Luiz Gama, o patrono da abolição da escravidão
O ex-escravo baiano libertou cerca de 500 escravizados Share on WhatsApp Share on Facebook Share on Twitter Share on Linkedin

 

Professora Ligia Fonseca Ferreira publicou três livros sobre Luiz Gama

 

Da Agência Brasil

Nascido em Salvador em 1830, filho de uma africana livre e de um português, Luiz Gama foi vendido ainda criança pelo pai, como pagamento de uma dívida de jogo, e enviado a São Paulo como escravo. Foi alfabetizado apenas aos 17 anos, um ano antes de conseguir judicialmente a própria liberdade. 

Por ser negro, foi impedido de frequentar o curso da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, a mais antiga instituição do gênero no país. Determinado, o baiano passou a estudar direito de forma autodidata e atuou na prática como advogado, libertando mais de 500 negros da escravidão. Em 2015, 133 anos após a sua morte, foi reconhecido pela OAB como advogado e, em 2018, foi declarado por lei como patrono da abolição da escravidão no Brasil, além de ter o nome inscrito no Livro dos Heróis da Pátria.

O abolicionista, que também foi jornalista e poeta, é tema do estudo de Ligia Fonseca Ferreira, professora da Unifesp que pesquisa a vida e obra de Luiz Gama há cerca de 20 anos e publicou três livros sobre ele. O último, Lições de Resistência: Artigos de Luiz Gama na Imprensa de São Paulo e do Rio de Janeiro, foi lançado neste ano.

Em entrevista exclusiva à TV Brasil, a pesquisadora fala sobre o papel importante de Luiz Gama no movimento abolicionista, de sua atuação relevante na imprensa e também no campo literário.

Leia a entrevista a seguir:

TV Brasil – Neste livro, que traz 61 artigos de Luiz Gama, 42 deles inéditos, quais são as lições de resistência que o leitor vai encontrar?
Ligia Fonseca Ferreira – Essas lições de resistência são, em primeiro lugar, a defesa dos escravizados, a defesa dos direitos humanos, sobretudo o direito dos escravos que já existiam, já estavam inclusive assegurados pelas nossas leis, mas que muitas vezes não eram respeitados. Ele conseguiu desenterrar leis que ficaram como letra morta, como a lei de 7 de novembro de 1831, que deveria garantir que os africanos que desembarcassem no Brasil a partir daquela data deveriam ser considerados livres e que os traficantes de escravos deveriam sofrer penalidades. Então de 1831 até 1888, quando houve a abolição, são 57 anos. Mas o Luiz Gama vai fazer com que essas leis possam ser aplicadas antes da abolição. Ele diz que a função dos juízes é de estudar e aplicar as leis e ele vai bater insistentemente nessa tecla, e é a partir disso portanto que ele alcança, como declara numa carta, a liberdade de cerca de 500 escravos.

TV Brasil – Mesmo sem formação acadêmica, Luiz Gama demonstrava muito conhecimento jurídico e advogava de graça para libertar os escravizados?
Ligia Fonseca Ferreira – Ele traz à tona essa condição muito singular de ser um homem de uma imensa cultura jurídica e de aplicá-la em benefício dos escravizados. Ele tinha uma autorização especial para advogar em primeira instância e fazia anúncios a serviço das causas da liberdade, tudo sem retribuição alguma. Ele abraça a causa abolicionista e também foi um dos primeiros brasileiros a abraçar a causa republicana. Para Luiz Gama, a luta abolicionista também se desdobrava na luta pelos ideais republicanos, no combate à monarquia, então a gente não pode se esquecer desse papel muito importante que ele vai ter nesse momento.

TV Brasil – Luiz Gama advogava de graça e tinha como ganha-pão o trabalho de jornalista. Inclusive fundou o primeiro jornal ilustrado de São Paulo, chamado Diabo Coxo. De que forma as facetas de abolicionista e jornalista se uniam?
Ligia Fonseca Ferreira – O Luiz Gama é esse trabalhador incansável do jornalismo que nós também precisamos conhecer. Além do abolicionista, que se funde com esse homem que está olhando para o Brasil e mostrando um retrato a partir de uma perspectiva diferente, que a sua condição de homem negro lhe dava. No ano de 1871, quando Luiz Gama é acusado de promover insurreições escravas, ele vem a público através da imprensa, que era uma arma importante para ele, dizer que não estava promovendo insurreições, mas que, quando a justiça falhasse em garantir o direito dos escravos, ele fala que promoveria a resistência como virtude cívica.

TV Brasil – E além de atuar como abolicionista e jornalista, Luiz Gama também foi poeta e lançou o primeiro livro apenas 12 anos depois de ser alfabetizado?
Ligia Fonseca Ferreira – Estamos falando aqui do Século 19, em que pouquíssimos negros estiveram ligados ao mundo das letras, à produção literária, que é outro aspecto no qual ele se destaca. Ele lança as Primeiras Trovas Burlescas em 1859. É um conjunto de sátiras políticas, sociais e raciais, nas quais o Luiz Gama faz uma grande descrição do funcionamento da sociedade imperial da época. Se a gente ler a maneira como ele aponta o funcionamento da sociedade em vários níveis, a gente tem a impressão de que o Luiz Gama está fazendo um retrato da nossa sociedade de hoje. É isso que garante a sua extrema atualidade. E ele também escreve poemas líricos. É o primeiro poeta afro-brasileiro, porque ele era filho de uma africana, a ter louvado a mulher negra, então ele já tem um papel bastante interessante dentro de uma produção que mais tarde a gente vai poder chamar de literatura negra, trazendo essa temática.

TV Brasil – Nesses 190 anos do nascimento de Luiz Gama, ainda falta reconhecimento para a obra dele?
Ligia Fonseca Ferreira – Ele deveria estar presente na história da literatura, do período romântico; na história do Brasil, especialmente das lutas abolicionistas e da campanha republicana; ele deveria estar na história das ideias jurídicas, e ele deveria estar na história da imprensa, pelo papel que desempenhou e que agora uma parte está reunida no livro Lições de Resistência, em artigos que tratam sobre escravidão, liberdade, república e direitos humano

Live sobre jornalismo terá a participação de Pedro Bial
Evento terá transmissão pelo Instagram

 

Da Redação

Quem deseja ser jornalista não pode perder a live que acontece na próxima segunda-feira (23). A editora do blog do Ancelmo Gois e colunista do jornal O Globo, Ana Claudia Guimarães, promove uma bate-papo com o multifacetado Pedro Bial. Jornalista, que cobriu grandes momentos da história como a queda do Muro de Berlim, Bial também é apresentador, escritor, cineasta e poeta. A live terá transmissão pelo Instagram (@_anaclaudiaguimaraes), a partir das 20h.

Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro promove debate pelo Dia da Consciência Negra
Evento terá transmissão pelo YouTube

Da Redação
O Subcomitê de Raça do Ministério Público do Trabalho no Rio de Janeiro (MPT-RJ) promoverá, nesta quinta-feira (19), às 17h, o debate: “Você aguenta ver uma preta feliz? Perspectivas negras sobre resistência”.
O evento será transmitido ao vivo pelo canal do MPT-RJ no Youtube e contará com a participação de Roberta Eugênio, advogada, assessora juridica e pesquisadora do Instituto Alziras; e de Thayná Yaredy, advogada e assessora do projeto Conectas.

ENS e Flamengo firmam parceria para desenvolvimento de atletas olímpicos

 

Executivos de ambas instituições durante o anúncio da parceria

 

Da Redação

Em coletiva realizada na terça-feira na sede do clube Flamengo, executivos da ENS e do anunciaram acordo para promoção do desenvolvimento de novos talentos para a equipe de natação e auxílio a atletas olímpicos do Flamengo.
Pelo acordo, o rubro-negro poderá oferecer a atletas olímpicos que vivem em áreas vulneráveis cerca de 110 bolsas de estudo integrais em cursos de graduação e de MBA da ENS. “Atualmente, contamos com cerca de 800 atletas nessas modalidades, sendo que 44% deles são oriundos de regiões carentes”, afirmou o vice-presidente de Esportes Olímpicos do Flamengo, Delano Franco.

O dirigente ressaltou que o esporte é um funil muito fino. “Apenas uma pequena parcela dessas pessoas vai conseguir viver do esporte. Dessa forma, o que oferecemos é, além da disciplina e da vivência no clube, a capacidade de ajudar do ponto de visto educacional. Por isso, a parceria com a ENS é muito bem-vinda. É uma instituição de altíssimo renome e estamos muito felizes por ela estar ao nosso lado neste momento”.

 Esporte e educação para salvar vidas
A Escola, por sua vez, assume os naming rights da equipe de natação do clube, que passa a se chamar Equipe de Natação Flamengo ENS. “Isso é muito importante porque queremos investir nos nossos esportes aquáticos de uma forma sustentável”, destacou Delano.

Excelência, intensidade e alta performance. É dessa forma que o diretor geral da ENS, Tarcísio Godoy, reconhece o desempenho dos atletas olímpicos do clube rubro-negro. “O Flamengo é uma marca mundial. Ao atrelar a marca da ENS com uma marca de excelência, temos a certeza de que será um exemplo para outras pessoas de que a prática de esportes e o estudo podem ser uma transformação social”, ressaltou o diretor.

“Trazemos nessa parceria a possibilidade de oferecer aos atletas uma titulação de ensino superior, com a Graduação Tecnológica em Gestão de Seguros, e, ao final deste diploma, esses formandos ainda podem se tornar corretores de seguros”, explicou Godoy.

Segundo o diretor de Ensino Superior da ENS, Mario Pinto, a parceria contempla duas dimensões essenciais para a sociedade: educação e esporte. “Essa mescla salva vidas. A vida profissional de um atleta é muito curta e poucos são os que se preparam para ter outra profissão. A ideia da Escola não é apenas ensinar, mas fazer a transformação social. Estamos criando condições para que essas pessoas se instrumentalizem e possam disputar o mercado de trabalho. É uma iniciativa que deveria ser seguida por todos os clubes, todos os esportes e todas as instituições de ensino”.

Investimento no social
Para o diretor de Esportes Olímpicos do Flamengo, Marcelo Vido, a ENS vem muito ao encontro do que o clube acredita em termos de formação plena do atleta. “Quando um atleta tem uma base educacional sempre em desenvolvimento, a performance esportiva também melhora”.

Vido destacou ainda que o objetivo do Flamengo é antecipar a transição do atleta e conciliar alta performance com a inserção sócio laboral, modelo semelhante ao praticado na Europa. “Essa é uma oportunidade de continuar buscando suas marcas pessoais em nível mundial e olímpico, se formar e, durante esse período, buscar o mercado de trabalho. Dá para ter esse equilíbrio entre trabalho e alta performance. É assim o modelo europeu e funciona muito bem, conseguindo equilibrar esportes e estudos”.

Delano ressaltou ainda que as empresas estão cada vez mais preocupadas com questões sociais. “Não se trata apenas de um perfil, mas é uma obrigação do Flamengo, pelo alcance social e pela capacidade de movimentar massas, de ter uma participação social crescente. Temos um critério muito grande para escolher com quem vamos juntar os nomes dos nossos times. Sejam bem-vindos e vamos caminhar juntos nessa parceria, que será muito frutífera”, finalizou o vice-presidente.

Para o presidente da ENS, Robert Bittar, a união com o maior clube poliesportivo do País trará inúmeros benefícios à Escola, que poderá promover uma importante aproximação com os milhões de seguidores das redes sociais do Flamengo. Além disso, a parceria é um reconhecimento da instituição à nobreza e aos valores praticados nos esportes olímpicos. “Estamos nos inserindo em um relevante programa social que qualificará, para o mercado de trabalho, jovens que poderiam ter dificuldade de dar continuidade aos estudos fora da rede pública. Só esta condição já justifica a parceria”, finaliza.