ampla e real, de forma que a questão da aceitação da diversidade não fique restrita ao processo seletivo.

Temos avançado bastante na questão da diversidade e só o fato do assunto estar constantemente em pauta entre profissionais de todos os níveis e áreas já demonstra que existe uma preocupação real relacionada à questão. O que não podemos negar é que ainda há muito que fazer: temos que encarar o problema de frente e pensar na diversidade como um todo. Mas acredito que se formos justos desde o início de um processo seletivo, tratando todos com igualdade, justiça e respeito, certamente estaremos fazendo parte da mudança, agindo a favor da inclusão e trabalhando para que as empresas tenham resultados cada vez melhores em seus negócios.

*Marcelo Souza é CEO do Grupo Soulan e Country Manager da Thomas International Brasil

Desafios e oportunidades da contabilidade no processo de transformação digital

A transformação digital está sendo discutida intensamente nas empresas com a promessa de ampliar a competividade, alavancar negócios e melhorar a experiência dos clientes. Apesar disso, há muito ainda a ser feito para incluir as áreas de contabilidade, que estão começando a ser envolvidas nesse processo de transformação.

De acordo com a pesquisa “Automação de relatórios financeiros e contabilidade técnica” da KPMG UK, as áreas de contabilidade e relatórios financeiros ainda estão operando em um modelo antigo de tecnologia. Essa afirmação fica clara quando observamos que mais de 50% dos respondentes informaram que usam planilhas eletrônicas e de texto no processo de preparação das demonstrações financeiras e somente uma minoria possui um software ou ferramenta em Nuvem para essas atividades.

O uso de tecnologia na contabilidade agiliza processos, aumenta eficiência, reduz erros e melhora a precisão da informação, fornecendo aos tomadores de decisão melhor embasamento nas suas decisões estratégicas. Quando a abordagem é baseada em análise de dados, identifica atributos e riscos, fornece informações preditivas, realiza análises automatizadas, previne erros e otimiza o processo de geração de informação.

Esses benefícios já estão começando a ser percebidos pelos profissionais da contabilidade, pois 90% dos entrevistados considera importante o processo de automação nas atividades de elaboração de relatórios financeiro e nas funções técnicas contábeis. Outro dado bastante interessante da pesquisa revela que uma grande parte dos profissionais planeja iniciar um processo automação nos próximos 2 anos.

Além dos benefícios já citados, outro ganho relevante para os profissionais e as empresas nesse processo de transformação digital é a possibilidade de investirem o seu tempo em atividades que geram valor ao negócio e desempenharem um papel mais estratégico dentro da organização.

Contudo, a entrada de novas tecnologias nas áreas contábil e de finanças, também impõe desafios. O primeiro diz respeito à disponibilidade de soluções efetivas, além disso, existem desafios relacionados a obtenção de orçamento para investimentos em ferramentas e conhecimento sobre como e, também, o que mudar dentro do processo de transformação digital das áreas de contabilidade e finanças.

Outro desafio depende do profissional contábil se adaptar para acompanhar o ritmo de alterações das normas contábeis, da tecnologia, demandando investimentos em recursos humanos no desenvolvimento de novas habilidades, já que a tecnologia vem transformando o perfil desse especialista.

Além dos desafios impostos, é importante que os profissionais de finanças tenham uma compreensão clara da estratégia de negócios e das expectativas de seus acionistas, bem como avaliem as oportunidades no contexto de suas atividades, considerando a automação de atividades repetitivas, uso de ferramentas analíticas, uso de tecnologias com alto potencial de processamento de dados, entre outros recursos.

Cabe ao diretor financeiro e aos líderes da função financeira mapearem esses pontos, as tendências da transformação digital, determinarem um plano e impulsionarem o processo. Em muitos casos, isso já começou — e é provável que acelere, dada a evolução que os entrevistados esperam ver em suas funções.

As tecnologias estão invadindo as áreas de contabilidade e finanças no Brasil em um caminho sem volta. A utilização de recursos como automação, análise de dados, inteligência artificial, robótica, computação cognitiva estão possibilitando uma redução significativa no tempo gasto em atividades manuais e rotineiras e potencializando o fator humano em atividades mais analíticas, fazendo com que os profissionais possam se antecipar as mudanças de cenário a partir dados preditivos somados a informação contábil, que é o principal instrumento dos tomadores de decisão.

A transformação digital está submetendo os profissionais de finanças e contabilidade a uma jornada desafiadora, uma vez que essa mudança extrapola iniciativas isoladas relacionadas exclusivamente a processos de negócios e implementação de novas tecnologias, mas, também, possui um forte viés na cultura e nas pessoas. As empresas que capitalizarem essa transformação e vencerem a batalha da transformação de dados em valor assumirão posições relevantes e terão a oportunidade de alavancarem novos negócios a partir do uso estratégico da informação contábil.

*Carmo Barboni é sócio-diretor da Prática de Consultoria Contábil da KPMG no Brasil

O impacto do estresse nas organizações

Gilberto Ururahy*

O estresse crônico bateu à porta do ambiente profissional em companhias do mundo todo. Considerado o mal do início deste século, ele é hoje, a causa de uma grande variedade de doenças, como o acidente vascular cerebral e o infarto do miocárdio. Em um mercado de trabalho cada vez mais competitivo e com carga horária crescente em todos os níveis hierárquicos – tida como excessiva por 60% dos executivos, segundo pesquisas −, atualmente, as empresas são consideradas verdadeiras fábricas de estresse. Nem mesmo a prática de atividade física tem compensado o peso do trabalho na vida das pessoas. Um levantamento da Med-Rio Check-up registrou que o sedentarismo entre os executivos diminuiu nos últimos 29 anos, mas isso não resultou, necessariamente, na melhora da qualidade de vida deles. Enquanto o sedentarismo caiu 15 pontos percentuais entre homens e mulheres no período, o estresse subiu oito pontos percentuais entre os engravatados e 27 pontos entre elas.

Pesquisas atestam que o custo do estresse profissional nos EUA passa de 300 bilhões de dólares ao ano. No Brasil, estima-se que chegue a quase 4% do PIB, ou mais de 80 bilhões de dólares, segundo a ISMA (International Stress Management Association). No caso das empresas, o estresse impacta diretamente nos custos médicos, ligados a tratamentos, internamentos e consultas. Mas, o maior efeito nem sempre é possível de ser mensurado, pois é o prejuízo relacionado à baixa produtividade, ao absenteísmo, ao turnover, ao burnout, além da necessidade de buscar profissionais no mercado devido à dificuldade de reter talentos.  Dados de um estudo elaborado pela ISMA-BR apontam que o estresse foi responsável por um aumento de 140% nos gastos trabalhistas das empresas brasileiras nas últimas décadas. De olho no prejuízo, muitas empresas já estão investindo em programas contra o estresse, campanhas de conscientização para a necessidade do lazer, além da realização de check-ups, que podem prevenir a evolução e proporcionar o controle de doenças como a hipertensão.

Nos Estados Unidos, cerca de 80% das empresas desenvolvem programas de promoção à saúde de seus colaboradores, com o considerável retorno de US$ 4 para cada dólar investido. A lógica do check-up é simples: Se uma doença é detectada em estágio inicial, maiores são as chances de ela ser curada. O serviço inclui a realização de exames preventivos que ajudam a reduzir os fatores de risco entre os profissionais e a aumentar a produtividade. O objetivo é atender à demanda de empresas que se preocupam em diminuir os índices de afastamento de funcionários por motivo de doenças. Os sintomas do estresse podem aparecer de diversas formas.

*Gilberto Ururahy é diretor médico da Med-Rio Check-up