Tempos modernos: varejo se conecta à geração Z por meio de conceitos como sustentabilidade, saudabilidade e inovação
*Por Francisco Bakaus

Francisco Bakaus, Gerente Nacional de Vendas da Produtos Paraná.

O varejo é um dos segmentos do mercado que mais se atualiza com foco no público consumidor, afinal, é um modelo de venda que tem como característica justamente o contato com o cliente final. E como percepções sobre o mundo e desejos individuais de grande parte da sociedade estão sempre em mudança, nada faz mais sentido para o varejo do que acompanhar tais movimentos e antecipar os anseios dos consumidores, especialmente os mais jovens.

A sustentabilidade, por exemplo, é um tema cada vez mais em evidência nas sociedades do mundo todo e, por consequência, no mundo empresarial. De acordo com uma pesquisa recente da Cone Communications, quase 30% das pessoas nascidas entre 1995 e 2010 demonstram preocupação em temas como meio ambiente, pobreza e igualdade, o que reflete evidentemente na forma como elas consomem no varejo. A geração Z, nome dado a quem faz parte dessa faixa etária, prefere comprar de marcas sustentáveis (62%) e estão dispostas a pagar mais por produtos eco-friendly (73%), como mostra um estudo conduzido pela empresa First Insight.

Nesse tema, o varejo tem avançado na implementação de estratégias que objetivam a diminuição de emissão de combustíveis fósseis na operação, na venda de produtos ambientalmente mais responsáveis, bem como na utilização de matérias-primas mais ecológicas, quando aplicável. Além disso, muitas companhias do setor entenderam ao longo dos anos que a criação de políticas voltada à sustentabilidade também beneficiam — além do meio ambiente e a sociedade — a própria companhia, que consegue se reposicionar de acordo com os anseios de consumo do público.

O aumento da preocupação do varejo com a sustentabilidade também se conecta ao conceito de saudabilidade, outra ideia também utilizada frequentemente pela geração Z para definir hábitos saudáveis. Em termos práticos, isso significa que há um foco maior dos jovens na forma como eles se alimentam, a procedência de cada produto, bem como a promoção da qualidade de vida como um todo. O varejo, por causa disso, também vem implementando estratégias para atender a diversas demandas de um público cada vez mais analítico do que consome e pratica cotidianamente. O âmbito farmacêutico, por exemplo, já direciona esforços para apresentar produtos com foco na prevenção, não apenas no tratamento de doenças, como sempre fez. O mesmo pode ser visto no varejo de alimentos, com a disponibilização de produtos e serviços cada vez mais voltados à saúde e à qualidade de vida.

Todos esses elementos certamente não teriam crescido tanto nos últimos anos sem a disseminação da tecnologia observada nas últimas décadas. E a geração Z, nativamente digital, é o principal público mergulhado nesse mundo hiperconectado e com grande troca de informações a cada segundo. A partir dessa realidade, o varejo investe sequencialmente em inovações tecnológicas para atender a todas essas demandas. Ou seja, se há um grupo tão relevante de pessoas em busca de mais informações sobre o que consomem, almejando comprar com poucos cliques e de modo seguro, é natural que o varejo atue para oferecer tudo isso rapidamente. Expansão de marketplaces, uso de Inteligência Artificial nos negócios e implementação de Internet das Coisas, por exemplo, são apenas alguns dos recursos aplicados pelo varejo para captar cada vez mais a geração Z e conseguir fidelizá-la.

O Varejo Ampliado (segmento que considera a venda de bens de consumo, incluindo veículos e materiais de construção) teve 26,4% de impacto no PIB nacional em 2023, com crescimento nominal de 8,4% em relação a 2022, mostram dados divulgados pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo. Ou seja, o varejo é uma fatia do PIB nacional que tem uma representação fundamental. Desse modo, é crucial que companhias dos mais distintos setores varejistas elaborem estratégias que consigam atender às demandas da geração Z, fatia da população com grande participação na economia e que prega constantemente mudanças relacionadas ao consumo. Negar essa realidade significa não entender o que significa o próprio varejo: capacidade de adaptação.

Indústria de alimentos: resiliência e inovação para sustentar as populações
Primeiro dia do V International FoodTech Forum, em Campinas (SP), debate a necessidade de inovar para produzir alimentos com sustentabilidade

A indústria de alimentos tem como compromisso sustentar uma população mundial que deve chegar a 10 bilhões de pessoas em 2050, segundo estimativa da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura). Simultaneamente a este desafio, o sistema agroalimentar global busca reduzir em quase um terço as emissões de gases de efeito estufa por meio de ações que garantam abastecimentos mais seguros e tornem os processos de produção resistentes às mudanças climáticas. Com o propósito de discutir as transformações dos ecossistemas alimentares, o V International FoodTech Forum reuniu no primeiro dia do evento (05/06), no Instituto de Tecnologia de Alimentos (Ital Campinas), lideranças mundiais em palestras e painéis em torno do tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. O fórum estende sua programação até quinta-feira (06/06), agregando o IV FoodTech Expo.

O V International FoodTech Forum, que se consolida como o mais importante evento de FoodTechs da América Latina, tem como eixos sustentabilidade, meio ambiente, inovação, operação Supply Chain, design de alimentos, qualidade e segurança alimentar, pesquisa e desenvolvimento, novos negócios, pesquisa e ciência, tecnologia e estratégia. Além de reunir representantes da indústria de alimentos e bebidas, governos, agências de fomento, fornecedores de ingredientes e equipamentos, empresas de food service, de embalagem, a programação agrega universidades e instituições de pesquisa.

“O fórum é um ponto de encontro para discussões de alto nível sobre a produção global de alimentos, considerando-se todos os aspectos desta complexa cadeia e os desafios diante das mudanças climáticas”, afirma Paulo Silveira, fundador e CEO do FoodTech Hub Latam, organizador do evento. Não por acaso, esta edição escolhe como tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. “A resiliência pode ser entendida como uma capacidade que permite lidar com as adversidades, absorver choques e promover adaptações à medida que rupturas e crises se interpõem às realizações”, destaca.

Durante a manhã, foram realizados dois debates: “CEO Resiliente” e “Inovação Resiliente e Colaborativa”.

À tarde, nutrição e inteligência artificial conduziram o debate “NutriTech”. As cadeias sustentáveis e inclusivas, mais especificamente voltadas à produção de cacau, foram abordadas a partir da visão de pesquisadores e do posicionamento de indústrias processadoras de cacau e outras organizações. O último debate, “Fermentação de precisão”, envolveu sistemas produtivos e nutrição.

A vez das startups

O IV FoodTech Expo reúne as startups mais disruptivas do Brasil e da América Latina e as mais importantes agri-food techs sul-americanas. Com mentores globais, a exposição também proporciona acesso a investidores.

As startups expositoras do FoodTech EXPO vão participar da seleção do Foodtech Global Challenge. Com escolha do público, as cinco mais votadas serão selecionadas para o pitch final do evento, no dia 06/06, com um corpo de jurados definindo a vencedora.

O International FoodTech Forum e o FoodTech Expo são eventos carbono zero. Tudo o que é gerado na realização da programação será compensado em créditos de carbono na parceria do FoodTech Hub Latam com a Ambipar. “Somos o primeiro evento de FoodTechs da América Latina com esse viés de sustentabilidade, um dos pilares do ecossistema FoodTech Hub Latam”, ressalta Paulo Silveira.

Prévia da inflação acelera para 0,44% em maio, puxada pela gasolina
IPCA-15 acumula 3,70% em 12 meses, dentro da meta do governo

Da Agência Brasil

A prévia da inflação oficial ficou em 0,44% em maio. O resultado é mais do que o dobro do mês de abril, de 0,21%, e foi puxado principalmente pelo preço da gasolina, que subiu 1,9% no período de coleta e contribuiu com 0,09 ponto percentual (p.p) do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15), divulgado nesta terça-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O resultado de maio interrompe a sequência de 2 meses de queda do IPCA-15 e é o maior desde fevereiro, quando chegou a 0,78%.

No acumulado de 12 meses, o IPCA-15 é de 3,70%, dentro da meta de inflação do governo de 3% com tolerância de 1,5 p.p. para mais ou para menos, e abaixo do observado nos 12 meses imediatamente anteriores, de 3,77%. Já em maio do ano passado, o índice estava em 0,51%.

Transporte e saúde

Dos nove grupos de produtos e serviços pesquisados pelo IBGE, oito tiveram alta de preços em maio. As maiores variações vieram dos grupos saúde e cuidados pessoais (1,07%) e transportes (0,77%). No caso dos transportes, o vilão foi a gasolina, produto com maior influência da alta em toda a pesquisa.

Outro item que pressionou a prévia da inflação foram as passagens aéreas, que subiram 6,04%. Apesar desse valor nominal ser maior que o da gasolina, o impacto do combustível influencia mais o IPCA-15, pois tem um peso maior na cesta de produtos pesquisados pelo IBGE.

Já para o grupo saúde e cuidados pessoais, a alta teve influência dos produtos farmacêuticos, de 2,06%, após a autorização do governo para reajuste de até 4,50% nos preços dos medicamentos, a partir de 31 de março.

A metodologia para cálculo do IPCA-15 é a mesma do IPCA, considerado a inflação oficial do país. A diferença é que na prévia os preços foram coletados entre 16 de abril e 15 de maio. O índice leva em consideração uma cesta de produtos e serviços para famílias com rendimentos entre um e 40 salários mínimos.

O IBGE explicou que a divulgação de maio sofreu impactos causados pelo estado de calamidade na região metropolitana de Porto Alegre, que enfrentou alagamentos em maio. Os pesquisadores precisaram intensificar a coleta por meios remotos, como telefone e internet.

Eventos climáticos extremos exigem mais inovação da indústria de alimentos
Tragédia no Rio Grande do Sul acende o alerta para maiores investimentos em tecnologia e ações para mitigar os efeitos climáticos

Um mês antes da tragédia no Rio Grande do Sul, PwC e Instituto Locomotiva iniciavam uma pesquisa inédita. Após ouvir 1.510 pessoas em várias regiões do País, o levantamento acabou por revelar que a maioria dos brasileiros reconhece a influência das mudanças climáticas, com 87% acreditando que a população será ainda mais impactada em seu dia a dia. A partir das enchentes no Sul, outra pesquisa, desta vez elaborada pela Quaest, indicou que 99% dos entrevistados associavam os eventos devastadores aos efeitos climáticos. “As estatísticas, de fato, indicam uma percepção importante. E a situação no Estado dá a real dimensão de como o efeito climático afeta a produção de comida, que provoca inflação, que chega à mesa do brasileiro”, afirma Paulo Silveira, fundador e CEO do FoodTech Hub Latam. Neste cenário, ressalta, “a indústria de alimentos precisa se preparar e inovar”.

As consequências climáticas no Sul, segundo Silveira, trazem uma discussão fundamental sobre a cadeia de fornecimento de alimentos. “Um produto in natura dura 3, 4 dias. Mas a indústria consegue elaborar, de maneira segura, comida que se consegue estocar por mais tempo”, diz.

O arroz, que compõe uma porção generosa do prato do brasileiro, tem no Rio Grande do Sul o maior produtor nacional. “Tanto a cadeia do arroz quanto outras pedem alternativas”, reforça. O executivo toma como exemplo a tecnologia aplicada pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) no desenvolvimento genético de alimentos resistentes a calor extremo, que conseguem ter a produção assegurada.

Há cerca de uma década as premissas “mudança de clima” e “sustentabilidade” não eram consideradas na cadeia produtiva. “Atualmente, a produção dos alimentos do futuro está intrinsecamente ligada a estes dois fatores”, ressalta.

As novas formas de colocar na mesa proteína que não dependa somente da carne do boi ou de vaca, que consome muita água, requer grandes espaços e tem alta geração de gás metano, vão coexistir no futuro e interferir positivamente na questão climática. Proteínas vegetais, que já são consumidas no dia a dia, comprovadamente ajudam na mitigação do gás carbônico na atmosfera, segundo a ciência.

Como organizador do V International FoodTech Forum, um dos mais importantes eventos de FoodTechs da América Latina, Paulo Silveira observa que nas palestras, workshops, participações de investidores e público especializado “a base de toda conexão é inovação”.

Voltado a sustentabilidade, meio ambiente, inovação, operação Supply Chain, design de alimentos, qualidade e segurança alimentar, pesquisa e desenvolvimento, novos negócios, pesquisa e ciência, tecnologia e estratégia, o fórum vai reunir representantes de vários segmentos, além da indústria de alimentos e bebidas: governos, agências de fomento, fornecedores de ingredientes e equipamentos, empresas de food service, de embalagem, universidades e instituições de pesquisa.

A atual edição escolhe como tema central “A indústria de alimentos resiliente, colaborativa e inclusiva”. “A resiliência pode ser entendida como uma capacidade que permite lidar com as adversidades, absorver choques e promover adaptações à medida que rupturas e crises se interpõem às realizações”, destaca o organizador.

A indústria brasileira, que produziu 270 milhões de toneladas de alimentos e bebidas em 2023, segundo a Associação Brasileira de Alimentos (ABIA), investe cerca de 4% em inovações. Comparativamente, a indústria de software aplica 18%; a farmacêutica 12%. “Este é mais um alerta para que as empresas de alimento ampliem investimentos em inovação capaz de mitigar os efeitos climáticos para continuar abastecendo uma população mundial que não cessa de crescer”, finaliza Paulo Silveira.