Presidente da Andes, Marcelo Buhatem comentou sobre o impacto da pandemia no Judiciário
Da Redação
O impacto da crise provocada pelo coronavírus e as perspectivas pós-pandemia foram o cerne do webinar promovido, nesta terça-feira, pelo Consultor Jurídico, com o apoio da EuroCom. O presidente da Associação Nacional de Desembargadores (Andes), Marcelo Buhatem; o presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH), Aldevânio Francisco Morato; o vice-presidente da Qualicorp, Pablo Meneses e o diretor de Negócios e Marketing da Unimed Seguros, Luiz Paulo Tostes Coimbra, debateram os efeitos do atual cenário no Judiciário e na Saúde.
Todos concordam que o país enfrenta uma crise sem precedentes, que só poderá ser superada através do diálogo e do trabalho em conjunto. O presidente da FBH destacou a importância de parcerias público-privado tanto no combate à pandemia, bem como no atendimento normal de pacientes do SUS. “Hoje, 62% dos atendimentos de pacientes do SUS são feitos por hospitais da rede privada”, observou Aldevânio.
Entretanto, ele alertou que a rede privada passa por um momento delicado. O medo da contaminação e o adiamento de cirurgias eletivas proposto pelo ministério da Saúde fez despencar a ocupação de muitos hospitais, o que provocou queda de 40% nas receitas. “Já procuramos instituições como BNDES para buscar linhas de crédito voltadas para os hospitais, pois muitos correm o risco de fechar. E o Governo precisa entender que isso vai afetar diretamente o sistema de saúde público”, ressalta o presidente da FBH.
Para o vice-presidente da Qualicorp, o momento atual também exige que as empresas pensem “fora da caixa”, para buscar soluções em um cenário que não era imaginado por nenhuma organização. No caso da administradora de benefícios, a prioridade foi garantir emprego e renda dos colaboradores e corretores, permitindo que todos pudessem continuar desempenhando suas funções através de home office. “Também desenvolvemos ações de apoio ao poder público, destinando R$ 14 milhões em projetos como a criação de hospital de campanha e abertura de leitos voltados para pacientes da rede pública”, conta Pablo.
Priorizar os colaboradores também foi uma das ações destacadas pelo Luiz Paulo, que também é presidente da Unimed Volta Redonda. Ele explicou que, com a pandemia, a cooperativa pode mostrar a capacidade de agir rápido para cuidar ainda mais das pessoas, fortalecendo as relações, sempre mantendo o suporte ao negócio. Entre os pilares que nortearam as ações da Unimed para enfrentar a crise estão: proteção ao funcionário; assistência ao cliente; medidas de proteção ao negócio, com ações para coibir a inadimplência e manter a produtividade no home office, entre outras; apoio à comunidade. “Trabalhar em conjunto é um dos princípios fundamentais do cooperativismo. Assim minimizaremos a crise e vamos cuidar das pessoas”, afirma.
Para o presidente da Andes, o Judiciário conseguiu, na medida do possível, se adaptar à realidade imposta pelo Covid-19. Em abril, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), regulamentou a realização de sessões virtuais ou audiências por videoconferência durante a pandemia. Para alguns tribunais, que já possuíam um parque tecnológico preparado, explica Marcelo, o processo de adequação foi mais rápido. “Mas, de uma forma geral, a Justiça manteve a prestação de um bom serviço”, elogia Marcelo. No entanto, ele teme que os julgamentos virtuais se tornem uma rotina, mesmo após o fim da pandemia. Para o presidente da Andes o trabalho remoto dos juízes deve ser somente em situações de exceção.
O desempenho dos profissionais de saúde ao longo dos últimos quatro meses também mereceu elogios. O presidente da FBH afirmou que os hospitais brasileiros estão dando um exemplo para o mundo no combate ao coronavírus. “Enquanto Nova York registrou um aumento de 400% de mortes, São Paulo, por exemplo, foi de 40%. Isso é mostra a qualidade do trabalho dos profissionais de saúde”, destacou.
Judicialização preocupa
Um ponto temido por todos é o risco de haver crescimento no número de ações nos tribunais devido à atual crise. Para o presidente da Andes, os tribunais, hoje, já lidam com uma enorme quantidade de processos, justamente devido à cultura da judicialização, que também onera o país. “Cada ação custa cerca de 4 mil e 300 reais”, relata Marcelo. Ele avalia que muitos casos são questões que poderiam ter acordo entre as partes, o que evitaria um desgaste das empresas e diminuiria a influência do judiciário em setores como a saúde. “É preciso uma solução que obrigue as partes a buscar, no primeiro momento, o diálogo”, defende Marcelo, que teve suas palavras corroboradas pelo vice-presidente da Qualicorp, empresa responsável pela gestão de planos de saúde, setor que costuma ser um dos mais afetados pela judicialização. “É preciso evitar o conflito nos tribunais se queremos evitar a intervenção do judiciário. Para isso, é necessário buscar o diálogo”, afirmou Pablo.
Antonio De Salles vem estudando o comportamento do coronavírus para entender o que ele pode fazer no cérebro
Por Elenilce Bottari / Agência de Notícias EuroCom
O engenheiro de projetos José Luiz Seixas não esquece o susto que tomou no dia em que percebeu que podia andar e até correr sem qualquer ajuda. Diagnosticado aos 58 anos com Mal de Parkinson, ele viu sua autonomia esvair-se ano a ano, até deixá-lo com enorme dificuldade para andar ou até mesmo falar. Foi quando decidiu, a conselho médico, submeter-se a um implante de marca-passo cerebral.
— Eu fiz a cirurgia em outubro de 2014. Nos primeiros dias não senti diferença alguma. Até um dia em que acordei mais cedo, meio desanimado. Fiquei ainda um tempo na cama, mas depois resolvi me levantar e fui até a cozinha. Quando retornei, vi que Maria, a senhora que trabalha há quarenta anos na nossa casa, me olhava com espanto. Ela parecia muito assustada. Mas só quando ela disse “ele está andando” é que eu dei por mim. De repente, eu tinha recuperado movimentos e estava com a mesma capacidade física de anos antes. Foi a emoção mais pura que vivi. Nunca esquecerei este momento — conta José Luiz.
Os responsáveis pelo “milagre” que devolveu autonomia ao engenheiro, hoje com 74 anos e ainda trabalhando, foi o neurocirurgião Antônio De Salles e sua esposa Alessandra Gorgulho, também neurocirurgiã. De Salles foi precursor em radioneurocirurgia para tratamento de tumores e de diversas doenças neurológicas incapacitantes e vencedor do prêmio Cristal de Pioneiro em medicina no Canadá pelas suas invenções em aplicações do marca-passo cerebral.
Em novembro passado, De Salles, Gorgulho e sua equipe com especialistas em todas as doenças neurológicas e psiquiátricas passaram a integrar o time do Hospital Vila Nova Star, da Rede D’Or São Luiz, em São Paulo (SP), onde ajudam a montar um centro de tecnologia de ponta para neurocirurgias minimamente invasivas e robóticas.
Com mais de 500 cirurgias de implantação de marca-passo no Brasil e nos Estados Unidos e com milhares de radioneurocirurgias para a retirada de tumores do cérebro e tratamento de doenças como epilepsia, tremores e até Alzheimer, De Salles percorreu um longo caminho. Natural de Curitiba (RS), ele estudou em Goiânia (GO), onde se formou médico. Aos 28 anos, uma proposta de pesquisa feita pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) levou-o ao doutorado em Biofísica no Medical College of Virginia, nos Estados Unidos. De lá, seguiu para a Universidade de Harvard, onde se especializou em Cirurgia Estereotáxica e Radiocirurgia. Mudou-se para a Suécia dois anos depois, para realizar um treinamento em Neurocirurgia Funcional.
Lá, foi professor na Universidade de Umeå por dois anos. Trabalhando no extremo Norte do país, no último hospital universitário antes do Polo Norte, De Salles atendeu a populações de esquimós. A experiência adquirida rendeu-lhe o convite para a Universidade da Califórnia (UCLA), em Los Angeles, onde permaneceu por 25 anos até se aposentar. Trabalhou como professor em cirurgias minimamente invasivas, realizando pesquisas para o desenvolvimento de dispositivos e técnicas cirúrgicas.
De volta ao Brasil trinta anos depois, De Salles e Gorgulho criaram o Centro de Neurociências do Hospital do Coração e a NeuroSapeins®, antes de integrar a equipe da Rede D’Or. Tantos anos fora e tantos títulos profissionais não tiraram do médico o jeito simples. Tampouco arrefeceram a disposição para continuar estudando e pesquisando novas formas de tratamento para doenças que tanto assombram a vida de milhões de famílias brasileiras como Parkinson, Alzheimer, a Depressão. A simplicidade do médico ao falar, torna fácil a compreensão sobre a aplicação dessas novas tecnologias:
— Através de estímulos elétricos, o marca-passo atua em determinadas partes do cérebro, contribuindo para que ele controle, de maneira adequada, as demais funções do corpo, reduzindo os distúrbios químicos provocados pela falta de certos neurotransmissores. Com isto, é possível controlar sintomas de Parkinson, Epilepsia, Distonia e Depressão, por exemplo — explica De Salles.
Segundo ele, o método também é eficaz para o tratamento da obesidade mórbida:
— No tratamento da obesidade, o segredo está no aumento do metabolismo, contribuindo para a perda de peso. O tratamento provoca uma reação similar ao indivíduo que pratica exercícios físicos contínuos.
Entre as novidades que chegam à Rede D’Or São Luiz para a realização de radioneurocirurgias, estão dois equipamentos de ponta. O Cyberknife, único no Brasil, que está no Hospital Vila Nova Star; e o Gamma Knife, no Hospital DF Star, em Brasília.
Ao lado do marido, Alessandra Gorgulho integra a nova equipe de neurocirurgiões da Rede D’Or
— Estes equipamentos de robótica permitem a realização de neurocirurgias minimamente invasivas, e até não invasivas. Os raios Gama que funcionam como bisturi. Assim, é possível fazer uma cirurgia sem abrir a cabeça, através de cálculos matemáticos precisos que levarão estes raios ao ponto exato. A técnica é utilizada para tratar tumores, TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo), Epilepsia, Parkinson, tremor e certas doenças vasculares.
Recentemente, De Salles também explicou sua ciência de forma inusitada no romance “O Cérebro do Jogador: Amor e Futebol”, já traduzido em quatro línguas e publicado em português pela editora Bonecker do Rio de Janeiro.
No livro, em meio a um suspense de ficção científica, ele fala sobre as possibilidades cirúrgicas para pessoas com doenças psiquiátricas severas, que podem ser tratadas com implante de marca-passos ou com a Gamma Knife.
Ao seu pacote de grandes feitos para a ciência, o médico quer acrescentar mais um: está realizando pesquisas para o tratamento de uma das mais terríveis enfermidades que se tem notícia: a esclerose lateral amiotrófica (ELA). A doença — que afeta o sistema nervoso de forma degenerativa e progressiva _ acarreta a paralisia motora irreversível e a morte precoce como resultado da perda de capacidades cruciais, como falar, movimentar, engolir e até mesmo respirar.
— Os tratamentos estão avançando, mas ainda falta bastante conhecimento genético para alcançar a cura de doenças neurodegenerativas. Mas estes tratamentos ajudam a controlar os sintomas e garantem qualidade de vida para esses pacientes e suas famílias.
“Simples tecnologia, a telemedicina é a solução
para dificuldades da saúde pública e da saúde suplementar”
Durante a semana, entre cirurgias, consultas e videoconferências, o neurocirurgião Antonio De Salles conversou sobre as novas tecnologias para o tratamento de doenças neurodegenerativas, as consequências do COVID-19 no cérebro humano e perspectivas da Saúde Pública diante da pandemia. Segundo ele, a medicina foi surpreendida pela doença e inicialmente errou ao definir que, em razão da capacidade de contaminação do vírus, os pacientes só deveriam ser encaminhados aos hospitais quando sentissem falta de ar. Para o médico, a pandemia trouxe importantes ensinamentos para a medicina. Ele defende uma mudança fundamental na forma de acesso da população à saúde através da telemedicina.
— A telemedicina é a solução para a saúde pública e para a saúde suplementar. Ela permite que pacientes sejam orientados por médicos de forma adequada, evitando o agravamento de seu estado de saúde, enquanto aguardam nas filas até receberem o primeiro atendimento.
Alguns dos problemas tratados por tecnologias de ponta atingem a milhões de pessoas, como é o caso da depressão. No Brasil ela afeta mais de 12 milhões de habitantes. Por que estas técnicas tão inovadoras não estão disponíveis no SUS?
Antônio De Salles – O SUS realiza o implante de marca-passo cerebral, mas compra anualmente um número muito limitado de aparelhos. A filas de espera pelo tratamento são imensas. Existe um gargalo muito grande. Um marca-passo custa, em média, R$ 100 mil. Somando os gastos com o tratamento cirúrgico, o custo sai entre R$ 200 mil a R$ 250 mil. O tratamento por Gamma-knife sai bem mais em conta, custa cerca de R$ 60 mil, porém tem limitações que os marca-passos podem sanar. Para o sistema de saúde, o investimento inicial é alto, porque são equipamentos muito caros e dependentes de alta capacitação profissional. Mas, a longo prazo, nos casos de tumores cerebrais, a economia seria imensa. A alta tecnologia, embora cara, sempre diminui os custos sociais, salva vidas e mantêm as pessoas produtivas em seus empregos. Mas uma simples tecnologia, o telefone celular, pode também salvar vidas e ajudar o nosso sistema de saúde através da telemedicina. A pandemia nos mostrou isto.
Como a pandemia impactou o seu trabalho?
Antônio De Salles – Parou tudo, até as emergências diminuíram com o “fica em casa”. Neste momento, passei a estudar mais o comportamento do vírus para entender o que ele pode fazer no cérebro e, como de maneira mais científica, poderia ajudar meus pacientes neste período. Por isto disseminei vários blogs sobre o comportamento da doença em geral e no cérebro.
O que Covid-19 pode provocar ao cérebro humano?
Antônio De Salles – Para entrar no sistema nervoso central, o Covid-19 tem dois caminhos. Um deles é pelas vias respiratórias. O vírus entra através do nosso senso olfatório. Então, um dos caminhos para o Covid-19 chegar ao sistema nervoso central é através desses pequenos nervos que temos na mucosa nasal. O vírus entra no sistema olfatório e segue pelo cérebro através das células nervosas. Por isto, a perda de olfato e do paladar são sintomas comuns da doença. O outro caminho, é através da inflamação provocada pela reação do nosso sistema imunológico ao ataque pelo vírus.
Antonio De Salles e Alessandra Gorgulho em uma cirurgia para instalação de um marca-passo cerebral
Como isto acontece?
Antônio De Salles – Quando o Covid-19 invade o pulmão, ele aciona um sistema imunológico nosso que irá lutar contra ele, provocando a coagulação sanguínea e provocando uma inflamação vascular muito grande. Esta inflamação se distribui através do corpo inteiro. Quando o Covid-19 está generalizado com esta inflamação vascular, nós temos insuficiência renal, insuficiência hepática, insuficiência pulmonar e também a insuficiência vascular cerebral. Esta provoca os AVCs, obstruções de vasos sanguíneos que levam a diferentes sintomas, dependendo da localização do vaso obstruído. Quando esta obstrução ocorre nos vasos que vão para nossa atividade motora cerebral, acarreta perda do controle da mão, do pé, a isquemia cerebral naquela região. A chamada tempestade de citoquinas nada mais é do que nosso sistema imunológico criando uma reação inflamatória.
Esta inflamação é uma luta contra o agente agressor, esta reação é uma tempestade em todo nosso corpo. Quando ela afeta de forma difusa o cérebro, então temos confusão mental, perda da consciência e coma. Mas, quando ataca de maneira focal, nós temos os acidentes vasculares cerebrais (AVCs). Estes podem provocar paralisações e perda da visão.
Foram detectados casos que comprovam este comprometimento?
Antônio De Salles – O caso mais emblemático foi o de uma aeromoça de Chicago em que fizeram uma ressonância magnética de crânio. Ela estava com confusão mental, quase demente. O exame demostrou que o vírus havia causado reação inflamatória em pequenos vasos cerebrais. Foi quando entendemos melhor o comportamento do vírus no sistema nervoso central.
O que mudou no protocolo de atendimento da doença a partir destes estudos?
Antônio De Salles – O problema inicial foi porque, como é uma doença de transmissão muito rápida, a primeira orientação era para que os pacientes com sintomas ficassem em casa. Dizíamos: “não vá ao Hospital, não procure tratamento até que tenha dificuldade de respirar”. Significava orientar o paciente esperar até necessitar de ir direto para a UTI, já em um estágio muito avançado da doença, próximo à morte. Hoje, a orientação é que se faça o tratamento logo nos primeiros sintomas. O tratamento precoce reduziu muito a letalidade da doença. Aquela severidade da doença em que a mortalidade era alta e alarmou a população já diminuiu bastante. Sabemos que é um vírus que responde a algumas medicações antivirais que podemos dar no início da infecção. Várias vêm sendo testadas, como a famosa hidroxicloroquina, que deve ser prescrita bem no início da infecção, porque mata o vírus; a azitromicina, antibiótico comum para tratamento de infecções das vias respiratórias previne infecções oportunistas que podem agravar a gripe.
Mas a própria OMS descartou as pesquisas com Cloroquina …
Antônio De Salles – É por causa do “timing”. Quando aplicada precocemente, a hidroxicloroquina terá resultados, mas quando o Covid-19 evoluiu tomando conta do corpo todo, a hidroxicloroquina e a azitromicina, não resolvem por ser tarde demais. Existem estudos observacionais que confirmam a efetividade do tratamento precoce. Embora não sejam estudos randomizado (testados de forma aleatória em pacientes), a medicina que praticamos é muito mais calcada em estudos observacionais do que em estudos randomizados. Estudos randomizados servem muito a interesses econômicos.
Muitos defendem que estas indefinições sobre isolamento social, medicamentos e até mesmo uso de máscaras têm relação com disputas político-eleitorais.
Antônio De Salles – Historicamente disputas políticas acontecem durante pandemias porque estamos falando em políticas de saúde pública, que podem gerar votos. Foi assim na gripe espanhola. Aquela pandemia iniciou nos Estados Unidos, em Kansas, com uma gripe suína. Os políticos da época esconderam o problema, como ocorreu na China com o Covid-19. A gripe infectou os soldados que foram para a primeira guerra, e eles infectaram a população na Europa. A febre se tornou espanhola porque só os espanhóis, que daquela guerra não participaram, fizeram as contas de quantos foram infectados, quantos morreram e publicaram seus estudos. Por isto a pandemia recebeu o nome de Febre Espanhola, mas era na verdade americana.
O que muda a partir da pandemia?
Antônio De Salles – Em razão do distanciamento social, o Governo autorizou que médicos pudessem receitar medicamentos e exames de forma digital, remota. Isto é muito importante para a implantação da telemedicina. Muitos médicos estão tratando seus pacientes assim. Quando trabalhei na Suécia, e os esquimós tinham uma realidade parecida com a dos nossos índios da Amazônia, pessoas que até então não tinham nenhum contato médico e viviam em regiões distantes. Nós fazíamos consultas por telefone para saber quais os sintomas tinham. Dependendo do caso, os pacientes eram trazidos de avião. O Brasil precisa de um sistema assim para melhorar nossa saúde pública, cuidar precocemente do nosso povo.
O senhor acredita que ainda haja tempo para implementar este sistema na pandemia?
Antônio De Salles – Acho que sim, precisa ser montado e que deve ser montado e ser organizado para a eternidade, não só para cuidar desta pandemia. O governo pode implementar postos de saúde em lugares remotos, com profissionais de saúde capacitados, que possam colocar o paciente em uma ligação de vídeo com o médico. Este daria um primeiro atendimento adequado. Isto sairia mais barato e reduziria as filas do SUS porque agilizaria, no caso de necessidade, o atendimento do paciente nos hospitais da rede pública. Se tivessem utilizado a telemedicina em lugar de hospitais de campanha, por exemplo, os governos teriam feito um melhor investimento para o tratamento da Covid-19, porque tratariam os pacientes de forma precoce, reduzindo a ocorrência de pacientes com quadro grave da doença. Um investimento perene para o futuro, evitando a necessidade dos famosos e caros respiradores.
O Centro Médico também reúne exames laboratoriais, raios-x e ultrassom
Da Redação
Um dos bairros mais tradicionais da Zona Norte e famoso por ser um dos berços do samba no Rio de Janeiro, Madureira agora passa a ter um dos centros médicos mais modernos e completos da região. Localizado em frente à entrada principal do Parque de Madureira, o espaço inaugurado pelo Hospital Norte D’Or tem a capacidade para 5 mil atendimentos mensais. A unidade já nasce como referência em serviços de saúde na região. O espaço amplo, moderno e seguro traz para o coração do bairro a facilidade ao reunir diversas especialidades. O Centro oferece mais de 25 especialidades clínicas e cirúrgicas, como cardiologia, cirurgia geral, ginecologia, urologia, geriatria, neurologia, oncologia, entre outras.
“A nova estrutura é símbolo do comprometimento da Rede D’Or São Luiz de ampliar e melhorar continuamente os serviços oferecidos à população”, afirma o diretor executivo do Norte D’Or, Ricardo Calado, que destaca que, além da combinação de estrutura moderna e tecnologia de ponta, o Centro também reúne uma equipe médica que é referência no Rio.
O diretor observa que mais do que nunca é primordial que a população cuide da própria saúde, ele cita que há estudos apontando que muitas pessoas adiaram consultas e exames durante a pandemia com medo da contaminação. O problema é que muitas doenças, como a hipertensão e a diabetes, são silenciosas, ou seja, os sintomas só se manifestam quando já estão em um estágio mais avançado. “Por isso, é importante manter em dia a rotina de ir ao médico. E a nova unidade de Madureira garante a segurança dos pacientes ao cumprir todos os protocolos de higiene contra a pandemia”, destaca Ricardo.
O Centro Médico também reúne exames laboratoriais, raios-x e ultrassom, além de estrutura para a realização de procedimentos de baixa e alta complexidade. “Há também um canal direto com o Norte D’Or, que permite marcar de dentro da unidade os exames mais complexos”, conta o Ricardo.
Os óbitos no município do Rio de Janeiro aumentaram em 64% nos meses de abril e maio de 2020, em relação à média dos três anos anteriores no mesmo período. Além disso, análise detalhada dos registros revela um dado preocupante: praticamente dobraram as mortes fora de hospitais – em unidades de saúde (como UPAs, clínicas e outros centros e unidades básicas) e em domicílios. Isso pode ser um indicador de que, no início da epidemia, a rede de hospitais no município não teve capacidade para atender a todos os pacientes – não só de Covid-19, mas também com outras doenças graves.
A análise dos registros de óbitos trouxe outro dado inquietante: aumentaram em grande proporção os registros de mortes em unidades de saúde e a domicílio por neoplasias (tumores), doenças endócrinas nutricionais e metabólicas (diabetes, por exemplo), do sistema nervoso e dos aparelhos digestivo, circulatório e geniturinário (órgãos genitais e urinários), entre outras não diretamente relacionadas à Covid-19.
A soma dessas informações sugere que o colapso do sistema de saúde – e não só dos hospitais – poderia já estar acontecendo em abril e maio no município do Rio de Janeiro. “Alguns desses óbitos poderiam ter sido evitados com uma atuação mais eficaz da chamada Atenção Básica de Saúde, o que envolve agentes de saúde no território, a testagem de casos suspeitos nos centros de saúde e a triagem de casos graves nas UPAs”, comenta Christovam Barcellos, vice-diretor do Instituto de Comunicação em Saúde (Icict), da Fiocruz, geógrafo e pesquisador de saúde pública.
As constatações fazem parte da Nota Técnica “Óbitos desassistidos no Rio de Janeiro. Análise do excesso de mortalidade e impacto da Covid-19”, produzida por pesquisadores do Icict/Fiocruz. Os dados analisados são do Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM).
O estudo contabilizou que, em abril e maio de 2020, o município do Rio teve cerca de 7.450 mortes acima da média histórica (2017-2019) do mesmo período de meses, representando um aumento de 64%. Desse total de mortes em excesso, cerca de 75% foram registradas como causadas pela Covid-19. Outras mortes podem ter ocorrido por falta de assistência a doentes crônicos, que encontraram a rede de saúde já sobrecarregada pela Covid-19.
As mortes fora de hospital apresentaram crescimentos acentuados: 110% nas unidades de saúde e 95% a domicílio. E quando se cruzam as causas de óbitos com os locais em que ocorreram, alguns números aumentam muito. Por exemplo, as mortes por doenças infecciosas e parasitárias (que incluem a Covid-19) cresceram 785% em unidades de saúde (fora de hospitais) e 598% em domicílios (sem qualquer assistência de saúde). O total de pessoas que morreram em casa vítimas de doenças endócrinas nutricionais e metabólicas (incluindo diabetes) mais que dobrou em abril e maio deste ano: 109%. Nessa mesma proporção (109%), aumentaram os óbitos no período analisado em decorrência de doenças do aparelho respiratório registradas em unidades de saúde fora de hospitais.
Também chamou a atenção dos pesquisadores o grande volume de mortes sem diagnóstico. Nos meses de abril e maio de 2020, foi registrado um excesso de cerca de mil óbitos com causa mal definida (sem diagnóstico definitivo) em relação aos anos anteriores. Segundo o epidemiologista do Icict Diego Xavier, que participou do estudo, “isso evidencia falhas em procedimentos de vigilância epidemiológica e atenção oportuna a doentes crônicos e casos suspeitos de Covid-19”.
A Nota Técnica do Icict diz ainda: “Foi observada uma migração de óbitos que antes ocorriam em ambiente hospitalar e que, durante abril e maio de 2020, passaram a ser mais frequentes nos domicílios. Esse é o caso de cânceres, doenças metabólicas (entre as quais predominam as diabetes) doenças do sistema nervoso (com grande peso de Alzheimer) e doenças cardiovasculares e do aparelho geniturinário (com diversos casos de insuficiência renal), configurando um grave cenário de desassistência vivido naqueles dois meses e que pode permanecer ao longo da epidemia. A maior parte dessas doenças é crônica e o óbito pode ser considerado evitável por ações de prevenção e atenção básica de saúde”.
De acordo com Christovam Barcellos, para descobrir as causas desses números atípicos seria preciso uma investigação epidemiológica mais aprofundada.
“Estamos claramente diante de dados que indicam que houve desassistência à saúde pública no início da epidemia no município do Rio, talvez até mesmo um colapso do sistema hospitalar. Acredito que muitas dessas pessoas que morreram fora em casa ou em UPAs podem ter tido dificuldade de conseguir atendimento nos hospitais. Vale destacar que vem sendo amplamente noticiado que nos últimos três anos a rede municipal de saúde sofreu cortes de pessoal e de unidades, o que, se for verdade, pode ter contribuído para comprometer o atendimento hospitalar no pico da Covid-19”, avalia Barcellos.